O 
RITUAL DO SANTUÁRIO
M. L. ANDREASEN
Diretor do Union Collage, nos Estados Unidos,
e professor de Exegese Bíblica no Seminário
Teológico Adventista, em Washington.
Segunda Edição
4º Milheiro
1948
CASA PUBLICADORA BRASILEIRA
Santo André, E. F. S. J., São Paulo
Título do original em inglês:
THE SANCTUARY SERVICE
Digitação e Diagramação: 
S.J. 
 
ÍNDICE
01.  INTRODUÇÃO
02.  PREFÁCIO 
03.  O SISTEMA SACRIFICAL 
04.  OS SANTUÁRIOS DE DEUS NA TERRA 
05.  O SACERDÓCIO 
06.  SACERDOTES E PROFETAS 
07.  A CONSAGRAÇÃO DE AARÃO E SEUS FILHOS 
08.  OFERTAS QUEIMADAS 
09.  OFERTA DE MANJARES 
10.  OFERTAS PACÍFICAS 
11.  OFERTAS PELO PECADO 
12.  OFERTA PELOS PECADOS E AS CULPAS 
13.  O SERVIÇO DIÁRIO 
14.  O DIA DA EXPIAÇÃO 
15.  O BODE EMISSÁRIO 
16.  FESTAS E SANTAS CONVOCAÇÕES  
17.  ORAÇÃO 
18.  A LEI 
19.  O SÁBADO 
20.  O ULTIMO CONFLITO 
21.  A ÚLTIMA GERAÇÃO 
22.  O JUÍZO 
01.  INTRODUÇÃO
Desde aquele dia trágico no Jardim do Éden em que nossos primeiros pais pecaram 
contra Deus, pela desobediência, o amante Pai celestial tem sempre procurado 
reaver o amor e a companhia de Seus transviados filhos neste mundo. Antes mesmo 
de ser proferida a maldição contra Adão e Eva, já era feita a promessa relativa 
à “Semente da mulher”, que Se ofereceria como holocausto pelos pecados do mundo, 
triunfando, por fim, sobre Satanás, a serpente, que induzira a humanidade a 
rebelar-se contra Deus.
 
Consoante o plano divino, trouxe Abel dos primogênitos do seu rebanho como 
sacrifício a Deus; e através dos séculos, até a vinda da “Semente”, os que 
aceitaram o evangelho de salvação manifestaram sua fé no Salvador vindouro, 
tirando a vida a inocentes animais. Todos esses sacrifícios apontavam para “o 
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Mediante esses sacrifícios de 
animais, conservava-se vívida no espírito a grande verdade de que sem 
derramamento de sangue não há remissão de pecados (Heb. 9:22), e de que 
unicamente pelo ato de dar a vida o Substituto apontado poderiam homens 
pecadores ser reconciliados com Deus.
 
Ao ser o povo de Israel organizado como nação, afim de ser o depositário dos 
santos oráculos e transmitir ao mundo de antanho a divina mensagem de 
misericórdia, ordenou o Senhor a Moisés: “E Me farão um santuário, e habitarei 
no meio deles”. O santuário foi construído de acordo com o “modelo” apresentado 
a Moisés, e Deus prescreveu o ritual para o serviço contínuo.
 
Esse santuário terrestre, o lugar em que, num sentido especial, Deus habitou 
entre Seu povo escolhido como Seu Salvador e guia, era o mais sagrado lugar da 
Terra, e para ele devia convergir o interesse do mundo inteiro.
 
O centro vital dos serviços do santuário era o sacrifício. Os holocaustos que 
diariamente ali se ofereciam, apontavam para o maior e perfeito sacrifício que 
no Calvário se faria. 
O ministério de mediação, que tinha em vista a reconciliação e dia após dia se 
efetuava, e que culminava no extraordinário serviço anual do Dia da Expiação, 
era “a sombra dos bens futuros”. É aí que vamos encontrar os princípios 
fundamentais do plano da salvação. Todo o sistema era “uma profecia condensada 
do evangelho”, e prefigurava o sacrifício e sacerdócio de Cristo, que, “pela 
morte”, triunfou sobre “o que tinha o império da morte”, abrindo assim um 
caminho vivo para os pobres pecadores transviados.
 
Quão importante é, pois, que estudemos esse “santuário terrestre” e seu ritual, 
que eram “sombra das coisas celestiais”, e proporcionava uma visão mais ampla da 
atitude de Deus para com o pecado, de Seu plano para salvar os pecadores, da 
obra mediadora de Cristo e dos gloriosos mistérios da redenção. Nossa esperança 
se concentra no “interior do véu”, onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, 
“feito eternamente Sumo-Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque”. 
Processa-se ali o ministério do Seu sangue pelos que hão de herdar a salvação. 
Ali Sua obra final pela salvação dos perdidos breve chegará a termo.
 
Deus incumbiu os adventistas do sétimo dia de proclamar as gloriosas verdades 
atinentes ao ministério de Cristo, no santuário celestial, e a Sua obra final 
pela redenção dos perdidos. Foi-nos confiada a mensagem da hora do juízo que 
deve ser dada ao mundo. Para sermos fiéis a esta incumbência, mister se faz que, 
sempre e sempre, mais e mais nos aprofundemos nestes sagrados mistérios, 
tornando-nos aptos a apresentar a derradeira mensagem divina à humanidade em 
toda a sua beleza e poder.
 
Grandemente abençoou Deus o autor desta obra no estudo e ensino destas verdades magníficas, e, de nossa parte, sinceramente recomendamos este amplo e claro tratado sobre os serviços do santuário a todos os que almejam mais cabalmente conhecer os caminhos divinos.
M. E. KERN
Diretor do Seminário Teológico dos A. S. D.
02.  PREFÁCIO
Durante séculos, a presença de Deus na Terra esteve relacionada com o santuário. 
Por intermédio de Moisés foi dada a primeira ordem: “E Me farão um santuário e 
habitarei no meio deles”. Êxo. 25:8. Terminado que foi o tabernáculo – este foi 
o nome que se deu ao primeiro santuário – “a nuvem cobriu a tenda da 
congregação, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo”. Êxo. 40:34. A partir 
daí, Deus Se comunicou com Seu povo “de cima do propiciatório, do meio dos dois 
querubins (que estão sobre a arca do testemunho)”, no lugar santíssimo, no 
segundo compartimento do tabernáculo. Êxo. 25:22
 
Como local de habitação terrena de Deus, o santuário deve despertar sempre o 
mais profundo e duradouro interesse da parte de Seu povo. Quando compreendemos 
que os serviços efetuados no tabernáculo e, mais tarde, no templo, eram símbolos 
de um ministério mais elevado no verdadeiro tabernáculo do céu; que todo o 
ritual e os sacrifícios todos apontavam para o verdadeiro Cordeiro de Deus, o 
santuário passa a ter importância ainda maior. Nele é revelado o evangelho.
 
Bem andarão os crentes ao estudar o santuário e seu ritual. Encerram estes 
lições preciosas para o estudioso devoto. Cristo é apresentado como o grande 
Sumo-Sacerdote, título que, para não poucos membros da igreja, perdeu sua 
significação. E, no entanto, a missão de Cristo como Sumo-Sacerdote é a essência 
mesma do Cristianismo, o coração da obra expiatória.
 
É esperança e oração do autor que este modesto trabalho possa guiar a alguns, e a muitos quiçá, a uma compreensão mais ampla do que Cristo para eles significa e do que por eles está fazendo; e que possam pelo novo e vivo caminho que para eles consagrou através do véu, acompanhá-lo ao lugar santíssimo onde agora oficia.
O Autor.
 
03.  O SISTEMA SACRIFICAL
O primeiro quadro que de Deus se nos apresenta depois de o homem haver pecado, é 
aquele em que, passeando no jardim pela viração do dia, pergunta a Adão: “Onde 
estás?” Gen. 3:9. O quadro tanto tem de belo como de significativo. O homem 
pecara e desobedecera ao Senhor, mas Deus o não desamparou. Pôs-Se à procura de 
Adão. E interroga: “Onde estás?” São estas as primeiras palavras de Deus ao 
homem, depois da queda, que ficaram registradas.
 
O sermos assim apresentados a Deus não é um fato destituído de significação. Ele 
está procurando Adão, e chamando-o, buscando o pecador que se escondia de Sua 
presença. Temos aqui um quadro idêntico ao do pai da parábola, que dia após dia 
procurava divisar no horizonte o vulto do filho pródigo, e corre a encontrá-lo 
“quando ainda estava longe”. S. Lucas 15:20. Um quadro semelhante ao do pastor 
que vai “pelos montes... em busca da que se desgarrou”, e “maior prazer tem por 
aquela do que pelas noventa e nove que se não desgarraram”. S. Mat. 18:12 e 13.
 
Adão não compreendeu em toda a sua plenitude o que havia feito ou os resultados 
de sua desobediência. Dissera-lhe Deus que o pecado implicava em morte, e que 
“no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Gen. 2:17. Mas Adão jamais 
contemplara o quadro da morte, de modo que não compreendia o que ela 
significava. Foi com o intuito de impressionar-lhe o espírito com a natureza do 
pecado que Deus vestiu a Adão e a Eva com peles de animais que haviam sido 
sacrificados. Adão, contemplando o quadro da morte pela primeira vez, deve ter 
ficado profundamente impressionado com a terribilidade do pecado. O cordeiro 
ainda ali está, e o sangue corre. Não tornará ele a viver jamais? Jamais tornará 
a comer, a andar ou a brincar? A morte assume, de pronto, aos olhos de Adão, um 
novo e mais profundo significado. Começa a compreender que a menos que
o Cordeiro seja imolado em seu lugar, ele terá de morrer, como o animal que tem 
aos seus pés, sem futuro, sem esperança, sem Deus. Depois, sempre, a pele que 
lhe vestia o corpo lembrava-o de seu pecado, mas também, e mais ainda, da 
salvação do pecado.
 
O quadro que nos apresenta Deus a fazer vestes para Seus filhos prestes a serem 
afastados de seu lar, revela o amor divino pelos Seus, e Sua terna consideração 
por eles, mau grado haverem pecado. Como a mãe que veste os filhinhos com roupas 
quentes e confortáveis antes de os mandar para o cortante vento, assim Deus 
bondosamente veste Seus dois filhos antes de os despedir. Se é preciso 
afastá-los, devem levar consigo a prova de Seu amor. Devem ter consigo alguma 
evidência de que Deus ainda tem cuidado deles. Não é Seu intento deixá-los a 
lutar sozinhos. É necessário afastá-los do Jardim do Éden, mas ainda os ama. 
Supre-lhes o que lhes falta.
 
Por causa do pecado, Deus teve de afastar Adão e Eva do lar que lhes preparara. 
Por certo deve ter sido com grande pesar de coração que os dois abandonaram o 
lugar, em que pela primeira vez se haviam visto, e que tão gratas evocações lhes 
trazia. Mas imensurávelmente maior deve ter sido a dor por Deus experimentada ao 
ordenar-lhes que saíssem. Ele os havia criado. Amava-os. Providenciara quanto ao 
seu futuro. Eles, porém, Lhe haviam desobedecido. Tinham escolhido outro senhor. 
Do fruto proibido haviam tomado. “Ora, pois”, disse Deus, “para que não estenda 
a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente... o 
lançou fora”. Gen. 3:22-24.
 
Deus não deixou Adão em estado de desespero. Não só lhe assegurou que o Cordeiro 
“morto desde a fundação do mundo” havia de morrer por ele, provendo-lhe assim 
real salvação, mas também prometeu auxiliá-lo a resistir ao pecado, 
concedendo-lhe capacidade para aborrecê-lo. “E porei inimizade entre ti e a 
mulher, entre a tua semente e a sua semente”, disse Deus. Gen. 3:15. Sem fazer 
violência ao texto, podemos dar-lhe a seguinte interpretação: “Em teu coração 
porei repulsa ao mal”. Essa repulsa é vital para a nossa salvação. Do ponto de 
vista humano, enquanto houver no coração amor ao pecado, nenhum homem poderá ser 
salvo. 
Talvez resista ao mal, mas se em seu íntimo existir amor ou apego a ele, não 
estará em terreno seguro. De Cristo se diz: “Amaste a justiça e aborreceste a 
iniqüidade”. Heb. 1:9. É importante aprendermos a aborrecer o pecado. Unicamente 
quando a iniqüidade do pecado se nos torna real e aprendemos a aborrecer o mal é 
que estamos seguros. Cristo não só amou a justiça; também aborreceu a 
iniqüidade. Essa repulsa é fundamental no Cristianismo. E Deus prometeu colocar 
em nosso coração essa repulsa ao pecado.
 
O Evangelho está sintetizado nas promessas que Deus fez a Adão e no modo por que 
o tratou. Deus não deixou Adão entregue à própria sorte depois de pecar. 
Procurou-o, chamou-o. Providenciou-lhe um Salvador, simbolizado pelo cordeiro 
sacrifical. Prometeu ajudá-lo a odiar o pecado, a fim de que, pela graça de 
Deus, dele se afastasse. Se Adão tão somente cooperasse com Deus, tudo estaria 
bem. Foi-lhe apresentado o meio para voltar ao estado de que havia caído. Não 
precisava ser vencido pelo pecado. Com o auxílio divino podia triunfar sobre 
ele.
 
De um modo frisante isso nos é revelado no caso de Caim e Abel. Caim está irado; 
seu semblante decaído. Em seu coração já cometeu o assassínio, e está pronto a 
matar Abel. Deus o adverte de que “o pecado jaz à porta... e sobre ele 
dominarás”. Gen. 4:7. Era esta uma misericordiosa advertência a Caim, e uma 
afirmação de esperança de que não precisava ser vencido pelo pecado. Qual 
selvagem animal que está pronto para arremessar-se sobre a presa, o pecado jaz à 
porta. Segundo a expressão do Novo Testamento, Satanás anda em derredor 
“bramando como leão”. Mas Caim não precisava ser derrotado. “Sobre ele 
dominarás”- são as palavras de Deus. Isto é mais do que uma declaração; é uma 
promessa. O homem não precisa ser vencido. Existe esperança e auxílio em Deus. O 
pecado não deve ter domínio sobre nós. Devemos triunfar sobre ele.
 
Originariamente era plano de Deus que o homem entretivesse livre comunhão com 
seu Criador. Essa intenção desejava Ele ver realizada no Jardim do Éden. Mas o 
pecado contrariou o Seu desígnio original. O homem pecou, e Deus o pôs fora do 
jardim. A partir daí, a tristeza passou a ser o quinhão da humana criatura.
Mas o Ser Supremo concebeu um plano mediante o qual poderia reaproximar-Se de 
Seu povo. Se eram obrigados a abandonar o lar que para eles fora preparado, por 
que Deus não havia de ir com eles? Se não podiam morar no Paraíso, onde lhes era 
dado gozar perfeita comunhão com o Pai Celestial, por que não habitaria Deus com 
eles? Assim, em chegando o tempo apontado, Deus dirigiu ao Seu povo as palavras: 
“E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles”. Êxo. 25:8. Amor admirável! 
Deus não pode suportar a separação dos que Lhe pertencem! Seu amor arquiteta um 
plano mediante o qual Lhe é possível habitar entre eles. Acompanha-os em seu 
jornadear através do deserto, guiando-os à Terra Prometida. Está novamente com 
Seu povo. Com efeito, existe agora uma parede de permeio. Deus habita no 
santuário, e o homem não se pode aproximar dEle diretamente. Mas Deus está tão 
perto quanto Lhe permite a presença do pecado. Está “no meio” do Seu povo.
 
Diz de Cristo o Novo Testamento: “E chama-Lo-ão Emanuel, que traduzido é: Deus 
conosco”. S. Mat. 1:23. O ideal do crente é a comunhão com Deus, união com Ele, 
e não separação. “Enoc andou com Deus”. Gen. 5:24. Moisés com Ele falou face a 
face. Êxo. 33:11. Mas Israel não estava preparado para essa experiência. Era 
mister que se lhe ensinassem lições de reverência e santidade. Precisava 
aprender que sem santidade ninguém pode ver a Deus. Heb. 12:14. Foi com o 
propósito de ensinar-lhes isto que Deus ordenou que Lhe fizessem um santuário 
para que pudesse habitar entre eles.
 
Antes, porém, de pedir-lhes que Lhe construíssem um santuário, lhes deu os Dez 
Mandamentos. Êxo. 20. Deu-lhes a Sua lei para que estivessem ao par do que deles 
se exigia. Estiveram ao pé do monte que fumegava. Ouviram os trovões e viram os 
relâmpagos; e, ao falar o Senhor, “todo o monte tremia grandemente” e tremia 
também o povo. Êxo. 19:16-18. O espetáculo foi tão impressionante, e “tão 
terrível era a visão, que Moisés disse: Estou todo assombrado, e tremendo”, e 
“os que a ouviram pediram que lhes não falasse mais”. Heb. 12:21 e 19. O povo, 
contudo, pôde tão somente ver e reconhecer a justiça dos reclamos divinos e, 
tanto antes como depois da proclamação da lei, respondeu:
“Tudo o que o Senhor tem falado, faremos” (ver Êxo. 19:8; 24:3 e 7).
 
Ao assumirem tão tremendo compromisso, por certo bem pouco compreendiam de usa 
incapacidade para cumprir o que haviam prometido. De sua experiência passada 
podiam ter aprendido que sem o auxílio divino não poderiam guardar a lei. 
Todavia, prometeram assim fazer, mau grado não muito depois se acharem a dançar 
em torno do bezerro de ouro. A lei proibia a adoração de ídolos, e haviam 
prometido guardar a lei; no entanto, estavam a adorar um de seus antigos ídolos. 
No culto que renderam ao bezerro de ouro, revelaram sua incapacidade ou 
relutância para cumprir o que haviam concordado em fazer. Haviam quebrado a lei 
que tinham prometido observar, e agora ela os condenava. Deixou-os num estado de 
desalento e desengano.
 
Ao permitir isso, Deus tinha um propósito em vista. Desejava ensinar a Israel 
que em si mesmos nenhuma esperança havia de que sempre guardassem a lei divina. 
E essas injunções eram necessárias à santidade, e sem santidade ninguém pode ver 
a Deus. Isso os colocou face a face com sua condição desesperadora. A lei que 
lhes havia sido dada para vida, trouxera-lhes condenação e morte. Sem Deus, 
estavam sem esperança.
 
Deus não os abandonou nessa situação. Assim como no Jardim do Éden o cordeiro 
morto prefigurava Cristo, agora, mediante os sacrifícios e a intercessão do 
sangue, Deus lhes ensinava que providenciara um meio de escape. Abraão 
compreendeu isso quando o carneiro preso no mato foi aceito em lugar de seu 
filho. Por certo não havia compreendido perfeitamente a significação de sua 
própria resposta, quando Isaac lhe perguntou: “Eis aqui o fogo e a lenha, mas 
onde está o cordeiro para o holocausto?” ao que Abraão respondeu: “Deus proverá 
para Si o cordeiro para o holocausto, meu filho”. Gên. 22:7 e 8. Ao erguer ele o 
cutelo, disse Deus: “Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada”. 
Vs. 12. Ao olhar Abraão em volta, viu um carneiro preso no mato e, tomando-o, 
“ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho”. Vs. 13. Disso Cristo disse: 
‘Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia, e viu-o, e alegrou-se”. S. João 
8:56. 
No carneiro preso no mato, que morreu em lugar de seu filho, Abraão viu Cristo. 
Regozijou-se e alegrou-se.
 
A lição que Abraão aprendera, Deus desejava ensinar agora a Israel. Pelo 
cordeiro pascal; pelo novilho, pelo carneiro, pelo bode, pelas rolas e pombos; 
pelo espargir do sangue sobre o altar da oferta queimada, sobre o altar do 
incenso, para o véu ou sobre a arca; pelos ensinos e mediação do sacerdote, 
Israel devia aprender como aproximar-se de Deus. Não deviam ser deixados sem 
esperança ao enfrentar a condenação da santa lei divina. Havia um meio de 
escape. O Cordeiro de Deus morreria por eles. Pela fé em Seu sangue podiam 
entrar em comunhão com Deus. Pela mediação do sacerdote podiam vicariamente 
entrar no santuário, e na pessoa do sumo-sacerdote podiam comparecer na própria 
sala de audiência do Altíssimo. Para os fiéis em Israel, isso prefigurava o 
tempo em que o povo de Deus poderia entrar sem receio, mediante o sangue de 
Jesus, no santíssimo. Heb. 10:19.
 
Tudo isso desejava Deus ensinar a Israel pelo sistema sacrifical. Para eles era 
o caminho de salvação. Infundiu-lhes esperança e coragem. Conquanto a lei 
divina, os dez mandamentos, os condenasse por causa de seus pecados, o fato de 
que o Cordeiro de Deus devia morrer por eles os enchia de esperança. O sistema 
sacrifical era o evangelho para Israel. Aponta claramente o caminho à comunhão e 
companheirismo com Deus.
 
Há entre os cristãos professores os que não atribuem muita importância ou valor 
aos serviços do templo que foram ordenados por Deus; no entanto, verdade é que o 
plano evangélico da salvação, conforme revelado no Novo Testamento, se torna 
muito mais claro pela compreensão do Velho Testamento. Com efeito, pode-se dizer 
com certeza que aquele que compreende o sistema levítico do Velho Testamento, 
pode muito melhor compreender e apreciar o Novo Testamento. Um prefigura o 
outro, servindo-lhe de tipo.
A primeira lição que Deus Se propôs a ensinar a Israel, por meio do sistema 
sacrifical, era que o pecado implica em morte. Bastas vezes seu espírito foi 
impressionado com esta lição. 
Cada manhã e tarde, durante o ano inteiro, um cordeiro era oferecido pela nação. 
Dia após dia o povo levava ao templo ofertas por seus pecados, seus sacrifícios 
ou ofertas de gratidão. Em todos os casos um animal era imolado e o sangue 
aspergido no lugar apontado. Em cada cerimônia e solenidade estava impressa a 
lição: O pecado significa morte.
 
Esta lição é hoje mais necessária do que nos dias do Antigo Testamento. Alguns 
cristãos têm uma idéia muito imprecisa da gravidade do pecado. Imaginam-no como 
uma fase transitória da vida que a humanidade vencerá. Outros o têm como 
lamentável, mas inevitável. Carecem de que em seu espírito se grave 
indelevelmente a lição de que o pecado significa morte. O Novo Testamento, com 
efeito, afirma que o salário do pecado é a morte. Rom. 6:23. Mas mesmo assim 
muitos deixam de perceber ou aprender a importância disso. Uma concepção mais 
nítida do pecado e da morte como inseparavelmente unidos, muito auxiliará na 
apreciação e compreensão do evangelho.
 
Outra lição com que Deus desejava impressionar a Israel era a de que o perdão do 
pecado pode ser obtido unicamente pela confissão e intercessão do sangue. Isso 
impressionava profundamente a Israel com o preço do perdão. O perdão do pecado 
significa mais do que passar por alto faltas. Perdoar custa alguma coisa; e o 
preço é a vida, a vida do próprio Cordeiro de Deus.
 
Esta lição também é importante para nós. Para alguns, a morte de Cristo se 
afigura desnecessária. Deus podia, ou devia perdoar, sem o Calvário, pensam 
eles. A cruz não se lhes apresenta como parte integrante e vital da obra de 
expiação. Bem andariam os cristãos, hoje, se contemplassem mais do que o fazem o 
preço de sua salvação. O perdão não é um simples fato. Custa alguma coisa. 
Mediante o sistema cerimonial Deus ensinou a Israel que ele pode ser obtido 
unicamente pelo derramamento de sangue. Precisamos dessa lição hoje.
 
Cremos que um estudo das prescrições do Antigo Testamento, relativas à maneira 
de que o homem se aproximar de Deus, pagará generosos dividendos. 
No sistema sacrifical se contêm os princípios fundamentais da piedade e 
santidade que encontram seu pleno cumprimento em Cristo. Alguns há que, por não 
haverem compreendido perfeitamente estas lições fundamentais, são incapazes e 
não estão preparados para prosseguir na consecução de maiores coisas que por 
Deus lhes foram preparadas. O Antigo Testamento é básico. Aquele que está bem 
firmado nele, será capaz de construir uma superestrutura que não ruirá ao caírem 
as chuvas e soprarem os ventos. Estará edificado “sobre o fundamento dos 
apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina”. 
Efés. 2:20.
 
04.  OS SANTUÁRIOS DE DEUS NA TERRA
Não foi muito depois de ter dado a lei no monte Sinai que o Senhor ordenou a 
Moisés: “Fala aos filhos d’Israel, que Me tragam uma nova oferta alçada: de todo 
o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a Minha oferta 
alçada”. Êxo. 25:2. Essa oferta devia consistir em “ouro, e prata, e cobre, e 
azul, e púrpura, e carmesim, e linho fino, e pêlos de cabras, e peles de 
carneiros tintas de vermelho, e peles de texugos, e madeira de cetim, azeite 
para a luz, especiarias para o óleo da unção e especiarias para o incenso, 
pedras sardônicas, e pedras d’engaste para o éfode e para o peitoral”. Vs. 3-7. 
Isso devia ser usado na construção de “um santuário, e habitarei no meio deles”. 
Vs. 8.
 
O santuário aqui mencionado toma, pelo comum, o nome de tabernáculo. Era em 
realidade uma tenda com paredes de madeira, tendo o forro quatro camadas de 
materiais: a interior de linho fino dobrado, a exterior “de peles de carneiro, 
tintas de vermelho, e outra coberta de peles de texugo em cima”. Êxo. 26:14. O 
edifício propriamente dito não era muito grande, pois tinha cerca de 6 metros 
por 18, e uma parte fechada externa chamada pátio, com aproximadamente 30 metros 
de largura por 60 de comprimento.
 
O tabernáculo era um edifício portátil, de maneira que podia ser desmontado e 
facilmente transportado. Ao tempo em que foi construído, Israel jornadeava pelo 
deserto. Aonde quer que fossem, transportavam consigo o tabernáculo. As tábuas 
da construção não eram pregadas uma à outra como em geral se faz, mas separadas, 
e cada uma delas mantida em pé por meio de uma base de prata. Êxo. 36:20-34. As 
cortinas que cercavam o pátio pendiam de pilares fixos em bases de cobre. Êxo. 
38:9-20. 
A mobília do tabernáculo era feita de maneira que pudesse ser facilmente 
transportada. O edifício inteiro, conquanto formoso e magnífico em suas linhas, 
revelava sua natureza transitória. Destinava-se a servir somente até ao tempo em 
que Israel se estabelecesse na Terra Prometida e um edifício de natureza mais 
estável pudesse ser erigido.
 
O Edifício propriamente dito tinha dois compartimentos, o primeiro e maior, 
chamado santo; e o segundo, o santíssimo. Uma rica cortina ou véu separava esses 
compartimentos. Como não havia janelas no edifício, tanto um como outro 
compartimento, e especialmente o interior, se dependessem da luz do dia, 
forçosamente haviam de ficar às escuras. Em virtude da natureza temporária da 
estrutura, alguma luz talvez penetrasse; porém, na melhor das hipóteses, devia 
ser muito pouca. No primeiro compartimento, contudo, os candeeiros do castiçal 
de sete lâmpadas produziam suficiente luz para que os sacerdotes efetuassem o 
serviço diário segundo prescrevia o ritual.
 
Havia no primeiro compartimento três objetos do mobiliário, a saber: a mesa dos 
pães da proposição, o castiçal de sete lâmpadas e o altar do incenso. Quem 
penetrasse no compartimento pela frente do edifício, que estava voltada para o 
nascente, veria quase na extremidade da sala o altar do incenso. Veria à direita 
a mesa dos pães da proposição, e à esquerda, o castiçal. Dispostos sobre a mesa, 
em duas fileiras, os doze pães da proposição, juntamente com o incenso e os 
copos para a oferta memorial. Nela se encontravam também pratos, colheres e 
tigelas usados no serviço diário. Êxo. 37:16. O castiçal era feito de ouro puro. 
“O seu pé, e as suas canas, os seus copos, as suas maçãs e as suas flores da 
mesma peça”. Vs. 17. Tinha seis canas, três de cada lado e uma no centro. Os 
copos que continham o óleo tinham a forma de amêndoas. Vs. 19. Não só o castiçal 
era feito de ouro, mas também os espevitadores e apagadores. Vs. 23.
 
A mais importante peça do mobiliário desse compartimento era o altar do incenso. 
Tinha cerca de um metro de altura e quase meio de largura. Era forrado de ouro 
puro, e tinha uma coroa de ouro ao redor. Era sobre esse altar que o sacerdote, 
no serviço diário, colocava as brasas tiradas do altar das ofertas queimadas, e 
o incenso. Ao pôr incenso sobre as brasas do altar,
o fumo ascendia, e, como o véu entre o santo e santíssimo não alcançava o teto 
do edifício, o incenso enchia logo não só o lugar santo mas o santíssimo também. 
Deste modo, o altar do incenso, embora estivesse no primeiro compartimento, 
servia igualmente o segundo. Por essa razão ficava “diante do véu que está 
diante da arca do testemunho, diante do propiciatório, que está sobre o 
testemunho, onde Me ajuntarei contigo”. Êxo. 30:6.
 
No segundo compartimento, o santíssimo, existia apenas uma peça de mobiliário: a 
arca. Tinha ela a forma de caixa com pouco mais de um metro de comprimento e 
aproximadamente 60 centímetros de largura. A cobertura dessa caixa chamava-se 
propiciatório. Sobre o propiciatório havia uma coroa de ouro ao redor, como se 
dava com o altar do incenso. Na arca colocou Moisés os dez mandamentos escritos 
sobre duas tábuas de pedra, com o próprio dedo de Deus. Pelo menos durante algum 
tempo continha ela também o vaso de ouro com o maná e a vara florescida de 
Aarão. Heb. 9:4. Sobre o propiciatório havia dois querubins de ouro, de obra 
batida, ficando um de um lado e outro de outro. Êxo. 25:19. Diz-se desses 
querubins que “estenderão as suas asas por cima, cobrindo com as suas asas o 
propiciatório; as faces deles uma defronte da outra: as faces dos querubins 
estarão voltadas para o propiciatório”. Êxo. 25:20. Ali Deus Se comunicaria com 
Seu povo. Disse Ele a Moisés: “Ali virei a ti, e falarei contigo de cima do 
propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do 
testemunho), tudo o que Eu te ordenar para os filhos d’Israel”. Êxo. 25:22.
 
No pátio, bem em frente da porta do tabernáculo estava uma pia, uma enorme bacia 
cheia de água. Era feita de cobre obtido dos espelhos que as mulheres haviam 
dado para esse fim. Nessa pia deviam os sacerdotes lavar as mãos e os pés antes 
de entrar no tabernáculo e começar o serviço. Êxo. 30:17-21; 38:8.
 
No pátio ficava também o altar dos holocaustos, que desempenhava parte muito 
importante por servir em todas as ofertas sacrificais. Tinha cerca de um metro e 
meio de altura e em cima 2m,40 de largura, e era oco por centro e coberto de 
cobre. Êxo. 27:1. Sobre esse altar colocavam-se os animais que eram oferecidos 
em holocaustos.
Aí também era consumida a gordura e colocada a parte da carne que se requeria. 
Nas quatro extremidades havia saliências que se assemelhavam a chifres. Em 
certas ofertas sacrificais, o sangue era colocado sobre essas pontas ou 
aspergido sobre o altar. O resto do sangue, que não se usava na aspersão, era 
derramado na base do altar.
 
O Templo de Salomão
Ao assumir o reino Salomão, o velho tabernáculo devia achar-se em condições 
precárias. Contava várias centenas de anos e estivera exposto ao vento e à 
intempérie por todo esse longo tempo. Davi se havia proposto edificar ao Senhor 
uma casa, mas lhe foi dito que, visto ser ele homem guerreiro, não lhe seria 
dado fazê-la. Seu filho Salomão construi-la-ia. E esse templo foi edificado “com 
pedras preparadas, como as traziam se edificava: de maneira que nem martelo, nem 
machado, nem nenhum outro instrumento de ferro se ouviu na casa quando a 
edificavam”. I Reis 6:7.
 
O templo propriamente dito tinha cerca de 9 metros de largura por 27 de 
comprimento. Na frente, que ficava para o lado do nascente, havia um vestíbulo 
com aproximadamente 9 metros de comprimento por 5 de largura. Ao redor das 
outras paredes do templo foram construídas três filas de câmaras, sendo algumas 
delas usadas para aposentos dos sacerdotes e levitas que oficiavam no templo, e 
as demais para depósito do dinheiro e outras dádivas ofertadas. Por dentro era 
forrado de cedro coberto de ouro e esculpido com figuras de querubins, palmas e 
flores abertas. I Reis 6:15, 18, 21, 22 e 29. Deles se diz: “Assim edificou 
Salomão aquela casa, e a aperfeiçoou. Também cobriu as paredes da casa por 
dentro com tábuas de cedro: desde o soalho da casa até ao teto tudo cobriu com 
madeira por dentro: e cobriu o soalho da casa com tábuas de faia”. I Reis 6:14 e 
15.
 
O tabernáculo original não tinha soalho, mas no templo Salomão colocou “tábuas 
de cedro nos lados da casa, desde o soalho até às paredes: e por dentro lhas 
edificou para o oráculo, para o Santo dos Santos”. Vs. 16. Depois de haver 
coberto toda a parte interior do templo com cedro, de modo que “pedra nenhuma se 
via”, “cobriu Salomão a casa por dentro de ouro puro: 
E com cadeias de ouro pôs um véu diante do oráculo, e o cobriu com ouro. Assim 
toda a casa cobriu de ouro, até acabar toda a casa”. Vs. 18, 21 e 22.
 
No oráculo, ou lugar santíssimo, foi colocada a arca do concerto do Senhor. A 
arca original tinha dois querubins de ouro puro. Agora, dois outros querubins 
foram feitos e fixados sobre o soalho, e entre estes foi a arca colocada. Foram 
feitos de madeira d’oliveira, tendo cada um deles cerca de quatro metros e meio 
de altura. “Ambos os querubins eram duma mesma medida e dum mesmo talhe”. I Reis 
6:25. “Os querubins estendiam as asas, de maneira que a asa dum tocava na 
parede, e a asa do outro querubim na outra parede: e as suas asas no meio da 
casa tocavam uma na outra”. I Reis 6:27. Isso fazia com que as asas dos dois 
querubins combinadas cobrissem uma área de 9 metros aproximadamente. Esses 
querubins eram cobertos de ouro e em todas as paredes da casa, tanto por dentro 
como por fora, estavam esculpidas figuras de querubins, palmas e flores abertas. 
Até o soalho era coberto de ouro. Vs. 29 e 30.
 
No primeiro compartimento várias mudanças foram feitas. Diante do oráculo, e que 
é mencionado como a ele pertencendo (I Reis 6:22, Vs. Brás.), estava, como no 
tabernáculo, o altar do incenso. Em vez de um castiçal, havia agora dez, cinco 
de um lado e cinco de outro. Esses castiçais eram de ouro puro, como o eram os 
espevitadores, os apagadores, as bacias, os perfumadores e os braseiros. I Reis 
7:49 e 50. Em vez de uma mesa com os pães da proposição, havia ali dez, “cinco à 
direita, e cinco à esquerda”. II Crôn. 4:8.
 
O altar dos holocaustos, ou de cobre, como é chamado, foi consideravelmente 
aumentado no templo de Salomão. O do antigo tabernáculo tinha cerca de dois 
metro e meio. O do templo de Salomão quase quatro vezes mais, ou sejam, nove 
metros, e quase cinco de altura. As caldeiras, pás e bacias usadas no serviço do 
altar eram de cobre. II Crôn. 4:11 e 16.
 
No santuário havia uma pia para as abluções. No templo ela era muito maior. Era 
uma ampla bacia de bronze com 4m,50 de diâmetro e quase dois e meio de altura, 
com uma capacidade de mais de 70 mil litros. Chamava-se mar de fundição. I Reis 
7:23-26. O bronze de que era feito tinha um palmo de espessura.
Os bordos foram feitos à semelhança de um copo, com flores de lírios. O mar 
inteiro firmava-se sobre doze bois, “três que olhavam para o norte, e três que 
olhavam para o ocidente, e três que olhavam para o sul, e três que olhavam para 
o oriente: e o mar em cima estava sobre eles, e todas as suas partes posteriores 
para a banda de dentro”. I Reis 7:25.
 
Ao lado desse mar de grandes proporções havia bacias menores montadas sobre 
rodas, de maneira que pudessem ser movidas de um lugar para outro. I Reis 
7:27-37. Cada uma dessas bacias continha mais de 400 litros de água e eram 
usadas para lavar as partes dos animais que deviam ser queimadas sobre o altar 
dos holocaustos. II Crôn. 4:6. Cada uma delas estava colocada sobre uma base de 
cobre; “e era a obra das rodas como a obra da roda de carro: seus eixos, e suas 
cambas, e seus cubos, e seus raios, todos eram fundidos”. I Reis 7:33. Os lados 
eram ornamentados com figuras de leões, bois, querubins e palmas, “e debaixo dos 
leões e dos bois junturas d’obra estendida”. Vs. 29 e 36. O tamanho do pátio não 
é mencionado, mas certamente devia ser consideravelmente maior do que o do 
tabernáculo.
 
Em I Reis 6:22 encontra-se uma declaração interessante relativamente ao altar do 
incenso. Os versículos anteriores descrevem o oráculo, ou o lugar santíssimo. É 
mencionada como ali estando a arca que continha os dez mandamentos, dizendo-se 
também que “cobriu de cedro o altar”. Vs. 19 e 20. Esse altar, segundo se afirma 
no vs. 22, “pertencia ao oráculo”. (vs. Brás.). Talvez suscite alguma 
dificuldade a questão que surge da leitura do capítulo nove de Hebreus, onde o 
altar do incenso é omitido na descrição da mobília do primeiro compartimento, e 
um incensário é mencionado como estando no segundo compartimento. Vs. 2-4. A 
Versão Brasileira registra “altar de ouro para o incenso”, ao invés de 
incensário. Seja, porém, qual for a idéia que se tenha desse ponto 
controvertido, é digno de nota que Hebreus 9:2 omite o altar de incenso ao 
descrever o lugar santo. A afirmação de I Reis 6:22, de que o altar de incenso 
conquanto localizado no lugar santo “pertencia” ao santíssimo, é geralmente 
considerada como a tradução correta. Da declaração de Êxodo 30:6 concluímos, 
portando, que o altar do incenso estava situado defronte ao véu,
No lugar santo, “diante do propiciatório”, e que seu uso era tal que, em certo 
sentido, “pertencia” também ao lugar santíssimo. E como na realidade o incenso 
enchia tanto o lugar santo como o santíssimo, esta parece ser, afinal, a melhor 
maneira de compreender o assunto. ( Ver Êxo. 40:26).
O Templo de Zorobabel
O templo construído por Salomão foi destruído nas invasões de Nabucodonozor, no 
sexto século antes da nossa era. Governantes e povo foram gradualmente se 
afastando do Senhor e entregando-se mais à idolatria e ao pecado. Mau grado 
todos os esforços divinos para conjugar esses males, Israel continuava em 
apostasia. Deus lhes enviou Seus profetas, com advertências e com rogos, “porém 
zombaram dos mensageiros de Deus, e desprezaram as Suas palavras e mofaram dos 
Seus profetas até que o furor do Senhor subiu tanto, contra o Seu povo, que mais 
nenhum remédio houve. Porque fez subir contra eles o rei dos caldeus, o qual 
matou os seus mancebos à espada, na casa do seu santuário; e não teve piedade 
nem dos mancebos, nem das donzelas, nem dos velhos, nem dos decrépitos: a todos 
os deu na sua mão.” II Crôn. 36:16 e 17.
 
Ao destruir Jerusalém, Nabucodonozor queimou “a casa do Senhor, e derrubaram os 
muros de Jerusalém; e todos os seus palácios queimaram a fogo, destruindo também 
todos os seus preciosos vasos.” vs. 19. “E os que escaparam da espada levou 
para Babilônia: e fizeram-se servos dele e de seus filhos, até ao templo do 
reino da Pérsia.” vs. 20. Começou assim o chamado cativeiro dos setenta anos, 
“para que se cumprisse a palavra do Senhor, pela boca de Jeremias, até que a 
Terra se agradasse dos seus sábados; todos os dias da desolação repousou, até 
que os setenta anos se cumpriram.” vs. 21.
 
O esplendor do templo de Salomão é visível nos despojos que Nabucodonozor levou 
de Jerusalém. Uma descrição do livro de Esdras se refere a “trinta bacias de 
ouro, mil bacias de prata, vinte e nove facas, trinta taças de ouro, 
quatrocentas e dez taças de prata doutra espécie e mil outros vasos. Todos os 
vasos de ouro e de prata foram cinco mil e quatrocentos:todos estes levou Sesbazar, quando do cativeiro subiram de Babilônia para 
Jerusalém.” Esdras 1:9-11.
 
Israel esteve setenta anos no cativeiro. Ao cumprirem-se os dias, obtiveram 
permissão de voltar, mas naquela ocasião muitos haviam estado por tanto tempo em 
Babilônia, que preferiram lá ficar. Contudo, um remanescente voltou, e ao tempo 
devido foram lançados os alicerces do novo templo. “E todo o povo jubilou com 
grande júbilo, quando louvaram ao Senhor, pela fundação da casa do Senhor.” 
Esdras 3:11. Mas a alegria não foi completa, pois “muitos dos sacerdotes, e 
levitas e chefes dos pais, já velhos, que viram a primeira casa, sobre o seu 
fundamento, vendo perante os seus olhos esta casa, choraram em altas vozes: mas 
muitos levantaram as vozes com júbilo e com alegria. De maneira que não 
discernia o povo jubilou com tão grande júbilo que as vozes se ouviam de mui 
longe.” Esdras 3: 12 e 13.
 
O templo assim erigido passou a ser chamado templo de Zorobabel, derivando seu 
nome do orientador dos trabalhos da construção. Pouco se sabe quanto à sua 
estrutura, mas se supõe, e talvez com boas razões, que seguiu as linhas do 
templo de Salomão. A arca já não existia. Desaparecera ao tempo da invasão de 
Nabucodonozor. Refere a tradição que homens santos a tomaram e esconderam nas 
montanhas para evitar que caísse em mãos profanas. De qualquer maneira, o lugar 
santíssimo nada mais tinha a não ser uma pedra que servia de substituto da arca 
no Dia da Expiação. Esse templo existiu até perto do aprimoramento de Cristo. 
Foi então substituído pelo templo de Herodes.
 
O Templo de Herodes
Herodes tornou-se rei no ano de 37 antes da era vulgar. Um de seus primeiros 
atos foi construir uma fortaleza, Antônia, ao norte dos terrenos do templo, e 
que se ligava ao pátio do templo por uma passagem subterrânea. Alguns anos mais 
tarde resolveu reconstruir o templo em proporções maiores do que das outras 
vezes. Os judeus não confiavam nele, e não consentiriam que procedesse à 
construção enquanto não houvesse demonstrado a sua boa fé,
reunindo o material necessário para o edifício antes de demolir qualquer parte 
do antigo. Isso fez de boa vontade. Os sacerdotes também insistiram em que 
leigos não trabalhassem no templo, e em ser necessário que os próprios 
sacerdotes o construíssem. Por essa razão alguns anos foram gastos em adestrar 
os sacerdotes para serem pedreiros e carpinteiros, a fim de trabalhar no 
santuário. Fizeram todo o trabalho relativo aos dois compartimentos do templo. 
Ao mesmo tempo, dez mil hábeis operários foram empregados durante os trabalhos 
da construção.
 
Os trabalhos de construção começaram por volta do ano 20 a.C. O templo 
propriamente dito foi terminado em ano e meio, mas foram necessários mais oito 
anos para terminar o pátio e os aposentos para os sacerdotes. S. João 2:20 nos 
conta que ao tempo de Cristo o templo estava em construção havia já quarenta e 
seis anos; com efeito, somente por volta do ano 66 da nossa era, pouco antes da 
destruição de Jerusalém pelos romanos, é que o templo foi completamente acabado.
 
O templo de Herodes era um belíssimo edifício. Fora construído de mármore branco 
coberto com laminas de ouro, localizava-se numa eminência com degraus que 
levavam a ele por todos os lados, e que constituíam uma serie de terraços. 
Elevava-se a 120 metros acima do vale em baixo, e podia ser avistado a grande 
distância. Josefo compara-o a uma montanha coberta de neve. Apresentava um 
espetáculo deveras extraordinário, especialmente quando contemplado do Monte das 
Oliveiras numa límpida manhã, ao incidirem sobre ele os raios solares. Era uma 
das maravilhas do mundo antigo.
 
O tamanho dos dois compartimentos, santo e santíssimo, era o mesmo do templo de 
Salomão; isto é, o templo propriamente dito tinha cerca de 27 metros de 
comprimento e 9 de largura. O lugar santo estava separado do santíssimo por uma 
parede com cerca de 45 centímetros de espessura, com uma abertura diante da qual 
pendia o véu mencionado em S. Mateus 27:51, que se rasgou de alto a baixo por 
ocasião da morte de Jesus. Nenhuma mobília existia no lugar santíssimo, mas 
apenas a pedra que ficara do templo de Zorobabel, sobre a qual o sumo-sacerdote 
colocava o incensário no Dia da Expiação. A mobília do santíssimo era 
provavelmente a mesma do templo de Salomão.
Exatamente sobre o lugar santo e o santíssimo havia aposentos ou salas onde os 
sacerdotes se reuniam em determinadas ocasiões. Por algum tempo o Sinédrio 
também se reuniu ali. No soalho da sala que ficava sobre o santíssimo havia 
alçapões através dos quais uma caixa podia ser descida ao lugar santíssimo, em 
baixo. Essa caixa era grande bastante para conter um ou mais operários que às 
vezes precisavam fazer algum reparo no templo. A caixa se abria para o lado da 
parede, de maneira que podiam trabalhar nas paredes sem descer dela, ou melhor, 
sem olhar em torno. Visto como apenas o sumo-sacerdote podia penetrar no lugar 
santíssimo, esse plano tornava possível se fazerem os necessários reparos sem 
que os operários por isso precisassem entrar ou estar no santíssimo.
 
Ao lado do templo propriamente dito havia aposentos para os sacerdotes e também 
para depósito, como se dava no templo de Salomão. Havia também um pórtico na 
frente, que avançava cerca de doze metros além da parede lateral, e que dava ao 
pórtico a largura total de 48 metros.
 
O pátio exterior do templo de Herodes era um amplo cercado, não completamente 
quadrado, com cerca de trezentos metros de cada lado. Esse pátio estava dividido 
em outros, menores, tais como o dos gentios, o das mulheres e o dos sacerdotes. 
Numa parte do pátio, repousava sobre ripas ou grades uma videira de ouro cujas 
uvas, segundo Josefo (em quem, todavia, nem sempre se pode confiar), tinham a 
altura de um homem. Conforme o mesmo historiador, a videira se estendia por doze 
metros, do norte para o sul, e o seu topo estava a mais de trinta metros do 
solo. Foi aí também que Herodes, muito a contragosto dos judeus, colocou uma 
colossal águia de ouro. Viu-se afinal obrigado a removê-la do recinto sagrado.
 
Afastado uns doze metros do pórtico, e do lado do nascente, ficava o altar dos 
holocaustos. Esse altar era maior do que o do templo de Salomão. Conta Josefo 
que tinha 22 e meio metros quadrados, mas outros mais conservadores afirmam que 
tinha apenas 15. Era construído com pedras não trabalhadas e tinha mais de cinco 
metros de altura. Um plano inclinado, também construído de pedras, chegava quase 
até aos bordos do altar.
Em torno deste, perto do topo, havia uma saliência por onde os sacerdotes podiam 
andar ao oferecer os sacrifícios prescritos.
 
No pavimento próximo do altar havia argolas às quais podiam ser atados os 
animais que iam ser oferecidos. Havia também mesas com vasos, facas e vasilhas 
usadas nos sacrifícios. O altar estava dotado de um sistema de escoamento, de 
modo que o sangue vertido ao pé do altar era conduzido à corrente, em baixo. 
Tudo isso era mantido escrupulosamente limpo, e até mesmo o sistema de 
escoamento era lavado em dias fixos.
 
Nas paredes que cercavam o pátio havia portas ou alpendres, às vezes chamados 
pórticos. A que ficava para o lado do nascente era chamada “alpendre de 
Salomão”. Os lados que ficavam ao norte, a oeste e leste, tinham alpendres 
duplos com duas fileiras de colunas e teto de cedro esculpido. Do lado do sul 
ficava o pórtico real com 162 colunas. Estas colunas eram dispostas de modo a 
formar três entradas, tendo as laterais nove metros de largura, e a central, 13 
metros e meio. Nesses pórticos era possível realizar reuniões públicas. Era aí 
que a igreja primitiva se reunia quando ia orar no templo. Era o ponto de 
reunião comum quando o povo de Israel ia ao templo.
 
A parte do pátio mais próxima da entrada era chamada pátio dos gentios. Um 
parapeito de pedra separava esse pátio do resto. Nenhum gentio podia ir além 
desses limites. Havia sobre o parapeito a seguinte inscrição: “Nenhum 
estrangeiro pode passar além da balaustrada e da parede que cercam o lugar 
santo. Quem quer que seja apanhado violando este regulamento será responsável 
pela sua morte, que se seguirá.” Foi por pensar que Paulo havia transgredido 
esta ordenança que os judeus lançaram mão dele no templo e os romanos o 
prenderam. Atos 21:28. Em 1880 encontrou-se essa inscrição, que atualmente se 
acha num museu.
 
O templo de Herodes foi talvez o mais belo edifício que o mundo já viu. Era o 
orgulho dos judeus. Todavia, foi destruído. “Não ficará aqui pedra sobre pedra 
que não seja derribada”, foram as palavras de Cristo. S. Mat. 24:2. Esta 
profecia teve literal cumprimento. Nenhuma pedra foi deixada.
O templo já não existe, e o seu ritual cessou. Mas as lições permanecem. Bem 
andaremos em estudar cuidadosamente os serviços levados a efeito no santuário 
terrestre. Isso nos dará uma melhor compreensão do que agora se passa no 
santuário celestial.
 
O santuário original e os três templos aqui mencionados tinham três coisas em 
comum, embora divergissem um pouco nos detalhes. Todos eles tinham dois 
compartimentos, o santo e o santíssimo. Todos tinham um altar de incenso, um 
altar dos holocaustos, uma pia, uma mesa dos pães da proposição e um castiçal. 
Os dois primeiros tinham uma arca, que desapareceu por volta do ano 600 antes da 
nossa era. O sacerdócio era sempre o mesmo, como também o eram as ofertas 
sacrificais. Durante mais de mil anos Israel se reuniu no santuário. Que benção 
lhes teria sobrevindo se houvessem discernido em seus sacrifícios o Prometido no 
jardim do Éden, o Cordeiro que tira o pecado do mundo! “Temamos, portanto, que, 
sendo-nos feita uma promessa de entrarmos no seu descanso, não haja algum de 
vós, porventura, que pareça ter falhado.” Heb. 4:1.
 
05.  O SACERDÓCIO
Enquanto Moisés recebia no monte instruções de Deus atinentes à construção do 
santuário, o povo se cansou de esperar por ele. Lá permanecia mais de um mês, e 
não sabiam ao certo quando havia de voltar, ou se nunca mais regressaria. “Não 
sabemos o que lhe sucedeu”, disseram. Por conseguinte, pediram a Aarão que lhes 
fizesse deuses como tinham no Egito, a fim de que os pudessem adorar e tomar 
parte nas festas que celebravam entre os egípcios. Aarão dispôs-se a atender ao 
pedido do povo, e logo um bezerro de ouro estava pronto, do qual o povo disse: 
“Estes são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito.” Êxo. 32:4.
 
Aarão levantou um altar, e anunciou uma festa ao Senhor. Holocaustos e ofertas 
pacíficas foram oferecidos “e o povo assentou-se a comer e a beber; depois 
levantou-se a folgar.” vs. 6. Moisés, é claro, nada sabia disso até que Deus o 
informou: “Depressa se tem desviado do caminho que Eu lhes tinha ordenado; 
fizeram para si um bezerro de fundição, e perante ele se inclinaram, e 
sacrificaram-lhe e disseram: “Estes são os teus deuses, ó Israel, que te tiraram 
da terra do Egito.” vs. 8.
 
Sem dúvida, com o fim de provar a Moisés, Deus propõe destruir o povo e fazer do 
profeta uma grande nação. Mas Moisés intercede pelo povo e pede a Deus que o 
poupe. E Deus misericordiosamente atende à sua súplica. “Então o Senhor 
arrependeu-Se do mal que dissera que havia de fazer ao Seu povo.” vs. 14.
 
Evidentemente Moisés não estava preparado para contemplar o espetáculo que aos 
seus olhos se apresentaria ao descer do monte. E o povo gritava e dançava, o que 
levou Josué a concluir: “Alarido de guerra há no arraial.” vs. 17. Ao ver 
Moisés até que ponto Israel havia chegado, e que se entregavam às lascivas 
danças pagãs que haviam aprendido no Egito, “acendeu-se” o seu furor.
Acabava de receber de Deus as duas tábuas da lei contendo os dez mandamentos, 
escritos com o dedo de Deus, esculpidos nas tábuas. “E arremessou as tábuas das 
suas mãos, e quebrou-as ao pé do monte.” vs. 16 e 19.
Talvez fosse de se supor que o quebrar dessas tábuas era aos olhos de Deus um 
grande pecado. Sem dúvida, o ato era simbólico. Israel pecara. Quebrara a lei. 
Em sinal disso, Moisés quebra as tábuas que Deus acabava de lhe dar. E Deus não 
o reprova: unicamente torna a escrever a mesma lei sobre duas outras tábuas. 
Isso também tinha um significado simbólico. A lei não é destruída por ser 
quebrada – Deus torna a escrevê-la.
 
Era grave o pecado cometido por Israel. Deus operara grandes coisas em seu 
favor. Libertara-o da servidão. Abrira-lhe o Mar Vermelho. A lei fora proclamada 
do Sinai, por entre trovões e relâmpagos. Deus fizera com eles um concerto, e o 
sangue fora aspergido sobre eles e sobre o livro do concerto. E agora se haviam 
afastado de Deus e esquecido todas as promessas feitas. Chegara o tempo de ação 
decidida. É preciso que se saiba quem está do lado do Senhor, pois é claro que 
nem todos se desviaram. Um repto é feito por Moisés: “Quem é do Senhor venha a 
mim.” Israel hesita. De toda aquela vasta multidão apenas uma tribo ousa pôr-se 
à frente. “Então se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi.” vs. 26.
 
Esse corajoso ato da parte da tribo de Levi certamente influiu em sua escolha 
para o serviço de Deus. Numa ocasião crítica souberam colocar-se ao lado do 
direito, e Deus os recompensou. Foram escolhidos em lugar dos primogênitos para 
pertencer a Deus num sentido específico e para servir no tabernáculo. Num. 
3:5-13. A uma família – a de Aarão – foi confiado o sacerdócio; os demais deviam 
“administrar o ministério do tabernáculo” e “tenham cuidado de todos os vasos da 
tenda da congregação.” vs. 7 e 8. Os “sacerdotes ungidos, cujas mãos foram 
sagradas para administrar o sacerdócio”, estavam relacionados de um modo mais 
direto com os serviços divinos no tabernáculo, tais como o acender as lâmpadas; 
queimar incenso; oferecer todas as espécies de sacrifícios sobre o altar dos 
holocaustos; espargir o sangue; preparar, acondicionar o pão da proposição e 
dele comer; preservar a ciência e ensinar a lei. Num. 3:3; Êxo. 30:7,8; Lev. 
1:5; 24:5-9; Mal. 2:7.
Os sacerdotes eram todos levitas, mas nem todos os levitas eram sacerdotes. O 
oficio sacerdotal foi reservado para Aarão e seus descendentes. Num. 3:1-4; Êxo. 
28:1. 
 
Os sacerdotes constituíam uma classe separada do resto do povo. Somente eles 
podiam servir no templo nos mais importantes misteres dos sacrifícios. Conquanto 
em tempos recuados fosse permitido a qualquer pessoa erguer um altar onde quer 
que desejasse, e sobre ele oferecer sacrifícios, depois se tornou lei que 
somente em Jerusalém se podiam oferecer sacrifícios, e que somente sacerdotes 
podiam oficiar. Isso deu aos sacerdotes grande poder e influência. Tinham a 
direção de todo o culto público do país inteiro. Cuidavam dos terrenos do 
templo. Unicamente por seu intermédio podia Israel ter acesso às bênçãos do 
concerto simbolizado pelo espargir do sangue e pela oferta do incenso. Somente 
eles podiam andar nos recintos sagrados do templo propriamente dito e 
comunicar-se com Deus.
 
Os sacerdotes tinham também a direção em muitos assuntos civis e particulares. 
Decidiam se o indivíduo estava ou não impuro para as cerimônias, e tinham 
autoridade de excluí-lo da congregação. Os casos de lepra eram submetidos a eles 
para exame, e sua palavra é que decidia se o indivíduo devia se banido da 
sociedade ou não, ou se uma casa devia ser demolida. Levítico 13 e 14. 
“Guarda-te da praga da lepra, e tem grande cuidado de fazer conforme a tudo o 
que te ensinaram os sacerdotes levitas; como lhes tenho ordenado, terás cuidado 
de o fazer. Lembra-te do que o Senhor teu Deus fez a Miriam no caminho, quando 
saíste do Egito.” Deut. 24: 8 e 9.
 
Em caso de exclusão, somente o sacerdote podia restituir o indivíduo a sua 
família. Tinham jurisdição sobre certos casos de suspeita de infidelidade. Num. 
5:11-31. Em virtude de interpretarem as leis exerciam grande influência e 
autoridade em muitos assuntos relacionados com a vida diária. Em questões 
difíceis de legislação, os sacerdotes auxiliavam os juizes nas sentenças 
judiciárias, e isto não só em questões religiosas, mas também nas que eram 
puramente civis, “em negócios de pendências nas tuas portas”. Deut. 17:8.
Sua sentença era inapelável. O indivíduo era advertido a fazer “conforme ao 
mandado da lei que te ensinarem, e conforme ao juízo que te disserem.” “O homem 
pois que se houver soberbamente, não dando ouvidos ao sacerdote, que está ali 
para servir ao Senhor teu Deus, nem ao juiz, o tal homem morrerá: e tirarás o 
mal de Israel.” vs. 11 e 12. (Ver também Deut. 19:17.)
 
É fácil de se imaginar que uma corporação que dispusesse do controle do culto de 
uma nação, do ensino e interpretação das leis, das relações íntimas entre os 
indivíduos, do cumprimento das decisões legais, havia de exercer poderosa 
influência sobre o povo, tanto para o bem como para o mal. E se acrescentarmos a 
esse prestígio, as receitas de que dispunham, receitas que, pelo menos nos 
últimos tempos, ascendiam a elevadas somas, é de se supor que os sacerdotes se 
tornassem uma organização muito exclusivista.
 
Grandes eram os privilégios do sacerdócio, e de seus direitos mantidos muito 
ciosamente. Somente Aarão e seus descendentes podiam oficiar no culto 
sacrifical. Êxodo 28 e 29; Levítico 8-10; Numeros 16-18. Unicamente quem 
nascesse na família podia tornar-se sacerdote. Isso deu logo grande importância 
à questão do nascimento e aos registros genealógicos que comprovavam esse 
nascimento. Todo sacerdote devia provar de modo incontestável sua ascendência de 
Aarão. Não devia haver solução de continuidade na sucessão. Cada passo devia 
estar claro.
 
Cabia a certos sacerdotes a tarefa de examinar a genealogia de todos os 
candidatos. Mais tarde isso ficou a cargo do Sinédrio, que dedicava parte de seu 
tempo a esse mister. Se o sacerdote provasse satisfatoriamente seu direito 
genealógico ao ofício e fosse declarado apto no exame físico exigido - se não 
tivesse nenhum defeito físico que o incapacitasse para o cargo – era vestido de 
branco, e seu nome inscrito na lista oficial dos sacerdotes autorizados. É 
provável que Apocalipse 3:5 se fundamente nesse costume. Por outro lado, se não 
conseguisse satisfazer aos examinadores, era vestido de preto.
 
O defeito físico – se o registro genealógico fosse satisfatório – não excluía o 
sacerdote de compartilhar do sustento devido ao sacerdote do templo. Lev. 
21:21-23.
Se o defeito não fosse tão manifesto, podia até servir em ocupações menos 
importantes, tais como providenciar a lenha usada nos serviços do altar, ou como 
guarda.
 
Sendo muito sagrado o ofício sacerdotal, observavam-se estritamente os 
regulamentos quanto à mulher com que o sacerdote podia ou não podia casar-se. 
Não podia casar-se com a repudiada ou divorciada. Não se podia casar com uma 
prostituta ou com moça deflorada. Lev. 27:7 e 8. Podia desposar unicamente a 
virgem pura ou uma viúva, embora o sumo-sacerdote estivesse proibido de casar-se 
até com a viúva. “E ele tomará uma mulher na sua virgindade. Viúva, ou 
repudiada, ou desonrada, ou prostituta, estas não tomará, mas virgem dos seus 
povos tomará por mulher.” Lev. 21:13 e 14.
 
Os sacerdotes deviam também ser muito cuidadosos quanto à contaminação 
cerimonial. Não deviam tocar corpo morto, salvo no caso de se tratar de parente 
muito chegado. Ao sumo-sacerdote até isso era negado. Lev. 21:1-3; 11. Com 
efeito, em todos os atos de sua vida devia o sacerdote estar consciente da 
necessidade de manter-se afastado de tudo o que contaminasse. E esse cuidado no 
tocante à contaminação física era tão somente um símbolo da maior pureza 
espiritual. “Santidade ao Senhor” era a senha do sacerdócio.
 
Os sacerdotes e levitas não tinham herança na terra, como se dava com as demais 
tribos. “Das ofertas queimadas do Senhor e da Sua herança comerão. Pelo que não 
terá herança no meio de seus irmãos: o Senhor é a sua herança, como lhe tem 
dito.” Deut. 18:1 e 2.
 
Ao invés de uma porção de terra, reservou Deus aos sacerdotes certas partes dos 
sacrifícios que o povo trazia. De todo animal sacrificado, exceto a oferta 
queimada, que era todo ela queimada sobre o altar, e de alguns outros 
sacrifícios, cabia ao sacerdote a espádua, as queixadas e o bucho. Deut. 18:3. 
Os sacerdotes também recebiam os primeiros frutos dos cereais, da videira, e 
óleo e lã de ovelhas. Além disso, ao sacerdote se dava farinha, oferta de 
manjares cozida ao forno ou na sertã, misturada com óleo ou seca. Lev. 2:3 e 10; 
1; 2; 3; 4; 5; 24:5-9. Das ofertas queimadas recebiam o couro. Lev. 7:8. Em caso 
de guerra, certa porção do despojo também cabia ao sacerdócio, tanto em homens 
como em gado e ouro.
Por vezes isso atingia uma soma considerável. Num. 31:25-54. Todas as ofertas 
alçadas e movidas eram dos sacerdotes. Num. 18:8-11. Todas as ofertas 
dedicatórias eram igualmente dos sacerdotes. vs. 14.
 
O primogênito em Israel, tanto de homem como de animal, pertencia ao sacerdote, 
“porém os primogênitos dos homens resgatarás”, isto é, Israel devia pagar uma 
soma estipulada, cinco ciclos, para cada filho primogênito. vs. 15-19. No ano 
do jubileu, campos que não eram resgatados, ou que haviam sido vendidos e não 
podiam resgatados, revertiam aos sacerdotes. Lev. 27:20 e 21. Em caso de dano 
causado ao vizinho, quando não era possível a restituição à parte prejudicada, a 
ordem era que o “que se restituir ao Senhor, será do sacerdote.” Num. 5:8. A 
taxa regular do templo de meio ciclo para cada alma em Israel, “o dinheiro das 
expiações”, devia ser empregada no serviço do tabernáculo, isto é, nas despesas 
do serviço divino, e não ia diretamente para o sacerdote. Êxo. 30:11-16. Além 
das fontes de renda acima mencionadas, havia ainda outras menores, que não 
precisam ser aqui consideradas.
 
As receitas aqui enumeradas não incluíam o dízimo recebido pelos sacerdotes. 
Todo o Israel estava sob a obrigação de pagar o dízimo. Lev. 27:30-34. Esse 
dízimo devia ser entregue aos levitas, e a eles pertencia. Num. 18:21-24. Do 
dízimo que os levitas assim recebiam, deviam dar uma “oferta alçada do Senhor a 
Aarão, o sacerdote”. Num. 18:26-28. Parece que em tempos posteriores o dízimo 
foi pago diretamente aos sacerdotes. Heb. 7:5. É pensar de alguns que isso se 
deu ao erigir-se o segundo templo, quando poucos eram os levitas que voltaram do 
cativeiro, tornando-se necessário empregar os netineus em seu lugar, mas esse 
ponto não está bem esclarecido. Esdras 8:15-20. De qualquer modo, os sacerdotes 
recebiam os dízimos direta ou indiretamente do povo, e como os sacerdotes eram 
originalmente poucos em Numero, as receitas dessa fonte eram talvez mais do que 
suficientes para as suas necessidades.
Os sacerdotes eram ministros de Deus, divinamente apontados como mediadores 
entre Deus e os homens, particularmente autorizados a oficiar no altar e nos 
serviços do santuário. Nos tempos em que os livros não eram comuns, eles eram 
não só os intérpretes da lei, mas em muitos casos a única fonte de conhecimento 
dos reclamos divinos. Por seu intermédio era o povo instruído na doutrina do 
pecado e sua expiação, na justiça e santidade. Por seu ministério o povo era 
ensinado como se devia aproximar de Deus; como o perdão podia ser alcançado; 
como a oração se podia tornar agradável a Deus; quão inexorável é a lei; como o 
amor e a misericórdia prevalecem, por fim. Todo o plano da salvação lhes era 
esclarecido até ao ponto em que era possível ser revelado em símbolos e ofertas. 
Cada cerimônia visava impressionar-lhes o espírito com a santidade de Deus e as 
fatais conseqüências do pecado. Ensinava-lhes também a admirável provisão feita 
mediante a morte do cordeiro. Fosse embora um ministério de morte, era glorioso 
em suas promessas. Contava de um redentor, de alguém que levava o pecado, que 
compartilhava a carga, um mediador. Era o evangelho em perspectiva.
 
No serviço do sacerdócio três coisas se destacavam preeminentemente do resto: 
mediação, reconciliação, santificação. Cada uma delas merece ser destacada.
 
Os sacerdotes eram, antes de mais nada, os mediadores. Era esta a sua obra 
precípua. Conquanto o pecador pudesse trazer a oferta, não podia espargir o 
sangue ou queimar a carne sobre o altar. Nem podia comer o pão da proposição, ou 
oferecer incenso, ou mesmo espevitar as lâmpadas. Tudo isso outro devia fazer 
por ele. Embora pudesse aproximar-se do templo não podia nele entrar: embora 
pudesse suprir o sacrifício, não podia oferecê-lo; embora pudesse imolar o 
cordeiro, não podia oferecer o sangue. Deus era acessível a ele unicamente pela 
mediação do sacerdócio. Podia aproximar-se de Deus só por intermédio de outra 
pessoa. Tudo isso devia gravar-lhe na mente o fato de que necessitava alguém 
para interceder por ele, alguém para interferir. Isso pode ser apresentado mais 
vividamente ao espírito, imaginando-se uma ocorrência que muito bem pode ser 
real.
 
Um pagão que sinceramente deseje adorar ao verdadeiro Deus ouve que o Deus de 
Israel é o Deus verdadeiro, e que habita no templo de Jerusalém. Faz longa 
jornada e afinal chega ao sagrado lugar. Ouviu dizer que Deus habita entre os 
querubins no lugar santíssimo, e resolve penetrar no recinto onde possa adorar a 
Deus.
Mas não dá muitos passos quando é detido por um aviso que o informa de que 
nenhum estranho pode transpor aquele limite sem perigo de vida. Fica perplexo. 
Deseja adorar ao verdadeiro Deus de quem ouviu falar, e também lhe foi dito que 
Deus quer ser adorado. No entanto, é impedido nisso. Que poderá ser feito? 
Interroga um dos adoradores e é-lhe dito que necessita prover-se de um cordeiro 
antes de se poder aproximar de Deus. Provê-se imediatamente com o animal 
requerido e volta. Pode agora ver a Deus? Novamente lhe é dito que não pode 
entrar.
 
- Para que, afinal, é o cordeiro? Pergunta.
 
- Deve entregá-lo ao sacerdote para sacrificá-lo.
 
- Poderei então entrar?
 
- Não, pois não existe meio de jamais entrar no templo ou ver a Deus. Não é 
assim que se procede.
 
- Mas por que não posso ver vosso Deus? Quero adorá-Lo. 
 
- Nenhum homem poderá ver a Deus e viver. Ele é santo, e somente quem é santo O 
pode ver. O sacerdote pode entrar no primeiro compartimento, mas existe ainda 
uma cortina entre ele e Deus. Somente o sumo-sacerdote pode de vez em quando 
entrar no santíssimo. Não poderá o senhor ir em pessoa. Sua única esperança está 
em que alguém ali chegue em seu lugar.
 
O homem fica profundamente impressionado. Não lhe é permitido entrar no templo. 
Somente quem é santo pode fazê-lo. Precisa de alguém que por ele interceda. A 
lição fica-lhe gravada profundamente na alma: não pode ver a Deus; precisa de um 
mediador. Somente assim podem os pecados ser perdoados e a reconciliação 
efetuada.
 
Todo o ritual do 
santuário se baseia na obra de mediação. O pecador podia trazer o cordeiro; 
podia matá-lo; mas o rito só seria eficaz se houvesse um mediador que aspergisse 
o sangue e ofertasse o sacrifício.
 
A segunda característica preeminente do rito era a reconciliação. O pecado 
afasta de Deus. É ele que encobre o Seu rosto de nós, e impede que nos ouça. 
Isa. 59:2.
Mas por intermédio das ofertas queimadas e do incenso que ascendia com as 
orações, era possível a aproximação de Deus. Era restaurada a comunhão e 
efetuada a reconciliação.
 
Ao passo que a mediação era o fim precípuo do sacerdócio, a reconciliação era o 
desígnio dos sacrifícios oferecidos diariamente durante o ano. Por meio deles, 
eram restabelecidas as cordiais relações entre Deus e o homem. O pecado 
separava; o sangue unia. Isso era realizado pelo ministério do perdão. Fora 
afirmado que quando toda a congregação houvesse pecado e trouxesse sua oferta 
pela culpa; quando os anciãos pusessem as mãos sobre a oferta fazendo sincera 
confissão do pecado, “lhe será perdoado o pecado”. Lev. 4:20. E a ordem continua 
afirmando que quando um príncipe houvesse pecado e cumprisse com as exigências, 
ser-lhe-ia perdoado. vs. 26. A promessa atingia também qualquer pessoa do povo 
em geral: “E lhe será perdoado o pecado.” vs. 31 e 35. Pelo pecado, viera a 
separação; mas daí por diante tudo estava perdoado.
 
Somos reconciliados com Deus pela morte de Seu filho. Rom. 5:10. A reconciliação 
é efetuada pelo sangue. II Crôn. 29:24. Dia após dia o sacerdote entrava no 
primeiro compartimento do santuário para comungar com Deus. Havia ali o incenso 
santo que penetrava além do véu até o santíssimo; ali estava o castiçal que era 
um emblema dAquele que é a luz do mundo; a mesa do Senhor convidando à comunhão; 
e a aspersão do sangue. Era um lugar de aproximação de Deus, de comunhão. Por 
intermédio do ministério do sacerdote o perdão era concedido, efetuada a 
reconciliação, e o homem posto em comunhão com Deus.
 
O terceiro aspecto importante do ritual do santuário é o da santificação, ou 
santidade. O pecado que acariciamos no coração revela a distancia que nos separa 
de Deus. O estranho só podia entrar no pátio do templo. A alma penitente devia 
aproximar-se do altar. O sacerdote podia penetrar no lugar santo. Só o 
sumo-sacerdote – e isso apenas um dia no ano, e depois de ampla preparação – 
podia entrar no lugar santíssimo. Vestido de branco podia aproximar-se com 
tremor do trono divino. E mesmo assim, o incenso devia ocultá-lo parcialmente.
Aí podia ministrar não simplesmente como alguém que buscava perdão do pecado, 
mas lhe era permitido suplicar resolutamente que fosse apagados.
 
O ritual diário que se processava durante o ano inteiro, simbolizado pelo 
ministério do primeiro compartimento, não era completo em si. Precisava ser 
completado e arrematado pelo do segundo compartimento. O perdão só é concedido 
depois da transgressão. A ofensa já fora praticada. Deus perdoa o pecado. Mas 
seria melhor que o pecado não houvesse sido cometido. Para isso nos é concedido 
o poder de Deus. Não basta simplesmente perdoar a transgressão depois de 
cometida. Deve existir um poder que guarde do pecado. “Vai-te, e não peques 
mais”, é a possibilidade do evangelho. Mas “não pecar mais” é santificação. Esta 
é o fim da salvação. O evangelho não está completo sem ela. Devemos entrar com 
Cristo no santíssimo. Alguns farão isso. Seguirão o Cordeiro aonde quer que eu 
vá. Serão irrepreensíveis e imaculados. “São irrepreensíveis diante do trono de 
Deus.” Apoc. 14:5. Pela fé penetram no segundo compartimento.
 
06. 
SACERDOTES E PROFETAS
O templo e o seu ritual eram para Israel uma admirável lição objetiva. Seu 
propósito era instruir sobre a santidade de Deus, sobre a pecaminosidade do 
homem e o caminho para Deus. Uma das importantes lições do sistema sacrifical 
consistia em ensinar o sacerdote e o povo a aborrecer o pecado e a fugir dele. 
Quando um homem inadvertidamente pecava ou errava, precisava trazer ao templo 
uma oferta pelo pecado. O primeiro requisito no ritual do sacrifício consistia 
em pôr as mãos sobre o animal, confessando o pecado o transgressor. A seguir, 
com suas próprias mãos devia ele matar o animal. Depois, o sacerdote devia tomar 
o sangue e pô-lo sobre as pontas do altar do holocausto. As vísceras eram então 
queimadas com a gordura sobre o altar, e parte da carne era comida pelo 
sacerdote no lugar santo.
 
Visava isso ensinar a repulsa pelo pecado. Queria Deus que essa aversão ao 
pecado fosse tão grande que os homens procurassem não mais pecar. Nenhuma pessoa 
normal tem prazer em matar um animal inocente, e isso de um modo especial se 
compreender que é por causa dos seus pecados que o animal deve morrer. Um 
sacerdote normal certamente não se deleitaria no serviço de sangue que devia 
efetuar por causa do pecado. Permanecer o dia inteiro lidando com animais 
mortos, mergulhando no sangue os dedos ou a mão, e espargindo-os sobre o altar, 
não podia ser coisa muito atrativa ou agradável. Deus mesmo diz que não folga 
“com sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes”. Isaias 1:11. Nem o 
verdadeiro sacerdote teria prazer nisso.
O sistema sacrifical concedia aos sacerdotes excelente oportunidade de ensinar o 
plano da salvação aos transgressores. Quando o pecador trazia a sua oferta, 
talvez o sacerdote dissesse: “Estou triste por haverdes pecado, e estou certo de 
que vós também estais. Mas Deus proveu o perdão para o pecado. Trouxeste aqui 
uma oferta. Ponde as mãos sobre a oferta e confessai vosso pecado a Deus...
Matareis depois o inocente cordeiro, e eu tomarei o sangue e por vós farei 
expiação da culpa. O cordeiro que ireis matar simboliza o Cordeiro de Deus que 
tira o pecado do mundo. O Messias há de vir e dar Sua vida pelos pecados do 
povo. Pelo Seu sangue sois perdoados. Deus aceita vossa penitência. Ide, e não 
mais pequeis”.
 
Mediante esse solene ritual, o indivíduo ficaria profundamente impressionado com 
a terribilidade do pecado, e deixaria o templo com a firme determinação de não 
pecar outra vez. O ato de matar um animal ensinar-lhe-ia, melhor de que qualquer 
outra coisa, que o pecado significa morte, e que quando alguém peca, o cordeiro 
precisa morrer.
 
Belo e impressionante como era esse ritual, podia ser pervertido. Se o pecador 
concebesse a idéia de que a oferta era pagamento pelo pecado que cometera, e que 
se tão somente trouxesse uma oferta cada vez que pecasse tudo estaria bem, teria 
uma concepção inteiramente errônea do propósito divino. No entretanto, foi essa 
a idéias que muitos chegaram a ter das ordenanças. Achavam que seus sacrifícios 
eram o pagamento por seus pecados, e que se pecassem de novo, outro sacrifício 
expiaria a culpa. O arrependimento e a verdadeira tristeza se tornaram raros. O 
povo chegou a crer que fosse qual fosse o pecado, podia ser expiado por uma 
oferta. Com a apresentação de sua oferta, julgavam que tudo estava feito.
 
Muitos dos sacerdotes favoreciam essa atitude da parte do povo. O pecado não era 
detestado aos seus olhos como Deus pretendia que o fosse. Era uma dívida que 
podia ser paga com o oferecimento de um cordeiro que, em geral, custava apenas 
pequena soma. O resultado foi que se chegou a pensar que “milhares de 
carneiros”e “dez mil ribeiros de azeite” haviam de agradar ao Senhor. Miquéias 
6:7
 
A remuneração dos sacerdotes que oficiavam no santuário e, mais tarde, no 
templo, provinha, em grande parte, dos sacrifícios oferecidos pelo povo. Os 
sacerdotes passaram a ver os sacrifícios como uma fonte de renda. Os levitas, 
que eram os arrecadadores do dízimo pago por Israel, pagavam, por sua vez, o 
dízimo de suas receitas para sustento dos sacerdotes. Números 18:21 e 26-29; 
Neemias 10:38. 
Além disso, os sacerdotes deviam ficar com uma parte da maioria dos sacrifícios 
oferecidos. Das ofertas queimadas deviam receber o couro; da maior parte das 
ofertas pelo pecado e pelas ofensas, tanto o couro como parte da carne. Também 
recebiam parte das ofertas queimadas e dos sacrifícios pacíficos – farinha, 
óleo, cereais, vinho, mel e sal – bem como ofertas por ocasiões especiais. Isso 
independente do dízimo que recebiam dos levitas.
 
Dos sacrifícios pelos pecados comuns, o sacerdote devia comer uma parte: “Esta é 
a lei da expiação do pecado: no lugar onde se degola o holocausto se degolará a 
expiação do pecado perante o Senhor; coisa santíssima é. O sacerdote que a 
oferecer pelo pecado a comerá”. Levíticos 6:25 e 26. Essa era, por assim dizer, 
uma refeição sacrifical. Ao comer essa carne o sacerdote tomava o pecado sobre 
si, e assim o carregava. 
 
Essa ordenança, contudo, foi pervertida. Alguns dos sacerdotes corruptos viram 
perfeitamente que quanto mais o povo pecasse e quanto mais ofertas pelo pecado e 
ofensas trouxesse, tanto maior porção lhes caberia. Chegaram ao ponto de animar 
o povo a pecar. Está escrito acerca dos sacerdotes corruptos: “Alimentam-se do 
pecado do Meu povo, e da maldade dele têm desejo ardente”. Oséias
4:8. Afirma este texto que os sacerdotes, ao invés de admoestar o povo e 
insistir em que deixasse o pecado, tinham “desejo ardente” de sua maldade, e 
almejavam que pecasse outra vez e voltasse com outra oferta pelo pecado. Para o 
sacerdote existia vantagem financeira em que fossem trazidas muitas ofertas pelo 
pecado, pois cada oferta lhes aumentava as receitas. Ao tornar-se mais corrupto 
o sacerdócio, mais acentuada se tornou a tendência para animar o povo a trazer 
ofertas.
 
Um comentário interessante que nos revela até que ponto alguns sacerdotes haviam 
pervertido as ordenanças, é nos dado no segundo capítulo de Primeiro Samuel: “O 
costume daqueles sacerdotes com o povo era que, oferecendo alguém algum 
sacrifício, vinha o moço do sacerdote, estando-se cozendo a carne, com um garfo 
de três dentes em sua mão; e dava com ele na caldeira, ou na panela, ou no 
caldeirão, ou na marmita: e tudo quanto o garfo tirava, o sacerdote tomava para 
si: assim faziam o todo o Israel que ia ali a Silo.
Também antes de queimarem a gordura vinha o moço do sacerdote, e dizia ao homem 
que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote: porque não tomará de ti 
carne cozida, senão crua. E, dizendo-lhe o homem: Queimem primeiro a gordura de 
hoje, e depois toma para ti quanto desejar a tua alma, então ele lhe dizia: Não, 
agora a hás de dar, e, se não, por força a tomarei”. I Samuel 2:13-16.
 
Isso revela a degradação do sacerdócio já na primeira fase de sua existência. 
Deus ordenara que a gordura fosse queimada sobre o altar, e que se a carne fosse 
comida, devia ser fervida. Os sacerdotes, contudo, desejavam a sua porção crua 
com a gordura, de modo que a pudessem assar. Deixara de ser uma oferta 
sacrifical, para tornar-se, em vez disso, uma festa de glutonaria. E o seguinte 
comentário é feito: “Era pois muito grande o pecado destes mancebos perante o 
Senhor, porquanto os homens desprezavam a oferta do Senhor”. I Samuel 2:17.
 
Essa tendência dos sacerdotes de animar o povo a trazer sacrifícios pelo pecado, 
ao invés de afastar-se dele, com o passar dos anos foi-se tornando mais 
manifesta. No tabernáculo a princípio erguido por Moisés, o altar dos 
holocaustos era pequeno, pois tinha apenas cinco cúbitos quadrados. No templo de 
Salomão foi aumentado em vinte cúbitos, ou sejam cerca de 9 metros. No templo de 
Herodes ainda era maior, embora não se saiba ao certo qual era seu tamanho 
exato. Afirma um relato que tinha trinta cúbitos ou sejam 13m,50 quadrados, e 
Josefo conta que tinha cinqüenta cúbitos ou 22m,50 quadrados. De qualquer modo, 
parece que o altar dos holocaustos era sempre aumentado para acomodar as ofertas 
postas sobre ele.
 
Chegou, por fim, o tempo em que Deus precisou fazer alguma coisa, ou, em caso 
contrário, todo o ritual do santuário seria corrompido. Por isso Deus permitiu 
que o templo fosse destruído, e muitos do povo foram levados cativos para 
Babilônia. Privados do templo, os serviços naturalmente cessariam. A atenção do 
povo seria despertada para a significação espiritual das ordenanças que tantas 
vezes haviam presenciado, mas que já não mais existiam. Em Babilônia não mais 
existia holocausto nem oferta pelo pecado, nem a solene festa do Dia da 
Expiação. Israel pendurou suas harpas nos salgueiros.
Passados setenta anos de cativeiro, Deus lhes permitiu voltar à terra natal e 
reconstruir o templo. Esperava que houvessem aprendido a lição.
 
Mas isso não se dera. O altar dos holocaustos foi feito maior do que antes. O 
povo se apegou ainda mais firmemente às meras formas e ritos do templo e seus 
serviços sacrificais, e não atendeu à mensagem profética segundo a qual 
“obedecer é melhor do que sacrificar”. I Samuel 15:22. As receitas dos 
sacerdotes provindas das ofertas se tornaram grandes; tão grandes, com efeito, 
que o dinheiro acumulado no templo constituía um dos mais vastos tesouros da 
antigüidade, e os sacerdotes se tornaram banqueiros.
 
Por ocasião de festas como a Páscoa; Jerusalém ficava repleta de peregrinos 
judeus que vinham tanto da Palestina como de outras terras. É nos dito que de 
uma vez houve um milhão de visitantes na cidade. A Israel fora ordenado que não 
aparecesse de mãos vazias perante o Senhor, de maneira que, está visto, todos os 
peregrinos traziam ofertas. Deut. 16:16. Para os sacerdotes era humanamente 
impossível oferecer todos os sacrifícios necessários para satisfazer a todo o 
povo. Em virtude desse fato foram animados a transformar suas ofertas em 
dinheiro para o templo, com o qual os sacerdotes ofereceriam, segundo as suas 
conveniências, o sacrifício que o dinheiro requeria. Logo se achou que era mais 
fácil e seguro não levar de casa o animal para o sacrifício. O ofertante corria 
não só o risco de ver o animal rejeitado pelo sacerdote por causa de algum 
defeito, real ou imaginário, ma podia ter ainda prejuízo maior, pois não era 
fácil vender um animal que havia sido rejeitado pelos sacerdotes. Para alguns 
fins somente o dinheiro do templo podia ser usado, o que tornava necessária uma 
transação de câmbio. A troca de dinheiro comum por dinheiro do templo era outra 
fonte de volumosas receitas para o sacerdócio.
 
Os sacerdotes estavam divididos em vinte e quatro turnos, e cada um deles devia 
servir durante uma semana de cada vez, duas vezes por ano. Ao revestir-se de 
caráter político o ofício do sumo-sacerdote, e ao ser ele designado pelo 
governo, a corrupção se generalizou. Ao tornar-se um cargo muito lucrativo, o 
ofício do sumo-sacerdote foi posto em leilão, e era vendido ao que fizesse 
melhor oferta. Para reaver o dinheiro gasto,
o sumo-sacerdote controlava a escolha dos turnos; e eram chamados para servir em 
Jerusalém ao tempo das festas os sacerdotes que repartissem com os oficiais as 
enormes receitas que entravam nessas ocasiões. De novo prevaleceu a corrupção, e 
muitos eram os sacerdotes chamados ao templo por ocasião das grandes festas, 
somente porque se dispunham a repartir o espólio com os oficiais superiores. 
Alterou-se a ordem em que os sacerdotes deviam servir no templo, e todo o pleno 
de Deus corrompeu-se. A expressão de Cristo mais tarde, “um covil de ladrões”, 
não era simples expressão poética; era de fato uma realidade.
 
Está visto que não se chegou a essa situação abruptamente. Foi depois de séculos 
haverem transcorrido que a corrupção atingiu os extremos aqui descritos. Foi 
relativamente cedo, contudo, que os abusos começaram a aparecer, conforme 
evidencia a passagem do livro de Samuel, citada no princípio deste capítulo.
 
Ao assim perderem de vista o propósito original das ofertas, pervertendo o plano 
de Deus com respeito aos sacrifícios, tornou-se necessário enviar advertência 
aos sacerdotes. Para esse fim, Deus usou os profetas. Desde o início, a mensagem 
dos profetas ao Seu povo era: “Tem porventura o Senhor tanto prazer em 
holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? eis que o 
obedecer é melhor do que sacrificar: e o atender melhor é do que a gordura de 
carneiros”. I Sam. 15:22.
 
Para alguns dos sacerdotes que estavam apostatando, parecia sobrevir uma 
calamidade se o povo deixasse de pecar; pois nesse caso cessariam as ofertas 
pelo pecado. É a isso que se refere o autor da epístola aos hebreus quando diz: 
“Porque, sendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, 
nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode 
aperfeiçoar os que a eles se chegam. Doutra maneira, teriam deixado de se 
oferecer, porque, purificados uma vez os ministrantes, nunca mais teriam 
consciência de pecado”. Heb. 10:1 e 2.
 
O Antigo Testamento pode ser melhor compreendido, quando a luta entre o 
sacerdote e o profeta é esclarecida. Era uma luta trágica, que terminava, muitas 
vezes, com a vitória dos sacerdotes. O profeta é o porta-voz de Deus.
O povo pode errar e o sacerdote também. Deus, todavia, não fica sem uma 
testemunha. Em tais circunstâncias, envia um profeta ao Seu povo para 
reconduzi-lo ao bom caminho.
Facilmente se pode supor que os profetas não eram muito populares entre os 
sacerdotes. Ao passo que os sacerdotes ministravam no templo dia após dia, 
convidando o povo a trazer seus sacrifícios, os profetas podiam receber ordens 
de Deus para se colocarem próximo à porta do templo e advertir o povo a não 
trazer mais ofertas. Acerca de Jeremias está escrito: “A palavra que foi dita a 
Jeremias pelo Senhor, dizendo: Põe-te à porta da casa do Senhor, e proclama ali 
esta palavra, e dize: Ouvi a palavra do Senhor, todos os de Judá, os que entrais 
por estas portas, para adorardes ao Senhor. Assim diz o Senhor dos Exércitos, o 
Deus d’Israel: Melhorai os vossos caminhos e as vossas obras, e vos farei 
habitar neste lugar. Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do 
Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este”. Jer. 7:1-4.
 
Vêm depois outras advertências dos profetas ao povo para que corrija os seus 
caminhos e não confie em palavras mentirosas. “Furtareis vós, e matareis, e 
cometereis adultério, e jurareis falsamente?” diz o Senhor por intermédio do 
profeta, “e então vireis, e vos poreis diante de Mim nesta casa, que se chama 
pelo Meu nome, e direis: Somos livres, podemos fazer todas estas abominações?” 
vs. 9-11. E acrescenta significativamente: “Porque nunca falei a vossos pais, 
no dia em que vos tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca 
de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Daí ouvidos à 
Minha voz, e Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu povo; e andai em todo o 
caminho que Eu vos mandar, para que vos vá bem”. vs. 22 e 23.
 
Ouçamos o que Isaias nos tem a dizer: “De que Me serve a Mim a multidão de 
vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e 
da gordura d’animais nédios; e não folgo com o sangue de bezerros, nem de 
cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecerdes perante Mim, quem 
requereu isto de vossas mãos, que viésseis pisar o Meus átrios? Não tragais mais 
ofertas debalde: o incenso é para Mim abominação e as luas novas, e os sábados,
e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade, nem mesmo o 
ajuntamento solene. As vossas luas novas, e as vossas solenidades as aborrece a 
Minha alma; já Me são pesadas: já estou cansado de as sofrer. Pelo que, quando 
estendeis as vossas mãos, escondo de vós os Meus olhos; sim, quando multiplicais 
as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. 
Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos Meus 
olhos: cessai de fazer mal: aprendei a fazer bem; praticai o que é reto; ajudai 
o oprimido: fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas”. Isa. 1:11-17.
 
Notemos estas vigorosas expressões: “Estou farto dos holocaustos de carneiros”; 
“quem requereu isto de vossas mãos?” “não folgo com o sangue de bezerros”; “não 
tragais mis ofertas debalde”; “o incenso é para Mim abominação”; “as vossas 
solenidades as aborrece a Minha alma”; “já estou cansado de as sofrer”; “as 
vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue”.
 
Amós diz: “Aborreço, desprezo as vossas festas... Ainda que Me ofereçais 
holocaustos, e ofertas de manjares, não Me agradarei delas: nem atentarei para 
as ofertas pacíficas de vossos animais gordos”. Amós 5:21 e 22.
 
Miquéias, no mesmo diapasão, pergunta: “Com que me apresentarei ao Senhor e me 
inclinarei ante o Deus altíssimo? Virei perante Ele com holocaustos? com 
bezerros de um ano? Agradar-Se-á o Senhor de milhares de carneiros? De dez mil 
ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão? O fruto do 
meu ventre pelo pecado da minha alma?” Miquéias 6:6 e 7. E responde à pergunta 
deste modo: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; que é que o Senhor pede de 
ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente 
com o teu Deus?” vs. 8.
 
O último profeta do Velho Testamento diz: “Agora, ó sacerdotes, este mandamento 
vos toca a vós”. Vós vos desviastes do caminho, a muitos fizestes tropeçar na 
lei: corrompestes o concerto de Levi, diz o Senhor dos exércitos. Por isso 
também Eu vos fiz desprezíveis, e indignos diante de todo o povo, visto que não 
guardastes os Meus caminhos, mas fizestes acepção de pessoas”. Mal. 2:1, 8 e 9.
Andou bem Davi quando disse; “Porque Te não comprazes em sacrifícios, senão eu 
os daria; Tu não Te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o 
espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó 
Deus”. Sal. 51:16 e 17.
 
Dificilmente poderia Deus ter usado palavras mais vigorosas do que as empregadas 
para repreender tanto os sacerdotes como o povo, mas isso é perfeitamente 
justificável. Os sacerdotes haviam corrompido o concerto. Tinham ensinado o povo 
a pecar, e o fizeram crer que uma oferta ou sacrifício servia de pagamento pelo 
pecado. Mereciam a reprovação do Senhor, que a tinha enviado pelos Seus 
profetas. Os resultados foram os que se podiam esperar nessas circunstâncias. Um 
amargo ressentimento contra os profetas surgiu entre muitos dos sacerdotes. 
Odiavam os homens que eram enviados para repreendê-los. Muitas das perseguições 
movidas contra os profetas no Antigo Testamento foram chefiadas ou instigadas 
pelos sacerdotes. Perseguiram-nos, torturaram-nos e mataram-nos. Não foi só o 
povo, mas sim os sacerdotes, que se opuseram e perseguiram aos profetas.
 
Os oponentes de Cristo eram sempre os sacerdotes, os escribas e os fariseus. A 
eles Cristo dirigiu Suas mais incisivas palavras de reprovação: “Ai de vós, 
escribas e fariseus, hipócritas! Pois que edificais os sepulcros dos profetas e 
adornais os monumentos dos justos, e dizeis: Se existíssemos no tempo de nossos 
pais, nunca nos associaríamos com eles para derramar o sangue dos profetas. 
Assim, vós mesmos testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. 
Enchei vós pois a medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras! Como 
escapareis da condenação do inferno? Portanto, eis que Eu vos envio profetas, 
sábios e escribas; e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles 
açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade; para que 
sobre vos caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o 
sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias filho de Baraquias, que 
matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo que todas estas coisas 
hão de vir sobre esta geração”. Mat. 23:29-36.
 
Cristo foi profeta. Como tal, fez soar a mensagem profética: ”Obedecer é melhor 
do que sacrificar”. “Vai-te, e não peques mais”,
Foi o caminho que apontou. João 8:11. Oferecendo-SE sobre o calvário tornou sem 
valor o sistema sacrifical. Pessoalmente, Cristo não ofereceu sacrifício algum. 
Ele não pecou; e, ensinando os homens a não pecar, feriu o cerne da perversão 
sacerdotal. Conquanto Cristo fosse cuidadoso em não ofender sem necessidade, e 
mandasse os leprosos nos sacerdotes para certificação (Lucas 17:14), não passou 
despercebido aos oficiais que Ele não foi visto no templo com a oferta 
costumeira. Sentiam que Sua mensagem era uma reprovação a suas práticas, e 
alegraram-se quando encontraram uma acusação contra Ele em Suas divulgadas 
palavras acerca do templo. Mateus 26:61. Os sacerdotes odiavam a Cristo e, em 
chegando o tempo, seguiu Ele a longa procissão de nobres heróis dentre os 
profetas, dando Sua vida. Os sacerdotes rejeitaram a mensagem profética. Foram 
eles que em realidade causaram a crucifixão de Cristo. Enchiam com isso a faça 
da iniqüidade. Acreditavam nos sacrifícios pelo pecado e que por esse meio 
podiam obter perdão. A mais ampla mensagem de vitória sobre o pecado – a 
mensagem profética – muitos dos sacerdotes não a compreendiam, ou pelo menos não 
a ensinavam.
 
Não se deve pensar, todavia, que todos os sacerdotes eram ímpios. Muitos homens 
fiéis se encontravam entre eles. Houve entre eles profetas como Ezequiel. Era 
desígnio de Deus que cada sacerdote tivesse o espírito profético e fizesse soar 
a mensagem profética. No plano divino não basta procurar remediar as coisas 
depois de se haver cometido mal. É muito melhor evitar o mal do que procurar 
remedia-lo. É admirável alguém se levantar do pecado e da degradação, mas ainda 
mais admirável é ser guardado de cair. “Vai-te, e não peques mais”, é a 
verdadeira mensagem profética. Obedecer é melhor do que sacrificar. Todo 
verdadeiro servo de Deus deve fazer soar esta mensagem, se é que deseja cumprir 
o conselho divino. Deus sempre precisou de profetas. São Seus mensageiros para 
corrigir o erro. Ao surgirem entre o povo de Cristo tendências que por fim 
levarão ao desastre, Deus envia Seus profetas para corrigir essas tendências e 
advertir o povo.
 
A lição para este tempo não deve ser perdida. A obra do profeta não estará 
terminada, enquanto a obra do Senhor na terra não estiver concluída.
Deus quer que Seus Ministros façam soar a mensagem profética. Ao surgirem 
abusos, uma voz deve soar, conclamando o povo a voltar para os retos caminhos do 
Senhor. E cada mensagem assim deve ser seguida da clarinada que convida à 
abstinência do pecado, à santificação, à santidade. Disse o profeta: “Obedecer é 
melhor do eu sacrificar”. Cristo disse: “Vai-te e não peques mais”. Todo 
ministro deve exemplificar esta doutrina em sua vida e ensiná-la com seus 
lábios. Sempre que deixe de assim proceder, não vive à altura de seu elevado 
privilégio. É agora o tempo de enviar a mensagem profética até os confins da 
terra. Foi esta a ordem de Cristo quando nos confiou a grande comissão 
evangélica de ensinar todas as nações e batizá-las, “ensinando-as a guardar 
todas as coisas que Eu vos tenho mandado”. Mat. 28:20. Essa ordem – de observar 
todas as coisas – está a par com a mensagem profética, de que obedecer é melhor 
do que sacrificar. Uma vez feita esta obra, o fim virá.
 
07. 
A CONSAGRAÇÃO DE AARÃO E SEUS FILHOS
As vestes dos sacerdotes tinham significação simbólica, como, aliás, tinha a 
maioria das coisas concernentes ao santuário. Isto se verificava especialmente 
quanto ao sumo-sacerdote, encarnação do povo, e seu representante. A respeito 
das vestes, está escrito o seguinte: “Estes pois são os vestidos que farão: um 
peitoral, e um éfode, e um manto, e uma túnica bordada, uma mitra, e um cinto: 
farão pois vestidos santos a Aarão teu irmão, e a seus filhos, para Me 
administrarem o ofício sacerdotal”. Êxodo 28:4. Além destes são mencionadas 
ceroulas de linho, em Levítico 16:4, e a coroa da santidade em Êxodo 29:6; 
28:36-38.
 
O peitoral mencionado em primeiro lugar, era uma peça em “quadrado e dobrado” 
suspensa sobre o peito da cadeiasinhas. Neste peitoral havia quatro ordens de 
pedras preciosas de três cada uma, com os nomes dos filhos de Israel gravados 
sobre elas, um nome em cada pedra. Êxodo 28:31. Esta peça do vestuário 
chamava-se “peitoral do juízo”, e Aarão devia trazê-la “sobre o seu coração, 
quando” entrasse “no santuário”. vs. 29. No peitoral também se dizem está Urim 
e Tumim, aquelas duas misteriosas pedras que indicavam o agrado e o desagrado do 
Senhor quando O consultavam em tempos de necessidade. Lev. 8:8; Êxo. 28:30; I 
Sam. 28:6. Pelo fato de se dizer que elas estavam no peitoral, alguns tem 
suposto que se achassem um bolso aí posto para este fim. Parece preferível crer, 
no entanto, que elas fossem colocadas de maneiras preeminente no peitoral, como 
as outras pedras, uma do lado direito, outra do lado esquerdo, bem à vista.
 
O éfode era uma curta peça de vestuário feita de “ouro, e de azul, e de púrpura, 
e de carmesim, e de linho fino torcido, de obra esmerada”. Êxo. 28:6. Não tinha 
mangas, e pendia para baixo, tanto no peito como nas costas. Nas ombreiras 
achavam-se duas pedras sardônicas com os nomes dos filhos de Israel gravados, 
seis nomes em cada pedra.
“E porás as duas pedras nas ombreiras do éfode, por pedras de memória paras os 
filhos de Israel: e a Aarão levará os seus nomes sobre ambos os seus ombros, 
para memória diante do Senhor” Êxo. 28:12.
Sob o éfode havia longo manto de linho azul, sem mangas, e inconsútil. Ao redor, 
as bordas, havia romãs de azul, e de púrpura, e de carmesim. “E campainhas de 
ouro no meio delas ao redor... E estará sobre a Aarão quando ministrar, para que 
se ouça o seu sonido, quando entrar no santuário diante do Senhor, e quando 
sair, para que não morra”. vs. 33 a 35. Sob o manto do éfode achava-se a 
túnica ordinária de linho dos sacerdotes, e a ceroulas de linho.
 
O cinto do sumo-sacerdote era feito de ouro, azul, púrpura e carmesim, da mesma 
maneira que o éfode; o do sacerdote, de linho branco bordado de azul, púrpura e 
vermelho. Era colocado sobre o manto do éfode, um tanto para cima, servindo para 
prender a roupa. Êxo. 35:5; 29:5.
 
Os sacerdotes usavam a túnica de linho branco, as ceroulas, o cinto e a mitra. O 
sumo-sacerdote usava além disso o éfode, o manto do éfode, o peitoral e a coroa 
sobre a mitra, e mais, naturalmente, as pedras preciosas com os nomes de Israel 
nelas gravadas, e o Urim e Tumim.
 
As vestes de Aarão eram “para glória e ornamento”. Êxo. 28:2. As vestes 
ordinárias do sacerdote que ele usava sob as roupas de sumo-sacerdote, eram 
simbólicas da pureza interior, e também de utilidade. As que eram estritamente 
do sumo-sacerdote, serviam de glória e beleza, sendo, um sentido especial, 
simbólicas.
 
As vestimentas usadas por Aarão não foram escolhidas por ele. Foram prescritas. 
Eram “vestidos santos”, feitos por aqueles que eram “sábios de coração a quem Eu 
tenha enchido do espírito da sabedoria, que façam vestidos a Aarão para 
santificá-lo: para que Me administrem o ofício sacerdotal”. Êxo. 28:3. Na cor e 
no peitoral se harmonizavam com o próprio tabernáculo, sendo adornados de pedras 
preciosas. 
 
“E farão éfode de ouro”. “E o cinto de obra esmerada do seu éfode, que estará 
sobre ele, será da mesma obra”. “Farás também o peitoral do juízo... de ouro. 
Também farás o manto do éfode todo de azul... e campainhas de ouro”. Êxo. 28:6, 
8, 15, 31 e 33.
Se bem que estas vestimentas fossem feitas de diversos materiais, o ouro formava 
parte preeminente delas. Se as vestes se acrescenta a coroa de ouro sobre a 
mitra, sobre a qual estava escrito: “Santidade ao Senhor”, as doze pedras 
preciosas com os nomes de Israel nelas gravadas, e as duas pedras sardônicas, 
tendo também o nome de Israel, e afinal, Urim e Tumim; o efeito do conjunto deve 
ter sido glorioso e belo. Ao mover-se o sumo-sacerdote, lenta e dignamente, de 
um lugar para outro, a luz solar se refletia nas dezesseis pedras preciosas, as 
campainhas produziam um som musical, e o povo era profundamente impressionado 
com a solenidade e a beleza do culto de Deus.
 
O sumo-sacerdote, em sua posição oficial, não era simplesmente um homem. Era uma 
instituição; era um símbolo, não representava meramente a Israel era sua própria 
encarnação. Levava o nome Israel nas duas pedras sardônicas “nas ombreiras do 
éfode, por pedras de memória”; levava-os nas doze pedras preciosas “no peitoral 
do juízo no seu coração”; levava “o juízo dos filhos de Israel sobre o seu 
coração diante do Senhor continuamente”. Êxo. 28:30. Assim levava Israel tanto 
sobre os ombros, como sobre o coração. Sobre os ombros levava o fardo de Israel; 
no peitoral significando a sede das afeições e do amor – o propiciatório – 
levava a Israel. No Urim e Tumim – isto é “as luzes e as perfeições (Ver a 
margem) – ele levava “o juízo dos filhos de Israel sobre o seu coração”; na 
coroa de ouro sobre a mitra, tendo a inscrição “santidade ao Senhor”, levava “a 
iniqüidade das coisas santas, que os filhos de Israel santificarem em todas as 
ofertas”, e isto “para que tenham perfeita aceitação perante o Senhor”. vs. 
36-38.
 
O sumo-sacerdote devia agir pelos homens nas coisas pertencentes a Deus, “para 
expiar os pecados do povo” (Heb. 2:17). Era o mediador que ministrava pelo 
culpado. “O sumo-sacerdote representava todo o povo. Todos os israelitas eram 
considerados como nele estando. A prerrogativa gozada por ele pertencia a todo o 
povo (Êxo. 19:6),.. (vitringa)”. Que o sumo-sacerdote representava toda a 
congregação se vê, primeiro pelo fato de levar sobre si o nome das tribos 
gravadas nas pedras sardônicas que trazia nos ombros,
e segundo, pelos mesmos nomes gravados nas doze pedras preciosas do peitoral. A 
divina explicação dessa representação dupla de Israel, na vestimenta do 
sumo-sacerdote, é que ele “levará os seus nomes sobre ambos os seus ombros, para 
memória diante do Senhor” (Êxo. 28:12 e 19). Além disso, ele cometendo pecado 
odioso, envolvia o povo em sua culpa: “se o sacerdote ungido pecar para 
escândalo do povo” (Lev. 4:3). A versão dos Setenta reza: “se o sacerdote ungido 
pecar de modo a trazer pecado sobre o povo”. O sacerdote ungido, naturalmente, é 
o sumo sacerdote. Quando ele pecava, o povo pecava. Sua ação oficial era 
reputada como sendo deles. A nação inteira partilhava do pecado do seu 
representante. O contrário também verificar-se. O que ele fazia na sua função 
oficial, segundo era previsto pelo Senhor, era considerado como sendo feito por 
toda a congregação: “todo sumo-sacerdote... é constituído a favor dos homens” 
(Heb. 5:1). – The International Standard Bible Encyclopaedia, pág. 2439.
 
O caráter representativo do sumo-sacerdote deve ser salientado. Adão era o 
representante do homem. Quando ele pecou, pecou o mundo, e a morte passou a 
todos os homens. Rom. 5:12. “Pela ofensa de um só, a morte reinou”; “pela 
desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores”. vs. 17 e 19.
 
Semelhantemente, Cristo, sendo o segundo homem e o último Adão, era o 
representante do homem. “Está também escrito: o primeiro homem, Adão, foi feito 
em alma vivente: o último Adão em espírito vivificante”. “O primeiro homem, da 
terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu”. I Cor. 15:45 e 47. 
“Assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para 
condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os 
homens para justificação devida”. Rom. 5:18. “Porque, como pela desobediência de 
um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos 
serão feitos justo”. Rom. 5:19. “Porque assim como todos morrem em Adão, assim 
também serão vivificados em Cristo”. I Cor. 15:22.
 
Sendo o sumo-sacerdote, em sentido especial, uma figura de Cristo, era também o 
representante do homem. Ele figurava por todo o Israel.
Levava-lhes as cargas e os pecados. Levava a iniqüidade de todas as coisas 
santas. Levava-lhes o juízo. Quando ele pecava, Israel pecava. Quando fazia 
expiação por si mesmo, Israel era aceito.
 
A consagração de Aarão e seus filhos o sacerdócio foi uma ocasião muito solene. 
O primeiro ato, era um banho. “Então fará chegar Aarão e seus filhos à porta da 
tenda da congregação, e os lavarás com água”. Êxo. 29:4. Os sacerdotes não se 
lavavam a si mesmos. Sendo um ato simbólico, figura da regeneração, não se podia 
lavar a si mesmo. Tito 3:5.
 
Estando lavado, Aarão era então revestido de seus trajes de beleza e de glória. 
“Depois tomarás os vestidos, e vestiras a Aarão da túnica e do manto do éfode, e 
do éfode mesmo, e do peitoral e do peitoral: e o cingirás com o cinto de obra de 
artífice do éfode. E a mitra porás sobre a sua cabeça: a coroa da santidade 
porás sobre a mitra”. Êxo. 29: 5 e 6. Notai outra vez que Aarão não se vestiu a 
si mesmo daqueles trajes. Foram-lhe vestidos. Como eram simbólicos das vestes da 
justiça, ele não se podia vestir a si mesmo. “Vistam-se os Teus sacerdotes de 
justiça, e alegra-te os Teus santos”. Sal. 132:9. “Regozijar-me-ei muito no 
Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus: porque me vestiu de vestidos de 
salvação, me cobriu com o manto justiça, como o noivo que se adorna de atavios, 
como a noiva que se enfeita com as suas jóias”. Isa. 61:10. 
 
Aarão está agora pronto. Tem por baixo a túnica branca, o longo manto azul, com 
campainhas e romãs, o éfode com as duas belas pedras sardônicas com os nomes dos 
filhos de Israel nelas gravados, o peitoral com as doze pedras e Urim e Tumim, a 
mitra e a coroa de ouro com a inscrição: “Santidade ao Senhor”. Está lavado, 
limpo, vestido; todavia ainda não está pronto para oficiar. Vem em seguida a 
unção. O óleo santo é lhe derramado sobre a cabeça por Moisés. “E tomarás o 
azeite da unção, e o derramarás sobre a sua cabeça: assim o ungirás”. Êxo. 29:7. 
Não somente Aarão é ungido, mas também o tabernáculo. “Então Moisés tomou o 
azeite da unção, e ungiu o tabernáculo, e ungiu o altar e todos os seus vasos, 
como também a pia e a sua base, para santificá-los”. Lev. 8:10 e 11. Essa unção 
incluía toda a mobília, tanto do santo como do santíssimo. Êxo. 30:26-29.
É de notar, que, enquanto o tabernáculo e o que nele se achavam eram aspergido 
com óleo, sobre Aarão foi o mesmo derramado. Lev. 8:10 a 12; Êxo. 29:7.
 
A unção com óleo é um símbolo do dom do espírito de Deus. I Sam. 10:1 e 6; 
16:13; Isa. 61:1; Luc. 4:18; Atos 10:38. A profusão de azeite usado no caso de 
Aarão – ele “desse sobre a barba, a barba de Aarão”, “desce a orla dos seus 
vestidos” – é simbólica da plenitude do espírito que Deus concede à igreja.
 
Até aqui todas as cerimônias – com exceção da lavagem – disseram respeito a 
Aarão somente. Agora, entretanto, os quatro filhos têm parte igual ao pai no que 
se segue.
 
Uma oferta de expiação pelo pecado, um novilho, foi trazido, e Aarão e seus 
filhos sobre ele puseram as mãos, sendo o mesmo depois morto. O sangue foi 
apanhado por Moisés, que o pôs “com o seu dedo sobre as pontas do altar em 
redor”, e expiou “o altar; depois derramou o resto do sangue à base do altar, e 
o santificou, para fazer expiação por ele”. Lev. 8:15. Observemos que o sangue 
do novilho não foi levado para dentro do santuário, como no caso em que o 
sacerdote ungido, o sumo-sacerdote, pecava. Lev. 4:6. Talvez o motivo seja que 
esta oferta particular pelo pecado não era por Aarão apenas, mas também por seus 
filhos, e que ela parece aplicar-se em especial ao altar para sua purificação e 
santificação, para que a reconciliação se pudesse efetuar sobre ele. Lev. 8:15. 
Alguns opinam, em verdade, que essa oferta não era absolutamente por Aarão, mas 
só pelo altar.
 
Feita a oferta da expiação do pecado, era trazida uma oferta queimada. Isto era 
oferecido pela maneira regular, sendo tudo queimado sobre o altar, de onde subia 
ao Senhor em cheiro suave. vs. 18-21.
 
A obra até aqui foi preparatória. O serviço de consagração propriamente dito 
começa ao trazer-se “o carneiro da consagração”, ou literalmente “o carneiro do 
enchimento”, matando-o após haverem imposto as mãos sobre a sua cabeça. O sangue 
é levado por Moisés, que o põe “sobre a ponta da orelha direita de Aarão, e 
sobre o polegar da sua mão direita, e sobre o polegar do seu pé direito”. vs. 
23. O mesmo é feito com os filhos, sendo também espargido no altar.
“Também fez chegar os filhos de Aarão; e Moisés pôs daquele sangue sobre a ponta 
da orelha direita deles, e sobre o polegar do seu pé direito: e Moisés espargiu 
o resto do sangue sobre o altar em redor”. Lev. 8:24.
 
Depois disto vem o “encher”. Pão asmo, um bolo de pão azeitado e um coscorão, 
junto com a gordura do carneiro e a espádua direita, são colocados nas mãos de 
Aarão e nas de seus filhos, e movidos por oferta de movimento perante o Senhor. 
Havendo ela sido movida por Aarão e seus filhos, Moisés tira-a de suas mãos e a 
queima sobre o altar. O peito é reservado para Moisés como sua parte. vs. 
26-29.
 
Em seguida, Moisés tomou do azeite e do sangue “e o espargiu sobre Aarão e sobre 
os seus vestidos, e sobre os seus filhos, e sobre os vestidos de seus filhos com 
ele; e santificou a Aarão e os seus vestidos, e seus filhos, e o vestido de seus 
filhos com ele”. vs. 30.
 
Com essa cerimônia termina a consagração de Aarão e seus filhos. Estavam agora 
revestidos de poder para oficiar no santuário, conquanto tivessem de esperar 
ainda sete dias, durante os quais não se deviam afastar do santuário, mas tinham 
de ficar “à porta da tenda da congregação dia e noite por sete dias, e fareis a 
guarda do Senhor, para que não morrais: porque assim me foi ordenado”. vs. 35.
 
Até então, Moisés oficiara em todas as ofertas feitas. Ao fim dos sete dias, 
Aarão começa seu ministério. Oferece uma oferta pelo pecado por si mesmo, um 
bezerro, e um carneiro por oferta queimada. Lev. 9:2. Oferece também uma oferta 
pelo pecado, uma oferta queimada, uma oferta de manjares, e uma oferta pacífica 
pelo povo. vs. 3 e 4. Ao fim das ofertas, Aarão levanta as mãos e abençoa o 
povo. Moisés une-se-lhe nisto, e aparece a glória do Senhor. Moisés concluiu sua 
obra, e não mais precisa oficiar como sacerdote.
 
Todo o serviço de consagração tende a impressionar Aarão e seus filhos quanto à 
santidade de sua vocação. Deve ter sido uma nova experiência para Aarão o haver 
sido lavado por Moisés. Dificilmente poderia ele escapar à lição que Deus lhe 
visava dar. Ao dirigirem-se os dois irmãos para a pia, pode-se facilmente 
imaginar que falavam entre si acerca da obra a ser feita. Moisés comunica ao 
irmão que o deve lavar. Aarão admira-se de o não poder fazer ele próprio.
Discutem a situação. Moisés informa Aarão de que Deus lhe dera instruções 
específicas quanto a que devia ser feito. “Isto é o que o Senhor ordenou que se 
fizesse”, diz Moisés. Lev. 8:5. Em virtude das palestras que entretinha com 
Deus, Moisés tem melhor compreensão de Suas exigências do que Aarão. Entende que 
isto não é um banho ordinário. Fosse assim, e Aarão poderia provavelmente 
fazê-lo melhor por si mesmo. Trata-se de uma purificação, espiritual. Ele não se 
pode purificar a si mesmo do pecado. Alguém o deve fazer por ele; daí a lavagem 
simbólica.
 
Depois de lavado, Aarão não tem permissão de se vestir a si mesmo. Moisés o faz 
por ele. Aarão sente-se por completo impotente. Deverá ser feito tudo para mim? 
Cogita ele. Não me é permitido fazer coisa alguma por mim mesmo? Não, ele não 
deverá nem mesmo colocar a mitra. Tudo deverá ser feito para ele.
 
Que maravilhosa lição ensina esse relatório! Deus faz todas as coisas. Tudo quanto o homem precisa fazer é submeter-se. Deus purifica; Deus veste. Provê o vestido de justiça, as vestes de glória e de beleza. Tudo quanto Deus pede é que não rejeitemos o vestuário oferecido, como fez o homem, na parábola.
No serviço de consagração, Moisés tocou a orelha de Aarão com o sangue, 
significando assim que ele devia dar ouvidos aos mandamentos de Deus e cerrá-los 
a todo mal. “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor 
é do que a gordura de carneiros”. I Sam. 15:22. Cristo foi obediente até a 
morte. Fil. 2:8. Nossos ouvidos dever ser consagrados ao serviço de Deus.
 
Moisés tocou também o polegar da mão direita, significando que Aarão devia fazer 
justiça. Como o ouvir se relaciona com a mente, assim a mão tem que ver com a 
atividade do corpo. Ela representa as energias vitais, o ato exterior, a prática 
da justiça. De Cristo diz a Escritura: “Eis aqui venho... para fazer, ó Deus, a 
Tua vontade”. Heb. 10:7. Cristo veio a fazer a vontade de Deus. “A minha 
comida”, disse Ele, “é fazer a vontade dAquele que Me enviou, e realizar a Sua 
obra”. João 4:34. O tocar a mão com o sangue significa a consagração da vida e 
serviço a Deus – Inteira dedicação.
O tocar o polegar do pé direito com o sangue, tem idêntico sentido. Quer dizer 
andar no caminho direito, cumprir as ordens de Deus, estar ao lado da verdade e 
da retidão. Isto significa andar na vereda da obediência, tendo seus passos 
ordenados pelo Senhor. Toda faculdade do ser cumpre dedicar a Deus e consagrar 
ao Seu serviço.
 
No ministério de Deus não se deve entrar levianamente. Tremenda é a 
responsabilidade é agir como mediador entre Deus e os homens. O que isso faz 
tende carregá-los sobre seus ombros, levá-los no coração, deve se achar a 
santidade em sua fronte, e suas próprias vestes deve ser santificadas. É preciso 
que esteja limpo, ungido com o espírito santo, o sangue deve ser-lhe aplicado ao 
ouvido, à mão e ao pé. Cada um dos seus passos deve ser acompanhado de melodia 
de uma vida consagrada, seu progresso assinalado por uma frutífera satisfação, 
tornando, mesmo de longe, manifesta a doce harmonia de uma vida bem ordenada. 
Deve ser pronto a discernir a vontade de Deus no clarão fugaz ou na sombra da 
sua aprovação ou desaprovação; o ouro do valor e da obediência deve se achar 
entremeado na própria estrutura de seu caráter; no semblante, no vestuário e no 
coração cumpre-lhe refletir a pureza, a paz e amor de Deus. Ele tem de ser 
submisso e pronto a deixar que Deus faça como Lhe apraz; e esquecer o próprio eu 
e pensar nos outros, não se eximindo a pesadas cargas. Cumpre-lhe ter de 
continuo em mente que o bem estar e a felicidade de outros dele depende, de cada 
ato seu, em virtude de seu caráter público e oficial é de vasta significação.
 
Ao contemplar o verdadeiro ministro a responsabilidade que sobre ele impende, 
bem como as conseqüências adviriam de um fracasso ou falta sua, pode bem 
exclamar: Para essas coisas, quem é idôneo?
 
08. 
OFERTAS QUEIMADAS
A palavra hebraica comumente empregada para oferta queimada é olah. Ela 
significa “aquilo que sobe ou ascende”. Outro termo por vezes empregado é Kallil, 
que quer dizer “inteiro”. Certas versões usam a palavra “holocausto”, aquilo que 
é inteiramente queimado.
 
Essas palavras descrevem a oferta queimada, que era inteiramente consumida sobre 
o altar, e da qual coisa alguma se comia. Das outras ofertas, apenas uma parte 
era queimada no altar da oferta queimada; o resto era comido ou se lhe dava 
algum outro fim. No caso de uma oferta queimada, porém, todo o animal era 
consumido, em chamas. Ela “ascendia” a Deus em cheiro suave. Era agradável ao 
Senhor. Simbolizava inteira consagração. Coisa alguma era retida. Entregava-se 
tudo a Deus. Lev. 1:9, 13 e 17.
 
O sacrifício da manhã e da tarde era chamado o contínuo sacrifício. Não se 
consumia num momento, mas devia queimar “sobre o altar toda a noite até pela 
manhã, e o fogo do altar arderá nele”. Lev. 6:9; Êxo. 29:42. Durante o dia as 
ofertas queimadas individuais eram acrescentadas ao sacrifício regular da manhã, 
de maneira havia sempre uma oferta queimada sobre o altar. “O fogo arderá 
continuamente sobre o altar; não se apagará”. Lev. 6:13.
 
As ofertas queimadas individuais eram voluntárias. A maior parte das outras eram 
preceptivas – isto é, envolviam preceito. Quando, por exemplo, um homem havia 
pecado, cumpria-lhe levar uma oferta por expiação do pecado. Não lhe cabia 
escolher muito quanto ao que havia de levar. Quase tudo era prescrito. Não 
acontecia o mesmo quanto à oferta queimada. Eram ofertas voluntárias, e o 
ofertante podia levar um novilho, uma ovelha, um cordeiro, rolas ou pombos, 
segundo lhe aprouvesse. Lev. 1:3, 10 e 14. A esse respeito, diferiam da maioria 
dos sacrifícios.
 
As ofertas queimadas eram, talvez, as mais importantes e características de 
todas as ofertas. Encerravam as qualidades e os elementos essenciais dos outros 
sacrifícios.
Conquanto fossem voluntárias, de dedicação, essas ofertas, não se relacionando 
assim diretamente com o pecado, efetuava-se expiação por meio delas. Lev. 1:4. 
Jó oferecia ofertas queimadas por seus filhos, pois pensava: “Porventura pecaram 
meus filhos, e blasfemaram de Deus no seu coração”. Jó 1:5. Essa espécie de 
ofertas se destaca como instituída “no monte Sinai, em cheiro suave, oferta 
queimada ao Senhor”. Num. 28:6. Era um sacrifício “contínuo”, que devia estar 
sempre sobre o altar. Lev. 6:9. Por dezesseis vezes, nos capítulos 28 e 29 de 
Números, acentua o Senhor que nenhuma outra oferta deve tomar o lugar das 
contínuas ofertas queimadas. Cada vez que é mencionado outro sacrifício, 
declara-se que o mesmo é oferecido além do “holocausto contínuo”. Isso parece 
indicar-lhes a importância.
 
Como foi declarado, a oferta queimada era um sacrifício voluntário. O ofertante 
podia levar qualquer animal limpo ordinariamente usado para sacrifício. 
Exigia-se, entretanto, que o animal fosse um macho sem mancha. A pessoa devia 
oferecer “de sua própria vontade”, “à porta da tenda da congregação”, “perante o 
Senhor”. Lev. 1:3. Havendo escolhido o animal, levava-o ao pátio, para que fosse 
aceito. O sacerdote o examinava a ver se cumpria os requisitos quanto aos 
sacrifícios. Uma vez examinado e aceito, o ofertante punha a mão na cabeça do 
animal. Matava-o então, esfolava-o e o cortava em pedaços. vs. 4-6. Ao ser o 
animal morto, o sacerdote colhia o sangue, espargindo-o sobre o altar em redor. 
vs. 5 e 11. Partindo o animal em pedaços, as entranhas e as pernas eram 
lavadas com água, a fim de remover toda a imundície. Feito isto, o sacerdote 
tomava os pedaços e os colocava em sua devida ordem sobre o altar da oferta 
queimada, para aí ser ela consumida pelo fogo. vs. 9. O sacrifício assim 
colocado sobre o altar incluía todas as partes do animal, tanto a cabeça, como 
os pés, as pernas, e o corpo mesmo, menos a pele. Esta era dada a sacerdote 
oficiante. Lev. 1:8; 7:8.
 
Em caso de se usarem rolas ou pombos, o sacerdote os matava, torcendo-lhes o 
pescoço e espremendo seu sangue na parede do altar. Em seguida, o corpo da ave 
era posto no altar,
sendo aí consumido como a oferta queimada comum, depois de removidos as penas e 
o papo. Lev. 1:15 e 16.
 
As ofertas queimadas eram usadas em muitas ocasiões, como na purificação de 
leprosos (Lev. 14:19 e 20), na purificação das senhoras depois do parto (Lev. 
12:6-8), bem como para a contaminação cerimonial. Lev. 15:15 e 30). Nesses casos 
usava-se uma oferta de expiação pelo pecado, da mesma maneira que uma queimada. 
A primeira expiava o pecado, a segunda mostrava a atitude do ofertante para com 
Deus numa consagração de todo o coração.
 
A oferta queimada teve lugar preeminente na consagração de Aarão e seus filhos 
(Êxo. 29:15-25; Lev. 8:18), bem como em sua introdução no ministério. Lev. 
9:12-14. Também se usava em relação com o voto do nazireu. Num. 6:14. Em todos 
esses casos, ela representava a inteira consagração do indivíduo a Deus. O 
ofertante colocava-se, simbolicamente, sobre o altar; sua vida era inteiramente 
consagrada a Deus.
 
Não é difícil ver a relação entre estas cerimônias e a declaração feita em 
Romanos 12:1: “Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os 
vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto 
racional”. Cumpre-nos dedicar-nos inteiramente a Deus. Ser perfeitos. Só quando 
toda a imundície era tirada da oferta queimada, era ela aceitável a Deus, sendo 
permitido que fosse colocada sobre o altar, “holocausto... de cheiro suave, 
oferta queimada ao Senhor”. O mesmo se dá conosco. Todo pecado, toda imundície 
da carne e do espírito, devem ser removidos antes de podermos ser aceitáveis a 
Deus. II Cor. 7:1.
 
Como oferta inteiramente consumida sobre o altar, o holocausto representa, em 
sentido especial, a Cristo, que Se entregou de todo, completamente, ao serviço 
de Deus. Por assim representar a Cristo, constitui um exemplo aos homens, para 
que Lhe sigam os passos. Ensina inteira consagração. É apropriadamente colocada 
como primeira na lista das ofertas enumeradas no Levítico. Diz-nos claramente 
que, para ser um “cheiro suave” a Deus, o sacrifício tem de ser renúncia 
completa. Tudo deve ser posto sobre o altar. Coisa alguma será retida.
 
No holocausto é nos ensinado que Deus não faz acepção de pessoas.
O pobre homem que leva duas rolas é tão aceitável como o rico que leva um boi, 
ou como Salomão, que ofereceu mil ofertas queimadas. I Reis 3:4. As duas moedas 
são tão aprazíveis a Deus, como a abundância da riqueza. Segundo sua capacidade 
é cada um aceito.
 
Outra lição da oferta queimada, é a da ordem. Deus quer ordem na Sua obra. Dá 
instruções específicas a esse respeito. A lenha deve ser posta “em ordem” “sobre 
o fogo”, não apenas empilhada. Os pedaços do animal devem ser postos “em ordem” 
”sobre a lenha”, não meramente atirados de qualquer maneira sobre o fogo. Lev. 
1:7, 8 e 12. A ordem é a primeira lei do céu. “Deus não é de confusão”, Ele quer 
que Seu povo faça as coisas “decentemente e com ordem”. I Cor. 14:33 e 40.
 
Outra importante lição, é a do asseio. Antes de os pedaços serem queimados sobre 
o altar, “sua fressura e as suas pernas” deviam lavar-se com água. vs. 9. Isto 
parecia desnecessário. Estes pedaços iam ser consumidos no altar. Seria apenas 
um desperdício de tempo lavá-los antes de os queimar. Tal não é entretanto a 
maneira de o Senhor raciocinar. A ordem é: Lava cada pedaço; coisa alguma imunda 
deve ir para o altar. E, assim, os pedaços são lavados e cuidadosamente 
arranjados em ordem sobre a lenha, a qual é posta em ordem sobre o altar.
 
Três elementos de purificação são usados nesse serviço: fogo, água e sangue. O 
fogo, simbólico do espírito santo, é um agente purificador. Quando Cristo vier 
“ao Seu templo”, será “como o fogo de ourives”. “E assentar-Se-á, afinando e 
purificando a prata: e purificará os filhos de Levi, e os afinará como ouro e 
como prata: então ao Senhor trarão ofertas em justiça”. Mal. 3:2 e 3. Ele 
purificará Seu povo “com o espírito de ardor”. Isa. 4:4.
 
Pergunta-se: “Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós 
habitará com as labaredas eternas?” Isa. 33:14. “Nosso Deus é um fogo 
consumidor”. Heb. 12:29. O fogo é a presença de Deus, que consome ou purifica.
 
O fogo do altar não era fogo comum. Viera originalmente de Deus. “O fogo saiu de 
diante do Senhor, e consumiu o holocausto e a gordura sobre o altar: o que vendo 
todo o povo, jubilaram e caíram sobre suas faces”. Lev. 9:24. Deus lhes aceitara 
o sacrifício.
Este estava limpo, lavado e “em ordem”, pronto para o fogo; e o fogo “saiu de 
diante do Senhor”. Supõe-se que esse fogo foi conservado sempre ardendo, não se 
deixando que se extinguisse; e como viera de Deus, era chamado sagrado, em 
contraste com o fogo comum, devendo ser empregado no serviço levítico.
 
A água é emblema, tanto do batismo como da palavra, duas agências purificadoras. 
“Também Cristo amou a igreja, e a Si mesmo Se entregou por ela, para a 
santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra”. Efés. 5:25 e 26. 
“Segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da 
renovação do espírito santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus 
Cristo nosso Salvador”. Tito 3:5 e 6. A Paulo foi dito que fosse batizado e 
lavasse os seus pecados (Atos 22:16). Quando os pedaços do animal usado como 
oferta queimada eram lavados antes de serem colocados sobre o altar, isto não só 
ensinava ao povo ordem e limpeza, mas também a lição espiritual de que, antes 
que qualquer coisa seja posta sobre o altar, antes que seja aceita por Deus, 
deve estar limpa, lavada, pura e santa.
 
Na oferta queimada – como em todas as ofertas – o sangue era o elemento vital, 
importante. É ele que efetua a expiação pela alma. A passagem clássica, tratando 
desse assunto, encontra-se em Levítico 17:11: “Porque a vida da carne está no 
sangue. Eu vo-lo dei sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; 
portanto é o sangue que faz expiação em virtude da vida”. (Trad. Bras.)
 
A vida da carne está no sangue. É o sangue que faz expiação “em virtude da 
vida”. Quando o sangue era aspergido sobre o altar e o fogo descia e consumia o 
sacrifício, isto indicava a aceitação do substituto por parte de Deus. “Que seja 
aceito por ele”, ou em lugar dele, “para a sua expiação”. Lev. 1:4. Esta 
expiação era feita “em virtude da vida” que se achava no sangue. Mas esse 
sangue, que representava a vida, só era eficaz depois da morte da vítima. 
Houvesse Deus querido dar a idéia de que era o sangue, como tal, que era eficaz, 
sem a morte, tê-lo-ia declarado. Certa porção de sangue poderia ser tirado de um 
animal sem o matar – como se faz agora nas transfusões de sangue. Assim seria 
ele provido sem morte.
Não é este, porém, o plano de Deus. O sangue não era usado senão depois de ter 
lugar a morte. E é o sangue de alguém que morreu. Deu-se uma morte, e não é 
senão depois dela que se emprega o sangue. Somos reconciliados pela morte de 
Cristo, somos salvos por Sua vida. Rom. 5:10. Não foi senão depois da morte de 
Cristo que fluiu sangue e água. João 19:34. Cristo “veio por água e sangue,.. 
não só por água, mas por água e por sangue”. I João 5:6. Não pode ser 
demasiadamente acentuado esse ponto – que é “intervindo a morte” que recebemos 
“a promessa da herança eterna”, e que um testamento não é válido sem que haja a 
morte, que “um testamento tem força onde houve morte”, e que “necessário é que 
intervenha a morte do testador”. Heb. 9:15-17. Podemos, portanto, rejeitar 
qualquer teoria de expiação que faça do exemplo de Cristo o único fator em nossa 
salvação. O exemplo tem seu lugar; é na verdade vital, mas a morte de Cristo 
permanece o fato central da expiação.
 
O holocausto, “oferta queimada”, era “de cheiro suave ao Senhor”. Lev. 1:17. Era 
aprazível ao Senhor. Era Lhe aceitável. Algumas das razões para isso foram 
dadas. Salienta-las-emos aqui.
 
Como a oferta queimada era, antes de tudo e acima de tudo, um tipo da perfeita 
oferta de Cristo, é natural que lhe agradasse. Como o sacrifício devia ser sem 
mancha, perfeito, assim Cristo foi o “Cordeiro imaculado e incontaminado”, que 
“nos amou, e Se entregou a Si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus em 
cheiro suave”. I Pedro 1:19; Efés. 5:2. Cristo representa completa consagração, 
dedicação inteira, plena entrega, em dar tudo para que pudesse salvar alguns.
 
A oferta queimada era agradável a Deus porque revelava o desejo do coração do 
ofertante de se dedicar a Deus. Efetivamente, ele dizia: “Senhor, quero 
servir-Te. Coloco-me, sem reservas, sobre o altar. Nada retenho para mim mesmo. 
Aceita-me no substituto”. Tal atitude é um cheiro suave ao Senhor.
 
A oferta queimada era um cheiro suave a Deus por ser uma oferta voluntária. Não 
era exigida. Não havia preceito nem devia ser levada em tempos determinados. Se 
alguém tinha pecado, Deus requeria uma expiação, ou oferta pelo pecado.
Nunca, porém, exigia uma oferta queimada. Se alguém a oferecia, era “de sua 
própria vontade”. Lev. 1:3. Não havia compulsão. Tinha portanto muito mais 
significação do que uma oferta preceptiva. Indicava um coração cheio de 
reconhecimento.
Há perigo de que os cristãos façam muitas coisas pertencentes à religião, não 
porque as desejam fazer, mas por serem costumes, ou exigidas. Dever é uma grande 
palavra; mas amor é ainda maior. Não convém amesquinhar o dever; ao contrário, 
cumpre-nos reforçá-lo. Não esqueçamos, porém, que o amor é uma força maior 
ainda, e que, devidamente compreendida e aplicada, cumpre o dever, porque o 
incluí. O amor é voluntário, livre; o dever é exigente, obrigatório. O dever é 
lei; o amor é graça. Ambos são necessários, e um não deve ser acentuado com 
exclusão do outro.
 
Como não havia nenhuma obrigatoriedade quanto à oferta queimada, ela era, na 
realidade, uma oferta de amor, de dedicação, de consagração. Era alguma coisa 
além e acima do que era exigido. Isto agradava a Deus.
“Deus ama ao que dá com alegria”. II Cor. 9:7. Alguns entendem isto como 
significando: Deus ama um doador liberal, que dá muito. Conquanto possa ser 
assim, a declaração, no entanto, é que Deus ama aquele que dá alegremente, de 
livre vontade. A dádiva poderá ser pequena ou grande, mas se é feita de boa 
vontade, é aprazível a Deus. 
 
Bom seria aplicarmos este princípio ao cristianismo da vida diária. Talvez 
sejamos solicitados a fazer determinada coisa, a dar para certa causa, ou 
executar alguma tarefa não muito agradável. Fazemo-lo às vezes resignadamente, 
acreditando que, como aquilo é, em si mesmo, uma coisa boa, talvez devamos 
fazê-lo; não experimentamos, todavia, muita satisfação. Sentimos que o devemos 
fazer, mas folgaríamos de ser dispensados.
 
Deus Se desagrada por certo com a atitude que tomamos por vezes. Envia um de 
Seus ministros com alguma mensagem. Somos advertidos a dar, a fazer, a 
sacrificar, a orar. Não há alegre resposta ao apelo. Este tem de ser repetido 
aqui e ali e, afinal, apenas com metade do coração fazemos aquilo que nos é 
solicitado. Pomos vinte centavos ou dez cruzeiros na sacola da coleta, não 
porque realmente nos interesse, mas porque nos envergonharíamos de que outros vissem que não tomamos parte na 
oferta. Fazemos nossa parte na Recolta para as missões, não porque gostemos de 
fazer essa obra, mas por ser uma parte do programa da igreja.
 
Porque Davi era voluntário e alegre no serviço, em dúvida, Deus o amava. Ele 
pecara, e pecara de maneira terrível, mas se arrependera tão profundamente 
quanto pecara, e Deus lhe perdoou. Essa experiência deixou profunda impressão no 
espírito de Deus, e sempre, daí em diante, ele anelava fazer alguma coisa para 
Deus e agradar-lhe.
 
Foi esse espírito que o levou a propor-se a construir um templo para habitação 
de Deus. O tabernáculo erigido no deserto contava algumas centenas de anos. O 
material de que fora construído devia estar deteriorado. Deus Se teria agradado 
de que alguém Lhe edificasse um templo; decidiu, porém, não dar a conhecer Seus 
desejos até que alguém tivesse por si mesmo aquele pensamento. Assim o fez Davi, 
e alegrou-se ante a idéia de ser-lhe dado fazer qualquer coisa para Deus. Não 
lhe foi permitido edificar o templo, mas, para demonstrar apreço pelo que ele 
tinha em mente fazer, Deus lhe disse que, em vez de Davi Lhe edificar uma casa, 
Ele estabeleceria uma casa a Davi. I Crôn. 17:6-10. Foi em relação com isto que 
Deus lhe fez a promessa de que seu trono seria “firme para sempre”. vs. 14. 
Isto tem seu cumprimento em Cristo, que, ao vir, há de sentar-Se sobre “o trono 
de Davi, Seu pai”. Lucas 1:32. É uma promessa maravilhosíssima, fora do comum. 
Abraão, Moisés e Elias são passados por alto, e a honra é dada a Davi. Uma razão 
para isto, cremos, encontra-se na boa vontade desse servo para fazer para Deus 
alguma coisa além e acima do que era exigido.
 
Isto é ilustrado de modo frisante no desejo de Davi de edificar um templo. Como 
já foi declarado, Deus lhe dissera que ele não podia construir o templo. O servo 
do Senhor desejava-o, no entanto, grandemente. Pensando demoradamente no 
assunto, encontrou vários meio de fazer preparativos para a construção, sem que 
a executasse ele mesmo. Davi disse: “Salomão, meu filho, ainda é moço e tenro, e 
a casa que se há de edificar para o Senhor se há de fazer magnífica em 
excelência, para nome e glória em todas as terras; eu pois agora lhe prepararei 
materiais. Assim preparou Davi materiais em abundância, antes de sua morte”. I 
Crôn. 22:5.
A primeira coisa que Davi fez foi juntar dinheiro. Os algarismos dados em I 
Crôn. 22:14, somam muitos milhões de cruzeiros em nossa moeda – o que foi dado 
ou coletado por Davi. Em seguida ordenou ele que “lavrassem pedras de cantaria, 
para edificar a casa de Deus”. I Crôn. 22:2. Davi preparou também “ferro em 
abundância para os pregos das portas das entradas, e para as junturas: como 
também cobre em abundância, sem peso”. vs. 3. Antes de ele poder fazer 
qualquer destas coisas, entretanto, foi-lhe necessário ter um modelo, ou planta. 
Esse modelo, conta-nos Davi, ele o recebeu do Senhor. “Tudo isto, disse Davi, 
por escrito me deram a entender por mandado do Senhor, a saber, todas as obras 
deste risco”. I Crôn. 28:19. Podemos quase imaginar o que Davi disse ao Senhor: 
“Senhor, Tu dizes que não posso edificar o templo. Eu gostaria tanto de fazê-lo, 
mas estou contente em confiar em Tua decisão. Poderei fazer um modelo? Isto não 
seria construir, não é verdade, Senhor?”. Assim o Senhor o ajudaria a fazer uma 
planta, satisfeito com a boa vontade de Davi de fazer alguma coisa para Ele.
 
Existe, em I Crônicas 28:4, interessante declaração a esse respeito: “O Senhor 
Deus de Israel escolheu-me de toda a casa de meu pari, para que eternamente 
fosse rei sobre Israel; porque a Judá escolheu por príncipe, e a casa de meu pai 
na casa de Judá: e entre os filhos de meu pai se agradou de mim para me fazer 
rei sobre todo o Israel”. Esta singular expressão mostra o alto apreço de Deus 
por Davi. E assim este obteve permissão para preparar a pedra, a madeira e o 
ferro para o templo do Senhor, bem como o projeto. Talvez fosse esta a razão por 
que, mais tarde, na ereção do templo, não se ouvisse som de martelo. Davi 
preparara de antemão o material.
 
Davi não se contentou entretanto com o fazer os preparativos para a edificação 
do templo. Queria preparar também a música para a dedicação. Isto não era 
construir, de modo que se sentiu na liberdade de o fazer. Davi era o suave 
cantor de Israel; amava a música de todo o coração. De modo que começou a fazer 
preparativos para a ocasião, reunindo um grupo de quatro mil “para louvarem ao 
Senhor com os instrumentos, que eu fiz para O louvar”. I Crôn. 23:5.
Reuniu também os cantores e os ensaiou, segundo se acha registrado no capítulo 
vinte e cinco do mesmo livro. É grato imaginar Davi, depois da triste 
experiência de sua vida, passando alguns anos em paz e contentamento, fazendo 
preparativos para a construção do templo do Senhor e ensaiando os cantores e os 
músicos para sua consagração.
 
Todavia Davi ainda não estava satisfeito. O senhor lhe dissera que não podia 
construir o templo, mas que seu filho Salomão o havia de fazer. Que impediria 
Davi de abdicar e fazer Salomão rei de Israel? ‘Sendo pois Davi já velho, e 
cheio de dias, fez Salomão seu filho rei sobre Israel”. I Crôn. 23:1. Conquanto 
houvesse razões políticas para assim proceder, o contexto indica ter sido a 
idéia da construção do templo um fator vital.
 
Não admira que Deus amasse a Davi. Este estava sempre se esforçando para que 
Deus lhe permitisse fazer mais para Ele. Meditou no plano de fazer preparativos 
para a construção do templo. Arrecadou incalculável soma de dinheiro, exercitou 
os músicos – tudo a fim de fazer alguma coisa para Deus, que tanto por ele 
fizera. Davi era um alegre doador de dinheiro e de serviço, e Deus gostava dele. 
Não sabemos quanto tempo viveu Davi depois de Salomão ter sido feito rei, mas, 
ao morrer, “segunda vez fizeram rei a Salomão, filho de Davi”. I Crôn. 29:22.
 
Quem dera que tivéssemos mais homens e igrejas como Davi, dispostos a se 
sacrificar e a trabalhar, e ansiosos de fazer ainda mais! Então não haveria mais 
necessidade de concitar o povo ou as igrejas a levantarem-se e finalizar a obra. 
Se Davi estivesse aqui e fosse solicitado a dar 10 cruzeiros, ele indagaria, sem 
dúvida: “Não poderei dar 20 ou 100 cruzeiros?” E o Senhor Se agradaria e diria: 
“Sim, Davi, podes fazê-lo”. Foi por causa deste espírito que Davi, a despeito de 
seu pecado, foi escolhido, para ser o pai terrestre de Cristo. Foi o mesmo 
espírito que levou Cristo a dar voluntariamente, a sofrer tudo, fazendo afinal o 
sacrifício supremo. Deus ama ao que dá com alegria.
 
09. OFERTA DE MANJARES
A palavra hebraica empregada para “oferta de manjares” é minchah. Significa uma 
dádiva feita a outro, de ordinário, a um superior. Quando Caim e Abel 
apresentaram suas ofertas a Deus, segundo se relata em Gênesis 4: 3 e 4, foi uma 
minchah que ofereceram. Assim também foi a dádiva de Jacó e Esaú. Gen. 32:13. 
Foi uma minchah que os irmãos de José lhe apresentaram no Egito. Gen. 43:11. Na 
versão mais comumente usada, a de Almeida, a designação dada a essas ofertas é 
de “ofertas de manjares”. Esta empregaremos daqui em diante.
 
A oferta de manjares consistia em produtos vegetais que constituíam a principal 
alimentação do país: farinha, azeite, cereais, vinho, sal e incenso. Ao serem 
apresentadas ao Senhor, parte era queimada sobre o altar em memória, como cheiro 
suave ao Senhor. No caso de uma oferta queimada, tudo era consumido no altar. No 
da oferta de manjares, apenas uma pequena parte era posta sobre o altar; o resto 
pertencia ao sacerdote. “Coisa santíssima é, de ofertas queimadas ao Senhor”. 
Lev. 2:3. Como a oferta queimada significava consagração e dedicação, assim a 
oferta de manjares representava submissão e dependência. As ofertas queimadas 
importavam em inteira entrega da vida; as de manjares eram um reconhecimento de 
soberania e mordomia; de dependência de um superior. Eram um ato de homenagem a 
Deus, e um penhor de lealdade.
 
As ofertas de manjares eram geralmente usadas em relação com as ofertas 
queimadas e as pacíficas, mas não com as de expiação pelo pecado ou a 
transgressão. O registro no capítulo quinze de Numeros, declara: “Fala aos 
filhos de Israel e dize-lhes: Quando entrardes na terra das vossas habitações, 
que Eu vos hei de dar; e ao Senhor fizerdes oferta queimada, holocausto, ou 
sacrifício, para Lhe cumprir um voto, ou em oferta voluntária, ou nas vossas 
solenidades, para ao Senhor fazer um cheiro suave de ovelhas ou vacas; então 
aquele que oferecer a sua oferta ao Senhor, por oferta de manjares, oferecerá 
uma décima de flor de farinha misturada com a quarta parte de um him de azeite.
E de vinho para libação preparareis a quarta parte de um him, para holocausto ou 
para sacrifício por cada cordeiro”. Num. 15:2-5. Ao ser oferecido um carneiro, a 
oferta de manjares era aumentada a duas décimas de flor de farinha; e quando se 
sacrificava um novilho, a oferta de manjares era de três décimas de flor de 
farinha. A oferta de libação era proporcionalmente aumentada. vs. 6-10.
 
Quando a oferta de manjares consistia em flor de farinha, era misturada com 
azeite, sento posto incenso sobre ela. Lev. 2;1. Uma mão cheia dessa farinha com 
azeite e incenso era queimada em memória sobre o altar das ofertas queimadas. 
Era uma “oferta queimada” “de cheiro suave ao Senhor”. Lev. 2:2. O que restava 
depois de haver sido a mão cheia colocada sobre o altar, pertencia a Aarão e a 
seus filhos. Era “coisa santíssima”, “de ofertas queimadas ao Senhor”. vs. 3.
 
Quando a oferta consistia em bolos asmos ou coscorões, devia ser feita de flor 
de farinha misturada com azeite, partida em pedaços, sendo derramado azeite por 
cima. vs. 4-6. Por vezes era cozida em sertã. vs. 7 Quando ela se 
apresentava assim, o sacerdote tomava uma parte, queimando-a sobre o altar em 
memorial. vs. 8 e 9. O que sobejava dos coscorões pertencia aos sacerdotes, 
sendo considerado santíssimo. vs. 10.
 
Parece evidente que a oferta de farinha e coscorões asmos untados com azeite, 
visava ensinar a Israel que Deus é o mantenedor de toda a vida, que dEle 
dependiam quanto ao elemento diário; e que, antes de participar das abundâncias 
da vida, cumpria-lhes reconhecê-lo como o doador de tudo. Esse reconhecimento de 
Deus como a fonte de bênçãos temporais, levar-lhes-ia, naturalmente, o espírito 
à origem de todas as bênçãos espirituais. O Novo Testamento revela essa fonte 
como o Pão enviado do céu, o qual dá vida ao mundo. João 6:33.
 
É especialmente declarado que nenhuma oferta de manjares se devia fazer com 
fermento. Nem este nem mel deviam ser postos sobre o altar. Lev. 2:11. Não 
obstante, ambos, fermento e mel, podiam ser oferecidos como primícias. Quando 
assim usados, não se deviam ainda assim colocar sobre o altar. vs. 12.
O fermento é símbolo de pecado. Por esta razão era proibido em toda oferta 
queimada.
Com razão se poderia indagar por que motivo o fermento e o mel, proibidos com 
outros sacrifícios, se podiam oferecer como primícias. Lev. 2:12. Conquanto o 
fermento seja símbolo de pecado, hipocrisia, malícia, maldade, (Lucas 12:1; I 
Cor. 5:8), não há nenhuma explícita declaração na Bíblia no que respeita à 
significação de mel. Os comentaristas , no entanto, concordam geralmente em que 
o mel representa aqueles pecados carnais que agradam aos sentidos, mas que 
implicam em corrupção. Muitos ainda consideram o mel simbólico da justiça 
própria e de interesse egoísta. 
 
Se aceitamos esta interpretação, compreendemos que, ao dizer Deus que Israel 
devia levar fermento e mel como primícias, nos convida ao buscá-lo a princípio, 
a levar-Lhe todas as nossas tendências pecaminosas e o acariciado mundanismo. 
Quer que vamos ter com Ele exatamente como estamos. Conquanto Deus não Se agrade 
do pecado, e este não Lhe seja um cheiro suave, e conquanto seu símbolo, o 
fermento, não deva ser levado ao altar, quer que cheguemos a Ele com todos os 
nossos pecados e justiça própria. Chegando, cumpre-nos deixar-Lhe tudo aos pés. 
Ele quer que Lhe levemos todos os nossos pecados. Então, devemos ir, e não pecar 
mais.
 
Nas ofertas de manjares, como nas outras, usava-se sal. É chamado o “sal do 
concerto do teu Deus”. “Em toda a tua oferta oferecerás sal”. Lev. 2:13. Todos 
os sacrifícios eram salgados, tanto de animais, como de vegetais. “Cada um será 
salgado com fogo, e cada sacrifício será salgado com sal”. Marcos 9:49. O sal 
tem um poder preservador. Torna também agradável a comida. Era uma parte vital 
de todo sacrifício. É simbólico do poder preservador e mantenedor de Deus.
 
Quando se levava uma oferta de manjares dos primeiros frutos, podiam-se usar 
“espigas verdes, tostadas no fogo; isto é, do grão trilhado de espigas verdes 
cheias”. “E sobre ela deitarás azeite e porás sobre ela incenso”. Uma parte era 
tomada em memorial pelo sacerdote, e queimada sobre o altar da oferta queimada. 
Lev. 2:14-16. “Grão trilhado de espigas verdes cheias”.
Conquanto não tenhamos que procurar uma significação oculta em cada expressão, 
não parece forçar o crer que o grão trilhado aqui simboliza Aquele que foi moído 
por nos, e por cujas pisaduras somos sarados. Isa. 53:1. As ofertas de manjares 
nos apresentam Cristo como o doador da vida e seu mantenedor, Aquele mediante 
quem e em quem “vivemos, e nos movemos, existimos”. Atos 17:28.
 
As ofertas de manjares pertence também a libação de vinho mencionada. Num. 15:10 
e 24. Esta libação era apresentada perante o Senhor e derramada no lugar santo, 
conquanto não sobre o altar. Num. 28:7; Êxo. 30:9.
 
O molho movido ofertado como primícias da colheita, que devia ser movido perante 
o Senhor no segundo dia da páscoa, era também uma oferta de manjares. Lev. 
23:10-12. Outra oferta de manjares eram os dois pães de movimento cozidos com 
fermento, que se apresentavam ao Senhor como primícias por ocasião do 
pentecostes. Lev. 23:17-20. Outras ainda eram, a de manjares, oferecida 
diariamente por Aarão e seus filhos, que devia ser uma oferta perpétua (Lev. 
6:20), e a oferta do ciúme registrada em Números 5:15. Há também uma oferta que 
se acha registrada em Levíticos 5:11 e 12. Esta oferta, entretanto, era mais uma 
oferta de expiação pelo pecado, que de manjares.
 
Os pães da proposição, colocados semanalmente na mesa no primeiro compartimento 
do santuário, eram na verdade uma oferta de manjares apresentada ao Senhor. Seu 
nome em hebraico significa o “pão da Presença”, ou “pão da face”. Também é 
chamado “o pão contínuo”. Num. 4:7. A mesa é chamada a mesa da proposição, e a 
“mesa pura”. Lev. 24:6; II Crôn. 13:10 e 11. Os pães da proposição eram doze 
pães, cada um feito de duas dízimas de flor de farinha. Eram colocados em duas 
fileiras sobre a mesa, todos os sábados. Os sacerdotes chegados, que deviam 
oficiar na semana que vinha, começavam seu serviço com o sacrifício da tarde, no 
sábado. Os que se iam findavam o seu com o sacrifício do sábado de manhã. Tanto 
os sacerdotes que se iam como os que chegavam, uniam-se no retirar os pães da 
proposição, e em substituí-los. Enquanto os que deixavam o serviço removiam o 
velho pão, os recém-vindos colocavam o novo. Cuidavam em não retirar o velho 
enquanto o novo não estivesse pronto para ser posto na mesa. 
O pão devia estar sempre sobre a mesa. Era o “pão da Presença”.
Quanto às dimensões dos pães, há divergências de opinião. Crêem alguns eu tinham 
cerca de meio metro por um metro. Conquanto isto não se possa demonstrar, é 
claro que duas dizimas de flor de farinha, como eram usadas para cada um, dariam 
um pão de tamanho considerável. Sobre esse pão se colocava incenso em duas 
taças, isto é, um punhado em cada uma. Quando o pão era mudado no sábado, esse 
incenso era levado e queimado sobre o altar de oferta queimada.
 
O “pão da Presença” era oferecido a Deus “por concerto perpétuo”. Lev. 24:8. Era 
um testemunho constante de que Israel dependia de Deus quanto à manutenção, e 
uma contínua promessa da parte de Deus de que os havia de sustentar. Sua 
necessidade estava sempre perante Ele, e Sua promessa diante deles sem cessar.
 
O registro referente à mesa dos pães da proposição revela que havia pratos sobre 
a mesma, colheres, cobertas, tigelas “com que se hão de derramar os licores”. 
(Ver a nota à margem de Êxodo 25:29). Conquanto nada se diga em relação com 
isto, de se achar vinho sobre a mesa, é evidente que as tigelas aí estavam para 
o receber. Havia uma oferta de bebidas, ou libação, a qual era ordenada em 
relação com o sacrifício diário. Números 28:7. O vinho devia ser oferecido “ao 
Senhor” ”no santuário”. A narração não declara onde era o vinho derramado no 
santuário, mas unicamente que devia ser oferecido ao Senhor. Diz-se-nos, 
entretanto, onde ele não deve ser derramado. Quanto ao altar de incenso, Israel 
era proibido de oferecer “incenso estranho” sobre ele, “nem tão pouco 
derramareis sobre ele libações”. Êxodo 30:9. Se a libação devia ser oferecida no 
santuário; se não devia ser derramada sobre o altar; se havia sobre a mesa 
tigelas “com que se hão de derramar os licores”, parece claro que as mesmas 
continham vinho.
Não vai muita distância da mesa dos pães da preposição no Velho Testamento à 
mesa do Senhor no Novo Testamento. Lucas 22:30; I Cor. 10:21. A semelhança 
ressalta. O pão é Seu corpo, partido por nós. O cálice é o novo testamento em 
Seu sangue. I Cor. 11:24 e 25. Sempre que comemos o pão e bebemos do cálice, 
anunciamos “a morte do Senhor, até que venha”. vs. 26. 
“O pão da Presença” é simbólico dAquele que vive “sempre para interceder por” 
nos. Heb. 7:25. Ele é o “pão vivo que desceu do céu”. João 6:51.
Como foi declarado no princípio deste capítulo, as ofertas de manjares eram um 
reconhecimento da soberania de Deus e da mordomia do homem. As ofertas queimadas 
diziam: Tudo quanto eu sou pertence ao Senhor. As ofertas de manjares diziam: 
Tudo quanto possuo é do Senhor. A última acha-se na verdade incluída na 
primeira; pois quando um homem se dedica a Deus, essa dedicação inclui suas 
posses, bem como a ele próprio. É sem dúvida por isso que a oferta de manjares 
acompanhava sempre a oferta queimada. Números 15:4.
 
A oferta de manjares é um sacrifício definido e separado, denotando consagração 
de meios, como a oferta queimada indica a consagração da vida. A dedicação dos 
meios deve ser precedida da dedicação da própria vida. Uma é resultado da outra. 
A dedicação da vida sem a dedicação dos meios não é prevista no plano de Deus. A 
dedicação dos meios sem a da vida, não é aceitável. Ambas têm de ir juntas. 
Combinadas, formam um culto completo, agradável a Deus, “em cheiro suave ao 
Senhor”.
 
A idéia da mordomia merece ser salientada, numa época como a nossa. Alguns que 
têm o nome de cristãos falam alto em santidade e de sua devoção a Deus, mas suas 
ações nem sempre correspondem à profissão que fazem. Os cordões da bolsa 
mantêm-se apertados, os apelos passam desatendidos, languesce a causa de Deus. 
Tais pessoas precisam compreender que a consagração da vida envolve a 
consagração dos meios, e que uma sem a outra não agrada a Deus.
 
Por outro lado seria errôneo pensar que a dedicação dos meios seja tudo quanto 
Deus requer. Somos responsáveis por quaisquer talentos que possuamos, seja 
dinheiro, tempo ou dons naturais. De todos esses é Deus o verdadeiro dono, e nós 
nada mais que mordomos. Talentos como a música, o canto, a pintura, a palavra, a 
liderança, pertencem a Deus. A Ele devem ser consagrados. Cumpre-nos colocá-los 
sobre o altar.
A flor de farinha empregada na oferta de manjares era, em parte, produto do 
labor humano. Deus faz crescer o grão; dá sol e chuva; põe na semente as 
propriedades vitalizante.
O homem colhe o grão, mói a farinha, separa todas as ásperas partículas da 
mesma, até que ela se torna em “flor de farinha”, isto é, fina. É então 
apresentada a Deus, seja como farinha, seja como pão preparado. Deus e o homem 
cooperam, e o produto resultante é consagrado a Deus. Representa o dom original 
do Senhor mais o trabalho do homem. É um devolver-Ler o que é Seu com os juros. 
Deus dá a semente. O homem planta-a. Deus a rega. Multiplicada, ela é devolvida 
ao seu Doador que graciosamente a aceita.
 
Deus dá a todo homem, pelo menos, um talento. Espera que ele o aumente e 
multiplique. Não é aceitável a Deus apresentar-lhe o talento original, dar-Lhe 
de volta apenas aquilo que Ele nos deu. Ele quer que tomemos a semente que nos 
proporciona, a plantemos, cuidemos dela e a colhamos. Quer que o grão passe pelo 
processo que parece como que esmagar-lhe a própria vida, mas que, em realidade, 
a prepara para servir ao homem; quer que seja removido todo quanto é rude, e que 
Lha apresentemos como “flor de farinha”. Quer que os talentos sejam 
desenvolvidos e a Ele apresentados com juros. Nada menos servirá.
 
A flor de farinha representa a obra da vida humana. Simboliza os talentos 
aperfeiçoados. O que representava o pão da proposição relativamente a Israel, a 
oferta de manjares significava com respeito ao indivíduo. É a obra da vida 
consagrada em símbolo.
 
Quão significativa é a expressão “flor de farinha”! Farinha é grão esmagado 
entre as pedras do moinho. Era grão próprio para ser plantado, para perpetuar a 
vida. Agora, jaz esmagado, sem vida, Jamais poderá ser novamente plantado; está 
morto. Foi-lhe esmagada a vida. Inútil, porém? Não, mil vezes não! Deu a sua 
vida, morreu, para que outros vivam. O esmagar de sua própria vida se tornou o 
meio pelo qual a mesma é perpetuada, enobrecida. Era a vida da semente; agora 
ajuda a manter a de uma alma, um ser feito à imagem de Deus. A morte 
enriqueceu-a, glorificou-a, tornou-a útil à humanidade.
 
Poucas vidas são verdadeira e perduravelmente valiosas para a humanidade até que 
sejam esmagadas, moídas. É nas profundas experiências da vida que os homens 
encontram a Deus. É quando as águas cobrem a alma que se edifica o caráter.
A dor, a decepção, o sofrimento, são hábeis servos de Deus. São eles os dias 
sombrios que trazem os aguaceiros de bênçãos, fazendo a semente germinar e 
produzir frutos.
 
O problema do sofrimento será talvez insondável em seus aspectos mais profundos. 
Algumas coisas, porém, são nos claras. O sofrimento tem um definido propósito no 
plano de Deus. Abranda o espírito. Prepara a alma para uma mais profunda 
compreensão da vida. Inspira simpatia para com os outros. Faz com que se ande 
mansamente diante de Deus e dos homens.
 
Só os que têm sofrido viveram. Só viveu aquele que amou. São inseparáveis as 
duas coisas. O amor inspira sacrifícios. Estes exigem muitas vezes sofrimentos. 
Não que requeira necessariamente sofrimento físico. Pois a mais elevada espécie 
de sofrimento é alegre, santa, exaltada. Uma mãe pode sacrificar-se pelo filho, 
sofrer, mas fá-lo de boa vontade, contente. O amor reputa o sacrifício um 
privilégio. “Regozijo-me agora no que padeço por vós”, diz Paulo, “e na minha 
carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo Seu corpo, que é a igreja”. 
Col. 1:24. A lição do sofrimento não foi aprendida enquanto não aprendemos a 
nele nos regozijar. E podemos regozijar-nos quando surge em nós a idéias de que 
“como as aflições de Cristo abundam em nós, assim também a nossa consolação 
abunda por meio de Cristo”; que, ao sermos “atribulados, é para a vossa 
consolação e salvação”; que o próprio Cristo “aprendeu a obediência, por aquilo 
que padeceu”; e que porque “Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos 
que são tentados”; quando se nos torna claro que nossos sofrimentos devidamente 
suportados e compreendidos, são permitidos para que nós, como o sumo-sacerdote 
outrora, nos possamos “compadecer” “ternamente dos ignorantes e errados; pois 
também ele mesmo está rodeado de fraqueza”. II Cor. 1:5 e 6; Heb. 5:8; 2:18; 
5:2. Tal sofrimento não é doloroso, mas feliz. Cristo, “pelo gozo que Lhe estava 
proposto, suportou a cruz”. Heb. 12:2.
 
O sofrimento tem sido, em todos os tempos, a sorte do povo de Deus. Faz parte do 
plano do Senhor. Unicamente mediante o sofrimento podem certas lições ser 
aprendidas. Só assim podemos, em lugar de Cristo, ministrar como devemos em 
favor daqueles que estão passando pelo vale da aflição e “consolar os que 
estiverem em algumas tribulações,
com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus”,
II Cor. 1:4. Assim encarado, o sofrimento se torna uma bênção. Habilita a pessoa 
a servir 
por uma maneira em que não seria possível fazê-lo sem esta experiência. 
Torna-se um privilégio “não somente crer nEle, como também padecer por Ele”. 
Fil. 1:29.
 
Para compreender quão necessário é “a comunicação de Suas aflições”, não 
precisamos senão lançar os olhos para a vida de alguns dos santos de Deus nos 
séculos passados. Recordai aqueles três terríveis dias que Abraão passou depois 
que Deus lhe dissera que matasse o filho. Evocai a noite da angústia de Jacó - a 
noite que transformou um pecador em um santo. Rememorai o tempo que José passou 
na cisterna esperando a morte; sua angústia ao ser vendido como escravo; sua 
experiência na prisão, ocasionada por falsas acusações e amarga ingratidão. 
Volvei a mente às perseguições sofridas por Jeremias; ao tremendo dia em que 
Ezequiel teve ordem de ir pregar em vez de permanecer ao lado de sua esposa 
moribunda; à sombria e tremenda experiência de João Batista na prisão quando sua 
alma foi assaltada pela dúvida; ao espinho na carne do apóstolo Paulo, o qual 
não lhe foi permitido que se retirasse. E todavia de todas essas provações 
saíram vidas mais nobres, mais amplas visões, mais vasta utilidade. Sem isso, 
esses santos nunca teriam podido fazer a obra que realizaram, nem haveriam suas 
vidas se tornado a inspiração que hoje constituem. Como as flores que exalam 
mais delicioso aroma ao serem esmagadas, assim pode uma grande dor enobrecer e 
embelezar uma vida, sublimando-a para o serviço de Deus.
 
A farinha empregada nas ofertas de manjares não devia ser oferecida seca; 
precisava ser misturada com óleo, ou com ele ungida. Lev. 2:4 e 5. O azeite é o 
Espírito de Deus. Só quando a vida é santificada pelo Espírito, com Ele 
misturada, ungida com ele, pode ser agradável a Deus. O sofrimento por si ou de 
si mesmo, pode não ser uma benção. Talvez leve apenas ao endurecimento do 
coração, à amargura do espírito. Mas, ao tomar o Espírito de Deus posse da alma, 
ao permear a vida o doce espírito do Mestre, a fragrância de uma vida consagrada 
se torna manifesta.
Como o incenso oferecido cada manhã e tarde no lugar santo era emblemático da 
justiça de Cristo, que subia com as orações do sacerdote em favor da nação, como 
cheiro suave ao Senhor, assim o incenso oferecido com cada oferta de manjares 
era eficaz para o indivíduo. Fazia uma aplicação pessoal daquilo que de outro 
modo era apenas geral. No sacrifício da manha e da tarde, o sacerdote orava pelo 
povo. Na oferta de manjares o incenso era aplicado à alma individual.
 
No espírito dos israelitas, o incenso e a oração associavam-se estreitamente. De 
manhã e à tarde, quando o incenso – que simbolizava os méritos e intercessão de 
Cristo – ascendiam no lugar santo, através de toda a nação eram oferecidas 
orações. Não só o incenso enchia o lugar santo e o santíssimo, mas seu perfume 
era notado nos arredores do tabernáculo, até longe. Por toda parte dava sinal de 
oração, chamando os homens à comunhão com Deus.
 
A oração é essencial ao cristianismo. É a respiração da alma. É o elemento vital 
em todas as atividades da vida. Tem de acompanhar cada sacrifício, tornar 
fragrante cada oferta. Não é tão só um importante ingrediente do cristianismo – 
é sua própria vida. Sem seu fôlego vital, cessa bem depressa a vida; e com a 
cessação da vida, inicia-se a decomposição, e aquilo que deveria ser um cheiro 
de vida para vida, torna-se cheiro de morte para a morte.
 
“Cada um será salgado com fogo, e cada sacrifício será salgado com sal”. Mar. 
9:49. O fogo purifica, o sal conserva. Ser salgado com fogo quer dizer não só 
purificação, mas também conservação. Deus quer um povo puro, povo cujos pecados 
estão perdoados. Mas não basta achar-se perdoado e purificado. O poder de Deus, 
para guardar do pecado, tem de ser aceito. Temos de ser conservados puros. O 
fogo não deve ser fogo destruidor, mas purificador. Temos de ser primeiro 
purificados, depois guardados, conservados. “Salgados com fogo!” “Salgados com 
sal!” Purificado e conservado puro! Admirável providência!
 
A oferta de manjares, conquanto não seja a mais importante, encerra lindas 
lições para a alma devota. Tudo que possuímos deve achar-se sobre o altar. Tudo 
que temos pertence a Deus. E Deus purificará e guardará o que Lhe pertence. 
Oxalá habitem conosco estas lições.
 
10.
 OFERTAS PACÍFICAS
A palavra hebraica traduzida por “oferta pacífica” vem de raiz de uma palavra 
que significa “completar, suprir o que está faltando, pagar uma recompensa”. 
Denota um estado em que os mal-entendidos foram esclarecidos e os erros, 
corrigidos, e em que prevalecem os bons sentimentos. As ofertas pacíficas eram 
suadas em qualquer ocasião que apelasse à gratidão e regozijo, e também para 
fazer um voto. Eram ofertas de cheiro suave, como holocausto de manjares. Eram 
uma expressão, da parte do ofertante, de sua paz com Deus e gratidão a Ele por 
Suas muitas bênçãos.
 
Ao escolher uma oferta pacífica, o ofertante não era limitado na escolha. Podia 
usar um bezerro, uma ovelha, um cordeiro ou uma cabra, macho ou fêmea. 
Comumente, o sacrifício tinha de ser “sem mancha”. Lev. 22:21; 3:1-17. Quando, 
porém, a oferta pacífica era apresentada como oferta voluntária, não precisava 
ser perfeita. Podia ser usada mesmo que fosse “boi, ou gado miúdo, comprido ou 
curto de membros”. Lev. 22:23. Como no caso do holocausto, o ofertante devia pôr 
as mãos sobre a cabeça do sacrifício e degolá-lo à porta do tabernáculo. O 
sangue era então espargido sobre o altar, em roda, pelo sacerdote. Lev. 3:2. 
Depois, a gordura era queimada: “Manjar é da oferta queimada ao Senhor”. vs. 
11. “Toda a gordura será do Senhor. Estatuto perpétuo será nas vossas gerações, 
em todas as vossas habitações: nenhuma gordura nem sangue algum comereis”. vs. 
16 e 17.
 
As ofertas pacíficas eram de três espécies: ofertas de gratidão, ofertas por um 
voto e ofertas voluntárias. Dessas, a oferta de gratidão ou de louvor era a que 
mais se destacava. Oferecia-se em ocasiões de regozijo, de gratidão por algum 
livramento especial, ou bênção recebida. Era oferecida de um coração cheio de 
louvor a Deus e transbordante de alegria.
 
As ofertas por pecados e ofensas suplicavam favores a Deus.
Rogavam o perdão. As ofertas queimadas eram oferecidas como dedicação e 
consagração da parte do ofertante. Nas ofertas de manjares, a pessoa reconhecia 
sua dependência de Deus, em todas as necessidades temporais, e sua aceitação da 
responsabilidade da mordomia. As ofertas pacíficas eram de louvor por graças 
recebidas, ofertas de gratidão pelas bênçãos desfrutadas, ofertas voluntárias, 
de um coração transbordante. Não suplicavam nenhum favor; tributavam louvor a 
Deus pelo que Ele havia feito, e exaltavam o Seu nome por Sua bondade e 
misericórdia para com os filhos dos homens.
 
As ofertas do Antigo Testamento incluíam orações. Combinavam a fé e as obras, a 
oração e a fé. Em sua totalidade, expressavam a completa relação do homem para 
com Deus e sua necessidade dEle. As ofertas pacíficas eram ofertas de comunhão. 
Os holocaustos eram totalmente queimados sobre o altar; as ofertas pelo pecado, 
ou eram queimadas fora do arraial ou comidas pelo sacerdote, mas as ofertas 
pacíficas não eram simplesmente divididas entre Deus e o sacerdote; uma parte, a 
maior, era dada ao ofertante e sua família. A parte de Deus era queimada sobre o 
altar. Lev. 3:14-17. O sacerdote recebia o peito movido e a espádua alçada. 
Lev. 7:33 e 34. O resto pertencia ao ofertante, que podia convidar a qualquer 
pessoa purificada para com ele participar disso. Podia ser comido no mesmo dia, 
ou, em alguns casos, no dia seguinte, mas não mais tarde. Lev. 7:16-21.
 
Os bolos asmos amassados com azeite, e fritos, eram parte das ofertas. A isso se 
acrescentava pão levedado. Uma parte era apresentada ao Senhor, como oferta 
alçada, e depois dada ao sacerdote, como sua porção. Lev. 7:11-13.
 
Toda a cerimônia constituía uma espécie de serviço de comunhão, em que o 
sacerdote e o povo participavam, com o Senhor, da Sua mesa; uma ocasião de 
regozijo, em que todos se uniam em gratidão e louvor a Deus, por Sua 
misericórdia.
 
É significativo o uso de fermento na oferta pacífica. Em geral, o fermento não 
era permitido em qualquer sacrifício. Numa ocasião em que ele era usado – na 
oferta de manjares das primícias (Lev. 2:12) – não era permitido que subisse ao 
altar. Nessa ocasião, era apresentado ao Senhor como oferta alçada e depois dado 
ao sacerdote que havia espargido o sangue. Lev. 7:13 e 14.
No caso da oferta de manjares das primícias o fermento representava o homem 
levando a Deus sua oferta pela primeira colheita. Devia ofertar conforme o que 
possuía. Mas devia fazê-lo somente uma vez. Na oferta pacífica, o pão levedado e 
o não levedado são ordenados. Não pode ser que, como isso é um manjar comum, de 
que Deus, o sacerdote e o ofertante participam, o pão não levedado represente 
Aquele que é sem pecado e é nossa paz, e que o fermento represente a imperfeição 
do homem, que e, não obstante, aceito por Deus? Efés. 2:13. A isso é feita 
referência em Amós 4:5.
“A carne do sacrifício de louvores da sua oferta pacífica se comerá no dia do 
seu oferecimento”. Lev. 7:15. Conquanto isto fosse, em parte, uma medida 
higiênica, não era esta a única razão; pois nos casos em que a oferta pacífica 
era um voto ou um a oferta voluntária, também podia ser comida no dia seguinte. 
vs. 16. Era manifestamente impossível a um homem consumir sua oferta, caso 
esta fosse um novilho ou um bode, ou um cordeiro, em um dia só. Era-lhe portanto 
permitido, e mesmo ordenado pedir a outros que compartilhassem da refeição. “Nas 
tuas portas não poderás comer... nenhum dos teus votos, que houveres votado, nem 
as tuas ofertas voluntárias, nem a oferta alçada da tua mão; mas o comerás 
perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher o Senhor teu Deus, tu, e teu 
filho, e a tua filha, e o teu servo, e a tua serva, e o levita que está dentro 
das tuas portas: perante o Senhor teu Deus te alegrarás em tudo em que puseres a 
tua mão. Guarda-te, que não desampares ao levita todos os teus dias na terra”. 
Deut. 12:17-19.
 
Este era um traço que distinguia a oferta pacífica. Devia ser comida no mesmo 
dia, e ser compartilhada; devia ser comida “perante o Senhor”, e “te alegrarás”. 
Era uma refeição de regozijo, em comum, e a esse respeito diferia de todas as 
outras ofertas.
 
Por vezes as ofertas pacíficas eram ofertas votivas. Por uma ou por outra razão, 
talvez por alguma bênção especial desejada, o ofertante fazia um voto ao Senhor. 
Ele podia consagrar-se a si mesmo a Deus, ou a esposa ou os filhos, ou gado, 
casa, terras. Lev. 27. Foi assim que Samuel foi consagrado ao Senhor. I Sam. 1:11.
No caso de pessoas, um voto podia ser resgatado mediante determinada avaliação, 
ajustada pelos sacerdotes no caso de pessoas muito pobres. Lev. 27:1-8. Se o 
voto dizia respeito a algum dos animais apropriados para sacrifício, não podia 
ser resgatado. Caso um homem tentasse trocá-lo por outro, ambos os animais 
deviam ser ofertados. vs. 9 e 10. Em caso de ser um animal imundo, o sacerdote 
devia fazer a avaliação do mesmo. Podia ser resgatado, acrescentando-se um 
quinto ao valor calculado. vs. 11-13.
 
Três coisas se mencionam como não estando sujeitas à lei do voto: todos os 
primogênitos (vs. 26 e 27); qualquer coisa consagrada a Deus (vs. 28 e 29); 
o dízimo (vs. 30-34). Estas, como já pertencentes a Deus, não podiam ser 
votadas.
 
Há pessoas que não olham com agrado os votos. Todavia Deus providenciou quanto a 
eles. Conquanto seja melhor não votar, do que fazê-lo e não pagar. (Ecles. 5:5), 
os votos são às vezes justos e aceitáveis diante de Deus. “Abstendo-te de votas, 
não haverá pecado em ti”. (Deut. 23:22); mas se uma pessoa faz um voto, “não 
tardará em pagá-lo”. vs. 21. O fazer um voto é coisa optativa. O homem pode ou 
não fazer um voto, mas se o faz, “não violará a sua palavra: segundo tudo o que 
saiu da sua boca, fará”. Num. 30:2.
 
Deus quer que seu povo seja honesto e digno de confiança. Quer que cumpra suas 
promessas. Homem algum está cumprindo seus deveres cristãos se não se puder 
confiar nele nas transações comerciais. Homem algum pode violar sua palavra e 
reter o favor de Deus. Ninguém pode “se esquecer” de pagar suas contas – ou 
mesmo ser negligente a esse respeito, e ser reputado honesto aos olhos do céu. O 
cristão mais que todos, deve ser um homem de palavra. Não precisa apenas ser 
reto; deve ser pontual.
 
Na época em que vivemos, muitos consideram sua palavra como de pouca monta, e 
pouco respeito têm por seus compromissos. Conquanto se possa esperar isto do 
mundo, não pode haver desculpa quanto a qualquer que usa o nome de Cristo em 
repudiar sua promessa.
Todavia, quantos compromissos por pagar existem, quantos votos violados! São 
violados os votos matrimoniais; quebra-se o voto batismal; o voto da ordenação 
se viola. Concertos são repudiados, acordos desrespeitados, esquecidos 
compromissos. O violar a fé é comum, a desconsideração da responsabilidade, 
quase geral. O próprio Cristo cogitava se encontraria fé na terra quando 
voltasse. Lucas 18:8. Em meio de toda essa confusão, deve haver um povo em quem 
Deus possa confiar, em cuja boca não se encontre engano, fiel à sua palavra. A 
pergunta feita em Salmo 15, é também aí respondida. Pergunta: “Senhor, quem 
habitará no Teu tabernáculo? Quem morará no Teu santo monte?”. A resposta: 
“Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente, segundo 
o seu coração. Aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal a seu 
próximo, nem aceita nenhuma afronta contra seu próximo; aquele a cujos olhos o 
réprobo é desprezado; mas honra os que temem ao Senhor; aquele que, mesmo que 
jure com dano seu, não muda. Aquele que não empresta o seu dinheiro com usura, 
nem recebe peitas contra o inocente; quem faz isto nunca será abalado”.
 
Uma das condições aqui mencionadas para habitar no tabernáculo de Deus, é jurar 
“com dano seu” e não mudar. Um homem pode combinar vender ou comprar alguma 
propriedade, e, depois de feito o acordo, receber uma oferta mais vantajosa. 
Ficará firme no negócio mesmo com prejuízo seu? Fa-lo-á, se é cristão.
 
Respeito pela própria palavra, eis uma clamorosa necessidade. Dela necessitam as 
nações, para que seus acordos não fiquem sem significação. Os negociantes dela 
precisam, para que não venham em resultado confusão e ruína. Os indivíduos têm 
dela necessidade para que não pereça na terra a fé. Acima de tudo, os cristãos 
precisam dela, para que não percam os homens sua visão e esperança, e o 
desespero se apodere da humanidade.
 
Esta é a hora e oportunidade supremas da igreja. O mundo é credor de uma 
demonstração de que há um povo que permanece fiel em meio de uma infiel geração; 
que respeita própria palavra, bem como respeita a palavra de Deus; que é fiel à 
fé uma vez entregue aos santos. Está atrasada a manifestação dos filhos de Deus. 
Rom. 8:19.
Esta revelação dos filhos de Deus, não é somente “a ardente expectação da 
criatura”, mas “toda a criação geme e está juntamente com dores de parto” por 
ela. vs. 22. E esta manifestação revelará um povo que tem o selo da aprovação 
de Deus. Guarda os mandamentos. Tem a fé de Jesus. Sua palavra é sim, sim, e 
não, não. São irrepreensíveis diante do trono de Deus. Apoc. 14:12 e 5; Tiago 
5:12.
 
Como antes foi declarado, a oferta pacífica era uma oferta de comunhão em que 
tomavam parte Deus, o sacerdote e a pessoa. Era uma refeição em comum, tomada no 
recinto do templo, em que predominavam a alegria e o contentamento, e os 
sacerdotes e o povo entretinham conversa. Não era uma ocasião em que se efetuava 
a paz, antes uma festa de regozijo pela posse da mesma. Era geralmente precedida 
de uma oferta pelo pecado ou uma oferta queimada. Fizera-se expiação, 
espargira-se o sangue, o perdão havia sido concedido e assegurada a 
justificação. Para isto celebrar, o ofertante convidava seus parentes chegados e 
seus servos, bem como os levitas, para comerem com ele. “Nas tuas portas não 
poderás comer”, era o mandamento, mas só “no lugar que escolher o Senhor teu 
Deus”. Deut. 12:17 e 18. E assim se reunia toda a família dentro das portas do 
templo para celebrar de maneira festiva a paz que se estabelecera entre Deus e o 
homem, e entre o homem e homem.
“Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus 
Cristo”. Rom. 5:1. “Ele é a nossa paz”. Efés. 2:14. O Israel de outrora era 
convidado a celebrar sua paz com Deus, o perdão de seus pecados, e o ser-lhes 
restituído o favor divino. Esta celebração incluía filho e filha, servo e serva, 
bem como o levita. Todos se sentavam à mesa do Senhor e se regozijavam juntos 
“na esperança da glória de Deus”. Da mesma maneira nos devemos gloriar em “Deus 
por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação”. Rom. 
5:2 e 11.
 
Poucos a apreciam ou se regozijam na paz de Deus como deviam. Embora a razão 
seja, em muitos casos, falta de apreciação do que Deus tem feito por elas, já 
muitas vezes almas queridas que deixam de compreender que lhes assiste o direito 
e o privilégio de se sentirem contentes em sua religião. Vivem à sombra da cruz, 
em lugar de viver aos seus gloriosos raios.
Acham que há qualquer coisa errada na felicidade, que é impróprio sorrir, e que 
mesmo o inocente riso é coisa sacrílega. Carregam aos ombros o fardo do mundo, e 
sentem que passar qualquer tempo numa recreação é, não somente um desperdício de 
tempo, mas positivamente irreligioso. São bons cristãos, não são felizes, porém. 
Caso vivessem nos dias de Cristo e O seguissem, poriam em dúvida a conveniência 
de ir às bodas de Cana da Galiléia. Ficariam mesmo perplexos por ver Cristo 
comer e beber com pecadores. Juntamente com os discípulos de João, estariam 
jejuando e orando. Lucas 5:29-35.
 
Isto é escrito com inteira consideração dos tempos em que vivemos. Se jamais 
houve um período em que a seriedade e a sobriedade devessem caracterizar nossa 
obra, este é aquele em que vivemos. Em face da crise a aproximar-se, que espécie 
de homens nos convém ser, em toda a santa conversação e piedade! Toda 
frivolidade e leviandade deve ser posta de lado, tomando a solenidade posse de 
todo elemento terreno. Grandes e momentosos acontecimentos aproximam-se a passos 
rápidos. Não é tempo de frivolidades e insignificâncias. O Rei está às portas!
 
Estas condições, no entanto, não nos deviam fazer perder de vista o fato de 
sermos filhos do Rei, de estarem perdoados os nossos pecados, e de que temos 
direito a estar contentes e nos regozijar. A obra deve ser finalizada, e 
compre-nos ter nela uma parte; mas afinal de contas é Deus que deve concluí-la. 
Muitos falam e agem como se fossem eles que devessem terminar a obra, como se 
tudo deles dependesse. Parecem pensar que têm a responsabilidade da obra sobre 
si, e que, conquanto Deus possa ajudar, a eles pertence na verdade o fazer o 
trabalho. Mesmo em suas orações, lembram muitas vezes a Deus do que Ele deve 
fazer, temerosos de que esqueça algumas coisas que têm no coração. São boas 
almas, ansiosas de fazer o que é justo em todo tempo, mas não aprenderam a 
lançar o seu cuidado sobre o Senhor. Estão fazendo tudo ao seu alcance para 
levar o fardo e, conquanto gemendo sob o mesmo, estão decididos a não desistir. 
Lutam para a frente, e estão conseguindo fazer muito. São valiosos obreiros, e o 
Senhor os ama ternamente. 
Estão faltando, porém, em alguns importantes elementos, e não fruem muito 
regozijo de seu cristianismo. São Martas que labutam e mourejam, mas deixam fora 
aquela coisa que é necessária. Olham com desaprovação às Marias que não estão 
fazendo como fazem elas, e levam sua queixa ao Senhor. Não podem compreender 
como Cristo pode tomar a parte de Maria, quando, a seu ver, ele devia ser 
censurada. Trabalham, mas não se sentem muito contentes com isso. Pensam que 
outros não estão fazendo o que lhes cumpre. Lucas 10:38-42.
 
É a mesma lição salientada na história do filho pródigo. O filho mais velho 
nunca tinha feito qualquer coisa muito reprovável. 
 
Sempre trabalhara arduamente , e nunca desperdiçara tempo em festas e bebedices. 
E agora que o filho mais novo estava de volta à casa, depois de malgastar sua 
porção em vida dissoluta, “ele se indignou, e não queria entrar” para a festa 
feita em honra do irmão que voltara. Não adiantou o pai sair e instar com ele. 
Antes o censurou, acusando-o de que vindo “este teu filho, que desperdiçou a tua 
fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado”. Lucas 15:30. 
Bondosamente lhe torna o pai: “Era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este 
teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se”. vs. 32. 
Não nos é contado o resto da história. Entrou o filho? Prevaleceu o amor do pai? 
Não sabemos. A história não diz. O último quadro que nos é apresentado, é do 
filho mais velho do lado de fora, indignado. É de esperar que se arrependesse e 
entrasse, mas não sabemos.
 
Os cristãos devem ser um povo feliz, mesmo em meio dos mais solenes 
acontecimentos. E por que não haviam de sê-lo? Seus pecados estão perdoados. Têm 
paz com Deus. Estão justificados, santificados, salvos. Deus lhes tem posto nos 
lábios um novo canto. São filhos do Altíssimo. Estão andando com Deus. São 
felizes no Seu amor.
 
Poucos cristãos têm no coração a paz de Deus como deviam. Parecem esquecer sua 
herança. Disse Cristo: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou: não vo-la dou como 
o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. João 14:27.
 
Todavia o coração de muitos se perturba. Têm temor. Andam ansiosos. Algum 
querido está fora do rebanho, e eles estão buscando “pô-lo para dentro”.
Dia e noite labutam e oram. Não deixam nenhuma pedra por revolver em seu esforço 
de pôr cerco a sua salvação. Se alguém pode ser salvo pelo trabalho de outro, 
estão decididos a assim fazer. E não deixam a Deus fora do plano. Oram. Rogam. 
Oram como se Deus necessitasse ser despertado. E afinal o querido volta para 
Deus. Como se sentem felizes! Agora, podem descansar. Sua obra está feita, a 
tarefa realizada!
 
Acaso ocorre alguma vez a essas almas que Deus está tão interessado na conversão 
daquele ente amado como o estão eles próprios, ou antes, mais do que eles podem 
estar? Acode-lhes porventura que, muito tempo antes de começarem a orar 
esforçar-se, Deus já planejou e operou pela salvação daquele ser querido; que 
está fazendo e tem feito tudo quanto é possível fazer? Que, em lugar de tomarem 
a obra do Senhor e Lhe suplicarem que os ajude, seria melhor se reconhecessem 
essa obra como pertencendo a Deus, e com Ele cooperassem? Desde o momento em que 
esta compreensão invade uma alma, dela se apodera a paz. Isto não faz uma pessoa 
orar ou trabalhar menos, mas leva-a a aliviar a sua responsabilidade. Começará a 
orar com fé. Se cremos que Deus está realmente operando, se acreditamos que tem 
interesse na salvação dos homens, oraremos mais que nunca, mas a 
responsabilidade deixaremos com Ele.
 
Muito de nosso trabalho se baseia na incredulidade. Com Habacuc; sentimos como 
se Deus não estivesse realmente fazendo Sua parte. Hab. 1:2-4. Ele precisa de 
ser lembrado. Há coisas para as quais Lhe devemos chamar a atenção, e começamos 
a pô-las perante Ele. Em vez de ter fé em Deus, em Sua sabedoria, Seu poder, 
tomamos sobre nós o fardo, dizendo, virtualmente, que não podemos confiar que 
Ele faça o que prometeu. Ao vir a fé, porém, ao raiar sobre nós a maravilhosa 
luz de que Deus rege ainda os negócios dos homens; que está fazendo o máximo 
para salvar a humanidade, e que nossas orações deveriam ser no sentido de Lhe 
conhecer a vontade – ao compreendermos isto, então a segurança, o descanso e a 
paz nos sobrevêm com abundância. Não haverá menos obras; serão, porém, obras de 
fé. Não haverá menos orações, mas de fé serão elas. Dia a dia ascenderão ações 
de graças pelo privilégio de cooperar com Deus.
Alma e coração encher-se-ão de paz. Não mais haverá lugar para a ansiedade e a 
aflição. Paz, doce paz, sossego, descanso, felicidade e alegria serão nossa 
diária porção. A vida e sua perspectiva se mudam inteiramente. Aprendemos a 
sentar-nos aos pés de Jesus. Enquanto Marta continua a trabalhar - e a 
queixar-se baixinho – Maria está escutando as palavras de vida. Encontrou a “uma 
só” coisa necessária. Compreende a palavra de Cristo: “A obra de Deus é esta: 
Que creiais”. João 6:29. E ela crê e descansa.
 
Não há mais alta bem-aventurança possível do que possuir no coração a paz de 
Deus. É o legado que nos deixou Cristo. “Deixo-vos a paz”, diz Ele. Maravilhosas 
palavras! “A Minha paz vos dou”. João 14:27. Sua paz era aquela tranqüila 
segurança que provém da confiança em Deus. Ao tempo em que Cristo proferiu estas 
palavras, estava-Se aproximando da cruz. Tinha diante de Si o Gólgota. Não 
vacilou, no entanto. Tinha o coração cheio de paz e segurança. Conhecia Aquele 
em quem confiava. E descansava na certeza de que Deus conhecia o caminho. Ele 
podia não ser capaz de “ver através dos portais da tumba”. A esperança talvez 
“não Lhe apresentasse Sua saída do sepulcro como vencedor, nem Lhe falasse da 
aceitação do sacrifício por parte do Pai”. Mas, “pela fé, descansava nAquele a 
quem Lhe tinha sido sempre deleite obedecer... Pela fé, foi Cristo vitorioso”. - 
O Desejado de Todas as Nações, págs. 561 e 563. 
 
Aquela mesma paz nos legou Ele. Ela significa unidade com o Pai, companheirismo, 
comunhão. Quer dizer serena alegria, descanso, contentamento. Significa fé, 
esperança e amor. Nela não há temor ou ansiedade. Quem quer que a possua, tem 
aquilo que excede a todo entendimento. Tem uma fonte de força que não depende de 
circunstâncias. Está em harmonia com Deus.
 
11. 
OFERTAS PELO PECADO
Pecado e oferta pelo pecado têm o mesmo nome em hebraico. A oferta pelo pecado 
estava com ele tão intimamente ligada, que o nome se tornou o mesmo. Quando 
Oséias diz dos sacerdotes: “Alimentam-se do pecado do Meu povo”, aquela mesma 
palavra, chattaht, é empregada, como ocorre em outras partes, por “oferta pelo 
pecado”. Oséias 4:8.
 
As ofertas pelo pecado são primeiramente mencionadas em relação com o ato de 
Aarão e seus filhos serem consagrados. Êxodos 29:13. Não são, entretanto, 
mencionadas como qualquer coisa nova. Pode-se assim acreditar que as ofertas 
pelo pecado já existiam naquela ocasião.
 
Convém notar que as ofertas pelo pecado só bastava para pecados cometidos por 
ignorância. Lev. 4:2, 13, 22 e 27. Diziam respeito a pecados cometidos por erro, 
engano, ou atos precipitados, de que o pecador não estava advertido na ocasião, 
mas de que mais tarde teve conhecimento. Não providenciavam quanto a pecados 
cometidos conscientemente, com conhecimento e persistência. Quando Israel pecava 
deliberadamente, como no adorar o bezerro de ouro, e recusar desafiadoramente a 
misericórdia de Deus quando Moisés os chamou ao arrependimento, sobrevinha o 
castigo. “E caíram do povo naquele dia uns três mil homens”. Êxodo 32:28.
 
Quando ao pecado consciente ou presunçoso, a lei reza: “Porém o que comete algum 
pecado por soberba, ou ele seja cidadão ou forasteiro (porque foi rebelde contra 
o Senhor), perecerá do meio do seu povo: pois que desprezou a palavra do Senhor, 
e tornou vão o Seu preceito: por isso mesmo será exterminado, e levará sobre si 
a sua iniqüidade”. Números 15:30 e 31. (Trad. Figueiredo). Há algumas exceções a 
essa lei, entretanto, as quais serão consideradas mais adiante.
 
O capítulo quatro de Levíticos discute o assunto das ofertas pelo pecado. 
Mencionam-se quatro classes de ofensores: O sacerdote ungido (vs. 3-12), toda 
a congregação (vs. 13 e 21), o príncipe (vs. 22-26), um do povo comum (vs. 
27-35).
Os sacrifícios exigidos não eram os mesmos em todos os casos, nem se dispunha do 
sangue pela mesma maneira. Se o sacerdote ungido pecava “fazendo pecar ao povo”, 
devia trazer “ao Senhor pelo seu pecado um novilho sem defeito”. Lev. 4:3. Se 
toda a congregação de Israel pecasse por ignorância, também deviam oferecer 
“pelo seu pecado um novilho”, e o trariam “a porta do tabernáculo”. Vs. 14. Se 
um dos príncipes pecava, devia trazer “um bode tirado dentre as cabras, que não 
tenha defeito”. vs. 3. Se um do povo pecava por ignorância, devia trazer “uma 
cabra sem defeito”. vs. 28. No caso de não poder apresentar uma cabra, podia 
levar uma cordeira. vs. 32.
 
Em todos esses casos o pecador tinha de prover a oferta, colocar a mão sobre a 
cabeça do animal, e matá-lo. Quando toda a congregação pecava, devia prover a 
oferta, e os anciãos tinham de pôr as mãos sobre a cabeça do novilho.
 
Na maneira de dispor o sangue, havia uma diferença que deve ser observada. 
Quando o sacerdote ungido pecava e levava seu novilho e o matava, devia molhar 
“seu dedo no sangue, e daquele sangue espargirá sete vezes perante o Senhor, 
diante do véu do santuário”. vs. 6. Devia também pôr “daquele sangue sobre as 
pontas do altar de incenso aromático, perante o Senhor, que está na tenda da 
congregação: e todo o resto do sangue do novilho derramará à base do altar do 
holocausto, que está à porta da tenda da congregação”. vs. 7.
 
Esta instrução é específica. Ao ser morto o novilho, o sacerdote colhia o 
sangue, e parte dele era levado para o interior do primeiro compartimento do 
santuário. Ali o sangue era espargido sete vezes perante o Senhor, diante do véu 
do santuário e também posto nas pontas do altar do incenso aromático que estava 
no primeiro compartimento. O resto do sangue era derramado à base do altar do 
holocausto, que estava no pátio.
Quando toda a congregação pecava, o sangue era disposto da mesma maneira. Parte 
dele era levado ao primeiro compartimento do santuário, e espargido perante o 
véu. As pontas do altar de incenso eram tocadas pelo sangue, e o resto deste, 
derramado à base do holocausto, no pátio. vs. 18.
Quando um príncipe pecava, o sangue era disposto diversamente. Reza o registro: 
“O sacerdote com o seu dedo tomará do sangue da expiação, e o porá sobre as 
pontas do altar do holocausto: então o resto do seu sangue derramará à base do 
altar do holocausto”. vs. 25. Neste caso, o sangue não era levado para o 
interior do santuário e espargido perante o véu. Era posto nas pontas do altar 
do holocausto, no pátio, e o resto derramado à base do mesmo altar. 
 
O mesmo se fazia com o sangue quando pecava uma pessoa comum. O sangue era posto 
sobre as pontas do altar do holocausto, e o resto derramado à base do altar. 
vs. 30 e 34.
Em cada um desses casos, a gordura era removida do cadáver e queimada sobre o 
altar do holocausto. vs. 8-10, 19, 26, 31 e 35. O corpo do animal, entretanto, 
era diversamente tratado nos diferentes casos. Se o sacerdote ungido pecava, o 
“couro do novilho, e toda a sua carne, com a sua cabeça e as suas pernas, e as 
suas entranhas, e o seu esterco, todo aquele novilho” “levará fora do arraial a 
um lugar limpo, onde se lança a cinza, e o queimará com fogo sobre a lenha: onde 
se lança a cinza se queimará”. vs. 11 e 12. O mesmo devia ser feito com o 
cadáver do novilho apresentado como oferta pelo pecado de toda a congregação. O 
corpo era levado para fora do acampamento, a um lugar limpo, e ali queimado com 
fogo sobre a lenha. vs. 21.
 
Não há, no capítulo em consideração, instruções quanto ao que era feito com o 
corpo do animal quando um príncipe ou uma pessoa comum pecava. No capítulo 6 de 
Levítico, entretanto, na “lei da expiação do pecado”, encontram-se mais 
instruções. “No lugar em que se degola o holocausto se degolará a expiação do 
pecado perante o Senhor; coisa santíssima é. O sacerdote que a oferecer pelo 
pecado a comerá: no lugar santo se comerá, no pátio da tenda da congregação”. 
Lev. 6:25 e 26. Esta declaração elucida o assunto. O sacerdote que oferecia a 
expiação pelo pecado, devia comê-la. Devia comê-la num lugar santo, no pátio da 
tenda da congregação. O vs. 29 declara: “Todo o varão entre os sacerdotes a 
comerá: coisa santíssima é”. Há entretanto uma exceção a isto: “Porém nenhuma 
expiação de pecado, cujo sangue se traz à tenda da congregação, para expiar no 
santuário, se comerá; será queimada no fogo”. vs. 30.
Lembrar-se-á que, quando o sacerdote ungido ou toda a congregação pecava, o 
sangue era levado para o primeiro compartimento do santuário, e aí espargido 
perante o véu. Parte do sangue também era posta nas pontas do altar do incenso, 
no lugar santo. Nestes casos o sangue era levado para o tabernáculo da 
congregação no lugar santo. A esses dois casos, portanto, se faz referência na 
declaração: “Nenhuma expiação de pecado, cujo sangue se traz à tenda da 
congregação, para expiar no santuário, se comerá; no fogo será queimada”. Quando 
o sacerdote ungido e toda a congregação pecava, o sangue era levado para o lugar 
santo; a carne não era comida, mas o corpo era levado para fora do arraial e 
queimado.
 
Quando um príncipe ou uma pessoa do povo pecava, o sangue era posto sobre as 
pontas do altar do holocausto, e o resto derramado à base do altar. A carne não 
era queimada no altar, nem levada para fora do acampamento para ser queimada 
como no caso do novilho. Era dada aos sacerdotes para ser comida num lugar 
santo.
 
Que isso não era um mandamento arbitrário sem qualquer significação especial, 
evidencia-se de um incidente registrado no décimo capítulo de Levítico. Os 
versículos 16 e 18, rezam: “Moisés diligentemente buscou o bode da expiação, e 
eis que já era queimado: portanto indignou-se grandemente contra Eleazar e 
contra Itamar, os filhos que de Aarão ficaram, dizendo: Por que não comestes a 
expiação do pecado no lugar santo? Pois uma coisa santíssima é: e o Senhor a deu 
a vós, para que levásseis a iniqüidade da congregação, para fazer expiação por 
eles diante do Senhor. Eis que não se trouxe o seu sangue para dentro do 
santuário; certamente havíeis de comê-la no santuário, como tinha ordenado”.
 
O leitor se lembrará de que, quando se usava um novilho como expiação pelo 
pecado – como no caso do sacerdote ungido ou de toda a congregação – o corpo era 
levado para fora do acampamento e queimado. O mesmo não se dava no entanto no 
caso do bode e do cordeiro. Quando um príncipe ou uma pessoa comum pecava, o 
sangue não era levado para o santuário, mas a carne era comida pelos sacerdotes. 
Os versículos citados acima dão a razão disto:
“O Senhor a deu (a carne) a vós para que levásseis a iniqüidade da congregação, 
para fazer expiação por eles diante do Senhor”.
Segundo isto, os sacerdotes, por comerem a carne, tomavam sobre si a iniqüidade 
da congregação; isto é, levavam os pecados do povo. A razão dada para comerem a 
carne, é esta:” Não se trouxe o seu sangue para dentro do santuário; certamente 
havíeis de comê-la no santuário, como tinha ordenado”. Quando o sangue era 
levado para o primeiro compartimento, não era necessário comer a carne. Mas, se 
o sangue não era levado para o santuário, os sacerdotes deviam comer a carne e, 
comendo-a, levar a iniqüidade da congregação. Os pecados eram assim transferidos 
do povo para o sacerdócio.
 
Alguns têm tido dúvidas quanto à transferência do pecado para o santuário por 
meio do sangue, o quanto a ser possível a alguém levar os pecados do outro. O 
caso que está diante de nós é concludente. Ou o sangue deve ser levado para o 
santuário e aí espargido perante o véu, ou a carne deve ser comida. “O Senhor a 
deu a vós, para que levásseis a iniqüidade da congregação para fazer expiação 
por eles diante do Senhor”. Ao comerem a carne, os sacerdotes tomavam sobre si 
os pecados que, pela imposição das mãos e a confissão haviam sido transferidos 
do pecador para o animal. O comer a carne não era necessário nos casos em que o 
sangue fora levado ao santuário. Em tais casos dispunha-se efetivamente dos 
pecados levando o sangue para o santuário, e espargindo-o perante o véu. O corpo 
era levado fora do acampamento, a um lugar limpo, e aí queimado.
 
A seqüência deste incidente, segundo se acha registrada nos versículos 19 e 20 
do capítulo 10, também é interessante. Aarão, Eleazar e Itamar não haviam comido 
da carne da oferta pelo pecado, ou expiação como deveriam ter feito. Aarão 
explicou sua falta dizendo que lhe sobreviera uma calamidade. Dois de seus 
filhos, enquanto sob a influência do vinho, haviam sido mortos perante o Senhor, 
como está relatado na primeira parte do capítulo 10. Aarão e os outros dois 
filhos restaram, ao que parece, não se achavam inteiramente sem culpa. Conquanto 
talvez não houvessem participado do vinho, estavam provavelmente perplexos 
quanto à justiça do juízo que viera sobre seus irmãos e companheiros de 
sacerdócio.
Em tais condições, não sentiam poder tomar sobre si as iniqüidades de outrem. 
Tinham bastante em carregar a própria. Foi com isto em mente, que Aarão 
perguntou: “Se eu hoje comera a expiação do pecado, seria pois aceito aos olhos 
do Senhor?” “E Moisés ouvindo isto, foi aceito ao seus olhos”. vs. 19 e 20. 
Daí podemos com razão concluir que Deus não esperava que os sacerdotes comessem 
a expiação pelo pecado, levando assim os pecados do povo, a menos que eles 
próprios estivessem limpos. “Purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor”.
 
Como foi observado acima, no estudo crítico que nos anos posteriores se tem 
feito de muitas partes da Bíblia, têm-se lançado dúvidas quanto à questão da 
transferência do pecado. Embora seja claro que, em cada um dos casos o pecador 
tinha de pôr a mão sobre o sacrifício, é negado que isto significasse confissão 
ou transferência de pecado. Deve-se admitir, entretanto, que alguma coisa 
acontecia ao homem que levava sua oferta pelo pecado. Em cada um dos casos 
mencionados no quarto capítulo de Levítico, com exceção do sacerdote ungido, é 
dito que a expiação era feita, e que o pecado “lhes será perdoado”. Lev. 4:20, 
26, 31 e 35. O homem era perdoado de seu pecado e ia embora livre.
 
Não era só o homem, no entanto, que acontecia alguma coisa. De algum modo os 
sacerdotes vinham a levar sobre si os pecados que o homem carregava antes. Ele 
pecara. Confessara seu pecado e fora perdoado. Mas agora os sacerdotes levavam o 
pecado. Como se efetuava essa transferência? Parece clara a conclusão. O homem, 
o pecador, pusera a mão sobre o inocente animal, confessara o pecado e assim, em 
figura, transferira o mesmo para o animal. Sendo pecador, ou pelo menos 
fazendo-se portador do pecado, o animal era morto. O sacerdote, ao comer a 
carne, tomava sobre si carne pecaminosa, e assim levava a “iniqüidade da 
congregação”. 
 
Que a culpa era transferida no Dia da Expiação, é positivamente declarado. 
“Aarão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele 
confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas 
transgressões, segundo todos os seus pecados: e os porá sobre a cabeça do bode, 
e envia-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso”. Lev. 16:21.
 
Aqui se declara de maneira definida que Aarão deve pôr as mãos sobre a cabeça do 
bode, que deve confessar sobre ele os pecados dos filhos de Israel, e que porá 
esses pecados sobre a cabeça do bode. Não podemos crer que esta é exatamente a 
significação no caso expiação do pecado no quarto capítulo de Levítico? Que, de 
qualquer maneira, os sacerdotes vieram a levar a iniqüidade da congregação, é 
claro. A declaração a esse respeito é muito positiva. É também asseverado que 
era mediante o comer da carne que eles tomavam sobre si o pecado. Este pecado, 
naturalmente, não era o do animal, mas do pecador que trouxera sua expiação pela 
culpa, a fim de obter o perdão. O argumento parece completo. Originalmente, o 
pecador levava seus pecados. Agora, os sacerdotes os levam. Receberam-nos 
comendo a carne do animal. Sustentamos portanto que a Bíblia ensina a doutrina 
da transferência do pecado.
 
O colocar das mãos, por parte do pecador, sobre a expiação, tinha 
indubitavelmente significação mais ampla, especialmente no caso das ofertas 
queimadas e das ofertas pacíficas. Depois de o pecador haver confessado e ter 
sido perdoado, entrava em comunhão com Deus. Uma clara compreensão desta verdade 
é essencial para se entenderem os sacrifícios envolvidos.
 
As ofertas pelo pecado eram usadas em outros casos além dos já mencionados no 
quarto capítulo de Levítico. Um exemplo disso é a consagração de Aarão e seus 
filhos, segundo se acha registrado no capítulo oito de Levítico. Convém notar-se 
aqui, entretanto, que é Moisés que realiza a cerimônia, e não o sacerdote. Aarão 
e seus filhos, na verdade, põem as mãos sobre a cabeça do novilho destinado à 
expiação do pecado, e o matam, mas é Moisés que administra o sangue e o põe 
sobre as pontas do altar em redor. Deve-se notar também que neste caso, em vez 
de contaminar o altar, o sangue o purifica. “Moisés tomou o sangue, e pôs dele 
com o seu dedo sobre as pontas do altar em redor, e expiou o altar; depois 
derramou o resto do sangue à base do altar, e o santificou, para fazer expiação 
por ele”. Lev. 8:15.
 
Ao cabo dos sete dias de consagração de Aarão, foi ordenada uma oferta pelo 
pecado.
Aarão devia tomar um bezerro para expiação pelo pecado por si mesmo antes de 
começar seu ministério pelo povo. “Então Aarão se chegou ao altar, e degolou o 
bezerro da expiação que era por ele. E os filhos de Aarão trouxeram-lhe o 
sangue, e molhou o seu dedo no sangue, e o pôs sobre as pontas do altar; e o 
resto do sangue derramou à base do altar”. Lev. 9:8 e 9. “Porém a carne e o 
couro queimou com fogo fora do arraial”. Lev. 9:11.
 
Havia outras ocasiões em que eram requeridas ofertas pelo pecado. Depois do 
parto, um pombinho ou uma rola para expiação do pecado. Lev. 12:6-8. Em casos de 
contaminação, o nazireu devia oferecer uma rola, ou um pombinho por expiação do 
pecado. Num. 6:10. Também, quando os dias de separação estavam cumpridos, o 
nazireu devia trazer um cordeiro de um ano, sem defeito, para expiação do 
pecado. vs. 14. Na consagração e purificação dos levitas, um novilho era 
requerido como expiação do pecado. Num. 8:8 e 12. Uma expiação pelo pecado era 
exigida por ocasião da festa da lua nova (Num. 28:15), pela páscoa (vs. 22), 
pelo pentecostes (vs. 30), no primeiro dia do sétimo mês (Num. 29:5), no 
décimo, décimo-quinto e vigésimo segundo dias também. vs. 10-38.
 
A cerimônia da bezerra ruiva merece especial consideração. Difere a muitos 
respeitos da oferta regular pelo pecado; serve todavia ao mesmo desígnio. Num. 
19:9, diz: “Expiação é”. A palavra aí usada é a mesma que em outras partes para 
a expiação do pecado. Incluímos, portanto, a bezerra ruiva entre as ofertas pelo 
pecado ordenadas por Deus.
 
Israel era ordenado a trazer uma bezerra ruiva, sem defeito e sem mancha, e 
dá-la ao sacerdote Eleazar. Num. 19:2 e 3. O sacerdote tinha de levar a bezerra 
fora do acampamento, onde alguém a degolaria em sua presença. O sacerdote devia 
tomar então o sangue com o dedo, espargindo-o para a frente da tenda da 
congregação sete vezes. vs. 4. Depois disto, alguém devia queimar a bezerra 
perante Eleazar, “o seu couro, e a sua carne, e o seu sangue, com o seu esterco 
se queimará”. vs. 5. Enquanto a bezerra estava assim sendo consumida, o 
sacerdote devia tomar “pau de cedro, e hissopo, e carmesim”, e os lançar “no 
meio do incêndio da bezerra”. vs. 6. Depois o sacerdote devia lavar as vestes, 
banhar-se e volver ao acampamento, e seria imundo até à tarde. vs. 7.
Depois disto um homem que estivesse limpo devia ajuntar a cinza da bezerra, 
pondo-a fora do arraial, num lugar limpo. Serviria para a “água da separação: 
expiação é”. vs. 9.
 
As cinzas assim guardadas deviam ser usadas em certas espécies de contaminação, 
como o tocar num corpo morto. Nesse caso, a cinza devia ser tomada, e sobre ela 
poriam “água viva num vaso; e um homem limpo tomará hissopo, e molhará naquela 
água, e a espargirá sobre aquela tenda, e sobre todo o fato, e sobre as almas 
que ali estiveram: como também sobre aquele que tocar os ossos, ou a algum que 
foi morto, ou que faleceu, ou uma sepultura. E o limpo ao terceiro e sétimo dia 
espargirá sobre o imundo: e ao sétimo dia o purificará; e lavará os seus 
vestidos, e se banhará na água, e à tarde será limpo”. Num. 19:17-19.
 
Observar-se-á que, ao passo que esta cerimônia era uma “expiação” pelo pecado, 
sangue algum, nesse caráter, era empregado na purificação do homem de sua 
contaminação. A única vez que o sangue é mencionado, é por ocasião de ser morta 
a bezerra, quando os sacerdotes tomaram o sangue e o espargiram sete vezes 
diante do altar da congregação. vs. 4. Na aplicação à pessoa, individualmente, 
no entanto, não havia nenhuma aspersão de sangue.
 
Também se deve observar que a bezerra não era morta dentro dos limites do pátio 
da tenda, onde se matavam os outros sacrifícios. O sangue não era levado para o 
interior do santuário, não era aspergido perante o véu, não era posto nas pontas 
do altar do incenso, nem nas pontas do altar do holocausto, nem era derramado à 
base do mesmo; não entrava em contato direto com o santuário nem com o altar do 
holocausto.
 
No ritual da purificação, era exigido que uma pessoa limpa oficiasse. Outro 
ponto é que essa purificação aproveitava não somente os filhos de Israel, mas 
também ao estrangeiro. “Isto será por estatuto perpétuo aos filhos de Israel e 
ao estrangeiro que peregrina no meio deles”. vs. 10.
 
Convém notar a declaração registrada em 
Números 19:13, de que o tabernáculo 
ficaria contaminado se um homem não se purificasse. “Todo aquele que tocar a 
algum morto, cadáver de algum homem que estiver morto, e não se purificar, 
contamina o tabernáculo do Senhor”. 
“Porém o que for imundo, e se não purificar, a tal alma do meio da congregação 
será extirpada; porquanto contaminou o santuário do Senhor: água de separação 
sobre ele não foi espargida; imundo é”. Num. 19:13 e 20. Que o santuário era 
contaminado pela confissão do pecado e pela aspersão do sangue, é por todos 
aceito. Aqui se faz a declaração de que um homem que não se purifica, que não 
confessa seu pecado, contamina o santuário do Senhor. A importância doutrinária 
desta declaração, não deve ser passada por alto.
 
A cerimônia ocasional da bezerra ruiva tem profunda significação para o 
reverente estudioso da palavra de Deus. A purificação do pecado é aí realizada 
pelo uso de água em que se punha cinza da bezerra morta. Essa purificação é para 
o estrangeiro da mesma maneira que para os filhos de Israel. Sua ministração é 
fora do acampamento, à parte do culto ordinário de Jeová, e não está diretamente 
ligada com a rotina usual do serviço do santuário.
 
É a esta cerimônia que o autor da epístola aos hebreus se refere, quando diz: 
“Porque se o sangue de touros e bodes, e a cinza duma novilha esparzida sobre os 
imundos, os santifica, quando à purificação, quanto mais o sangue de Cristo, que 
pelo Espírito eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus, purificará as 
vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?” Heb. 9:13 e 
14. A oração de Davi, é: “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro: lava-me, e 
ficarei mais alvo do que a neve”. Salmo 51:7.
 
Uso de água um tanto semelhante a este, para fins de purificação, é mencionado 
no capítulo cinco do livro de Números. No caso de certos pecados, “o sacerdote 
tomará água santa num vaso de barro; também tomará o sacerdote do pó que houver 
no chão do tabernáculo, e o deitará na água”. vs. 17. A “água santa” assim 
preparada é chamada “água amarga” nos versos 18, 19 e 23. Conquanto não seja 
necessário entrar em detalhes a respeito da aflitiva cerimônia mencionada neste 
capítulo, chamamos a atenção para o versículo vinte e três. O sacerdote devia 
escrever estas maldições num livro, e depois, “com a água amarga as apagará”.
 
Ao passo que o sangue é mencionado no Velho Testamento como a purificação do 
pecado, a água é mencionada da mesma maneira.
A pia situada mesmo diante do tabernáculo; a água usada na cerimônia da bezerra 
ruiva; a água amarga usada para apagar o pecado segundo se registra no capítulo 
5 de Números, testificam do emprego da água para purificação cerimonial. Está 
escrito a respeito de Cristo; “Este é aquele que veio por água e por sangue, 
isto é, Jesus Cristo: não só por água, mas por água e por sangue”. I João 5:6. 
Na crucifixão, “um dos soldados Lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu 
sangue e água. E aquele que o viu testificou, e o seu testemunho é verdadeiro; e 
sabe que é verdade o que diz, para que também vós o creiais”. João 19:34 e 35. A 
água batismal, a preciosa ordenança da humildade, ainda nos salva”... não do 
despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para 
com Deus”. I Pedro 3:21.
 
12. 
OFERTA PELOS PECADOS E AS CULPAS
As ofertas pelos pecados eram oferecidas pelos pecados de ignorância, e não 
abrangiam pecados cometidos voluntariamente ou com consciência. Quando um 
israelita havia, sem se aperceber, cometido qualquer coisa “contra algum dos 
mandamentos do Senhor”, não era reputado como responsável, até que isso lhe 
fosse “notificado”. Assim que se apercebia de haver errado, devia levar uma 
oferta “pelo seu pecado que pecou”. Lev. 4:28 e 28. Mas, segundo é declarado, as 
ofertas pelo pecado não aproveitavam de modo algum em caso de pecados cometidos 
conscientemente. Os pecados dessa natureza eram chamados culpas, ou pecados 
ocultos, e exigiam diferente proceder.
 
Ordinariamente, uma culpa é um pecado voluntário, cometido com conhecimento, um 
deliberado passar por cima. Podia às vezes acontecer ser cometido sem a pessoa 
se aperceber, mas nesses casos o conceito era de que, não somente ela poderia 
ter sabido melhor, como de que deveria ter sabido, sendo portanto reputada 
responsável por sua ignorância. A palavra hebraica para a oferta ou sacrifício 
pelas culpas, asham, poderia ser também traduzida por dívida. Ela denota um 
maior grau de culpa que a oferta pelo pecado, embora talvez o pecado em si mesmo 
não seja maior.
 
Há alguns pecados que partilham da natureza da culpa. São em parte pecado, em 
parte culpa. Uma pessoa pode, em parte, ser ignorante da culpa cometida, não o 
sendo contudo inteiramente. É por isso, sem dúvida, que algumas transgressões 
mencionadas na primeira parte do capítulo cinco de Levítico, são chamados ao 
mesmo tempo pecado e culpa. A esses pertencem o deixar de denunciar (vs. 1), o 
tocar qualquer coisa imunda (vs. 2), tocar a imundícia de um homem (vs. 3), e 
o jurar temerariamente (vs. 4). Nestes casos o pecador era ordenado a levar 
uma “expiação ao Senhor pelo seu pecado que pecou: uma fêmea de gado miúdo, uma 
cordeira, ou uma cabrinha pelo pecado”. vs. 6.
Convém notar que a oferta é chamada tanto oferta pela culpa, como oferta pelo 
pecado. No versículo 7 denomina-se oferta pela culpa. No versículo 9 é chamada 
oferta pelo pecado. Alguns comentaristas bíblicos tratam essas ofertas como 
ofertas pelo pecado: outros as consideram como ofertas pela culpa. Uma vez que 
são chamadas ofertas pela culpa ou pelo pecado ao mesmo tempo, podemos 
considerá-las como uma espécie de oferta intermediária entre as duas, 
chamando-lhes ofertas pelos pecados e as culpas.
 
Uma pessoa que pecasse em qualquer das coisas acima mencionadas, devia levar uma 
fêmea do rebanho, uma cordeira ou uma cabrinha por oferta pelo pecado. vs. 6. 
Caso lhe fosse impossível levar uma cordeira, podia levar uma rola ou um 
pombinho. O sangue era posto no altar da oferta queimada, e o resto do mesmo 
derramado à base do altar, o mesmo ritual que tinha lugar na oferta pelo pecado, 
mencionado no capítulo anterior. vs. 7-9.
Caso o pecador não tivesse meios de levar uma rola ou um pombinho, podia 
apresentar como sua oferta a décima parte de um efa de flor de farinha, para 
expiação do pecado. Não lhe era, entretanto, permitido pôr óleo ou incenso sobre 
ela. A razão para isto é dada: “É expiação pelo pecado”. Oferecendo isto, o 
sacerdote tomava um punhado de flor de farinha, e a queimava para memorial sobre 
o altar. O restante pertencia ao sacerdote da mesma maneira que na oferta de 
carne. vs. 11-13.
 
Encontramo-nos aqui face a face com um notável acontecimento. De ordinário uma 
oferta pelo pecado devia ser tirado, e o sangue aspergido. Aqui, entretanto, a 
oferta de uma décima parte de flor de farinha é aceita. É positivamente 
declarado que o sacerdote devia tomar um punhado desta farinha e queimá-la sobre 
o altar, “assim o sacerdote por ela fará expiação do seu pecado, que pecou em 
alguma destas coisas, e lhe será perdoado”. vs. 13. Para que não se pense que 
esta é uma ordinária oferta de manjares, é duas vezes declarado: “Expiação de 
pecado é”. vs. 11 e 12. Parece, portanto, claro que, pelo menos neste caso, 
era aceita uma oferta pelo pecado que não continha sangue, fazendo ainda assim 
expiação.
Isto chama a atenção para a declaração que se encontra no versículo vinte e dois 
do nono capítulo de Hebreus: “E quase todas as coisas, segundo a lei, se 
purificam com sangue; e sem derramamento do sangue não há remissão”. Conquanto 
seja em geral verdade que no serviço típico não podia haver remissão de pecados 
sem derramamento de sangue, não devemos esquecer a exceção aqui feita. Isto é, a 
regra de que não há remissão sem derramamento de sangue, vigora, conquanto haja, 
nos símbolos, a exceção aqui mencionada.
 
Idêntica situação se nos defronta no caso da referência feita à bezerra ruiva, 
discutida no capítulo anterior. Não havia aplicação imediata do sangue no 
processo de purificação ali mencionado, mas simplesmente de água e cinza. Era, 
todavia, uma purificação de pecado, uma oferta pelo mesmo. Num. 19:9.
 
Não sustentamos que seja possível o perdão de pecados sem o sacrifício do 
Calvário. A morte de Cristo é necessária à nossa salvação. É no entanto 
significativo que, nos símbolos acima mencionados, a expiação e o perdão do 
pecado eram por vezes efetuados sem o imediato e direto emprego do sangue.
 
Procurando uma aplicação disto na dispensação cristã, não podemos crer que se 
aplique a pessoas que nunca tiveram nenhum conhecimento direto ou definido do 
Salvador, e não obstante vivem segundo toda a luz que têm, fazendo a vontade de 
Deus tal qual a compreendem? Não pode significar aqueles pagãos que nunca 
ouviram o nome de Jesus, mas que ainda assim, em maior ou menor grau, partilham 
de Seu Espírito? Acreditamos que há pessoas que nunca ouviram o bendito nome do 
Senhor, que nada sabem do Calvário, ou da redenção em seu favor efetuada na 
cruz, as quais têm manifestado o espírito de Cristo, e serão salvas no reino do 
céu. A tais pessoas, cremos, isto se aplica.
O primeiro caso mencionado no quinto capítulo de Levítico, versículo um, é o de 
reter informação quando chamado em juízo. “E quando alguma pessoa pecar, ouvindo 
uma voz de blasfêmia, de que for testemunha, seja que o viu, ou que o soube, se 
o não denunciar, então levará a sua iniqüidade”. A “voz de blasfêmia” é 
traduzida por “ouvindo alguém jurar” na versão Figueiredo, e refere-se ao 
juramento prestado num tribunal judaico.
Quando Cristo estava sendo julgado, “insistindo o sumo sacerdote, disse-lhe: 
Conjuro-Te pelo Deus vivo que nos digas se Tu és o Cristo, o Filho de Deus”. 
Mat. 26:63. Nessas circunstâncias Cristo não Se podia conservar em silêncio, e 
respondeu: “Tu o disseste”. Sentiu-Se compelido a responder ao ser conjurado, 
embora anteriormente guardasse silêncio. vs. 63 e 64.
 
É um caso assim o que estamos considerando. A Versão Brasileira torna mais claro 
esse pensamento: “Se alguém, chamado como testemunha de um fato (ou por ter 
visto, ou sabido), pecar, não o denunciando, levará sua iniqüidade”. O homem se 
acha sob juramento, ou conjurado; é uma “testemunha”, e foi interrogado quanto 
ao que “viu, ou é sabedor” da transgressão. Recusa-se a responder; não o 
denuncia. Nesse caso, “levará a sua iniqüidade”.
 
Os versículos dois e três referem-se a tocar em qualquer coisa imunda, “seja 
qual for a sua imundícia”. O homem o poderá ter feito despercebidamente; isto 
lhe poderia ter sido “oculto”, mas se “o souber depois, será culpado”.
 
O quarto caso é o de uma pessoa que “jurar, pronunciando temerariamente com os 
seus beiços, para fazer mal, ou para fazer bem, em tudo o que o homem pronuncia 
temerariamente com juramento”. Sabendo-o ele depois, também “culpado será”. vs. 
4.
Em cada um destes casos, devia o pecador trazer a oferta apropriada, por sua 
transgressão, “o lhe será perdoado”. 
 
Afirma-se por vezes que Deus, nos tempos antigos, não exigia confissão e 
ajustamento a fim de assegurar o perdão, mas pedia apenas que o pecador levasse 
o sacrifício exigido. O ritual da oferta pela culpa deve corrigir essa 
impressão. A confissão era positivamente exigida. “Quando homem ou mulher fizer 
algum de todos os pecados humanos, transgredindo contra o Senhor, tal alma 
culpada é. E confessarão o pecado que fizeram”. Num. 5:6 e 7.
 
Uma confissão geral, entretanto, não bastava. “Será pois que, culpado sendo numa 
destas coisas, confessará aquilo em que pecou”. Lev. 5:5. Esta declaração é 
positiva e decisiva. Não somente deve confessar, mas confessar “aquilo em que 
pecou”. É “aquilo” que vale. Só quando ele confessa assim, pode receber a 
expiação.
Em casos em que se achava envolvida fraude, a confissão não bastava, mesmo que 
ela fosse específica. Devia haver restituição. Essa restituição consistia em um 
quinto da soma envolvida, além do principal. “Então restituirá pela sua culpa, 
segundo a soma total, e lhe acrescentará o seu quinto, e o dará aquele contra 
quem se fez culpado”. Num. 5:7. Em caso de não ser possível restituir a soma à 
pessoa contra quem tinha sido cometida a falta, fosse por causa de morte ou 
qualquer outra coisa, e não houvesse parentes próximos, a restituição devia ser 
feita ao sacerdote. vs. 8. Essa restituição era além do cordeiro da oferta 
pelo pecado.
 
Desta consideração parece claro que Deus exigia de Seu povo mais que o trazer 
uma oferta. Requeria confissão e restituição. Se ainda á alegado que nada se diz 
a respeito de arrependimento, a clara resposta é tratar Deus aqui apenas com os 
atos exteriores do culto. Houvesse o arrependimento sido reclamado como 
requisito para o perdão, teria sido possível um sacerdote negar a expiação a um 
pecador mesmo que o homem houvesse cumprido a ordem de Deus. Haveria sido 
deixada com o sacerdote a decisão quanto a ter-se o homem realmente arrependido 
ou não. Isto é um poder demasiado perigoso para ser dado a qualquer criatura 
humana. Assim Deus sabiamente reservava isto para Si mesmo. Se resta qualquer 
dúvida quanto às exigências divinas no sentido do arrependimento e acerca de 
como o povo entendia a ordem de Deus, lede a súplica de Salomão quando da 
dedicação do templo, especialmente I Reis 8:46-53. Ou escutai a oração de Davi: 
“Não Te comprazes em sacrifícios, senão eu os daria: Tu não Te deleitas em 
holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração 
quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus”. Sal. 51:16 e 17. Israel teve 
fartas ocasiões de conhecer que o que Deus queria não era sacrifícios, mas um 
coração quebrantado e contrito. Houvessem eles querido, e poderiam ter tornado 
seu culto tão belo quão espiritual, como por certo fizeram alguns.
O capítulo seis de Levítico menciona certos pecados que são notadamente culpas, 
e assim são chamados. Referem-se a mentir e enganar, vs. 2: a jurar falsamente. 
Vs. 3. Quem quer que tivesse feito qualquer dessas coisas “ficou culpado, 
restituirá o roubo que roubou, ou o retido que retém violentamente,
Ou o depósito que lhe foi dado em guarda, ou o perdido que achou, ou tudo aquilo 
sobre que jurou falsamente; e o restituirá no seu cabedal, e ainda sobre isso 
acrescentará o quinto; aquele de quem é o dará no dia de sua expiação”. Lev. 6:4 
e 5. Esses pecados são definidamente chamados culpas. Dizem respeito 
especificamente aqueles pecados pelos quais se pode fazer restituição. Nesses 
casos, o sacerdote devia fazer “expiação por ela (a pessoa) perante o Senhor, e 
será perdoada de qualquer de todas as coisas que fez, sendo culpada delas”. vs. 
7.
 
Havia outras ocasiões que exigiam tanto uma oferta pela culpa como uma pelo 
pecado, pertencendo então à categoria que agora consideramos. Uma dessas era a 
purificação de leprosos. Depois de examinado pelo sacerdote e proclamado limpo, 
o leproso era restaurado à sociedade e à cidadania por meio de uma especial 
cerimônia de purificação descrita em Levítico 14:1-8. Outra cerimônia era 
necessária, entretanto, para restituí-lo à comunhão da igreja e permitir que 
tivesse parte no serviço do santuário. Isto está registrado nos versículos 9-32. 
O leproso devia prover uma oferta pela culpa, bem como uma pelo pecado, além das 
regulares ofertas queimadas e de manjares. A oferta pela culpa, o cordeiro, era 
morto, e o sangue não espargido no altar, mas posto “sobre a ponta da orelha 
direita daquele que tem de purificar-se, e sobre o dedo polegar da sua mão 
direita, e no dedo polegar do seu pé direito. Também o sacerdote tomará do log 
de azeite, e o derramará na palma da sua própria mão esquerda”. vs. 14 e 15. 
Depois disto o sacerdote devia tomar azeite e espargir “sete vezes perante o 
Senhor”. vs. 16. Devia então ungir o leproso, fazendo com o azeite como fizera 
com o sangue. O sacerdote devia pô-lo “sobre a ponta da orelha direita daquele 
que tem de purificar-se, e sobre o dedo polegar da sua mão direita, e no dedo 
polegar do seu pé direito, em cima do sangue da expiação da culpa; e o restante 
do azeite que está na mão do sacerdote, o porá sobre a cabeça daquele que tem de 
purificar-se: assim o sacerdote fará a expiação por ele perante o Senhor”. vs. 
17 e 18. Depois disto o sacerdote devia fazer a oferta pelo pecado e a oferta 
queimada.
Caso o leproso fosse pobre, poderia substituir os dos cordeiros por duas rolas 
ou dois pombinhos, “conforme alcançar a sua mão”. vs. 21 e 22. Esta afirmativa 
ocorre várias vezes na descrição. Deus pedia apenas aquilo que o homem era capaz 
de prover.
 
É significativo que a lepra exigia tanto uma oferta pela culpa como uma pelo 
pecado. Devemos daí tirar a conclusão de que ela seja resultado de transgressão 
conhecida? Não pensamos assim. É preferível crer que o ritual no caso da lepra é 
meramente ilustrativo do fato de que há enfermidades que são o resultado de 
voluntária transgressões, e que não se podem atribuir a mera ignorância. Tal é 
indubitavelmente o caso, conquanto fosse temerário para o homem, o sentenciar 
sumariamente em qualquer caso em particular.
 
Outra ocasião que requeria uma oferta pela culpa, era a contaminação do nazireu 
durante o período de sua separação. Se isso acontecesse, ele devia levar “um 
cordeiro de um ano: e os dias antecedentes serão perdidos, porquanto o seu 
nazireado foi contaminado”. Num. 6:12. Notai a declaração de que mesmo se 
fazendo expiação por ele, “os dias antecedentes serão perdidos”. Pode-se obter o 
perdão; todavia, em muitos casos, há positiva perda. Isto concorda com a 
declaração do Novo Testamento: “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá 
detrimento; mas o tal será salvo, todavia, como pelo fogo”. I Cor. 3:15. O homem 
é salvo, mas sofre prejuízo.
 
O ritual das ofertas pela culpa é o mesmo que o das ofertas pelo pecado. Os 
animais eram mortos no mesmo lugar, e a gordura queimada no altar das ofertas 
queimadas da mesma maneira. Lev. 7:1-5. Aos sacerdotes era ordenado comerem as 
ofertas pelo pecado, segundo indicado em Levítico 6:24-30, e o mesmo vigorava 
quanto às ofertas pela culpa. ”Todo o varão entre os sacerdotes o comerá: no 
lugar santo se comerá: coisa santíssima é. Como a expiação do pecado, assim será 
a expiação da culpa: uma mesma lei haverá para elas; será do sacerdote que 
houver feito propiciação com ela”. Lev. 7:6 e 7.
Uma distinção entre a oferta pelo pecado e a oferta pela culpa, é a do espargir 
do sangue. Na oferta pelo pecado, o sangue era posto nas pontas do altar da 
oferta queimada. Lev. 4:25, 30 e 34. Isto não é mencionado a respeito da oferta 
pela culpa. Segundo Levítico 7:2, o sangue da oferta pela culpa era espargido 
sobre o saltar em redor, da mesma maneira que o sangue das ofertas queimadas e 
pacíficas. Alguns pensam que a declaração: “Como a expiação do pecado, assim 
será a expiação da culpa: uma mesma lei haverá para elas” (Lev.7:7), tem 
referência ao aspergir do sangue. Nesse caso, o sangue da oferta pelo pecado, 
bem como o da oferta pela culpa deveriam ser aspergidos sobre o atar em redor, e 
também postos nas pontas do altar. Parece, entretanto, que a ”uma mesma lei” tem 
referência especial ao comer da carne. Na falta de qualquer declaração positiva 
a esse respeito, concluímos que o sangue da oferta pelo pecado era posto nas 
pontas do altar, o da oferta pela culpa aspergido sobre o altar em redor, e que, 
em ambos os casos, o restante era derramado à base da oferta queimada.
 
13. 
O SERVIÇO DIÁRIO
Os sacerdotes que oficiavam no santuário eram divididos em vinte e quatro 
turmas, cada uma das quais seria duas vezes por ano, uma semana cada vez. Da 
mesma maneira eram os levitas divididos, bem como o era o povo. Os cordeiros 
para os sacrifícios da tarde e da manhã eram providos pelo povo; e a divisão do 
povo que fornecia os cordeiros para cada semana enviava a Jerusalém 
representantes para aquela semana, para auxiliar nos serviços, ao passo que o 
resto do povo permanecia em casa, passando aquela semana em especial devoção e 
meditação. Por ocasião de uma grande festa, como a páscoa ou o dia de expiação, 
grande Numero de sacerdotes, eram chamados de uma vez ao santuário, bem como um 
Numero correspondente de levitas.
 
O serviço diário incluía a oferta de um cordeiro sobre o altar das ofertas 
queimadas para cada manhã e cada tarde, com as devidas ofertas de manjares e 
libações, o espevitamento das lâmpadas do santuário, que se acendiam, a oferta 
de incenso, com o serviço que acompanhava, a oferta de manjares de Aarão e seus 
filhos, e a oferta de sacrifícios individuais, tais como as ofertas pelo pecado, 
ofertas queimadas, de manjares e pacíficas. Além desses deveres diários, havia 
muitos outros, como os sacrifícios pela purificação, pelos leprosos, por votos 
de nazireu, contaminações. Dos homens se requeria igualmente que cuidassem da 
cinza, de prover e examinar a lenha usada no altar, servir de vigias, abrir e 
fechar as portas, e servir como contínuos. O recinto do templo era um atarefado 
lugar, desde o romper da aurora até que se cerrassem as portas, à noitinha.
 
Ainda escuro, pela manhã, se abriam as portas, e a entrada era franqueada ao 
povo. Entre os sacerdotes lançavam-se sortes para decidir quem devia apresentar 
o sacrifício, quem espargir o sangue, quem remover as cinzas, oferecer o 
incenso, espevitar as lâmpadas, e prover o vinho para a oferta das libações. 
Os sacerdotes tinham passado a noite no recinto do templo, conquanto só aos mais 
idosos fosse permitido deitar-se para repousar. Dos outros se esperava que 
permanecessem despertos, e estivessem prontos quando quer que fossem chamados. 
Pela manhã, antes do clarear, banhavam-se e, ao chegar a ocasião de se lançarem 
as sortes, estavam todos prontos.
 
Ao determinar quem havia de oferecer o incenso, não se incluía qualquer 
sacerdote que houvesse oficiado anteriormente. Ao ser, a princípio, erigido o 
santuário, Aarão e seus filhos oficiavam diariamente. Mais tarde havia tantos 
sacerdotes, que se tinham de lançar sortes a ver quem devia oferecer o incenso. 
Era portanto coisa fora de comum para qualquer sacerdote o oficiar na queima do 
incenso mais de uma vez, em sua carreira. Como essa parte especial do serviço 
diário acima de qualquer outra, levava o sacerdote mais perto da divina 
Presença, era considerada grande honra, bem como uma responsabilidade, e anelado 
prêmio.
 
Ao entrar o sacerdote no santuário para oferecer o incenso, o cordeiro para o 
sacrifício matutino, que fora previamente escolhido e apresentado ao Senhor, 
estava atado a uma das argolas que havia no soalho, do lado norte do altar. A 
traquéia-artéria e a goela do cordeiro eram cortadas com uma faca, e o sangue 
apanhado numa tigela de ouro, e aspergido ao redor sobre o altar. Depois disso o 
animal era esfolado e cortado em vários pedaços. As entranhas se colocavam sobre 
uma das mesas de mármore designadas para isso, sendo lavadas. Em seguida, seis 
sacerdotes levavam esses pedaços para cima do altar, onde eram arranjados em 
ordem, e queimados. Outro sacerdote levava a oferta de manjares de farinha; 
outro ainda, a oferta de manjares cozida do sumo-sacerdote; e ainda outro a 
oferta das libações. As ofertas eram todas salgadas antes de serem colocadas 
sobre o altar. 
 
Enquanto isto tinha lugar fora, o sacerdote cujo serviço era oferecer o incenso, 
entrava no lugar santo. De ordinário, o mesmo era acolitado por outro sacerdote 
que levava brasas vivas do altar do holocausto, num vaso de ouro, colocando-as 
sobre o altar de incenso, e se retirava. O sacerdote a quem cabia o dever de 
oferecer o incenso, erguia então a tampa do incensário contendo o incenso, 
deitando-se sobre as brasas no altar.
Enquanto o incenso, numa nuvem de fumo, se elevava para o alto, ele se ajoelhava 
perante o altar em silenciosa adoração.
Devia ter sido solene experiência a do sacerdote que se encontrava sozinho no 
lugar santo, próximo à tremenda presença de Jeová, o Senhor dos Exércitos. Como, 
na maioria dos casos, assim oficiava pela primeira vez, era uma experiência 
incomum. Sacerdote algum esquecia jamais os momentos em que estivera a sós com 
Deus. E se, como por vezes acontecia, o Senhor Se revelava na nuvem por sobre o 
propiciatório, a impressão produzida na mente do sacerdote pela santidade de 
Deus era tão profunda, que para sempre permanecia indelével. Vira a gloria do 
Senhor e não fora consumido.
 
O oferecimento do incenso terminava mais ou menos ao mesmo tempo que os 
sacerdotes concluíam sua obra matinal ao altar do holocausto. Quando a última 
parte – o derramar da oferta de libação – se estava concluindo, os levitas 
começavam a cantar o salmo indicado, o qual era entremeado de sons da trombeta 
de prata dos sacerdotes. Sempre que a trombeta tocava, o povo se ajoelhava e se 
punha em oração. O sumo-sacerdote passava aos degraus do templo e, com as mãos 
estendidas, proferia as bênçãos sacerdotais sobre o povo. Isto finalizava o 
serviço matinal. O da tarde, que se efetuava por volta das três horas, era 
semelhante ao da manhã. O cordeiro era morto, o sangue espargido, oferecido o 
incenso, e novamente proferida a bênção sacerdotal. Ao escurecer cerravam-se as 
portas.
 
Assim era efetuado o serviço diário todos os dias durante o ano, inclusive os 
sábados e dias de festa. Aos sábados, ofereciam-se pela manhã dois cordeiros, e 
dois à tarde, em vez de um como nos dias de semana. Em certos dias festivos, 
mais sete cordeiros eram oferecidos, mas do contrário, o serviço permanecia 
inalterável.
O cordeiro oferecido no serviço diário, era uma oferta queimada. Representava 
toda a nação, uma espécie de sumário de todas as ofertas. Encerrava os 
característicos vitais de cada um dos sacrifícios: era uma oferta de sangue, 
significando expiação; uma oferta substituta – “seja aceito por ele”(Lev. 1:4); 
uma oferta dedicada – inteiramente oferecida a Deus e consumida sobre o altar;
era uma oferta de cheiro suave; “oferta queimada, de cheiro suave ao Senhor”. 
vs. 13.
 
Embora o sacrifício da manhã e da tarde fosse para a nação como um todo, e não 
aproveitasse a ninguém individualmente, servia não obstante a um fim definido 
para o indivíduo. Quando um israelita pecava, tinha de levar ao templo uma 
oferta, e aí confessar seu pecado. Nem sempre era possível fazer isto, no 
entanto. O ofensor poderia morar a um dia de viagem ao mesmo a uma semana, de 
Jerusalém. Impossível lhe era ir ao templo todas as vezes que pecava. Para tais 
casos constituíam os sacrifícios da manhã e da tarde uma temporária expiação. 
Provia como que uma proteção até que o pecador pudesse aparecer em pessoa no 
tabernáculo e fazer sua oferta individual.
 
Isto é ilustrado no caso de Jó. Seus filhos iam “e faziam banquetes em casa de 
cada um no seu dia”. Jó 1:4. Nessas festas, tinham sem dúvida lugar 
acontecimentos que não eram agradáveis a Deus. Jó temia que os filhos pecassem e 
também que se esquecessem, ou tardassem a levar o necessário sacrifício. Por 
esse motivo Jó ”se levantava de madrugada, e oferecia holocausto segundo o 
Numero de todos eles; porque dizia Jó: Porventura pecaram meus filhos, e 
blasfemaram de Deus no seu coração. Assim o fazia Jó continuamente” vs. 5.
 
Jó oferecia uma oferta queimada por cada um de seus filhos. “Porventura pecaram 
meus filhos”, dizia. Acreditava que essa oferta proveria uma expiação provisória 
por eles, até que viesse o tempo em que reconhecessem sua falta e se 
prontificassem a ir a Deus por si mesmos.
 
De igual modo o sacrifício diário da manhã e da tarde, proporcionava temporária 
expiação por Israel. Significava ao mesmo tempo consagração e aceitação por meio 
de um substituto. Diz-se da oferta queimada individual: “Para que seja aceito 
por ele”. Lev. 1:4. Se o sacrifício individual era assim ”aceito por ele”, não 
podemos crer que a oferta nacional fosse aceita pela nação?
 
Cristo morreu por todos. Santos e pecadores igualmente partilham do sacrifício 
do Calvário. Foi “sendo nós ainda pecadores” que Ele deu a vida em resgate. 
Muitos não farão aplicação pessoal do sacrifício, mas permanece o fato de haver 
Cristo morrido por eles. Seu sangue os protege. Ampla e cabal providência foi 
tomada quanto a sua salvação. Cristo “é o Salvador de todos os homens, 
principalmente dos fiéis”. I Tim. 4:10.Toda alma que vive hoje deve a existência 
ao Gólgota. Não fora pelo “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”, 
Adão teria ficado sem esperança. As palavras: “No dia em que dela comeres 
certamente morrerás”, haveriam selado sua sorte para sempre. Apoc. 13:8; Gên. 
2:17. Mas Adão foi poupado. Não morreu. O Cordeiro tomou o seu lugar.
O mesmo se dá agora. Deus não mudou. Pecado e pecadores não têm direito de 
existir. O pecado é tão ofensivo aos olhos de Deus agora, como no jardim do 
Éden. Os pecadores têm permissão de viver e é lhes assegurada uma demora de 
execução somente pela virtude do sangue expiatório e Cristo. Porque o Cordeiro 
morreu, eles vivem. É lhes garantido um tempo de graça. Dia a dia lhes dá Cristo 
vida, a ver se “porventura, tateando” O podem “achar”. Atos 17:27.
 
O serviço da manhã expiava os pecados cometidos durante a noite anterior; o da 
tarde, os pecados cometidos durante o dia.
Como os sacrifícios matutino e vespertino eram para a nação, e cobriam 
temporariamente todo pecado cometido durante a noite anterior ou durante o dia, 
compreende-se facilmente que alguns dos pecados assim cobertos não estavam 
confessados, e talvez nunca o viessem a ser. A menos que se creia que todo homem 
em Israel se apercebesse imediatamente de que havia transgredido, e confessasse 
os pecados, algum tempo devia mediar entre o cometer o pecado e sua confissão. 
Isto se acentuaria naturalmente mais ainda, se algumas semanas ou meses 
decorressem antes da confissão. No caso do impenitente, ou dos que apostatavam, 
seu dia de graça terminava no dia da expiação. A pessoa que, naquele dia, não 
afligisse sua alma, era “extirpada de seu povo”, isto é, seria posta fora de sob 
o pálio da igreja, excomungada. Lev. 23:29.
 
Surge por vezes a questão de serem ou não todos os pecados cometidos 
transferidos para o santuário. 
Nosso estudo até aqui nos leva a crer que os pecados eram expiados 
provisoriamente, no sacrifício da manhã e da tarde, quando o cordeiro era 
oferecido no altar da oferta queimada pela nação. O sangue do sacrifício usado 
nas ofertas queimadas era sempre espargido “`a roda e sobre o altar”. Lev. 1:5 e 
11. No caso de ser usada uma ave, o sangue era “espremido na parede do altar”. 
Vs. 15. Aceitamos, portanto, o ponto de vista de que, no serviço diário, havia, 
por intermédio do sangue espargido sobre o altar, uma transferência de pecados 
para o altar de ofertas queimadas, e que os pecados assim transferidos incluíam 
os de todo o povo. Uma vez reconhecido que a oferta queimada proporcionava 
expiação pelo pecado, segundo se declara em Levítico 1:4; se se reconhece que a 
diária oferta queimada era feita pela nação, e que ela efetuava por Israel a 
mesma obra realizada pelas ofertas queimadas de Jó por seus filhos (Jó 1:5); se 
se considera muito improvável que todos os pecados fossem imediatamente 
conhecidos e confessados antes do tempo do próximo sacrifício da manhã ou da 
tarde, parece inevitável a conclusão de que a todos os pecados era 
provisoriamente atendido quando o cordeiro era oferecido em sacrifício sobre o 
altar.
 
É quase escusado repetir que essa providência temporária só se tornava eficaz 
para salvação quando o ofensor fazia sua confissão individual do pecado, levando 
o respectivo sacrifício pelo mesmo, da mesma maneira que o pecador só é agora 
salvo pelo sacrifício de Cristo no Calvário, se aceita a Cristo individualmente. 
A morte do Cordeiro de Deus no Gólgota visa beneficiar todos os homens, mas 
somente os que aceitam o sacrifício e dele fazem aplicação pessoal, serão 
salvos. A morte do cordeiro, no altar judaico, era por toda a nação, mas 
unicamente os que se arrependiam e manifestavam sua fé trazendo um sacrifício 
pessoal, eram incluídos na reconciliação do dia da expiação. Os outros eram 
“extirpados”.
 
Deve-se observar, todavia, que esses pecados não confessados não eram 
transferidos propriamente ao santuário, mas ao altar da oferta queimada. Os 
sacerdotes não comiam a carne da oferta queimada – era toda queimada no altar. 
Lev. 1:13. O sangue não era posto nas pontas do altar, como no caso das ofertas 
pelo pecado, nem era levado para o santuário,
mas espargido “à roda e sobre o altar” da oferta queimada. Lev. 1:5 e 11; 4:25, 
30 e 34. É portanto claro que esses pecados eram transferidos ao altar da oferta 
queimada e não propriamente ao santuário.
 
Os sacrifícios da manhã e da tarde eram simbólicos, não só da expiação provida 
mediante o cordeiro, mas também da consagração da nação a Jeová. A vítima, 
inteiramente consumida sobre o altar, era um emblema dos que diariamente se 
consagravam a Deus, pondo-se com tudo quanto tinham sobre o altar, e que estavam 
dispostos a seguir o Cordeiro aonde quer que os conduzisse. De manhã e de tarde 
suas orações ascendiam ao Deus de Israel, misturadas com o suave incenso da 
justiça e perfeição de Cristo.
 
O pão da proposição era uma oferta perpétua ao Senhor, devendo portanto ser 
considerada uma parte do serviço diário. Consistia em doze pães colocados em 
duas filhas sobre a mesa no primeiro compartimento do santuário. Esse pão era 
renovado cada sábado, por ocasião de se trocarem as turmas de sacerdotes. O pão 
que estava sempre perante o Senhor, era chamado o “pão da proposição”. Êxo. 
25:30. Como os sacrifícios matutinos e vespertino simbolizavam a diária 
consagração da nação a Deus e também sua confiança no sangue expiatório, como a 
oferta de incenso simbolizava os méritos e a intercessão de Cristo, como as 
lâmpadas no castiçal representavam a luz de Deus iluminando a alma e 
esclarecendo a palavra, assim o pão da proposição representava o reconhecimento, 
por parte do homem, de sua dependência de Deus, tanto quanto ao alimento 
temporal, como quanto ao espiritual, recebidos unicamente mediante os méritos e 
a intercessão de Cristo, que é o pão que desceu do céu. João 6:48-51.
 
O serviço diário provia assim expiação por meio do sangue do cordeiro; 
intercessão mediante a ascendente nuvem de incenso; vida física e espiritual, 
através do pão da proposição: e luz por meio da lâmpada no castiçal. Olhando do 
ponto de vista humano, o serviço diário significava consagração, ilustrada pelo 
cordeiro sobre o altar; oração, por meio do fumo do incenso; reconhecimento de 
completa dependência de Deus quanto ao pão de cada dia; e compreensão de que, 
unicamente mediante a luz derramada por Deus em nosso caminho, podem nossas 
vidas e mentes obscurecidos ser iluminadas.
O serviço diário simbolizava e significava a necessidade de Deus por parte do 
homem, bem como a completa provisão feita por Ele para suprir a essa 
necessidade.
 
Os serviços diários até aqui descritos têm sido de ordem geral; para a nação. 
Havia outra espécie, de igual importância, isto é, a oferta de sacrifícios 
levados pelos indivíduos para fins específicos. Dividiam-se os mesmos em duas 
classes: ofertas de cheiro suave, e não de cheiro suave. As primeiras eram 
aquelas que indicavam consagração, dedicação, ou reconhecimento. Eram ofertas 
queimadas, ofertas pacíficas, e ofertas de manjares. As não de cheiro suave eram 
ofertas pelo pecado e pelas transgressões. Com exceção das ofertas manjares, 
eram todas elas ofertas de sangue, tendo, como tal, valor expiatório, embora nem 
todas fossem especialmente oferecidas pelo pecado. A oferta queimada era uma 
oferta de consagração e dedicação: tinha todavia significação expiatória. Lev. 
1:4. O mesmo se dava com a oferta pacífica. O ofertante colocava a mão sobre a 
cabeça da vítima, e a matava à porta do tabernáculo; depois, o sacerdote 
espargia o sangue sobre o altar ao redor. Este modo de proceder era o mesmo na 
oferta queimada, e significava expiação. Lev. 3:2.
 
As ofertas pelo pecado, e pelas transgressões, eram as mais importantes. 
Expiavam os pecados individuais, restituindo ao ofensor o favor divino. Como 
essas ofertas já foram discutidas noutra parte, não é necessário entrar em 
detalhes com relação a esse ritual. Entretanto, talvez convenha fazer algumas 
observações.
 
O sangue da vítima sacrifical nem sempre era levado para o santuário, para ali 
ser aspergido perante o véu. Isto, como já foi anteriormente notado, só se fazia 
no caso do sacerdote ungido e de toda a congregação. Lev. 4:5, 6, 16 e 17. 
Quando uma pessoa comum ou um príncipe pecava, o sangue era colocado sobre os 
cornos do altar da oferta queimada fora do tabernáculo, e a carne era comida 
pelos sacerdotes. Lev. 4:25 e 34; 6:30.
 
Quando o sacerdote ungido pecava, não havia ninguém mais alto em ordem para 
levar o pecado. Nesse caso a carne não era comida, mas o sangue era levado para 
o santuário, sendo aí aspergido perante o véu. 
O mesmo se fazia no caso de toda a nação pecar como nação. A carne não era 
comida, mas o sangue levado para o santuário, e aí aspergido perante o véu.
Quando uma pessoa comum ou um dos príncipes pecava, era diversa a situação. Por 
eles, o sacerdócio podia levar o pecado. A carne era, portanto, comida e o 
sacerdote que a comia, tomava assim sobre si o pecado do indivíduo. Além de o 
sacerdote comer a carne, o sangue era posto nas pontas do altar da oferta 
queimada.
 
Ver-se-á por aí que os pecados individuais confessados se transferiam ao 
santuário por duas maneiras. Quando o sacerdote ungido ou a inteira congregação 
pecava, o pecado, por meio do sangue, era transferido ao santuário, ao lugar 
santo. Quando um príncipe ou uma pessoa comum pecava, o pecado, por meio do 
comer a carne, era transferido ao sacerdócio, e por meio do sangue ao altar da 
oferta queimada.
 
Ao ser o serviço do santuário instituído, no princípio, Aarão, bem como seus 
filhos, ministravam diariamente no primeiro compartimento do santuário. O 
sumo-sacerdote oferecia a oferta de manjares, cuidava das lâmpadas, acendia-as, 
e queimava incenso no lugar santo. Lev. 6:19-23; 24:2-4; Num. 8:2 e 3; Êxo. 30:7 
e 8. Em tempos posteriores tornou-se costume os sacerdotes oficiarem no primeiro 
compartimento, e só acidentalmente servia aí o sumo-sacerdote, como nos sábados 
ou nos dias de festas, e especialmente no dia de expiação, e na semana que o 
precedia. É significativo que, embora no serviço diário o sumo-sacerdote 
oficiasse vestido de seus trajes oficiais de sumo-sacerdote, usava as brancas 
vestes sacerdotais quando entrava no santo dos santos, no dia da expiação. Lev. 
16:4, 23 e 24.
 
Resumindo a obra do serviço diário no santuário, destacam-se os seguintes 
pontos:
 
1. Uma expiação provisória geral é provida para a nação, no sacrifício da manhã 
e da tarde, do cordeiro sobre o altar da oferta queimada. O sangue do cordeiro 
registra os pecados cometidos, ao mesmo tempo que para eles provê expiação até 
ao tempo em que o ofensor leve seu sacrifício individual pelo pecado, ou, se 
deixa de fazê-lo, até ao dia da expiação. O corpo do cordeiro significa a 
consagração de Israel a Jeová, e é simbólico de Cristo, que nos “amou, e Se 
entregou a Si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a deus em cheiro suave”. 
Efés. 5:2.
Os pecados para que se fazia provisão temporária e provisória nos sacrifícios da 
manhã e da tarde são, geralmente falando, os pecados não confessados. Esses, bem 
como outros, contaminam o tabernáculo do Senhor. Num. 19:13 e 20.
 
2. Os sacrifícios individuais pelo pecado constituem um registro de pecados 
perdoados. Cada pecado já foi registrado pelo aspergir do sangue da oferta 
queimada da manhã e da tarde. O levar uma oferta individual registra perdão para 
esses mesmos pecados. É como se fizessem acentos de livros, guardando-se um fiel 
registro de todos os pecados. Depois, quando o ofensor se arrepende de seu 
pecado e pede perdão, o mesmo é escrito ao lado de seu nome.
 
3. Os pecados não confessados são registrados no altar da oferta queimada, fora 
do tabernáculo. Os pecados confessados, no santuário, ou do contrário, nas 
pontas do altar da oferta queimada. Em todo caso, todos os pecados confessados 
iam ter afinal ao santuário. Ao partilharem os sacerdotes da carne das ofertas, 
cujo sangue era posto nas pontas do altar da oferta queimada, os pecados eram, 
mediante as ofertas dos sacerdotes bem como pela diária oferta do sumo-sacerdote 
(Heb. 7:27), transferidos ao lugar santo. Estamos portanto autorizados a dizer 
que todos os pecados, confessados – e apenas os confessados – se acham no 
próprio santuário. Ao chegar o dia da expiação, só os pecados confessados se 
passam em revista perante Deus, e só os pecadores que, pelo arrependimento e a 
confissão já foram perdoados e tiveram seus pecados transferidos para o 
santuário, recebem a expiação, o apagar dos pecados.
 
Assim, dia a dia, no decorrer do ano, os pecados eram transferidos ao santuário, 
contaminando-o. Isto, não podia, naturalmente, continuar indefinidamente. Um dia 
de final ajuste de contas tinha de vir, um dia de purificação. Esse dia era o 
dia da expiação. Era o dia de juízo, o maior dia do ano. Vamos considerá-lo no 
capítulo seguinte.
 
14. 
O DIA DA EXPIAÇÃO
O dia da expiação era o maior dia em Israel. Era particularmente santo, e nele 
nenhuma obra se devia fazer. Os judeus chamavam-no Yoma, o dia. Era a coluna 
mestra do sistema sacrifical. Quem quer que, naquele dia, não afligisse sua 
alma, era extirpado de Israel. Lev. 23:29. O dia da expiação ocorria no décimo 
dia do sétimo mês, chamado Tishri, em geral o nosso outubro. A preparação 
especial para esse dia começava dez dias antes. A esse respeito, a Enciclopédia 
Judaica, no artigo “Expiação”, diz: “Os primeiros dez dias de Tishri se tornaram 
os dez dias de arrependimento do ano, destinados a operar uma perfeita mudança 
de coração, e fazer Israel, como criaturas nascidas de novo, atingindo a 
culminância no dia da expiação, quando o maior dom religioso, a perdoadora 
misericórdia de Deus, devia ser oferecida ao homem”. – Vol. II, pág. 281. Faz-se 
adiante a declaração de que “se desenvolvera nos círculos judaicos a idéia de 
que, no primeiro de Tishri, o sagrado Dia de Ano Novo e aniversário da criação, 
os feitos dos homens eram jogadores, e seu destino decidido, e que no dia dez de 
Tishri era selado o decreto do céu”. – Ibid.
 
Uma concepção judaica do que tinha lugar no dia da expiação, é dada da seguinte 
maneira na Enciclopédia Judaica: “Deus, sentado em Seu trono para julgar o 
mundo, ao mesmo tempo Juiz, Litigante, Perito e Testemunha, abria o Livro de 
Registro; este é lido, achando-se aí a assinatura de todo o homem. Soa a grande 
trombeta; ouve-se uma voz mansa e delicada; os anjos tremem, dizendo: Este é o 
dia de juízo: pois mesmo Seus ministros não são puros diante de Deus. Como um 
pastor faz a chamada de seu rebanho, fazendo-o passar sob a vara, assim faz Deus 
passar toda alma viva perante Ele para fixar o limite da vida de toda criatura e 
determinar-lhe o destino. No dia de Ano Novo, é escrito o decreto; no Dia da 
Expiação é selado quem há de viver e quem morrerá, etc.. 
Mas o arrependimento, a oração e a caridade podem desviar o mau decreto”. - Id., 
pág. 286.
 
No terceiro dia do sétimo mês, o sumo-sacerdote se mudava de sua casa em 
Jerusalém para os recintos do templo. Ali passava ele a semana em oração e 
meditação, e também preparando o ritual para o Dia da Expiação, de modo a não 
cometer erro algum. Havia com ele, pelo menos em anos posteriores, outro 
sacerdote que, em caso de o sumo-sacerdote adoecer ou morrer, podia levar avante 
o serviço no Dia da Expiação. Geralmente, um dos sacerdotes mais velhos também 
estava com o sumo-sacerdote durante este tempo, instruindo-o e ajudando-o, e 
certificando-se de que tudo estava compreendido, e seria feito da maneira 
aprovada. Na noite anterior ao Dia da Expiação, o sumo-sacerdote não tinha 
permissão de dormir, para que não lhe sobreviesse qualquer contaminação.
 
No Dia da Expiação todos se levantavam cedo. O sumo-sacerdote oficiava no 
sacrifício da manhã e no da tarde, levado a efeito nesse dia como nos outros. 
Num. 29:11. Acabado esse serviço, começavam os outros, especiais. O relato do 
décimo-sexto capítulo de Levítico, fornece as seguintes informações:
 
Primeiro o sumo-sacerdote se devia banhar, e vestir as vestes santas. Durante o 
ano usara a insígnia de sumo-sacerdote, o belo traje e o éfode com as pedras 
preciosas e o peitoral. Nesse dia, no entanto, antes de entrar no santíssimo, 
tirava esses vestes, pondo as brancas do sacerdote, sendo a diferença entre seu 
traje e o do sacerdote, que o cinto era branco, e que ele usava a mitra de linho 
do sumo-sacerdote em vez da tiara do sacerdote. Lev. 16:4; Êxo. 28:39 e 40; 
39:28.
 
Ao começar o serviço, o sumo-sacerdote recebe da congregação dois bodes e um 
carneiro, os quais, juntamente com sua própria oferta pelo pecado, um novilho, 
são apresentados perante o Senhor. Ele mata o novilho, que é por si mesmo, e um 
sacerdote apanha parte do sangue numa tigela, mexendo-o de modo a não coagular, 
enquanto o sumo-sacerdote realiza outra parte do serviço.
 
Depois que o novilho é morto, o sumo-sacerdote toma brasas do altar da oferta 
queimada, pondo-as num incensário.
Enche também as mãos de suave incenso e, levando ambos, as brasas e o incenso, 
penetra no tabernáculo, e entra no santíssimo. Aí coloca o incensário no 
propiciatório, “e a nuvem do incensário cobrirá o propiciatório, que está sobre 
o testemunho, para que não morras”. Lev. 16:13.
 
Concluída esta parte da cerimônia, ele sai, e recebe do sacerdote o sangue do 
novilho, que leva para o santíssimo. Aí esparge o sangue com o dedo, sobre o 
propiciatório, para a banda do oriente, “e perante o propiciatório espargirá 
sete vezes do sangue com o seu dedo”. vs. 14. Por esse ato faz ele “expiação 
por si e pela sua casa”. vs. 6. 
 
Antes de o novilho ser morto, teve lugar outra cerimônia. Lançaram-se sorte 
sobre dois bodes, uma sorte pelo Senhor e a outra pelo bode emissário. vs. 8. 
O bode sobre o qual caiu a sorte pelo Senhor, tem de ser oferecido como expiação 
do pecado. O outro, o bode emissário, deve ser apresentado vivo ao Senhor, “para 
fazer expiação com ele, para enviá-lo ao deserto como bode emissário”. vs. 9 e 
10.
 
Saindo o sumo-sacerdote do santíssimo, depois de haver realizado o ritual com o 
sangue do novilho, mata o bode da expiação do pecado que é pelo povo. Torna a 
entrar no santíssimo, e esparge o sangue do bode como fez com o do novilho sobre 
o propiciatório e diante dele. vs. 15. Isto fazia expiação pelo santíssimo, 
“por causa das imundícias dos filhos de Israel e das suas transgressões, segundo 
todos os seus pecados”. vs. 16. Faz em seguida o mesmo para a tenda da 
congregação, isto é, o lugar santo. Feita a expiação pelo santuário, ele sai ao 
altar, e faz expiação por ele, pondo sobre os cornos tanto de sangue do novilho 
como do bode. Esparge-o com o dedo sete vezes, e assim “o purificará das 
imundícias dos filhos de Israel”. vs. 19.
“Havendo pois acabado de expiar o santuário, e a tenda da congregação, e o 
altar, então fará chegar o bode vivo. E Aarão porá ambas as suas mãos sobre a 
cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de 
Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados: e os porá 
sobre a cabeça do bode, e envia-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado 
para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra 
solitária; e enviará o bode ao deserto”. Lev. 16:20-22.
Concluída essa parte do serviço, Aarão tira as roupas de linho, lava-se com 
água, pondo as vestes regulares de sumo-sacerdote. vs. 23 e 24. Sai então, e 
oferece uma oferta queimada por si e outra pelo povo. vs. 24. A gordura da 
oferta pelo pecado é então queimada sobre o altar. O homem que levou o bode 
emissário ao deserto deve banhar-se e lavar suas roupas antes de voltar ao 
acampamento. O homem que dispôs do novilho cujo sangue foi levado para o 
santuário, e cujo corpo foi queimado fora do acampamento, também deve lavar as 
roupas e banhar-se com água antes de voltar. vs. 26-28. A oferta especial 
mencionada em Números 29:7-11, consistindo em um bezerro, um carneiro e sete 
cordeiros para oferta queimada, e “um bode para expiação do pecado, além da 
expiação do pecado pelas propiciações”, é então oferecida antes do sacrifício 
regular da tarde, o qual encerra os serviços do dia.
 
Acerca da obra feita naquele dia, declara o registro: “Naquele dia se fará 
expiação por vós, para purificar-vos: e sereis purificados de todos os vossos 
pecados perante o Senhor”. Lev. 16:30. No versículo 33 é apresentado um sumário: 
“Expiará o santo santuário; também expiará a tenda da congregação e o altar: 
semelhantemente fará expiação pelos sacerdotes e por todo o povo da 
congregação”.
 
Ao ler-se o relatório do Dia da Expiação segundo se encontra no capítulo 16 de 
Levítico, apresentam-se certas interrogações, as quais passamos a considerar. Se 
se pergunta: Que era realmente efetuado pelos serviços do Dia da Expiação? a 
resposta é, naturalmente, que se fazia expiação. Se outra pergunta é feita: Por 
quem, ou para que era feita a expiação? a resposta é, na linguagem do versículo 
trinta e três, que se expiavam o santo santuário, a tenda da congregação, o 
altar, os sacerdotes e todo o povo.
 
Isto divide a expiação em duas partes – expiação pelo santuário, isto é, pelas 
coisas santas; e expiação por pessoas, isto é, os sacerdotes e o povo. O designo 
da expiação pelo povo, declara-se, é “purificar-vos: e sereis purificados de 
todos os vossos pecados perante o Senhor”. vs. 30. Quanto ao santuário, faz-se 
a declaração: “Fará expiação pelo santuário por causa das imundícias dos filhos 
de Israel e das suas transgressões, segundo todos os seus pecados:
e assim fará para a tenda da congregação que mora com eles no meio das suas 
imundícias”. vs. 16. Quanto ao altar, há a declaração: “Daquele sangue 
espargirá sobre ele com o seu dedo sete vezes, e o purificará das imundícias dos 
filhos de Israel, e o santificará”. vs. 19.
 
Note-se que os lugares santos e o altar não eram purificados por causa de 
qualquer pecado ou mal a eles inerente, mas “por causa das imundícias dos filhos 
de Israel e das suas transgressões, segundo todos os seus pecados”. O mesmo se 
verifica a respeito do altar. O sacerdote “o purificará das imundícias dos 
filhos de Israel, e o santificará”. vs. 19.
 
Estas declarações tornam claro que eram os pecados de Israel que contaminavam o 
santuário e o altar. Esta contaminação ocorrera durante o ano no ministério 
diário. Cada manhã e cada tarde fora morto um cordeiro, sendo seu sangue 
espargido sobre o altar, “ao redor”. Isto contaminara o altar. Os ofensores 
haviam trazido suas ofertas pelo pecado e a transgressão. No caso de um 
sacerdote ou de toda a congregação, o sangue da vítima se espargira no 
santuário. Isto o contaminara. No caso de um príncipe ou de uma pessoa comum, o 
sangue tinha sido posto nas pontas do altar da oferta queimada, e a carne comida 
pelos sacerdotes. Isto transferia os pecados para o sacerdócio, ao mesmo tempo 
que contaminava o altar. Por essa maneira o santuário e o altar se haviam 
contaminado, e o sacerdócio fizera-se portador dos pecados. Os serviços do Dia 
da Expiação se destinavam a remover todos esses pecados e purificar ao mesmo 
tempo o santuário e o sacerdócio, da mesma maneira que o povo.
 
É bem possível que alguém pergunte: Por que era necessária qualquer purificação 
por parte do povo? Não tinham eles trazido de quando em quando suas ofertas 
durante o ano, confessado os pecados e ido embora perdoados? Por que precisavam 
de ser perdoados duas vezes? Por que então se fazer “cada ano” “comemoração dos 
pecados?” Não deviam, “purificados uma vez os ministrantes, nunca mais” ter 
“consciência de pecado”? Heb. 10:2 e 3. Estas perguntas exigem respostas.
 
É oportuno observar que nossa salvação é sempre condicional, dependendo do 
arrependimento e da perseverança. Deus perdoa, mas o perdão não é incondicional 
e independente da futura direção do pecador.
Notai como explica Ezequiel: “Desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo 
iniqüidade, fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio, porventura 
viverá? De todas as suas justiças que tiver feito não se fará memória: na sua 
transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá”. 
Ezeq. 18:24.
 
Este versículo declara que, desviando-se um homem de sua justiça, de todos os 
seus atos bons “não se fará memória”. O contrário também se verifica. Se o homem 
tiver sido ímpio, mas se desviar de seus maus caminhos, “de todas as suas 
transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele”. vs. 22.
 
Deus mantém uma conta para cada homem. Sempre que, de um coração sincero, 
ascende uma súplica por perdão, Ele perdoa. Mas por vezes os homens mudam de 
idéia. Arrependem-se de seu arrependimento. Mostram, por sua vida, que o mesmo 
não é duradouro. E assim Deus, em vez de perdoar de maneira absoluta, 
definitiva, registra o perdão ao lado do nome das pessoas, e espera com o apagar 
final dos pecados para quando eles tiverem tido tempo de pensar maduramente no 
assunto. Se, ao fim de sua vida, se acham ainda com a mesma idéia, Ele os 
considera fiéis, e no dia do juízo seu registro é definitivamente limpo. Assim 
acontecia com Israel outrora. Ao chegar o Dia da Expiação, cada ofensor tinha 
oportunidade de mostrar que ainda estava com o mesmo espírito e queria o perdão. 
Se assim era, o pecado era apagado, e ele estava completamente limpo.
 
O Dia da Expiação era o dia de juízo para Israel, como se evidencia das citações 
no princípio deste capítulo. Dia a dia, durante o ano, os transgressores haviam 
chegado ao templo e recebido perdão. No Dia da Expiação esses pecados eram 
passados em revista diante do Senhor, ou, como diz o livro de Hebreus, se fazia 
“comemoração dos pecados”. Heb. 10:3. Naquele dia, todo verdadeiro israelita 
renovava sua consagração a Deus, e confirmava seu arrependimento. Em resultado, 
não somente obtinha o perdão, mas era purificado. “Naquele dia se fará expiação 
por vós, para purificar-vos: e sereis purificados de todos os vossos pecados 
perante o Senhor.” Lev. 16:30. 
Deve ter sido com o coração cheio de felicidade que Israel ia para casa na tarde 
daquele dia. “Purificados de todos os vossos pecados”. Maravilhosa segurança! A 
mesma promessa é dada no Novo Testamento: “Se confessarmos os nossos pecados, 
Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a 
injustiça”. I S. João 1:9. Não só perdoados, mas purificados também! Purificado 
de “toda a injustiça”, de “todos os vossos pecados”!
 
Do juízo final, diz o revelador: “E vi os mortos, grandes e pequenos, que 
estavam diante do trono, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro que é o 
da vida: e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos 
livros, segundo as suas obras.” Apoc. 20:12. “Os mortos foram julgados pelas 
coisas que estavam escritas nos livros”. O Dia da Expiação era um tipo desse 
dia. Não havia livros de contas no santuário. Havia, porém, registro de pecado. 
Cada gota de sangue espargido no altar da oferta queimada, no serviço da manhã e 
da tarde, constituía um registro dos pecados cometidos. Nas pontas do mesmo 
altar, bem como no santuário, fazia-se um registro de pecados perdoados por meio 
da aspersão do sangue, ao chegarem os pecadores com seus sacrifícios individuais 
para obter perdão. No Dia da Expiação os pecados daqueles que já tinham obtido 
perdão eram apagados. Os outros, eram “extirpados”. Assim era o santuário 
purificado do registro do pecado acumulado durante o ano. Essa purificação do 
registro também efetuava a purificação do povo cujos pecados já estavam 
perdoados. Eram apagados. Não mais permaneciam como testemunho contra eles. A 
expiação estava feita, e o povo não se achava sob condenação. Estavam puros, 
livres, felizes. O próprio registro não exista mais.
 
Cabe-nos agora o dever de investigar como se realizava essa expiação. o 
estudioso observador desejará saber como o santuário era purificado pelo 
espargir de sangue, quando fora por aquele mesmo processo que ele se 
contaminara. Mais sangue não o haveria de contaminar ainda mais, em vez de o 
purificar? Também desejará saber porque se usa um novilho por expiação do 
pecado, da mesma maneira que se usa um bode, e o que cada um deles efetuava; e 
afinal porque é necessário um bode emissário.
Em qualquer estudo do santuário e do sacerdócio levítico, convém lembrar que 
tipo algum é um exato antítipo daquele a que se destina a representar. A obra 
real da expiação no céu envolve tantos fatores, que é de todo impossível 
encontrar um paralelo terrestre. Cristo viveu, morreu e ressuscitou. Como se 
pode encontrar um justo símbolo para ilustrar isto? Um cordeiro pode representar 
a Cristo e ser morto como Ele foi. Mas como se pode mostrar a ressurreição? 
Pode-se usar outro animal vivo, mas o tipo não é perfeito.
O sumo-sacerdote tipificava a Cristo, mas Cristo era imaculado, e o 
sumo-sacerdote não. Cada oferta que o sumo-sacerdote oferecia pelos próprios 
pecados, portanto, não podia ser realmente um tipo. Por isso várias cerimônias 
eram necessárias para ilustrar a obra completa de Cristo; ainda assim não o 
conseguiam fazer plenamente. O sacerdote tipificava certos aspectos do 
ministério de Cristo. Assim acontecia com o sumo-sacerdote, o véu, o pão da 
proposição, o incenso, o cordeiro, o bode, a oferta de manjares e muitas outras 
coisas no ritual do santuário. O compartimento santo tinha sua significação, as 
mesma maneira o santíssimo, o pátio, o altar, a pia, o propiciatório. Quase tudo 
esta simbólico, desde as vestes sacerdotais à cinza com que se aspergiam os 
imundos. Todavia, tudo isso reunido não constituía um símbolo perfeito, e grande 
parte desse simbolismo não refletia senão imperfeitamente seu original.
 
Noutro capítulo se declara que Aarão não somente representava o povo, como se 
achava, por assim dizer, identificado com eles. O que ele fazia, fazia-o o povo. 
O que este fazia, fazia-o ele.
O sumo-sacerdote “representava todo o povo. Todos os israelitas eram 
considerados como estando nele”. Nele “tudo quanto pertencia ao sacerdócio se 
acumulava, atingindo a culminância”. “Quando ele pecava, o povo pecava”.
 
Adão era o representante do homem. Por ele “entrou o pecado no mundo”. Por sua 
“desobediência”, “muitos foram feitos pecadores”. E assim “pela ofensa de um só, 
a morte reinou por esse”, e “pela ofensa de um morreram muitos”. Rom. 5:12, 19, 
17 e 15.
Cristo era também um homem representativo. O segundo e o último Adão. “O 
primeiro homem, da terra, é terreno;
O segundo homem, o Senhor, é o céu”. I Cor. 15:47. Este segundo homem, “o 
Senhor”, que “é do céu”, desfez tudo quanto o primeiro homem fizera por sua 
transgressão. Pela desobediência do primeiro homem “muitos foram feitos 
pecadores”. Pela obediência do segundo homem “muitos serão feitos justos”. Rom. 
5:19. Pela ofensa do primeiro homem, “veio o juízo sobre todos os homens para a 
condenação”. Pela justiça do segundo, “veio a graça sobre todos os homens para 
justificação de vida”. vs. 18. E assim “como todos morrem em Adão, assim 
também todos serão vivificados em Cristo”. I Cor. 15:22.
 
O sumo-sacerdote era um tipo de Cristo, e um representante da nação. Como 
representante da nação, achava-se identificado com os seus pecados, era digno de 
morte. Como tipo de Cristo, era seu mediador e salvador. Em ambos os casos, ele 
tratava com Deus pelo povo. Neste sentido, era o povo. Se Deus o aceitava, 
acreditava o povo nele. Se o rejeitava, nele rejeitava o povo. Por esse motivo o 
povo estava ansioso por ouvir o som das campainhas e das romãs no Dia da 
Expiação. Quando, afinal, estava feita, e era completa a reconciliação, o som 
das campainhas ao tornar o sumo-sacerdote a por as vestes de seu cargo, era o 
sinal de que Deus aceitara o substituto. Ao sair ele, e se tornar o som 
distintamente ouvido por todos, profundas eram sua alegria e gratidão. Deus os 
havia mais uma vez aceito na pessoa do sumo sacerdote.
 
Quando o sumo-sacerdote entrava no santíssimo no Dia da Expiação, ali entrava 
como representante do povo. Nele aparecia Israel perante o Senhor para prestar 
contas dos pecados do ano. O registro desses pecados aparecia em sangue no altar 
da oferta queimada, e no santuário. Com o Dia da Expiação, chegara o dia do 
ajuste de contas, o dia do juízo, quando todos os pecados deviam passar em 
revista diante de Deus. O sumo-sacerdote aparece na presença divina, enquanto o 
véu de incenso o protegia. Pela primeira vez naquele ano o pecado é levado 
perante Deus no santíssimo. O sumo-sacerdote esparge o sangue do novilho “sobre 
a face do propiciatório, para a banda do oriente; e perante o propiciatório 
espargia sete vezes”, e recebe “expiação por si e pela sua casa”. Lev. 16: 14 e 
11. Está limpo.
Sejam quais forem os pecados com que se havia identificado, sejam quais forem os 
de que era responsável, passaram, em figura, ao santuário. Está limpo; mas o 
santuário não o está.
 
O que até então se realizou, foi o seguinte: O sumo-sacerdote, em sua qualidade 
de representante, compareceu perante Deus e a lei. Reconheceu os próprios 
pecados e espargiu o sangue. A lei, com efeito, indagou:
“Pecaste?”
 
O sumo-sacerdote respondeu: “Pequei, e confessei meus pecados”. 
 
A lei diz: “O salário do pecado é a morte. Não tenho outra escolha senão exigir 
a vida”. 
O sumo-sacerdote replica: “Eu trouxe o sangue da vítima. Aceita-o”.
 
O sangue é aspergido sobre o propiciatório. Foi aceito um substituto em lugar do 
pecador. Neste substituto foi posto o pecado; ele foi feito pecado, e como tal 
morreu. Pagou a pena da transgressão. Morreu em vez do pecador, e pelo pecado. 
Pagou a dívida por causa deste contraída.
 
Em nossa consideração dos sacrifícios pelo pecado, foi acentuado o colocar das 
mãos sobre a cabeça da vítima, transferindo assim para ela a culpa. Em cada caso 
a vítima morre tendo a culpa sobre sua cabeça, morre pelo pecado. Assim tomou 
Cristo nosso pecado sobre Si e foi feito pecado. Sendo feito pecado, deve 
morrer: pois o salário do pecado é a morte.
 
Cristo, entretanto, não somente morreu pelo pecado, mas pelos pecadores. Quando 
morreu pelo pecado, morreu porque Se havia identificado conosco e tomado sobre 
Si os nossos pecados. Morreu pelos pecados, porque os nossos foram lançados 
sobre Ele, e cumpria-Lhe sofrer a pena. Morrendo assim pelos pecadores, satisfez 
as exigências da lei.
 
Cristo morreu, não somente como um substituto pelos pecadores, mas também como o 
Imaculado. Tomando os nossos pecados sobre Si – com reverência o dizemos – devia 
morrer; a lei o exigia. Mas Cristo, pessoalmente, não havia pecado. Era 
imaculado; todavia morreu. E a morte do imaculado é uma parte definida do plano 
de Deus. A morte do pecador satisfaz a lei. A morte do Imaculado provê o resgate 
e liberta o pecador da morte. 
Depois de o sumo-sacerdote haver oferecido o novilho e espargido o sangue do 
mesmo sobre o propiciatório e diante dele, era-lhe mandado degolar “o bode da 
expiação, que será para o povo”, trazer “o seu sangue para dentro do véu”, e 
fazer “com o seu sangue como o fez com o sangue do novilho”, espargindo-o “sobre 
o propiciatório, e perante a face do propiciatório. Assim fará expiação pelo 
santuário por causa das imundícias dos filhos de Israel, e das suas 
transgressões, segundo todos os seus pecados: e assim fará para a tenda da 
congregação que mora com eles no meio das suas imundícias. Lev. 16:15 e 16. 
 
Foi anteriormente observado, mas convém salientar aqui, que o sangue do novilho 
e o do bode efetuavam duas coisas diversas. O primeiro opera expiação por Aarão 
e sua casa. O segundo faz expiação pelo povo e o santuário. vs. 11, 15 e 16. 
Nada se diz quanto a fazer o sangue do novilho expiação pelo santuário, ou 
purificá-lo, mas isto é positivamente declaração do sangue do bode. vs. 15 e 
16. Isto se pode explicar baseado nos seguintes fatos:
 
Em todos os casos em que se faz expiação por uma pessoa – com uma pequena 
exceção discutida algures – essa expiação se efetua por meio de sangue, e indica 
transferência de pecados para o santuário. O pecador passa os seus pecados para 
a vítima que é morta, e o sangue é aspergido no altar da oferta queimada ou no 
lugar santo do santuário. O sangue que – por haver o pecado sido confessado 
sobre a vítima – se poderia chamar sangue carregado de pecado, típica e 
cerimonialmente, contamina o lugar onde é aspergido. Assim se torna o santuário 
contaminado.
 
Quando o sumo-sacerdote sai depois de haver espargido o sangue do novilho, está 
limpo. Fossem quais fossem os pecados que levava, pelos quais era responsável, 
haviam sido confessados e transferidos ao santuário. Quando sai do santíssimo, 
está purificado, livre, santo, um tipo de Cristo o Imaculado. Confessou os 
próprios pecados, estes lhe foram perdoados, e não tem mais nenhuma confissão a 
fazer por si mesmo. O bode do Senhor, cujo sangue está prestes a espargir, 
também simboliza o Imaculado, o portador dos pecados. Em todas as ofertas feitas 
durante o ano, retratara-se a morte de Cristo, como o Imaculado. Foi feito 
pecado Aquele que não o conheceu.
No bode, no Dia da Expiação, Ele é tipificado como o escolhido de Deus, o 
inocente, puro.
Repetindo: No bode oferecido no Dia da Expiação, temos uma referência simbólica 
à morte do Cristo sem pecado, “santo, inocente, imaculado, separado dos pecados, 
e feito mais sublime do que os céus”. Heb. 7:26. O sangue desse bode tem 
eficácia purificadora. Torna possível a purificação do santuário.
 
O espargir do sangue dos sacrifícios da manhã e da tarde pela nação, abrangia 
todo pecado cometido em todo o Israel durante aquele dia em particular. O 
sacrifício diário no altar, representava Cristo, que morreu por nós, “sendo nós 
ainda pecadores”; que “Se entregou a Si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a 
Deus, em cheiro suave”; que “é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente 
pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”. Rom. 5:8; Efés. 5:2; I S. João 
2:2. A diária oferta queimada é portanto simbólica dAquele que se deu a Si mesmo 
pelo pecado do mundo, morrendo por todos os homens, fazendo assim provisão por 
todos quantos houverem de ir a Ele para ser salvos. O espargir do sangue “sobre 
o altar em redor” denota expiação temporária ou provisória, ao mesmo tempo que 
constitui um registro de pecados cometidos, mas ainda não individualmente 
expiados.
 
As ofertas individuais, como pelo pecado, pela transgressão, e as ofertas 
queimadas, constituíam, com efeito, um registro de pecados para os quais se 
buscava expiação. Os pecados já haviam sido registrados no serviço diário da 
manhã e da tarde. Ora, os ofensores, como indivíduos, registravam seu 
arrependimento levando as ofertas exigidas, e o sangue era devidamente posto nas 
pontas do altar da oferta queimada, ou espargido sobre o altar de incenso, 
diante do véu. O sangue assim espargido registrava pecados confessados. Já 
notamos que todos os pecados de que se fazia confissão iam ter ao santuário; 
pois nos casos em que o sangue não era diretamente levado ali, a carne era 
comida pelos sacerdotes que, por esta maneira, levavam o pecado; e quando os 
sacerdotes ofereciam sacrifícios por si mesmos, estes pecados eram juntamente 
com os seus, levados para o lugar santo.
 
Este serviço do tabernáculo terrestre era típico da obra executada no santuário 
do alto, onde se mantém um completo registro dos pecados cometidos e dos 
confessados.
Quando o Dia da Expiação chegava, todo o Israel, esperava-se, devia ter 
confessado seus pecados, e ter essa confissão registrada com sangue no 
santuário. Para completar a obra, necessitava-se então que o registro fosse 
removido, os pecados apagados, purificando o santuário de sua contaminação por 
causa do sangue. Antes que se fizesse essa purificação específica, o 
sumo-sacerdote entrava no santíssimo com o sangue de um novilho, fazendo 
expiação por si e pela sua casa. Feito isto, começava a abra de purificação. O 
santíssimo era purificado com o sangue do bode, e depois, o santo. Assim era 
apagado o registro dos pecados. Depois, purificava-se o altar.
“E daquele sangue espargirá sobre ele com o seu dedo sete vezes, e o purificará 
das imundícias dos filhos de Israel”. Lev. 16:19. Assim acabava ele “de expiar o 
santuário, e a tenda da congregação, e o altar”. vs. 20. Tudo estava então 
purificada, reconciliado, expiado.
 
Observar-se-á que até aqui, nada se tem dito no relatório a respeito da 
purificação do povo. Assim devia ser. O povo já confessara os pecados. Estavam 
perdoados. Só o registro de seus pecados permanecia, e nesse dia o mesmo era 
apagado. E, com o apagamento do registro, removia-se do santuário o derradeiro 
vestígio do pecado e o povo ficava limpo. “Naquele dia se fará expiação por vós, 
para purificar-vos: e sereis purificados de todos os vossos pecados perante o 
Senhor”. Lev. 16:30. Todos quantos haviam, antecipadamente, levado seus pecados 
a juízo, tinham-nos apagados. O apagar do registro constituía a purificação do 
povo. Começava o ano com uma página limpa.
 
Desejamos chamar ainda a atenção para um fato, isto é, o pôr sangue do novilho 
nas pontas do altar. vs. 18. Que o sangue do bode seja posto no altar, não 
necessita mais explicação, pois isto é purificá-lo. Mas por que o sangue do 
novilho?
 
O sumo-sacerdote representa todo o povo. Trata por ele com Deus. Como 
representante de Cristo, efetua tipicamente a expiação, de modo que, quando sua 
obra está concluída no Dia da Expiação, foram tratados todos os pecados, e todos 
os pecados de que houve confissão, apagados. Quando, pois, ele confessa esses 
pecados, assim o faz em favor de Israel, e recebe expiação.
Daí se dizer que o sumo-sacerdote faz “expiação por vós, para purificar-vos: e 
sereis purificados de todos os vossos pecados”. vs. 30.
 
Havia sem dúvida em Israel pessoas que tardavam em confessar, até que era 
demasiado tarde para levar uma oferta individual pelo pecado antes do Dia da 
Expiação. Arrependiam-se, mas se tinham atrasado em ir ao santuário. Outros 
estavam doentes e não podiam ir, ou estavam em viagem em terras distantes. 
Nenhum desses levara suas ofertas pelo pecado ou transgressão. Deviam eles ser 
deixados fora?
 
Seus pecados estavam registrados pelo sacrifício diário da manhã e da tarde – 
por ele e nele – mas nenhuma confissão se registrara no santuário, pois não 
haviam levado nenhum sacrifício. Que devia ser feito? O sumo-sacerdote põe do 
sangue nas pontas do altar, assim registrando por eles confissão e perdão. Faz a 
obra que eles teriam feito caso houvesse tempo, ou tivessem podido e, em virtude 
de seu arrependimento, são incluídos na expiação. A tais pertencem o ladrão na 
cruz, e outros.
 
Assim termina a obra do Dia da Expiação, no que respeita a todos os pecados 
confessados. Todo aquele que confessou os pecados e deles se arrependeu, tem a 
certeza de que os mesmos foram apagados. Ouviu as campainhas ao tornar o 
sumo-sacerdote a por as vestes de seu ofício, anunciando a consumada obra. Esse 
não é somente um pecador perdoado; não está apenas perdoado, mas purificado. “Se 
confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para perdoar os pecados, e 
nos purificar de toda a injustiça”. I João 1:9. O perdão foi concedido no 
serviço diário; a purificação, no Dia da Expiação. O próprio registro do pecado, 
foi apagado. Israel está limpo.
 
15. O BODE EMISSÁRIO
Ao considerarmos o Dia da Expiação, omitimos uma importante parte do serviço, a 
qual merece ser explicada em particular, isto é, a parte do bode emissário. 
Sobre esse assunto, muito se tem escrito, e diversas são as interpretações 
dadas. Expomos aquela que acreditamos ser a verdadeira e que melhor se harmoniza 
com o desígnio geral da expiação.
 
O bode emissário aparece em preeminência no Dia da Expiação, depois da obra de 
reconciliação estar completa. Depois de Aarão ter “acabado de expiar o 
santuário, e a tenda da congregação, e o altar, então fará chegar o bode vivo. E 
Aarão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele 
confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas 
transgressões, segundo todos os seus pecados: e os porá sobre a cabeça do bode, 
e envia-lo-á ao deserto, pela não de um homem designado para isso. Assim aquele 
bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária; e enviara o 
bode ao deserto”. Lev. 16:20-22.
 
Estaremos lembrados de que o sangue do bode que era pelo Senhor purificava o 
santo, o santíssimo e o altar, “das imundícias dos filhos de Israel”, e “das 
suas transgressões, segundo todos os seus pecados”. Lev. 16:16 e 19. Foi 
acentuado que isto não era apenas perdão, mas purificação. O primeiro fora 
obtido no serviço diário, quando se levavam as ofertas individuais pelo pecado. 
O sangue fora então espargido, e o pecado perdoado. É repetidamente declarado 
que “o sacerdote por ele fará expiação do seu pecado, e lhe será perdoado”. Lev. 
4:26, 31 e 35. o registro do pecado, não obstante, permanecia até ao Dia da 
Expiação, quando era, enfim apagado. Isto é exatamente o que acontece no grande 
dia do juízo, do qual o Dia da Expiação é um símbolo. Então se abrem os livros, 
apagando-se os pecados dos justos. Atos 3:19; Apoc. 20:12; Dan. 7;10. Daqueles 
cujos pecados não foram apagados, os nomes se-lo-ão. Êxo, 32:33; Apoc. 3:5; Sal. 
69:28. Isto importa em eterna perdição. 
O bode emissário servia a um propósito definido no serviço do Dia da Expiação. 
Sobre sua cabeça confessava o sumo-sacerdote “todas as iniqüidades dos filhos de 
Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados”, e os 
punha “sobre a cabeça do bode”. Lev. 16:21. O bode levava os pecados “à terra 
solitária”. vs. 22. Esta cerimônia tirava os pecados do acampamento de Israel, 
sendo o derradeiro ato do sumo-sacerdote antes de se lavar e retomar as vestes 
do costume. vs. 23 e 24.
 
Duas perguntas requerem consideração: A quem, ou o que representa o bode 
emissário? E: Que parte é mesmo a sua nos serviços do Dia da Expiação?
 
Quando se lançavam sortes sobre os dois bodes recebidos da congregação, uma 
sorte era pelo Senhor e a outra pelo bode emissário. A palavra aqui empregada 
para o bode emissário. Azazel, tem sido objeto de muita discussão. Alguns crêem 
serem os dois animais símbolos de Cristo, representando simplesmente dois 
aspectos da mesma obra. Outros acreditam que os mesmos representam duas forças 
opostas, e que, se um é “pelo Senhor”, e o outro “por Azazel”, o ultimo deve 
significar “por Satanás”. Alguns eruditos, provavelmente a maioria, sustentam 
que Azazel é um ser pessoal, perverso e sobre-humano; outros contestam que quer 
dizer “um que remove”, especialmente “por uma série de atos”. Parece mais 
razoável acreditar que, sendo um bode “pelo Senhor”, ser pessoal, também o outro 
deva ser por um ser pessoal. Demais, como os dois bodes se acham evidentemente 
em antítese, o ponto de vista coerente seria aquele que sustenta ser Azazel 
oposto a “o Senhor”. Outro não poderia ser senão Satanás. Conquanto acreditemos 
que o peso das provas seja em favor de considerar Azazel como o nome de um mau 
espírito pessoal, existem certas aparentes dificuldades em face deste ponto de 
vistam, as quais devem ser consideradas. A principal entre elas, é a declaração 
de que o bode emissário “apresentar-se-á vivo perante o Senhor, para fazer 
expiação com ele, para enviá-lo ao deserto como bode emissário”. Lev. 16:1. 
Se Azazel significa um “mau espírito” – Satanás – como pode ser possível “fazer 
expiação com ele”? Certo, se dirá, não se pode fazer expiação com um bode que 
represente a Satanás.
 
Cremos que uma consideração do papel do bode emissário fornece a solução a esse 
problema. Concluída a expiação com o bode do Senhor, feita a reconciliação e a 
purificação pelo santuário e o altar, é trazido o bode por Azazel. Note-se que o 
sacerdote tinha “acabado de expiar”; o santuário e o altar haviam sido 
purificados; fizera-se a expiação; havia-se acabado de expiar; então, e não 
antes, aparece o bode emissário em seu papel especial. Sustentamos, portanto, 
que o bode emissário não tem parte na expiação que já foi realizada com o sangue 
do bode do Senhor. Essa obra está completa. O bode emissário não tem nela parte 
alguma.
 
Talvez se apresente a objeção de que, sendo a iniqüidade dos filhos de Israel 
que se coloca sobre a cabeça do referido animal, não pode ser justo nosso 
argumento. O texto em questão reza que Aarão devia confessar “todas as 
iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos 
os seus pecados”, pondo-os “sobre a cabeça do bode”, enviando-o “ao deserto, 
pela mão e um homem designado para isso”. Lev. 16:21. Consideremos isto.
 
A maior parte dos pecados cometidos, são partilhados na responsabilidade. A 
pessoa que peca, é freqüentemente a mais culpada, mas nem sempre é assim. 
Algumas pessoas são mais ofendidas pelo pecado do que pecam elas próprias. O 
homem que educa uma criança para furtar para ele, não pode fugir à 
responsabilidade dizendo não ter ele próprio furtado. Aquele que seduz uma moça 
a pecar, embora não cometa ele próprio o pecado, tem a culpa. Deixando os pais 
de infundir retos princípios nos filhos, hão de dar contas um dia. Assim é e 
assim deve ser. Raramente a responsabilidade do pecado cabe apenas a uma pessoa. 
Em geral, é partilhada por outrem.
 
Isto se verifica muito particularmente quanto à participação de Satanás nos 
pecados dos justos. O verdadeiro cristão não deseja pecar. Aborrece-º Mas 
Satanás o tenta. Mil vezes o homem resiste, e mil vezes o inimigo volta à carga. 
Afinal o homem cede; peca. Arrepende-se logo, porém; pede perdão. O pecado foi 
registrado no céu. 
Ao lado inscreveu-se perdão. O homem sente-se feliz. Esta perdoado. O Senhor lhe 
foi misericordioso. Vem então o juízo. O pecado é apagado. Está limpo o registro 
do homem. Mas que será quanto à parte de Satanás no pecado? Foi este expiado? 
Não foi. O próprio Satanás deve expiá-lo com a vida.
 
Idealmente, o cristão não deve pecar. Existe, no entanto, a possibilidade. 
Talvez seja de interesse um incidente ocorrido anos atrás: 
 
Em certo colégio, um estudante que era continuo estava tentando fechar as 
janelas durante a reunião na capela. Ia silenciosamente pela ala exterior, com 
um longo pau erguido, os olhos fitos nas janelas. Um condiscípulo viu nisto uma 
excelente oportunidade, que não devia passar desaproveitada. Ao passar o jovem 
com o pau, toda atenção em seu serviço, estendeu o pé e, com estrondoso baque, o 
rapaz e seu pau foram ao chão. A pronta censura por sua falta de jeito foi, com 
igual prontidão, retirada pelos circunstantes, assim que compreenderam o fato. 
Um homem caíra. O outro era responsável.
 
Assim deveria, idealmente, ser quanto ao cristão. Ele pode cair, mas, caso isto 
aconteça, devia ser unicamente porque Satanás lhe armou um laço. Muitas vezes, 
todavia, tem ele próprio a culpa, ao menos em parte. Tenta Satanás para tentá-lo, 
não podendo assim escapar a seu quinhão de responsabilidade. Não seria justo 
culpar inteiramente ao adversário por aquilo de que somos nos mesmos 
participantes. Por outro lado, ele não pode fugir à sua parte. É ele o instigador 
do pecado. Tenta continuamente os homens. É participante de todos os pecados 
cometidos.
 
Compreende-se que alguns homens chegaram ao ponto em que gozam com o pecado, e 
Satanás mal necessita instigá-los a isto. Conquanto o inimigo deva levar a 
primeira responsabilidade, aos homens cumpre, por sua vez, arcar com a que lhes 
toca. Assim não é quanto aos justos. Eles odeiam o pecado; aborrecem-no, 
detestam-no. Mas Satanás está-lhes continuamente no encalço. E por vezes 
consegue enredá-los. Tem de carregar meu quinhão na responsabilidade.
 
Assim, todo pecado envolve cumplicidade. Satanás tem uma parte em todos eles. 
Quando, no Dia da Expiação, os fieis em Israel tinham seus pecados apagados, é 
porque se haviam previamente arrependido e sido perdoados.
Sua parte em cada pecado fora expiada: não, porem, a de Satanás. Ele não se 
arrependera; não confessara; não colocara, pela fé, seus pecados no grande 
Portador deles. Tem de portanto levá-los ele próprio. E assim, os pecados de 
Israel, os quais ele os tentara a cometer, são postos sobre sua cabeça.
 
Isto não constitui, porem, de maneira alguma, uma expiação de sangue. Não há 
derramamento do mesmo. O bode por Azazel não é morto. O sangue não é espargido. 
Não é levado ara o lugar santo. Não se põe nas pontas do altar. A carne não é 
comida pelos sacerdotes. O corpo não é queimado fora do arraial. Não se põe a 
gordura sobre o altar nem se lavam e se queimam as entranhas. Coisa alguma se 
faz do que constituía uma oferta ou sacrifício pelos pecados. O bode expia os 
pecados unicamente pela maneira por que um criminoso expia os seus, sofrendo a 
pena da lei.
 
Cremos pois que Azazel representa Satanás, e que, como tal, parte alguma tem na 
expiação feita por nosso Senhor. O primeiro bode representa Cristo. É-lhe 
derramado o sangue e, por meio dele, purifica-se o santuário. Enquanto isto não 
esta feito e concluído, o bode por Azazel não aparece. Esse bode efetua uma obra 
definida, que passaremos a considerar, mas isso não afeta ou influencia de 
maneira alguma a expiação já realizada. Convêm acentuar-se este ponto.
Se o ponto de vista aqui apresentado é correto, temos nos dois bodes a completa 
exterminação de todo o pecado. Os pecados do povo de Deus são expiados no sangue 
do bode do Senhor. O santuário esta limpo: o povo, limpo: limpo está o 
sacerdócio. Nesta purificação, não podemos admitir Satanás. Não há aí lugar para 
ele. Cristo efetuou uma obra completa, e não necessita o auxilio de Satanás. 
Este, simbolizado pelo bode emissário, expia os próprios pecados, e a parte que 
lhe cabe nos que induziu outros a cometerem. 
 
Outros pecados existem além daqueles cometidos pelo povo de Deus. Cristo morreu 
por todos os homens; mas nem todos eles preferem aproveitar-se dessa expiação. 
Assim, têm de levar os próprios pecados e o seu castigo. Cristo morreu por eles. 
Levou-lhes as culpas. O tempo chegará, entretanto, em que não mais as levará.
Sobre Satanás, como originador e instigador do pecado, serão postos todos os 
pecados pelos quais é responsável.
 
Quando, portanto, os dois bodes eram postos perante o Senhor no Dia da Expiação, 
representavam Cristo e Satanás. O povo podia escolher um ou outro como 
representante seu. Se escolhessem o bode do Senhor, identificavam-se com Cristo. 
Caso preferissem não aceitar o perdão oferecido, aliavam-se automaticamente com 
os poderes do mal. A escolha se achava diante deles. Dessa escolha dependia o 
seu destino.
 
Foi anteriormente mencionado que todo o serviço do Dia da Expiação é simbólico do dia do juízo. O juízo final inclui mais que o apagamento dos pecados dos justos. Abrange a extirpação do pecado do universo. Envolve o pôr sobre a cabeça de Satanás todos os pecados por que ele é responsável. Inclui a final extirpação de todos quantos não afligiram suas almas. Assim, no serviço do santuário, uma vez completa a purificação do mesmo, colocavam-se os pecados sobre a cabeça do bode emissário. Então, aquele que não se tinha arrependido, era extirpado. Lev. 16:20-22; 23:29. “Quando se completava o ministério no lugar santíssimo, e os pecados de Israel eram removidos do santuário em virtude do sangue da oferta pelo pecado, o bode emissário era então apresentado vivo perante o Senhor; e na presença da congregação o sumo-sacerdote confessava sobre ele ‘todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, segundo todos os seus pecados’, pondo-os ‘sobre a cabeça do bode’. Semelhantemente, ao completar-se a obra de expiação no santuário celestial, na presença de Deus, e dos anjos do céu e do exercito dos remidos, serão então postos sobre Satanás os pecados do povo de Deus; declarar-se-á ser ele o culpado de todo o mal que os fez cometer. E assim como o bode emissário era enviado para uma terra não habitada, Satanás será banido para a terra desolada, que se encontrará como um deserto despovoado e horrendo”. – O Conflito dos Séculos, págs. 657 e 658.
“Como o sacerdote, ao remover do santuário os pecados, confessava-os sobre a 
cabeça do bode emissário, semelhantemente Cristo porá todos esses pecados sobre 
Satanás, o originador e instigador do pecado. O bode emissário, levando os 
pecados de Israel, era enviado ‘à terra solitária’;
de igual modo Satanás, levando a culpa de todos os pecados que induziu o povo de 
Deus a cometer, estará durante mil anos circunscrito à terra, que então se 
achará desolada, sem moradores, e ele sofrerá finalmente a pena completa do 
pecado nos fogos que destruirão todos os ímpios. Assim o grande plano da 
redenção atingirá seu cumprimento na extirpação final do pecado e no livramento 
de todos os que estiverem dispostos a renunciar ao mal”. – Id., pág. 485.
 
O banimento do bode emissário representa a extirpação final do pecado. Ele 
desempenha, portanto, um papel importante nos serviços do Dia da Expiação. Nele, 
finalmente, o mal é destruído, e posto a salvo Israel. 
 
O Dia da Expiação era o maior dia em Israel. Naquele dia havia numa divisão do 
povo em dois grupos. Um deles afligia sua alma. Confessavam os pecados; faziam 
reparação e levavam suas ofertas. Esperavam então o que sobreviria. Quando as 
campainhas do sumo-sacerdote se faziam ouvir, ao terminar ele a obra de 
expiação, sabiam que tudo estava bem. Deus os aceitara. Estavam purificados, 
livres e felizes. Seus pecados estavam apagados.
 
O outro grupo não tinha parte na expiação. Não tinham afligido suas almas. Não 
haviam confessado nem feito reparação. Agora seus pecados se voltavam sobre suas 
cabeças. Eram extirpados.
 
Assim, o Dia da Expiação era o grande dia de separação. Havia duas classes 
naquele dia, e unicamente duas. Uma estava perdoada, limpa, salva. A outra 
estava impenitente, imunda, “extirpada”. Cada uma tomara sua própria decisão. 
Esta lhes assentara o destino. Findo o dia, o acampamento estava purificado. Uma 
das duas coisas havia acontecido a cada indivíduo. O pecado fora dele removido, 
ou fora removido ele próprio. Em qualquer dos casos o acampamento estava limpo.
 
Assim será no fim do mundo. “E será que aquele que ficar sem Sião e o que 
permanecer em Jerusalém, será chamado santo; todo aquele que estiver inscrito 
entre os vivos em Jerusalém”. Isa. 4:3. Deus tomará a purificar o Seu povo. 
Aqueles que permanecerem em Sião serão santos, “todo aquele que estiver inscrito 
entre os vivos em Jerusalém”. Os outros serão expulsos, extirpados.
Deve ter sido com sentimentos profundos que Israel testemunhava a final remoção 
do pecado do acampamento. Quando o bode era conduzido carregando seu fardo de 
pecado, sabiam que, não fora a graça de Deus, estariam eles próprios levando 
seus pecados para a execução. Tinham visto morrer o bode que era pelo Senhor. 
Morrera em lugar deles. Era-lhes agora apresentada, de maneira visível, a 
remoção do pecado de Israel. O bode estava sendo levado para uma sorte ignorada. 
Por certo, seria a morte o resultado. Aquela teria sido também sua condenação, 
não os tivesse ajudado o Senhor.
 
O tipo não é, a todos os respeitos, fiel aos fatos. Na disposição final do 
pecado, os ímpios são destruídos. Isto não se fazia a Israel. Eram extirpados. 
Isto significa ordinariamente exclusão dos privilégios de Israel, ou o que nós 
entenderíamos agora por exclusão da igreja. Era, portanto, possível a um pecador 
impenitente ver o bode emissário sendo levado e excluído do acampamento. Aquilo 
lhe era um símbolo de sua própria exclusão. Não mais teria parte em Israel. 
Cortado do povo de Deus, um rejeitado, servindo apenas para a destruição. Isto 
constituiria para ele profunda lição prática, podendo levar a séria reflexão e 
arrependimento.
16. 
FESTAS E SANTAS CONVOCAÇÕES
No Capitulo vinte e três de Levítico, acham-se registrados as festas e santas 
convocações ordenadas pelo Senhor. São sete ao todo. Três delas são as grandes 
festas do ano – a páscoa, o pentecostes, e a festa dos tabernáculos. A respeito 
das mesmas, lemos o seguinte: “Três vezes no ano todo varão entre ti aparecerá 
perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher, na festa dos pães asmos, e na 
festa das semanas, e na festa dos tabernáculos. Porém não aparecerá vazio 
perante o Senhor”. Deut. 16:16. (Ver também Êxo. 23:17; 34:23).
 
As duas palavras empregadas para designar “festas”e “santas convocações” diferem 
consideravelmente em sua significação. Hag, que se aplica especialmente às três 
festas acima mencionadas, quer dizer “uma ocasião de regozijo, uma festa”. 
Moadeem indica de preferência ocasiões designadas, observâncias estabelecidas, 
santas convocações, ou reuniões solenes. Um Exemplo de Moadeem seria o Dia da 
Expiação, que não era uma festa em qualquer sentido da palavra, mas uma santa 
convocação. Lev. 23:26-32. 
 
Além da páscoa, do pentecostes, da festa dos tabernáculos e do Dia da Expiação, 
havia três outras, isto é, a festa das trombetas, que tinha lugar no primeiro 
dia do sétimo mês, a festa dos pães asmos e a festa das primícias. Lev. 23:24, 
6, 9-14.; Êxo. 12:17: Num. 28:17. As duas últimas mencionadas, celebravam-se 
conjuntamente com a observância da páscoa, mas são positivamente indicadas como 
distintas daquela. Êxo. 12:12, 15 e 17; Num. 28:16 e 17; Lev. 23:9-14. Como 
sejam mencionadas em separado, e tenham significação especial, classificando-as 
entre as sete festas do Senhor.
A páscoa era observada no décimo-quarto dia do primeiro mês, a festa dos pães 
asmos começava no décimo-quinto, dia do mesmo mês, e os primeiros frutos eram 
movidos no dia dezesseis. Lev. 23:5, 6 e 11. As três primeiras festas vinham 
assim no primeiro mês do ano. 
As últimas três no sétimo mês: a festa das trombetas no primeiro dia, e dia da 
expiação, no décimo dia, e a festa dos tabernáculos, no décimo-quinto. vs. 24, 
27 e 39. A de pentecostes vinha entre esses dois grupos de festas, cinqüenta 
dias a contar do “dia seguinte do sábado”, o que quer dizer o dia dezesseis de abib, o primeiro do mês. Isso traria o pentecostes à última parte do terceiro 
mês do ano judaico, ou nosso maio ou junho. vs. 15 e 16.
A Páscoa  
A páscoa foi instituída em comemoração do libertamento de Israel do cativeiro 
egípcio. No décimo dia do primeiro mês, foi escolhido um cordeiro para cada 
família, “conforme ao Numero das almas”, ou se a família era pequena, duas ou 
mais podiam unir em torno de um sacrifício. O cordeiro foi guardado até ao décimo-quarto dia, quando foi morto à tarde, sendo o sangue posto nas ombreiras 
da porta e na verga. Êxo. 12:1-7. Na mesma noite foi comida a carne, não cozida 
como de costume, mas assada. Só pão não levedado se podia comer, e “com ervas 
amargosas a comerão”. vs. 8. Em anos posteriores, houve algumas modificações 
deste ritual, permanecendo, porém, os pontos essenciais.
 
O sacrifício da páscoa distingue-se por ser chamado “Meu sacrifício”. Êxo. 
23:18; 34:25. Conquanto seja talvez melhor não acentuar essa expressão, ela é, 
pelo menos, digna de nota. A páscoa comemorava a partida de Israel do Egito. O 
Novo Testamento apresenta-a também como uma ordenança que aponta ao futuro. 
“Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”. I Cor. 5:7. Tendo em mente esta 
simbólica representação, percebem-se facilmente algumas analogias. Na 
crucifixão, nem um osso do corpo de Cristo foi quebrado. João 19:36. Nenhum osso 
se devia quebrar ao Cordeiro Pascoal. Êxo. 12:46; Num. 9:12. A páscoa era morta 
no dia catorze de abib, e comida a quinze. Êxo. 12:6-10. Cristo morreu por 
ocasião da páscoa. João 19:14. O espargir do sangue significava um “passar por 
cima em misericórdia, um livramento da morte”. Êxo. 12:13. Assim, mediante o Seu 
sangue, tem havido um passar por alto dos pecados cometidos anteriormente. Rom. 
3:25. O sacrifício pascal era um cordeiro. Êxo. 12:3. Assim Cristo era “o 
Cordeiro de Deus”. João 1:29.
O cordeiro devia ser sem mancha. Êxo. 12:5. Assim Cristo, imaculado. I Pedro 
1:19. A carne do cordeiro devia ser comida. Êxo. 12:7. Nós também devemos 
participar de Sua carne. João. 6:51.
 
Intimamente relacionada com a páscoa, todavia dela distinta, era a festa dos 
pães asmos. As duas eram, na realidade, parte da mesma observância, de modo que 
se permutam os nomes; no desígnio, no entanto, eram qualquer coisa diversa. A 
ordem de Deus quanto ao que devia ser feito, era explícita. “Sete dias comereis 
pães asmos; ao primeiro dia tirareis o fermento das vossas casas; porque 
qualquer que comer pão levedado, desde o primeiro até ao sétimo dia, aquela alma 
será cortada de Israel”. Êxo. 12:15. O divino comentário sobre sito, reza: 
“Façamos festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da 
malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade”. I Cor. 5:8.
 
A páscoas e a festa dos pães asmos, são férteis em ensinos de verdades 
evangélicas. No cordeiro morto, foi tomada providência para salvar os 
primogênitos. A morte do cordeiro, porém, não bastava para garantir salvação. 
Era preciso por o sangue nos umbrais e na verga da porta. Tem de haver aplicação 
individual do sacrifício. O espargir do sangue era tão importante como a morte 
do cordeiro. Não obstante, isto não era suficiente. A carne devia ser comida, e 
isto feito nas devidas condições. “Assim pois o comereis: Os vossos lombos 
cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na mão: e o comereis 
apressadamente: esta é a páscoa do Senhor”. Êxo. 12:11. E mesmo isto ainda não 
bastava. Todo o fermento devia ser tirado. “Qualquer que comer pão levedado, 
aquela alma será cortada da congregação de Israel, assim o estrangeiro como o 
natural da terra”. vs. 19.
 
A páscoa é simbólica da morte de Cristo. Ele é nossa páscoa. I Cor. 5:7. Morreu 
na cruz por nós. Aí foi tomada providencia para que todo o que cumpre as 
condições da vida seja salvo. Mas a cruz, em si mesma, não salva a ninguém. 
Unicamente provê salvação. Necessário é que se faça aplicação individual do 
sangue oferecido. A ordem a Israel era: “Tomai um molho de hissopo, e molhai-o 
no sangue que estiver na bacia, e lançai na verga da porta, e em ambas as 
ombreiras, do sangue que estiver na bacia”. Êxo. 12:22.
A promessa era que, se assim fizessem, então quando o Senhor visse “o sangue da 
verga da porta, e em ambas as ombreiras, o Senhor passará aquela porta, e não 
deixará ao destruidor entrar um vossas casas, para vos ferir”. vs. 23.
 
As providências aqui mencionadas salvaram os primogênitos de serem destruídos 
pelo anjo. A morte do cordeiro provera o meio de salvação; a aplicação do sangue 
tornou eficaz o meio provido. Ambos eram necessários. Uma coisa é ser salvo da 
morte. Outra é ter os meios de manter a vida. Isto, positivamente, era provido 
pelo comer da carne, negativamente, pela abstenção do fermento. Cristo diz: “Eu 
sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre: 
e o pão que Eu der é a Minha carne, que Eu darei pela vida do mundo”. João 6:51. 
Israel recebeu ordem de assar o cordeiro todo. O mandamento era: “assado ao 
fogo: a cabeça com os pés e com a fressura”. Êxo. 12:9. Cada família devia 
reunir um Numero suficiente de pessoas para comerem toda a carne. vs. 4. Coisa 
alguma devia ser levada para fora da casa, nem deixada para o dia seguinte. O 
que restasse que não podia ser comido, devia ser queimado no fogo. Isto não 
podia prefigurar senão uma inteira assimilação dAquele a quem o cordeiro 
representava, por parte daqueles por quem o sangue era derramado. Significa a 
inteira identificação de Cristo com o crente. Importa em aceitação da plenitude 
de Deus. 
 
O fermento devia ser de todo excluído. Não nos são deixadas dúvidas quanto ao 
sentido espiritual do fermento. Ele representa malícia e maldade. I Cor. 5:8. 
Significa a falsa doutrina, segundo é exemplificada nos ensinos dos fariseus, 
dos saduceus e dos herodianos. Mat. 16:6; Marcos 8:15. O fermento dos fariseus é 
ganância e injustiça (Mat. 23:14), o espírito de quem não faz o que é direito e 
não deixa os outros fazerem (vs. 13), falso zelo (vs. 15), errônea estimação 
dos valores espirituais (vs. 16-22), omissão do juízo, da misericórdia e da fé 
(vs. 23), vãos escrúpulos (vs. 24), hipocrisia (vs. 25-28), intolerância (vs. 
29-33), crueldade (vs. 34-36). O fermento dos saduceus é cepticismo (Mateus 
22:23), falta de conhecimento da Escrituras e do poder de Deus (vs. 29). O 
fermento dos herodianos é a lisonja, o mundanismo e a hipocrisia (Mat. 22:16-21), 
e tramar o mal contra os servos de Deus (Marcos 3:6).
O correspondente da páscoa no Novo Testamento, é a ceia do Senhor, o rito da 
comunhão. Depois de Cristo vir, não mais poderia existir virtude em matar o 
cordeiro pascal, prefigurando Sua vinda. Havia-a, sim, em comemorar o sacrifício 
do Calvário, o seu mantenedor poder. Por esse motivo instituiu o Senhor a 
refeição sacrifical da comunhão para fazer lembrar os fatos de nossa salvação, e 
as provisões tomadas na cruz. Como seu protótipo, aponta ao mesmo tempo para 
trás e para o futuro. Devemos lembrar o Calvário “até que (Ele) venha”. I Cor. 
11:26.
 
“Aqueles símbolos se cumpriam, não somente quanto ao acontecimento, mas também 
quanto ao tempo. No dia quatorze do primeiro mês judaico, no mesmo dia e mês em 
que, durante quinze longos séculos, o cordeiro pascal havia sido morto, Cristo 
tendo comido a Páscoa com os discípulos, instituiu a solenidade que deveria 
comemorar Sua própria morte como o ‘Cordeiro de Deus que tira o pecado do 
mundo’. Naquela mesma noite Ele foi tomado por mãos ímpias, para ser crucificado 
e morto. E, como o antítipo dos molhos que eram agitados, nosso Senhor ressurgiu 
dentre os mortos ao terceiro dia, como – ‘as primícias dos que dormem’( I Cor. 
15:20), exemplo de todos os ressuscitados justos, cujo ‘corpo abatido’ será 
transformado, ‘para ser conforme o Seu corpo glorioso’ ”. – O Conflito dos 
Séculos, pág. 399.
 
A observância da apresentação dos primeiros frutos, era uma parte da celebração 
dos dias dos pães asmos. A apresentação tinha lugar “ao seguinte dia do sábado”, 
o dia dezesseis de abib. Lev. 23:11. Este dia não era de santa convocação, nem 
era como um sábado, mas uma importante obra se realizava no entanto naquele dia. 
No dia quatorze de abib, marcava-se certa porção de um campo de cevada, para ser 
cortada, em preparativo para a apresentação no dia dezesseis. Três homens 
escolhidos cortavam a cevada em presença de testemunhas, havendo já atado os 
molhos antes de os cortar. Uma vez ceifados, atavam-se os molhos todos num só, 
apresentando-o perante o Senhor, como “um molho das primícias”. “Ele moverá o 
molho perante o Senhor, para que sejais aceitos: ao seguinte dia do sábado o 
moverá o sacerdote”. Lev. 23:11.
Além disto, “um cordeiro sem mancha”, e uma oferta de manjares misturada com 
óleo, e uma libação eram oferecidos a Deus. vs. 12 e 13. Enquanto não se fazia 
isto, Israel não se podia servir de nenhum dos frutos do campo.
 
Era esta uma oferta de aceitação. Apresentação dos primeiros frutos. 
Indubitavelmente tem referência, antes de tudo, a “Cristo as primícias, depois 
os que são de Cristo, na Sua vinda”. I Cor. 15:23.
 
Resumindo os ensinos da observância pascal, temos as seguintes importantes 
reflexões: A páscoa é simbólica da morte de Cristo. Assim como morria o cordeiro 
pascal, Cristo morreu. O sangue do cordeiro livrou outrora Israel do anjo 
destruidor. O sangue de Cristo hoje reconcilia.
 
Segundo tipificada no molho movido, a páscoa é simbólica da ressurreição. O tipo 
é perfeito até mesmo com relação ao tempo. O cordeiro morria no dia catorze de 
abib à tarde. A dezesseis, “ao seguinte dia do sábado”, as primícias, 
previamente cortadas, eram apresentadas ao Senhor. Cristo morreu na sexta-feira 
à tarde. Repousou no sepulcro durante o sábado. No “seguinte dia depois do 
sábado”, “Cristo as primícias”, ressuscitou dos mortos e Se apresentou perante o 
Senhor para receber a aceitação. O “seguinte dia depois do sábado” não era 
“santa convocação”, nem um sábado [repouso] – fosse em tipo ou em antítipo – mas 
nele se efetuava uma obra importante, a qual talvez necessite de ampliação.
 
Quando, no primeiro dia da semana, Cristo ressuscitou, necessário Lhe era subir 
ao Pai para ouvir as palavras da divina aceitação do sacrifício. Na cruz, Sua 
alma estava em trevas. O Pai, dEle ocultara o rosto. Em desespero e angústia, 
Cristo exclamara: “Deus Meu, por que Me desamparaste”? Mat. 27:46.
 
“Satanás torturava com cruéis tentações o coração de Jesus. O Salvador não podia 
enxergar para além dos portais do sepulcro. A esperança não Lhe apresentava Sua 
saída da sepultura como vencedor, nem Lhe falava da aceitação do sacrifício por 
parte do Pai. Temia que o pecado fosse tão ofensivo a Deus, que Sua separação 
houvesse de ser eterna. Cristo sentiu a angústia que há de experimentar o 
pecador quando não mais a misericórdia interceder pela raça culpada.
Foi o sentimento do pecado, trazendo a ira divina sobre Ele, como substituto do 
homem, que tão amargo tornou o cálice que sorveu, e quebrantou o coração do 
Filho de Deus”. – O Desejado de Todas as Nações, pág. 561.
Agora, tivera lugar a ressurreição. A primeira coisa que Cristo tinha a fazer, 
era aparecer na presença do Pai e ouvir-Lhe as bem-aventuradas palavras de que 
Sua morte não fora em vão, mas aceito estava amplamente o sacrifício. 
Cumpria-lhe, assim, ascender ao céu e, em presença do universo, ouvir do próprio 
Pai palavras de certeza; então, devia volver à terra aos que ainda Lhe 
pranteavam a morte, ignorando Sua ressurreição, e a eles mostrar-Se abertamente. 
Assim o fez.
 
“Jesus recusou receber homenagem de Seu povo até haver obtido a certeza de estar 
Seu sacrifício aceito pelo Pai. Subiu às cortes celestiais, e ouviu do próprio 
Deus a afirmação de que Sua expiação pelos pecados dos homens fora ampla, de que 
por meio de Seu sangue todos poderiam obter a vida eterna. O Pai ratificou o 
concerto feito com Cristo, de que receberia os homens arrependidos e obedientes, 
e os amaria mesmo como ama a Seu Filho. Cristo devia completar Sua obra, e 
cumprir Sua promessa de que “o varão será mais precioso que o ouro, e o homem 
sê-lo-á mais que o ouro acrisolado”. Todo o poder no céu e na terra foi dado ao 
Príncipe da Vida, e Ele voltou para Seus seguidores num mundo de pecado, a fim 
de lhes comunicar Seu poder e gloria.
 
“Enquanto o Salvador Se achava na presença de Deus, recebendo dons para Sua 
Igreja, pensavam os discípulos no sepulcro vazio e lamentavam-se e choravam. O 
dia em que todo o céu vibrava de alegria, era para os discípulos de incerteza, 
confusão e perplexidade”. – Id., pág. 590
 
As Escrituras se cumpriram ao pé da letra. “Cristo ressurgiu dos mortos como as 
primícias dos que dormem. Era representado pelo molho movido, e Sua ressurreição 
ocorreu no próprio dia em que o mesmo devia ser apresentado perante o Senhor. 
Por mais de mil anos esta simbólica cerimônia fora realizada. Das searas 
colhiam-se as primeiras espigas de grãos maduros, e quando o povo subia a 
Jerusalém, por ocasião da páscoa, o molho das primícias era movido como uma 
oferta de ações de graças perante o Senhor. 
Enquanto essa oferenda não fosse apresentada, a foice não podia ser metida aos 
cereais, nem estes serem reunidos em molhos. O molho apresentado a Deus 
representava a colheita. Assim Cristo, as primícias, representava a grande messe 
espiritual a ser colhida para o reino de Deus. Sua ressurreição é o tipo e o 
penhor da ressurreição de todos os justos mortos. ‘Porque, se cremos que Jesus 
morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a 
trazer com Ele’.
“Quando Cristo ressuscitou, trouxe do sepulcro uma multidão de cativos. O 
terremoto, por ocasião de Sua morte, abrira-lhes o sepulcro, e ao ressuscitar 
Ele, ressurgiram juntamente. Eram os que haviam colaborado com Deus, e que, à 
custa da própria vida, tinham dado testemunho da verdade. Agora deviam ser 
testemunhas dAquele que os ressuscitara dos mortos”. – Id., pág. 585.
 
A páscoa é típica de comunhão. O comer do cordeiro pascal, unia famílias e 
vizinhos. Era uma refeição em comum, simbolizando livramento. Efetuara-se uma 
troca, e seu primogênito fora poupado em virtude da morte do cordeiro. Tal 
livramento inspirava consagração. Todo pecado devia ser posto de lado. Não devia 
haver fermento em parte alguma. Todo canto devia ser examinado, todo recanto 
esquadrinhado à procura de qualquer vestígio dele. “Santidade ao Senhor”. Nada 
menos que isso seria aceito.
 
Tudo isto e ainda mais significava a páscoa para o Israel de outrora. Como seja 
a ceia do Senhor o substituto, no Novo Testamento, da “páscoa do Senhor, não 
deveria significar para nós menos do que o fazia para eles. Grande perigo existe 
de que esqueçamos ou deixemos de apreciar as maravilhosas bênçãos reservadas por 
Deus para os que participam “dignamente” das ordenanças da casa do Senhor. Bem 
faríamos em estudar a páscoa tal como foi dada a Israel, a fim de melhor 
apreciar o Cristo que é nosso Verdadeiro Cordeiro pascal, e cuja morte se 
comemora no serviço da comunhão.
 
Pentecostes
O pentecostes vinha cinqüenta dias depois da apresentação do molho movido no dia 
dezesseis de abib. Daquele dia “contareis cinqüenta dias: então oferecereis nova 
oferta de manjares ao Senhor.
Das vossas habitações trareis dois pães de movimento de duas dízimas de farinha 
serão, levedados se cozerão: primícias são ao Senhor”. Lev. 23:16 e 17.
 
Como era apresentado o molho movido no principio da colheita, antes que coisa 
alguma da nova produção fosse usada, assim vinha o Pentecostes ao fim da ceifa 
de todo o grão, não somente da cevada, como no caso do molho movido, 
representando o jubiloso reconhecimento por parte de Israel. De sua dependência 
de Deus como doador de todas as boas dádivas. Desta vez não era um molho que se 
apresentava, mas dois pães de farinha movidos, cozidos com fermento, juntamente 
com “sete cordeiros sem mancha, de um ano, e um novilho, e dois carneiros”. vs. 
17 e 18. Isto era acompanhado de um bode para expiação do pecado, e dois 
cordeiros de um ano por sacrifício pacifico. vs. 19.
 
Na celebração da páscoa, era particularmente recomendado que não se devia comer 
nem ter nenhum fermento. No pentecostes deviam-se apresentar dois pães, e se 
recomendava: “levedado se comerão”. vs. 17. O molho movido é “Cristo, as 
primícias”. Ele era sem pecado. O pão não é criação imediata de Deus, em parte é 
obra do homem. É imperfeita, misturada com fermento. Mas é aceita. Movia-se 
“perante o Senhor, com os dois cordeiros: santidade serão ao Senhor para o 
sacerdote”. vs. 20.
 
O pentecostes simboliza o derramamento do Espírito Santo. Como os pães se 
ofereciam cinqüenta dias depois de o molho movido ser apresentado, assim havia 
justamente cinqüenta dias entre a ressurreição e Cristo e o derramamento do 
Espírito no pentecostes. Atos 2:1-4. Quarenta desses dias Cristo passou na terra 
instruindo e ajudando os discípulos. Atos 1:3. Depois, ascendeu ao céu, e por 
dez dias os onze discípulos continuaram em oração e suplica até se cumprir “o 
dia de pentecostes”. Com este, veio a plenitude do Espírito.
 
De importância para a igreja na terra foram aqueles dez dias. Importantes também para o céu. Subindo Cristo “ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens”. Efés. 4:8. Aqueles que haviam ressuscitado por ocasião da morte de Cristo, “saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dEle”, subiram com Ele ao céu, e foram apresentados perante o Pai como uma espécie de primícias da ressurreição. Mat. 27:52 e 53.
“Todo o céu estava esperando para saudar o Salvador à Sua chegada às cortes 
celestiais. Ao ascender, abriu Ele o caminho, e a multidão de cativos libertos à 
Sua ressurreição O seguiu. A hoste celestial, tomava parte na jubilosa comitiva.
“Ao aproximarem-se da cidade de Deus, cantam, como em desafio, aos anjos que 
compõem o séqüito:
‘Levantai, ó portas, as vossas cabeças;
Levantai-vos, ó entradas eternas,
E entrará o Rei da glória”!
“Jubilosamente respondem as sentinelas de guarda:
‘Quem é este Rei da glória?
“Isto dizem elas, não porque não saibam quem Ele é, mas porque querem ouvir a 
resposta de exaltado louvor:
‘O Senhor forte e poderoso,
O Senhor poderoso na guerra.
Levantai, ó portas, as vossas cabeças,
Levantai-vos, ó entradas eternas,
E entrará o Rei da gloria’!
“Novamente se faz ouvir o desafio: “Quem é este Rei da Glória”?, pois os anjos 
nunca se cansam de ouvir Seu nome ser exaltado. Os anjos que O acompanham 
respondem:
‘O Senhor dos Exércitos;
Ele é o Rei da gloria’!
“Então se abrem de par em par as portas da cidade de Deus, e a angélica multidão 
entra por elas, enquanto a música prorrompe em arrebatadora melodia.
“Ali está o trono e, ao redor, o arco-íris da promessa. Ali estão querubins e 
serafins. Os comandantes das hostes celestiais, os filhos de Deus, os 
representantes dos mundos não caídos, acham-se congregados. O conselho 
celestial, perante o qual Lúcifer acusara a Deus e a Seu Filho, os 
representantes daqueles reinos imaculados sobre os quais Satanás pensara 
estabelecer seu domínio – todos ali estão para dar as boas vindas ao Redentor. 
Estão ansiosos por celebrar-Lhe o triunfo e glorificar Seu Rei.
“Mas Ele os detém com um gesto. Ainda não. Não pode receber coroa de gloria e as 
vestes reais. Entra à presença do Pai. Mostra a fronte ferida, o alanceado 
flanco, os dilacerados pés: ergue as mãos que apresentam os vestígios dos 
cravos. Aponta para os sinais de Seu triunfo: apresenta a Deus o molho movido, 
aqueles ressuscitados com Ele como representantes da grande multidão que há de 
sair do sepulcro por ocasião de Sua segunda vinda. Aproxima-Se o Pai, em quem há 
alegria a cada pecador que se arrepende; que sobre ele Se regozija com jubilo. 
Antes que os fundamentos da terra fossem lançados, o Pai e o Filho Se haviam 
unido num concerto para redimir o homem, se ele fosse vencido por Satanás. 
Haviam-SE dado as mãos, num solene compromisso de que Cristo Se tornaria o 
fiador da raça humana. Esse compromisso cumprira Cristo. Quando, sobre a cruz, 
soltara o brado: ‘Esta consumado’, dirigira-Se ao Pai. O pacto fora plenamente 
satisfeito. Agora Ele declara: ‘Pai, está consumado. Fiz, o Meu Deus, a Tua 
vontade. Concluí a obra da redenção. Se a Tua justiça está satisfeita, “quero 
que onde Eu estiver, também eles estejam comigo”. ”Ouve-se a voz de Deus 
proclamando que a justiça está satisfeita. Está vencido Satanás. Os filhos de 
Cristo, que lutam e se afadigam na terra, são ‘agradáveis... no Amado’. Perante 
os anjos celestiais e os representantes dos mundos não caídos, são declarados 
justificados. Onde Ele está, ali estará a Sua igreja. ‘A misericórdia e a 
verdade se encontraram: a justiça e a paz se beijaram’. Os braços do Pai 
circundam o Filho, e é dada a ordem: ‘E todos os anjos de Deus O adorem”.
“Com inexprimível alegria, governadores, principados e potestades reconhecem a 
supremacia do Príncipe da Vida. A hoste dos anjos prostra-se perante Ele, ao 
passo que enche todas as cortes celestiais a alegre aclamação: “Digno é o 
Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e 
honra, e glória, e ações de graças’!” – O Desejado de Todas as Nações, págs. 
619-621.
“Havendo Cristo penetrado pelas portas celestiais, foi entronizado em meio da 
adoração dos anjos. Assim que terminou esta cerimônia, o Espírito Santo desceu 
sobre os discípulos em abundantes correntes, e Cristo foi na verdade 
glorificado, com aquela gloria que, durante toda a eternidade tivera com o Pai.
O derramamento pentecostal foi a comunicação feita pelo Céu, de que estava 
concluída a sagração do Redentor. Segundo sua promessa, Ele enviara o Espírito 
Santo a Seus seguidores, como penhor de que, como sacerdote e rei, recebera toda 
a autoridade no Céu e na Terra, sendo o Ungido sobre Seu povo”. – Acts of the 
Apostles, pág. 38.
A Festa das Trombetas
A festa das trombetas vinha no dia primeiro do sétimo mês, sendo preparatório 
para o dia da expiação, que se celebrava no dia dez do mês. Era uma solene 
chamada a todo o Israel para que se preparasse a fim de encontrar-se com seu 
Deus. Anunciava-lhes que o dia do juízo se aproximava, e para ele se deviam 
preparar. Era um misericordioso, meio de lembrar-lhes a necessidade de confissão 
e consagração. Como algures discutimos o assunto da expiação, talvez não seja 
necessário acentuar aqui a festa das trombetas, nem o Dia da Expiação.
A Festa dos Tabernáculos
Esta era a última festa do ano, vindo de ordinário na última parte de nosso 
outubro, depois de concluída a colheita dos frutos. Era uma jubilosa ocasião 
para todos. Passara o dia da expiação, todos os mal-entendidos se haviam 
ajustado, todos os pecados tinham sido confessados e postos à margem. Israel 
sentia-se feliz, e esta felicidade encontrava expressão na festa dos 
tabernáculos.
 
Essa festa se iniciava com um dia de santa convocação. Lev. 23:35. O povo devia 
levar “ramos de formosas árvores, ramos de palmas, ramos de árvores espessas, e 
salgueiros de ribeiros; e vos alegrareis perante o Senhor vosso Deus por sete 
dias”. vs.40. Esses ramos, deviam eles arranjar em forma de cabanas, aí 
vivendo durante os dias da festa. No dia da expiação, cumpria-lhes afligir “suas 
almas”. Na festa dos tabernáculos, deviam alegrar-se “perante o Senhor vosso 
Deus por sete dias”. Era na verdade a mais feliz ocasião do ano, quando amigos e 
conhecidos renovavam sua comunhão e habitavam juntos em amor e harmonia. A esse 
respeito, era profética do tempo em que terá lugar a grande reunião de todo o 
povo de Deus, 
E “virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaac, 
e Jacó, no reino dos céus”. Mat. 8:11.
 
A festa dos tabernáculos comemorava o tempo em que Israel habitara em tendas, no 
deserto, durante os quarenta anos de peregrinação. “E lembrar-te-ás de que foste 
servo no Egito; e guardarás estes estatutos, e os farás. A festa dos 
tabernáculos guardarás sete dias, quando colheres da tua eira e do teu lagar. E 
na tua festa te alegrarás, tu, e teu filho, e tua filha, e o teu servo, e a tua 
serva, e o levita, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva que estão das tuas 
portas para dentro. Sete dias celebrarás a festa ao Senhor teu Deus, no lugar 
que o Senhor teu Deus escolher: porque o Senhor teu Deus te há de abençoar em 
toda a tua colheita, e em toda a obra das tuas mãos; pelo que te alegrarás 
certamente”. Deut. 16:12-15.
 
Bom é lembrar a maneira por que Deus nos tem guiado no passado. É bom rememorar-Lhe as providências. Somos por vezes inclinados a nos queixar. Não conviria pensas nas muitas bênçãos que Deus nos tem outorgado, e na maravilhosa maneira por que nos tem guiado? Isto nos tornaria mais aptos a apreciar e mais reconhecidos, o que constitui uma parte vital da religião.
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17. 
ORAÇÃO
Todo sacrifício oferecido era na realidade uma oração a Deus por auxílio. Como 
no caso da oferta pelo pecado e pela transgressão, poderia ser um pedido de 
perdão. Ou seria uma oração de ações de graças e louvor, como na oferta 
pacífica. Poderia ser ainda de consagração, como na oferta de manjares. Talvez 
fosse de ações de graças por um livramento especial ou por alguma coisa muito 
desejada como no caso de oferta por voto, ou voluntária. Ou talvez Deus houvesse 
curado a pessoa de uma enfermidade, ou uma senhora tivesse sido feliz por 
ocasião do nascimento de um filho, ou se houvesse operado qualquer grande 
livramento. Todas as ocasiões dessa natureza, requeriam especial ação de graças 
e louvor, e uma oferta adequada.
 
Em seu mais elevado sentido, orar é entreter comunhão. Convém acentuar isto, 
porque, para muitos cristãos, a oração é meramente uma meio de obter alguma 
coisa de Deus. Sentem sua falta a certos respeitos. Que meio haverá mais fácil 
do que pedir a Deus aquilo de que necessitamos? Não prometeu Ele suprir aquilo 
que nos falta? Em resultado desta maneira de pensar, muitas orações consistem na 
maior parte em pedidos, alguns de coisas boas, outros não tanto, alguns 
positivamente nocivos, outros de impossível satisfação. Para tais pessoas, Deus 
é a grande origem de suprimento, o grande doador, e inexaurível fonte de 
dádivas. Tudo quanto precisam fazer, é pedir, e Ele cuidará do resto. Aquilatam 
seu cristianismo pelas orações atendidas, e não as julgam eficazes quando a 
petição lhes é negada. Suas orações tomam na maior parte, a forma de uma 
petição. Estão continuamente pedindo alguma coisa, e acreditam que Deus os 
atende, ou deveria atender. Qual o filho pródigo, oram: “Pai, dá-me”. Lucas 
15:12.
Inegavelmente as orações em forma de pedido, são legítimas. Necessitaremos 
sempre de pedir a Deus as coisas que desejamos.
Convém notar, entretanto, que as preces de petições não se devem tornar a forma 
predominante. As de louvor, ações de graças e adoração devem ter sempre a 
predominância. Submissão à vontade de Deus, completa dedicação a Ele, e inteira 
consagração, deveriam indicar a forma conveniente nas orações. Quando estas se 
mudarem de um esforço por levar o Senhor a fazer o que queremos para um intenso 
desejo de verificar o que Deus quer, deixarão de ser meros pedidos de coisas, e 
solicitações para que Ele responda imediatamente nossas súplicas na maneira 
justa por que desejamos.
 
Efetivamente, seria melhor para a maioria de nós deixar por completo de pedir 
por algum tempo, consagrando todo o esforço aquilo que Deus quer que tenhamos ou 
sejamos. Descobrindo-o, achamo-nos em terreno firme. Então podemos pedir ao 
Senhor confiantes de que Sua vontade será cumprida. O grande problema diante de 
nós, é descobrir a vontade de Deus, e em seguida examinar o próprio coração para 
certificar-nos se queremos na verdade fazer do Seu o nosso querer. 
 
Disse alguém que as orações são um esforço, por parte do solicitante, para fazer 
o Senhor mudar de idéia. Muitos não estão fazendo nenhum esforço para verificar 
o que Ele quer, não obstante, estão bem certos do que querem eles próprios. De 
fato, sua oração é: “Que Tua vontade se mude”, e não: “Seja feita a Tua 
vontade”. Estão lutando com Deus. Agonizam em oração. Pedem ao Senhor aquilo que 
julgam deveria ser feito. Não lhes ocorre que a primeira coisa a apurar, é: 
Quererá Deus em realidade que eu tenha isto que tanto desejo? Será para meu bem? 
É isto a vontade de Deus? Terá chegado o tempo de se realizar? Não haverá 
qualquer coisa que devo fazer antes? Estou eu disposto a tudo submeter a Deus, 
de maneira que, se me não conceder o que desejo, fique satisfeito e Lhe dê 
graças por aquilo que me der; ou estarei antes mais intentado em conseguir o que 
quero do que em saber qual seja Sua vontade?
 
Convém enumerar algumas coisas que a oração não é. Não é um substituto do 
trabalho. O cristão que se acha diante de um problema de difícil solução, tem o 
direito de pedir a Deus auxílio e esperar que o atenda. Isto, porém, não o exime 
de árduo e fatigante labor.
Deus avigorará o intelecto, robustecerá a mente; mas não aceitará a oração como 
substituto ao esforço mental, nem dará aqueles que são simplesmente negligentes. 
Os que tem capacidade mental, de aprender a tabuada de multiplicação e têm 
ensejo de fazê-lo, não devem esquivar-se ao esforço necessário, confiando em 
que, por meio da oração, Deus fará por eles aquilo que tornará desnecessário 
qualquer esforço mental. Na maioria dos casos, o trabalho e a oração andam 
juntos. Nem uma nem outra coisa são por si mesma suficientes.
 
O objetivo da oração não é apenas levar a Deus a fazer aquilo que queremos. 
Alguns aplicam métodos mundanos e têm mundana filosofia em suas orações. 
Aprenderam que, no que respeita ao mundo, quem quer conseguir alguma coisa “vai 
em sua procura”, e assim, tomam como certo que, para alcançar alguma coisa do 
Senhor, têm de procurá-la. Agem como se Deus não tivesse boa vontade de lhes 
conceder as petições sem uma porção de lisonjas, e parecem crer que pela 
persistência e pela adulação, podem tirar de Deus aquilo que, de outro modo, não 
lhes concederia. Tomam a viúva importuna como exemplo, parecendo não compreender 
que essa parábola é dada para mostrar que Ele não é como aquele juiz. Pessoa 
alguma poderá obter do Senhor o que deseja só por importuná-lo continuamente. É 
preciso acentuar que Ele não Se assemelha ao injusto juiz. É um pai, mais 
desejoso de dar boas dádivas a Seus filhos, do que estes de recebê-las. Adular, 
lisonjear, acariciar, aborrecer, importunar, mera persistência, não aproveitam 
nada para com Deus.
 
Não deve, entretanto, predominar a idéia de que não haja o que se chama lutar em 
oração, e que só precisamos mencionar a Deus de uma vez por todas aquilo que 
queremos, vindo imediatamente a resposta. A oração não é de maneira alguma tão 
simples. Não, importa angustiar-se e prevalecer na oração, ir ao fundo das 
coisas e não sossegar enquanto não se mudarem as mesmas coisas e as vidas. Jesus 
orava noites inteiras; Jacó lutou com o anjo; Daniel buscava o Senhor com 
orações e jejuns; Paulo procurava e tornava a procurar ao Senhor. Nós não 
necessitamos menos orações, antes mais. E precisamos aprender a fazê-las com fé. 
Aí está talvez o ponto vital.
A oração não é um monólogo. Será um audível ou um silencioso desejo da alma. Em 
qualquer dos casos, a oração ideal é comunhão. Alguns oram longamente, 
informando a Deus de coisas de que Ele já tem conhecimento. Chamando-Lhe a 
atenção para muitas coisas que necessitam reparo. Parecem julgar que o Senhor 
esteja em risco de esquecer outras que precisam ser feitas, e suas preces 
parecem destinar-se a lembrar a Deus o que Ele deve fazer. Havendo-Lhe chamado a 
atenção para as necessidades do mundo, tal como as vêem eles próprios, sentem 
haver cumprido o dever. “Disseram suas orações” e informaram a Deus das próprias 
necessidades e das dos outros e, com um “Amém”, finda sua “conversação”. Foi 
simplesmente um monólogo. Esperam que o Senhor Se sirva judiciosamente das 
informações que Lhe forneceram, e faça qualquer coisa com respeito aos assuntos 
por que oraram.
 
Muitos consideram a oração uma comunicação de um só lado – o homem falando a 
Deus. Todavia não é esta a mais elevada forma de oração; pois, como foi 
declarado acima, a maneira ideal de orar, é comunhão. Na verdade oração, Deus 
fala à alma, da mesma maneira que o homem Lhe fala a Ele. A verdadeira amizade 
não perdura muito onde um apenas se exprime. Muitas vezes, em nossa orações 
somos nós que falamos todo o tempo, e esperamos que Deus Se ponha unicamente a 
escutar. E não obstante, não será possível que o Senhor gostasse de comunicar-Se 
conosco, da mesma maneira que nós com Ele? Isto faz com freqüência trazendo-nos 
à lembrança certas passagens da Escritura. Seria demais crer que, havendo feito 
uma oração que acreditamos ter sido ouvida pelo Senhor no céu, Ele deseje 
dizer-nos uma palavra? É possível que, depois de havermos proferido o “Amém”, 
Deus esteja justamente disposto a Se comunicar conosco, mas erguemo-nos, e não 
Lhe damos ensejo de falar? Penduramos o fone, por assim dizer. “Desligamos”. 
Poder-se-á conceber que o verdadeiro cristão esteja sempre falando com o Senhor, 
e Ele não tenha para ele nenhuma mensagem/ Deve ser penoso para Deus ser 
excluído mesmo no momento em que está pronto a comunicar-Se conosco. Parece que, 
acontecendo isto por diversas vezes, chegará à conclusão de que não estamos 
muito ansiosos de entreter com Ele comunhão. Simplesmente “dizemos”nossas 
orações, e, terminando, afastamo-nos.
Não há dúvida de que tais orações não podem ser tudo quanto o Senhor entende por 
“comunhão”.
Acentuemos – prece é comunhão. É mais que uma conversa; é intimo companheirismo. 
É uma troca de ponto de vista e de idéias. Pressupõe amistoso entendimento e 
confiança. Nem sempre necessita ser acompanhada de palavras. O silêncio pode ser 
mais eloqüente que torrentes de oratória. É mais uma espécie de amizade baseada 
em tranqüila confiança e certeza, desacompanhada de demonstrações e 
arrebatamentos espetaculares.
 
A meditação é um elemento vital da oração. Poder-se-ia talvez dizer que é sua 
melhor parte. No entanto, é por demais negligenciada. Apresentamo-nos diante de 
Deus, fazemo-la nossas petições e partimos. Da próxima vez, fazemos o mesmo. 
Mantemos o Senhor informado quanto o nosso estado, contamos-Lhe certas coisas 
que requerem atenção e, havendo assim aliviado a alma, encerramos a entrevista. 
Isto se repete dia após dia; não se pode, no entanto, dizer que seja uma 
experiência satisfatória. Não haverá algo melhor? Haverá por certo...
 
Os salmos, especialmente os de Davi, exprimem as profundezas do sentir cristão. 
Davi passou por algumas experiências dessas que dilaceram a alma. Fugiu certa 
vez para o deserto, por causa de Saul. Ali escreveu ele o salmo sessenta e três. 
É o grito de uma alma que anela a Deus, um mais profundo conhecimento a Seu 
respeito, mais perfeita relação para com Ele, especialmente em oração. Davi 
evidentemente não se achava satisfeito com sua maneira de orar. Deus parecia 
distante. Não respondia. O salmista parecia experimentar o sentimento de não se 
dirigir a ninguém, em uma sala vazia. Todavia almejava a Deus. Sua alma tinha 
sede do Deus vivo. Não haveria um meio por que se pusesse em verdadeira comunhão 
com Ele? 
 
Davi encontrou depois o meio. Ficou satisfeito. Aprendeu a significação e o 
método reais de orar. Exprime-o ele nos versículos 5 e 6 do referido salmo: “A 
minha alma se fartará, como de tutano e de gordura; e a minha boca Te louvará 
com alegres lábios, quando me lembrar de Ti na minha cama, e meditar em Ti nas 
vigílias da noite”.
Notai as palavras: “Minha se fartará... quando me lembrar de Ti na minha cama, e 
meditar em Ti”. Davi orava antes. Depois, ao orar acrescentou a meditação, e diz 
que, ao fazer isto, sua “alma se fartará”. Para ele era como “tutano e gordura”, 
e louva a Deus “com alegres lábios”. Afinal sua alma fica satisfeita.
 
Esse relato é de grande valor. Muitas almas, como Davi, clamam pelo Deus vivo. 
Não se satisfazem. Acreditam que deve haver algo melhor do que experimentam. 
Oram, e oram, e oram, e todavia ainda o Senhor parece distante. Não Se 
manifesta. Uma vez, de tempos a tempos, fluem um vislumbre dEle, e logo lhes 
foge. Haverá reservada alguma coisa melhor, ou será isto tudo quanto lhes 
oferecem o cristianismo e a oração? Deve haver algo melhor. E Davi o encontrou.
“Minha alma se fartará”. Que maravilhoso, satisfazer a fome d'alma! E esta 
possibilidade se pode transformar em realidade! Davi indica o caminho ao dizer 
que há podemos obter lembrando-nos de Deus e meditando. A maioria dos cristãos 
se lembram de Deus. Oram. Pode-se na verdade dizer, e com razão, que é 
impossível ser alguém filho de Deus e não orar. Não muitos, todavia, são 
experientes na arte da meditação. Oram, mas não meditam. E uma coisa é tão 
importante como a outra. Foi quanto Davi acrescentou a meditação à oração, que 
lhe foi dado dizer afinal que sua alma estava satisfeita. Talvez tenhamos a 
mesma experiência.
 
Poucos cristãos meditam. São demasiados ocupados. Suas ocupações exigem por 
demais deles. Precipitam-se de uma para outra coisa, e pouco tempo lhes resta 
para se aconselharem consigo mesmos ou com Deus. Há tanta coisa por fazer! A 
menos que distendam cada servo e se ocupem a cada momento, estão certos de almas 
se vão perder. Não há tempo para se sentarem aos pés do Mestre enquanto o mundo 
está perecendo. Precisam estar apostos e ativos. A atividade, eis sua divisa. 
Aliás, são sinceros e conscienciosos.
 
Ainda assim, quando se perde, para eles próprios e para o mundo, por falta de 
meditação! Alma alguma pode ir precipitadamente à presença de Deus e dela se 
retirar, e esperar entreter comunhão com Ele. A paz que excede todo o 
entendimento, não habita em um coração desassossegado. “Tampo para ser santo tu 
deves tomar”, é mais que um mero sentimento. 
Exige tempo o comunicar-se com Deus, o ser santo. “Perturbai-vos e não pequeis: 
falai com o vosso coração sobre a vossa cama e calai-vos”. Salmo 4:4. A ultima 
declaração requer ênfase especial. “Calai-vos”. Somos muitos desassossegados. 
Precisamos aprender a quietude para com Deus. Necessitamos calar-nos.
“Espera silenciosa somente em Deus, ó minha alma”. Salmo 62:5 (Trad. Bras.). Que 
estas palavras penetrem profundamente em cada consciência. “Minha alma”. Isto se 
dirige a todo cristão. “Espera silenciosamente somente em Deus”. Envolve uma 
ordem e também uma promessa. Espera silenciosa. Espera silenciosa em Deus. 
Espera (tu) silenciosa em Deus. Espera silenciosa somente em Deus. E aquele que 
espera silenciosamente somente em Deus, a Seu convite, não será decepcionado. 
Ficará satisfeito. 
 
Que admirável convite não encerra esta declaração! Oraste, vazaste tua alma 
perante Aquele que, unicamente, é capaz de compreender. Não digas “Amém” e te 
retires. Dá a Deus um ensejo. Espera-O. Espera em silêncio. Espera-O somente a 
Ele. E no silêncio da alma talvez Deus fale. Ele te convidou a esperar. Que toda 
a tua alma atente para Ele. Espera nEle unicamente. Talvez o Senhor, por meio da 
vozinha mansa e delicada, se manifeste. Espera silencioso em Deus. 
 
Para alguns cristãos, isto não é uma nova doutrina. Sabem o que é comungar com 
Deus. Tem fluido preciosos períodos a sos com Ele. Tem aprendido a esperar em 
silêncio. E preciosas foram as revelações a eles feitas.
 
Para outros, no entanto, isto talvez seja uma coisa nova. Aprenderam a orar, mas 
não aprenderam a esperar silenciosamente em Deus. A meditação, como parte da 
oração, não lhes tem sido de importância. Sua concepção de prece é a de certa 
forma de palavras reverentemente dirigidas ao Pai do céu. Com seu “Amém”, finda 
a comunhão. E assim talvez seja na verdade, embora assim não o pretenda o 
Senhor. O “Amém” significará o fim das palavras do homem, não, porém, a 
conclusão da entrevista. Deus nos convida a esperar em silêncio. Talvez deseje 
falar, talvez não deseje. Seja como for, cumpre-nos esperar. E, enquanto 
esperamos, é possível que Ele ache oportuno levar imediatamente a convicção ao 
nosso espírito. 
Muitos se inclinam a falar demasiado. Temos todo tipo de experiência com pessoas 
que vem declaradamente em busca de conselho, mas que, na verdade, vem apenas 
apresentar seus pontos de vista. Parecem ansiosos pela entrevista, e entretanto 
mal oferecem ensejo para qualquer conselho, uma vez que ocupam eles próprios o 
tempo todo, e parecem satisfeitos ao terminarem a apresentação do caso. Quando 
se mostra qualquer assentimento ao seu modo de ver, ficam contentes. Tem-se 
nitidamente a impressão de que não vieram em busca de conselhos, mas para fazer 
comunicações.
 
O mesmo se dá com freqüência quanto a oração. A parte mais importante não é 
falarmos nos a Deus, mas antes que Ele nos fale a nos. É certo que o Senhor 
gosta que oremos. Nossas orações soam Lhe qual música. Não o fatigamos. Ainda 
assim, não seria bom que proporcionássemos ao Senhor ocasião de comunicar-Se 
conosco? Não seria conveniente uma atitude de ouvir? Não nos conviria fazer 
exatamente o que nos é aconselhado: esperar em silêncio somente em Deus? Certo, 
Ele nos não deixará esperar em vão. Quem não experimentou o tremendo poder dos 
poucos momentos de silêncio após a benção? Quem não sentiu a presença de Deus na 
quietude do santuário? Bom nos seria explorar o poder do domínio do silêncio. 
Deus ali está. 
 
Sempre existe perigo de cairmos nos extremos. Pessoas há que rejeitam ou 
menosprezam as instruções dadas na Bíblia, e dependem unicamente de impressões. 
Tais pessoas encontram-se em grande risco. Acreditamos que o Senhor guiará os 
que estão dispostos a ser guiados, mas cremos também que essa guia será sempre 
em harmonia com a vontade revelada de Deus, não contradizendo de modo algum a 
palavra escrita. Maravilhoso como seja o privilégio de comunicar com Deus, bem 
como o da meditação, há perigo de os empregar mal. Os jovens cristãos 
especialmente, devem estar em guarda. Unicamente a longa experiência nas coisas 
de cima, cimentada por uma vida de obediência à vontade do Senhor, habilita uma 
pessoa a discernir os processos da mente. Satanás está sempre perto para sugerir 
seus próprios pensamentos, e é mister discernimento espiritual para reconhecer, 
a voz que fala.
Isto não deveria fazer todavia com que mesmo os cristãos novos omitissem a 
meditação. Longe disto. Deus está sempre ao lado para valer e guiar, e podemos 
crer que a silenciosa hora com Ele passada produzirá amplos resultados para o 
reino. Estamos apenas dando uma advertência aos que se sintam inclinados a 
seguir a voz que fala à alma, negligenciando aquela que fala por meio da 
Palavra.
 
No santuário outrora, uniam-se o sacrifício e a oração. O sacrifício 
representava a tristeza pelo pecado, o arrependimento, a confissão, a reparação. 
Quando o cordeiro era colocado sobre o altar, em figura, era o arrependido 
pecador que sobre ele se punha a si mesmo com tudo quanto tinha. Isto 
significava sua aceitação da justiça da lei que exigia a vida, simbolizava sua 
consagração a Deus. Sem essa atitude, o sacrifício de um cordeiro não passava de 
uma zombaria. Da mesma maneira nossas orações poderão ser mero escárnio, o não 
ser que partam de um coração sincero, que se abstém do pecado, consagrando-se 
inteiramente a Deus. A oração deve ter como base e fundo a sinceridade. Deve 
assentar no arrependimento e na piedosa tristeza pelo pecado. Estes se 
evidenciam pela confissão e o restituir ou reparar. Uma prece assim feita não 
permanecerá desatendida. Deus é fiel a Sua palavra.
 
18. 
A LEI
Todo o cerimonial do santuário se realizava com referencia à lei de Deus, 
conservada na arca, no compartimento interno do tabernáculo. Foi precisamente 
pela violação dessa lei que tiveram de ser instituídos os sacrifícios. “Quando 
uma alma pecar por erro contra alguns dos mandamentos do Senhor, acerca do que 
se não deve fazer, e obrar contra alguns deles; se o sacerdote ungido pecar para 
escândalo do povo, oferecerá pelo seu pecado, que pecou, um novilho sem mancha, 
ao Senhor, por expiação do pecado”. Lev. 4:2 e 3.
 
Foi a transgressão dos “mandamentos do Senhor” que tornou necessário o sistema 
de sacrifícios. Foi o pecado contra a lei de Deus que deu inicio ao ritual do 
templo. O pecado era o motivo dos sacrifícios matutinos e vespertinos, do 
cerimonial do Dia da Expiação, do oferecimento do incenso e dos sacrifícios 
individuais pelos pecados particulares. E o pecado é a transgressão da lei.
 
O amado João teve uma visão do templo de Deus no céu. Viu ali a lei de Deus, “a 
arca do Seu concerto”. Apoc. 11:19. A lei ocupa lugar preeminente, mesmo no céu; 
a tal ponto que o templo é chamado “o templo do tabernáculo do testemunho”, não 
o templo do incenso, nem do sangue, nem si quer da arca. É “o templo do 
tabernáculo do testemunho”, o templo da lei de Deus. Apoc. 15:5.
A cidade mais sagrada do Velho Testamento era a cidade que Deus escolhera como 
Sua morada. O lugar mais sagrado daquela cidade era o templo. O lugar mais 
sagrado do templo era o santíssimo. O objeto mais sagrado do santíssimo era a 
arca dentro da qual estavam as tabuas de pedra sobre que Deus escrevera com Seu 
próprio dedo os dez mandamentos, a lei da vida, os oráculos de Deus. Essa lei 
era o centro em cujo redor girafa todo o cerimonial, a base e a razão de todo o 
ritual. Sem a lei, o ritual do templo não teria significação alguma.
A lei é uma expressão do caráter, uma revelação do espírito. Por esta razão a 
lei de Deus é importante. É parte de Deus, por assim dizer. Revela-O. É um 
transunto de Seu caráter, uma expressão finita do infinito. Nela se nos dá um 
vislumbre do próprio pensamento de Deus; uma visão da base de Seu governo. Assim 
como Deus é perfeito, é perfeita a lei. Assim como Deus é eterno, são eternos os 
princípios da lei. Assim como Deus é eterno, são eternos os princípios da lei. 
Como Deus é imutável, é a lei imutável. E é preciso ser assim. A lei, por ser um 
transunto do caráter de Deus, não pode ser mudada a menos que se realize uma 
modificação correspondente em Deus. Mas Deus não pode mudar. “Eu, o Senhor, não 
mudo”. Mal. 3:6. Em Deus “não há mudança nem sombra de variação”. Tiago 1:17. “É 
o mesmo ontem, e hoje, e eternamente”. Heb. 13:8.
 
A lei de Deus, tal como se contém nos dez mandamentos, sempre foi um campo 
frutífero de estudo para os filhos de Deus. Numerosas são na Bíblia as 
referencias ao gozo que os santos de Deus encontraram ao contemplar a lei 
perfeita da liberdade. Longe de ser-lhes uma obrigação penosa, consideraram um 
prazer o contemplarem as coisas profundas de Deus. Ouçamos o salmista: “Amo os 
Teus mandamentos mais do que o ouro, e ainda mais do que o ouro fino”. 
“Maravilhosos são os Teus testemunhos”. “Tu, pelos Teus mandamentos me fazem 
mais sábio que meus inimigos; pois estão sempre comigo. Tenho mais entendimento 
do que todos os meus mestres, porque medito nos Teus testemunhos”. “A toda a 
perfeição vi limite, mas o Teu mandamento é amplíssimo”. Sal. 119:127, 129, 98, 
99 e 96.
Os dez mandamentos foram primeiramente proclamados por Deus no monte Sinai, e 
depois escritos por Ele em duas tabuas de pedra. (Êxo. 20; 24:12; 31:18). Essas 
tabuas foram postas na arca, no lugar santíssimo do santuário, diretamente sob o 
propiciatório, e cobertas por ele. (Êxo. 25:16 e 21). O que nelas estava 
escrito, segundo a versão Almeida, é o seguinte:
 
“Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
1.”Não terás outros deuses diante de Mim.
2.”Não farás para Ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra; não te encurvaras a elas nem as serviras; porque Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me aborrecem, e faço misericórdia em milhares aos que Me amam e guardam os Meus mandamentos.
3.”Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão: porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu nome em vão.
4.”Lembra-te do dia do sábado para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra; mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, eu está dentro das tuas portas; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou.
5.”Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.
6.”Não matarás.
7.”Não adulterarás.
8.”Não furtarás.
9.”Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
10.”Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, 
nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa 
alguma do teu próximo”. Êxo. 20:2-17.
 
Os dez mandamentos não são decretos arbitrários impostos a súditos desgostosos. 
São, antes, a lei da vida, sem a qual a existência nacional, a segurança 
pessoal, a liberdade humana e mesmo a civilização, seriam impossíveis. Com o 
correr do tempo isto mais e mais se tornará evidente.
 
Os mandamentos se dividem em duas partes. A primeira, abrangendo os primeiros 
quatro mandamentos, define o dever do homem para com Deus; e a outra, integrando 
os últimos seis mandamentos, define o dever do homem para com seus semelhantes. 
Cristo reconheceu esta divisão ao declarar que os dois grandes princípios da lei 
são o amor a Deus e o amor ao próximo.
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, e de toda a tua alma, e de todo o 
teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a 
este, é: Amaras o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende 
toda a lei e os profetas”. Mat. 22:37-40.
 
A ocasião em que Deus proclamou Sua lei no Sinai, constituiu o principio de uma 
relação de pacto com Israel. Deus escolhera a Israel para que fosse Seu povo. 
Tirara-o do Egito e ia levá-lo á terra prometida. Prometera abençoá-lo e dele 
fazer uma nação santa e um sacerdócio real. Contudo, essas promessas estavam 
sujeitas à aceitação das mesmas em favor delas. Iriam eles, da sua parte, amar e 
obedecer a Deus? Iriam observar fielmente as condições do pacto? Eles se haviam 
familiarizado de uma maneira geral com a lei de Deus. Mas eis que Deus a 
proclama do céu, a fim de que não possa haver dúvida quanto ao que deles se 
espera. A santidade não deve depender da interpretação particular. Deus dá uma 
norma de justiça. Essa norma é perfeita. “A lei é santa, e o mandamento santo, 
justo, e bom”. É uma expressão da vontade de Deus para com o homem. É a regra 
perfeita que contém todo o dever do homem.
 
Causa certa perplexidade encontrarem-se cristãos que se oponham à lei de Deus. 
Que objeção podem apresentar contra uma lei que ordena amar a Deus e ao homem, 
condena o mal e estimula o bem? Que objeção podem apresentar contra uma lei cujo 
autor é Jeová, cujo fim é a santidade, e que está encerrada no santuário de 
Deus? Poderíamos esperar essa oposição da parte dos pecadores, porque a lei 
expõe e condena o pecado. Os cristãos, porém, estão noutro nível. Com o 
salmista, exclamam: “Oh! Quanto ano a Tua lei! É a minha meditação em todo o 
dia”. Salmo 119:97.
 
Assim como a lei em geral e o fundamento do governo, a lei de Deus é o 
fundamento do governo de Deus. Dez declarações claras e concisas proclamam todo 
o dever do homem. É uma constituição completa, concisa, perfeita. Nada se lhe 
pode acrescentar nem omitir.
A lei é emblema de segurança, estabilidade, fidelidade, uniformidade, igualdade. 
A ausência de lei significa o caos com os males que o acompanham.
O mundo está edificado sobre a lei, o universo obedece-lhe. A infração da lei 
universal significará o aniquilamento da criação de Deus. Cada parte está 
relacionada com todas as demais, e o que acontece nem lugar reflete até aos 
confins do universo. Isto torna necessário a lei universal. Uma lei deve reger 
onde quer que exista a criação. Duas leis em conflito produzirão desastre.
 
A única lei moral fundamental do universo é a lei de Deus, contida desde toda a 
eternidade nos dois grandes princípios do amor a Deus e do amor ao homem. Estes 
princípios foram ampliados e aplicados à humanidade, e os dez mandamentos foram 
proclamados, para direção do homem, no monte Sinai. Constituem a lei básica da 
vida e da existência. Como foi dito já, não são exigências arbitrarias impostas 
por amor à autoridade. São o que Deus, em Sua sabia previsão, viu ser necessário 
para que os homens vivessem juntos, e se tornasse possível a sociedade humana. E 
a atitude dos homens tem confirmado a sabedoria divina. O mundo tem demonstrado 
que a obediência à lei de Deus é necessária à existência, à segurança e à vida.
 
A Grande Guerra mundial foi uma demonstração disto. Os homens zombaram dos dez 
mandamentos. Ridicularizaram-nos. Começaram a matar-se e a destruir-se uns aos 
outros. Cada nação pensou que se vencesse a guerra, não somente obteria grande 
beneficio para si própria, mas sem duvida para o mundo inteiro. Mas o mundo 
ficou desiludido. Aprendeu que não há proveito no ódio e nas matanças. A Guerra 
Mundial foi uma afirmação categórica da insensatez de rejeitar os mandamentos de 
Deus. Não somente foram mutilados e mortos milhões de seres humanos, 
acumularam-se imensas dividas, e chegou a ser iminente a catástrofe geral, como 
muitos se convenceram positivamente de que a continuação da guerra significaria 
o fim da civilização e da vida nacional. Espantaram-se os homens ante a 
magnitude da calamidade que se lhes antolhava. Começaram a crer que o 
mandamento: “Não matarás, não é um decreto arbitrário, mas uma das leis da vida. 
Guarda os mandamentos e viverás, rejeita-os e morrerás – foi a lição que 
aprenderam.
 
A mesma lição esta sendo ensinada às nações hoje. O crime [e predominante, 
insolente, desafiador. Sempre houve homens perversos, mas nunca na escala em que 
os há hoje. 
A criminalidade esta agora organizada, e nalguns casos realiza verdadeiramente 
uma guerra contra a sociedade. Por vezes os criminosos estão melhor armados e 
organizados que as forças da lei e da ordem. Há bem pouco compreenderam os 
governos realmente que enfrentam agentes desintegradores empenhados em destruir 
a civilização. Estão agora fazendo todo o esforço possível para desarraigar o 
mal, mas não lhes é fácil a tarefa. Ela é custosa; esgotante. Às vezes 
desalentadora; mas deve ser levada a feliz termo, ou o resultado será o 
desastre. As tentativas do governo para reduzir o suborno, desarraigar o vicio, 
deter a exploração, manter o caráter sagrado das relações de família, impor a 
honradez nas relações públicas, e para proteger a propriedade, é admissão da sua 
parte de que Deus tem razão, e de que os homens não devem mentir, nem roubar, 
nem cometer adultério; que a transgressão desses mandamentos conduz ao desastre 
e a desordem, e que o governo é justificado por tomar as medidas necessárias 
para melhorar as condições.
 
Toda iniciativa destinada a suprimir a criminalidade é um poderoso testemunho em 
favor da integridade e do valor permanente dos mandamentos de Deus. Homens e 
governos estão aprendendo que a criminalidade é má, que é custosa, que arruína e 
destrói. Essa é a lição que Deus quer que aprendam. E estão descobrindo a sua 
maneira o valor que tem o obedecer a lei. Nunca teve o mundo semelhante lição 
objetiva do custo do crime, o custo da transgressão. O próprio mundo nos 
proporciona o material da demonstração e paga o seu custo. Isto torna a lição 
tanto mais eficaz.
 
A lei é uma expressão da vontade, natureza e caráter do poder governante. 
Qualquer lei que não seja uma expressão tal, deixa de funcionar e caduca. A lei 
humana é geralmente resultado da experiência, de um propósito meditado, baseado 
no descobrimento do que é e deveria ser, e uma tentativa de formular em 
declarações concisas as regras de conduta e procedimento apropriados. Deve ter a 
vontade como fator básico, e ser uma expressão desta vontade, e também da 
natureza e do caráter do legislador. A lei, portanto, indica personalidade, e 
define e revela esta mesma personalidade.
 
A expressão “lei da natureza”, como se emprega comumente, é enganosa, e deve-se 
empregar unicamente num sentido acomodado.
Corretamente falando, não existe lei da natureza, porque esta não tem vontade 
nem pensamento próprios, nem maneira de expressar tal vontade ou pensamento. O 
que se entende geralmente por “lei da natureza”, é o processo ordenado pela qual 
a natureza age, o modo definido de conseqüências geralmente previsíveis. O 
cristão crê que as leis da natureza são as leis de Deus, uma expressão de 
vontade pessoal, e que não dotam a natureza de atributos que pertencem somente a 
uma personalidade, a Deus.
 
A. H. Strong emprega uma ilustração que apresenta uma lição importante. Um 
cristão vê um eixo de transmissão fazendo girar uma maquinaria grande e 
complicada. Em suas tentativas por descobrir o que faz girar esse grande eixo, 
chega a uma parede de tijolos da qual o eixo sai, e além da qual não pode ir nem 
ver. Não tira, porém, a conclusão que o eixo vira por si mesmo. Não pode ver nem 
provar a existência do motor que há para além da parede e que comunica força ao 
eixo. Sabe, porém, que ali esta. O bom sendo lho diz. O homem que assevera ser 
estritamente cientifico e crer só o que vê, olha o eixo de transmissão e 
maravilha-se de seu poder inerente. O cristão também vê o eixo de transmissão, 
mas vê além do mesmo. Vê o invisível, e sabe que há um poder oculto por detrás 
do eixo. Para ele isto é coisa simples, clara e nada misteriosa. Admira-se tão 
somente de que nem todos possam ver o que para ele parece ser tão evidente. 
Igualmente, através da natureza vê o Deus da natureza; e as leis são para ele 
simplesmente as leis de Deus.
 
A lei de Deus é um transunto da natureza divina, e como tal não é “feita” como o 
são as leis humanas, como tão pouco Deus é “feito”. Não se pode dizer que a lei 
haja tido um principio, como se não pode tão pouco dizer que Deus haja tido 
começo. Sendo uma revelação do que Ele é, sua existência é contemporânea de 
Deus. Só pode se mudada se Deus muda. Não é provisória, como não o é Deus. Não é 
uma expressão de uma vontade arbitraria, mas a revelação de um ser. Não é local 
nem se limita a situações especificas unicamente, assim como Deus não é local. É 
incapaz de modificação, visto representar a natureza imutável de Deus.
É imutável, santa e boa, porque Deus é imutável, santo e bom. É espiritual: é 
justa, é universal. A lei é tudo isso e deve sê-lo, por ser um transunto da 
natureza essencial de Deus.
 
Além da lei divina moral e escrita, há uma lei elementar impressa nas fibras 
mesmas de toda criatura moral, que não está escrita, e no entanto exerce 
autoridade. Existiu antes do Sinai, e é também uma expressão e um reflexo da 
natureza moral de Deus, se bem não seja tão clara como a lei escrita. Os pagãos 
que “não tem lei [ em forma escrita], fazem naturalmente as coisas que são da 
lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; os quais mostram a obra da lei 
escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus 
pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os”. Rom. 2:14 e 15.
 
Essa lei não escrita tem tanta autoridade que Deus é justificado por 
usá-la no 
juízo. “Porque todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão; e todos os 
que sob a lei pecaram pela lei serão julgados”. vs. 12. Os pagãos “fazem 
naturalmente as coisas que são da lei”; isto é, têm um senso inerente do bem e 
do mal, e por esse senso são julgados. “Não tendo eles lei, para si mesmos são 
lei”. Segundo a luz que tenham, ou poderiam haver tido, são julgados.
 
Essa lei elementar, conquanto não escrita, tem todas as características da lei 
divina escrita, e, onde opera, possui igual autoridade. Nenhum homem pode violar 
a lei natural e esperar escapar a suas conseqüências. As leis da natureza são 
invioláveis, e são administradas sem acepção de pessoas. Quem quer que cometa 
transgressão, seja príncipe ou mendigo, para a penalidade. Um rei que, sem 
sabê-lo ou deliberadamente se atira no espaço ao trepar uma montanha escarpada, 
despedaça-se contra as rochas tão certamente como seu súdito mais humilde. Os 
homens aprenderam a certeza da lei natural e confiam em sua uniformidade 
infalível. Estão convencidos de que as leis da física, da matemática, da tensão, 
não variam da noite para o dia. Assim, planejam, edificam, vivem e trabalham, 
confiados na segurança da lei. E Deus não lhes falta com a lei. Os homens podem 
confiar em Deus e em Sua lei natural.
 
A lei moral não escrita é igualmente segura. A consciência dá testemunho de um 
poder superior ao do homem, uma força compulsória, um poder quase irresistível.
Certo é que a lei moral, por atuar num reino superior ao físico,não pode ser 
demonstrada imediatamente, e os efeitos da transgressão podem não ser tão 
aparentes como no caso da violação da lei física. Mas são, contudo, tão certos 
como estes.
 
Nem toda violação da lei física é castigada imediatamente. Se alguém toca um 
arame carregado de tensão elétrica é ferido de morte imediata. Outro viola a lei 
de sua existência quanto ao comer e ao beber, sem notar qualquer efeito 
imediato. Anos mais tarde, porém, notam-se os resultados. Conquanto sejam 
postergados, eles são certos e inevitáveis. Assim sucede com a lei moral. Os 
resultados das transgressões podem ser postergados. Mas chegam seguramente. 
Podem até não aparecer nesta vida, e ser reservados para o juízo vindouro. Mas 
em qualquer caso os resultados são certos e inevitáveis – a menos que interfira 
a graça divina.
 
A maneira de Deus agir tem sua razão. Se o castigo fosse aplicado sempre 
imediatamente, a formação do caráter seria muito estorvada, se não tornada 
impossível. Cada pecado físico, por pequeno que seja, tem em si a semente da 
morte. Se essa morte se produzisse imediatamente, lógico é que a pessoa afetada 
não teria oportunidade de aprender lição alguma da experiência. Por outra parte, 
os demais, sabendo que o resultado da desobediência seria morte imediata, se 
apartariam da transgressão, não por principio senão por temor. A fim de dar aos 
homens oportunidade de arrepender-se dos pecados físicos e de fazê-los sem que 
em sua decisão influa o temor da morte imediata, Deus deve postergar por algum 
tempo as conseqüências da transgressão. Assim o faz, e o resultado justificam o 
procedimento.
 
Este principio é ainda mais aplicável à lei moral. Deus não deve executar o 
mastigo da transgressão da lei moral imediatamente, afim de não viciar seu plano 
e tornar difícil senão impossível a salvação. Embora seja as vezes certo que 
“visto como não se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos 
filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal”, Deus não 
precisa executar imediatamente o juízo, para que não aconteça produzir mais mal 
do que bem. Deus sabe o que faz. Impôs-Se a tarefa de salvar a humanidade, e a 
realiza da melhor maneira possível.
 
A lei divina escrita, tal qual se contém nos dez mandamentos, sintetiza todo 
dever do homem para com Deus e para com os homens.
O Deus que fez a lei da natureza é o mesmo Deus que fez os dez mandamentos. 
Ambas as leis são dadas por Deus, e conquanto atue em reinos diferentes, estão 
igualmente em vigor e não podem ser transgredidas impunemente. A lei de Deus tal 
como foi escrita nas duas tabuas de pedra, bem como no coração do crente, esta 
em harmonia com a lei Divina e não escrita.
 
Mas a natureza não indica em parte alguma um dia definido de descanso. Isto 
aparece na lei divina escrita. Os pagãos tem percepções do bem e do mal, e sua 
consciência os acusa e os desculpa. Este não parece ser o caso, no entanto, no 
tocante ao sétimo dia, ou dia de repouso, nada há na natureza que induza à 
alguém a observância de um dia em cada sete, e muito menos um sétimo dia 
definido. Isto pode exigir algum estudo.
O sábado foi instituído por ocasião da criação. “Foi feito por causa do homem”. 
Marcos 2:27. Por Seu próprio exemplo de repouso, Deus santificou esse dia e o 
abençoou. Entre todos os dias da semana escolheu um, pondo de parte para um uso 
santo. Desde então foi abençoado entre os demais dias, santificado pelo próprio 
Deus.
 
A escolha de um dia particular da semana foi um determinado ato de Deus que só 
se pode conhecer pela revelação. A natureza não nos dá chave alguma quanto a que 
dia é o de repouso, ou se há algum dia de repouso. O mandamento de observar o 
sétimo dia é uma declaração do Deus soberano, que põe de parte um dia 
determinado como tempo santo. Conquanto pareça acertado que o ultimo dia da 
semana da criação haja sido escolhido como dia de repouso, é concebível que a 
quarta-feira ou qualquer outro dia pudesse cumprir igualmente o propósito, se 
assim o houvesse ordenado o criador. A escolha do sétimo dia repousa não sobre 
algum feito da natureza, mas sobre uma ordem positiva de Deus, não acompanhada 
de lei adicional alguma elementar ou natural. Baseia-se inteiramente num “assim 
diz o Senhor”.
 
Cremos que isso tem uma razão e prosseguiremos com este estudo.
 
19. 
O SÁBADO
“Lembra-te do dia do sábado para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás 
toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás 
nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua 
serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas; 
porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e 
ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o 
santificou”. Êxo. 20:8-11.
 
Se uma pessoa que não houvesse conhecido antes os dez mandamentos se encontrasse 
repetidamente face a face com eles, surpreender-se-ia imediatamente com seu 
caráter de razoabilidade e bom senso. Ao ler o mandamento: “Não furtarás”, 
concordaria em que é um bom mandamento. O mesmo pensaria dos demais mandamentos: 
“Não matarás”, e “Não cometerás adultério”. Observaria, sem duvida, que a 
maioria das nações tem leis similares e as considera necessárias e boas. Não 
poderá encontrar defeito na lei de Deus.
 
No entanto, uma coisa poderia 
deixá-la perplexa. Por que se deve considerar 
santo o sétimo dia? Poderia ver a razão dos outros mandamentos, mas o mandamento 
do sábado lhe pareceria arbitrário. Do ponto de vista da saúde, cada quinto ou 
sexto dia, ou cada oitavo ou décimo dia, serviria igualmente bem. E como quer 
que seja, por que escolher o sétimo dia da semana, de preferência a somente uma 
sétima parte do tempo? Os outros mandamentos são razoáveis, pensaria ela, mas o 
mandamento do sábado é de índole diversa. Não se baseia na natureza nem nas 
relações humanas; mas é um decreto arbitrário, sem razão suficiente para ser 
obedecido ou imposto.
 
O autor entreteve uma vez com certa pessoa uma conversação em que foram 
apresentados os argumentos mencionados. Era uma pessoa culta. A conversação foi 
encaminhada para a lei de Deus, e especialmente para o mandamento do sábado.
O argumento apresentado foi mais ou menos o seguinte:
 
“Aprecio a contribuição de sua igreja para a ordem e a legalidade. Numa época 
como esta, em que prevalecem a criminalidade e a iniqüidade, devemos esperar que 
as igrejas defendam rigidamente a justiça. Lamento notar que algumas igrejas não 
estão fazendo isso. Zombam da lei de Deus, e isto não pode senão refletir-se 
sobre os assuntos civis. Se se pode impunemente fazer abstração da lei de Deus, 
é fácil assumir atitude idêntica para com a lei civil. Alegro-me, portanto, de 
que estejais pregando a lei tanto como o evangelho. Ambas as coisas são 
necessárias.
 
“Há, no entanto, uma coisa em que creio estais enganados. Guardais o sétimo dia, 
e credes que Deus o requeira de vós. Conquanto eu honre vossa crença e vos 
julgue sinceros, penso que estais enganados. Dediquei estudo à questão, e creio 
que a vontade e o propósito de Deus se podem cumprir tão bem guardando o 
primeiro dia da semana como o último; e ser-vos ia muito mais fácil, além de que 
vossa influencia aumentaria. Se bem que pessoalmente eu creia não ter 
importância que se observe um dia ou outro, ou nenhum dia, honro os que dedicam 
um dia a Deus. Mas creio que estais enganados em crer que deveis observar o 
sétimo dia. Deus não requer isso de vós. O mais que Ele poderia esperar seria 
que guardásseis um dia de cada sete.
 
“O mandamento do sábado é diferente dos outros. Distingue-se pela circunstancia 
de não se basear na natureza do homem, como os outros mandamentos. Se um grupo 
de homens que nuca houvesse ouvido falar dos dez mandamentos tivesse de viver 
junto, não tardaria em elaborar uma serie de leis para seu próprio governo. As 
nações pagãs e as tribos selvagens têm regras contra o roubo, o assassínio e o 
adultério. Creio que esses povos primitivos elaboraram, depois de algum tempo, 
um código de leis em conformidade com o Decálogo; mas não posso ver como 
produziriam jamais uma lei do sábado. Não há na natureza coisa alguma que os 
guiasse numa empresa tal. Isto prova, creio eu, meu argumento de que a lei do 
sábado não se alicerça na lei natural, não se fundamenta na natureza do homem, 
como os outros mandamentos, e os homens mantêm para com esse mandamento uma 
relação diversa da que têm com os demais. 
Considero que os outros mandamentos estão em vigor, mas não o do sábado”.
 
A isto respondemos mais ou menos como segue:
 
“Sem admitir a verdade de todos os argumentos, admitamos que o mandamento do 
sábado repousa sobre uma base diferente da do resto dos mandamentos, e que o 
homem, sem a ajuda da revelação, não poderia nunca chegar a crer no repouso do 
sétimo dia. 
 
“Que o mandamento do sábado ocupe um lugar único na lei de Deus é, cremos, 
reconhecido pela maior parte dos que têm estudado a questão. É o único 
mandamento que trata do tempo. Tem a particularidade de declarar certas coisas 
corretas, se feitas num tempo taxativo, e más as mesmas coisas, se feitas noutro 
tempo. Cria o bem e o mal por definição, sem razão perceptível baseada na 
natureza. Nisto difere dos outros mandamentos.
 
“Foi este mandamento que Deus escolheu nos tempos antigos para que servisse de 
mandamento de prova. Antes que a lei fosse proclamada publicamente no Sinai 
‘toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e contra Aarão 
no deserto; e os filhos de Israel disseram-lhes: Quem dera que nós morrêssemos 
por mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas 
de carne, quando comíamos pão até fartar! Por que nos tendes tirado para este 
deserto, para matardes de fome a toda esta multidão’. Êxo. 16:2 e 3. A situação 
era crítica. Era preciso agir. ‘Então disse o Senhor a Moisés: Eis que vos farei 
chover pão dos céus, e o povo sairá, e colherá cada dia a porção para cada dia, 
para que Eu veja se anda em Minha lei ou não’. vs. 4.
“O recolher e preparar o pão que Deus enviara do céu constituía para Israel uma 
prova, ‘para que Eu veja se anda em Minha lei ou não’. Cada dia, deviam recolher 
maná suficiente para as necessidades do dia, mas no sexto dia deveriam recolher 
quantidade dobrada, a fim de lhes sobrar para o sábado. Se bem que de costume o 
maná não se conservava mais que um dia, no sexto dia o Deus o preservava 
milagrosamente de corrupção. Assim é que ‘ao sexto dia colheram pão em dobro’. 
vs. 22. ‘E ele disse-lhes: Isto é o que o Senhor tem dito: 
Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor; o que quiserdes cozer no forno, 
cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar, 
ponde em guarda para vós até amanhã. E guardaram-no até amanhã, como Moisés 
tinha ordenado; e não cheirou mal, nem nele houve algum bicho. Então disse 
Moisés: Comei-o hoje, porquanto hoje é o sábado do Senhor; hoje não o achareis 
no campo. Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá’. 
vs. 23-26.
 
“Alguns do povo não ficaram satisfeitos, porém, ‘Saíram para colher, mas não o 
acharam. Então disse o Senhor a Moisés: Até quando recusareis guardar os Meus 
mandamentos e as Minhas leis? Vede, visto que o Senhor vos deu o sábado, por 
isso Ele no sexto dia vos dá pão para dois dias; cada um fique no seu lugar, que 
ninguém saia do seu lugar no sétimo dia. Assim repousou o povo no sétimo dia’. 
vs. 27-30.
 
“Dentre todos os mandamentos, Deus escolheu o quarto como o mandamento de prova. 
Ele queria ver se o povo andaria ou não em Sua lei, e disse-lhe que cada dia 
recolhesse maná suficiente para suas necessidades, porção dupla no sexto dia, e 
nada no sétimo. Essa foi a prova. Desobedecendo, não só quebrantavam o sábado, 
mas sim a lei toda. ‘Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as 
Minhas leis?’ perguntou Deus. Ele não perguntou: ‘Por que não guardais o 
sábado?’ A questão era mais ampla que isso. Envolvia a lei toda. A guarda do 
sábado era a prova. Se guardavam esse dia, eram obedientes. Se o violavam, 
violavam a lei toda.
 
“É a esta experiência e a outras, posteriores, que Ezequiel se refere quando 
cita a Deus dizendo, no deserto: ‘também lhes dei os Meus sábados, para que 
servissem de sinal entre Mim e eles: para que soubessem que Eu sou o Senhor que 
os santifica’. Eze. 20:12. Declara-se aí que o sábado de Deus é sinal de 
santificação. No versículo 20, o sábado do Senhor é chamado ‘sinal entre Min e 
vós, para que saibais que Eu sou o Senhor vosso Deus’. No primeiro versículo 
citado, o sábado é chamado sinal de santificação; no segundo, sinal de que Deus 
é o Senhor nosso Deus. Em ambos é denominado um sinal.
“É interessante notar as circunstâncias sob as quais são feitas essas 
afirmações. Os anciãos de Israel vieram a indagar do Senhor, mas Ele declarou 
categoricamente que não queria ser por eles consultado. Ezeq. 20:3. Tantas vezes 
já lhes falara, não Lhe havendo eles dado ouvido! Por que Se comunicar com eles, 
se se recusavam a fazer o que lhes ordenava? Eram exatamente como seus pais, 
disse Deus. Os pais não foram obedientes, tão pouco mostravam os filhos qualquer 
inclinação a dar ouvido. Quando Ezequiel deseja interceder por eles, o Senhor 
lhe ordena que lhes diga claramente onde faltaram. ‘Faze-lhes saber as 
abominações de seus pais’, diz o Senhor. vs. 4. É o que Ezequiel passa a 
fazer, recordando-lhes a dificuldade que o Senhor tivera em tirar Israel do 
Egito para a Terra Prometida, e em levar aquele povo a observar Seus 
mandamentos, especialmente o quarto.
 
“Estavam ainda no Egito, quando Deus lhes ordenou que pusessem de parte todos os 
ídolos. Não o fizeram. Contudo, Deus os tirou do Egito e os conduziu pelo 
deserto, onde lhes proclamou Sua lei. Nessa lei destaca Ele o sábado, dizendo-o 
Seu sinal de santificação e acentuando Seu desejo de que o santificassem. ‘Mas a 
casa de Israel se rebelou;... e profanaram grandemente os Meus sábados; e Eu 
disse que derramaria sobre eles o Meu furor no deserto, para os consumir’, vs. 
13. Deus, porém, resolve não os consumir. Por outro lado, acha que os não podia 
‘deixar entrar na terra que lhes tinha dado,... porque... profanaram os Meus 
sábados’. vs. 15 e 16.
 
“Deus os admoesta: ‘Não andeis nos estatutos de vossos pais, nem guardeis os 
seus juízos, nem vos contamineis com os seus ídolos. Eu sou o Senhor vosso Deus; 
andai nos Meus estatutos, e guardai os Meus juízos, e executai-os. E santificai 
os Meus sábados, e servirão de sinal entre Mim e vós, para que saibais que Eu 
sou o Senhor vosso Deus’. vs. 18-20. Mas, ‘os filhos se rebelaram;... 
profanaram os Meus sábados; por isso Eu disse que derramaria sobre eles o Meu 
furor, para cumprir contra eles a Minha ira no deserto’, vs. 21. Deus resolve 
espalhá-los ‘entre as nações, e os derramar pelas terras; porque não executaram 
os Meus juízos, e rejeitaram os Meus estatutos, e profanaram os Meus sábados, e 
os seus olhos se iam após ídolos de seus pais’. vs. 23 e 24.
“Duas vezes é feita a afirmação de que os filhos de Israel se ‘rebelaram;... 
profanaram os Meus sábados’. Deus por fim decide separar dentre eles ‘os 
rebeldes, e os que prevaricaram contra Mim’, impedindo-os de entrar na terra de 
Israel. vs. 38. A relação entre os ‘rebeldes’ e os que profanam o sábado 
parece bastante intima.
 
“Ninguém pode ler reverentemente este capítulo sem chegar à conclusão de que 
Deus dá muita importância ao sábado, que é uma prova, um sinal, escolhido dentre 
os outros mandamentos como prova de obediência. ‘Para que Eu o prove’, diz Deus, 
‘se ainda na Minha lei ou não’. A guarda do sábado é a prova. É o sinal de 
santificação. O sinal de que ‘Eu sou o Senhor vosso Deus’.
 
“Por que teria Deus escolhido exatamente o mandamento do sábado como prova, de 
preferência a qualquer dos demais mandamentos? Admitindo o fato de que o sábado 
repousa unicamente sobre um ‘assim diz o Senhor’, é-lhe, "ipso facto" concedida 
preeminência especial. Os outros mandamentos se baseiam não só num decreto de 
Deus, mas também na natureza do homem, parte da lei elementar ou natural. Um 
mandamento é escolhido dentre os demais, para ficar como prova, como sinal, de 
que a pessoa que obedeça a ele, está em harmonia com a lei toda.
 
“É como se Deus arrazoasse assim acerca dos outros nove mandamentos: Eu lhes dei 
Minha lei. Escrevi-a em seu coração. Está gravada em cada fibra de seu ser. Eles 
sabem instintivamente o que é reto e o que não é Sua própria consciência dá 
testemunho da testemunho da veracidade de Minha lei. Uma coisa, porém, é 
necessária. A lei é tão clara, é tão evidente a todos que esses mandamentos 
básicos são necessários à existência, à paz e à vida, que se poderia dar o caso 
de deixarem os homens de aceitá-los como de origem divina. Haverá quem pretenda 
que os nove mandamentos são tão essenciais e evidentes que, mesmo desajudados da 
direção divino, os homens seriam por si próprios capazes de fazer uma lei 
comparável à Minha. Jactar-se-ão de que, através dos séculos, chegaram, pela 
experiência, à conclusão de que não convém roubar, mentir ou matar, e elaboraram 
leis apropriadas acerca dessas questões, não sendo essas leis de origem divina, 
mas resultado da experiência humana, e definitivamente integradas à raça.
Apontarão confiantemente para tribos e raças que por séculos estiveram isoladas 
de civilização, possuindo, entretanto, regras que cobrem muitos pontos da lei. 
Pretenderão ser isto uma prova de que o homem, desajudado do poder divino, é 
capaz de reproduzir Minha lei. Afirmarão não ser a lei de origem divina, que os 
homens estão apenas seguindo uma lei que sua própria experiência lhes ensina ser 
para bem da humanidade.
 
“Prossegue o Senhor: Tomarei, quanto a Minha lei, uma providencia que não se 
baseia na lei elementar ou natural; que não tem nenhuma correspondência na 
natureza; que será uma ordem definida, e para a qual não serão capazes de 
encontrar qualquer razão além de Minha ordem. Para os outros mandamentos vêem os 
homens uma razão. Os mandamentos falam ao seu bom sendo. Para esse mandamento, 
porém nenhuma outra razão haverá senão Minha palavra. Se lhe obedeceram, 
obedecer-Me-ão a Mim. Rejeitando-o, a Mim Me rejeitarão. Farei esse mandamento 
uma prova, um sinal. Fa-lo-ei um meio de provarem se guardam ou não a Minha lei. 
Farei dele um sinal de que Eu sou o Senhor.
 
“Farei o sábado e lhes mandarei que o observem. Não existe no mundo coisa alguma 
para indicar um dia de repouso. Se guardarem o mandamento do sábado, será porque 
Eu o ordeno. Farei dele uma prova. Ele provará se andam na Minha lei ou não. O 
sábado será Meu sinal, Minha prova de obediência. O sétimo dia, não um dia 
dentre sete. Quem quer que o observe Me obedecerá. Todo que o rejeitar, rejeita 
não só o sábado, mas a lei toda. Mais do que isso, rejeitando o sétimo dia, 
rejeitam-Me a Mim. A guarda do sábado do sétimo dia é o sinal de que Me aceitam 
como seu Deus.
 
“Com o transcorrer do tempo surgirão homens que pretenderão ser religiosos, mas 
que na realidade confiam em seu próprio entendimento. Muitos deles rejeitarão o 
registro da criação divina, substituindo-o por suas próprias teorias acerca da 
existência das coisas. Conquanto não tivessem estado presentes no ato da 
criação, quando Minha palavra chamou à existência os seres, hão de pontificar 
presunçosamente sobre a maneira em que isso foi feito, rejeitando Meu testemunho 
de fato.
Alguns dentre eles Me rejeitarão positivamente. Outros pretenderão crer em Mim, 
mas em se apresentando uma desarmonia entre Minha palavra e seus conclusões, 
rejeitarão Minha palavra para se apegarem a suas próprias teorias. Rejeitando o 
relato da criação, rejeitarão naturalmente o monumento comemorativo da criação, 
o sábado. Não aceitarão aquilo que não se enquadre nos limites de seu 
raciocínio. Seu próprio modo de pensar é para eles a final autoridade. 
Dar-lhe-ei uma prova que há de mostrar se crêem em Mim ou não. Prova-los-ei, 
para ver se andam realmente na Minha lei ou não. Se aceitarem Meu sinal, Minha 
prova, Meu sábado, reconhecerão, nesse ato, uma Inteligência mais alta que a 
sua. Se rejeitarem Meu sábado, rejeitar-Me-ão a Mim, a mInha palavra. Minha lei. 
Farei do sábado a prova.
 
“Os homens compreenderão o repto. Não serão capazes de lhe fugir. Verão 
claramente que, aceitando o sábado, terão de aceitar Minha palavra pela fé, e 
não por seu próprio raciocínio. A guarda do sábado repousa sobre a fé, 
unicamente. Não o podem os homens descobrir seguindo tão somente os métodos de 
seu raciocínio, à base da humana experiência ou investigação. Se aceitarem o 
sábado, fa-lo-ão em virtude de sua fé em Mim.
 
“O maligno, Meu adversário, envidará todos os esforços pra destruir a fé de Meu 
povo. Tentará falsificar Minha obra. Advogará um dia de repouso espúrio, 
tornando-o mais conveniente e popular do que o dia por Mim escolhido, por 
ocasião da criação. E alcançará êxito com grande Numero de pessoas, que o hão de 
aceitar a ele, e não a Mim. Ele atacará Meu dia de repouso, conclamando o povo 
para junto de seu pavilhão. O povo terá ante si uma questão apresentada com toda 
a clareza. Será uma questão de Meu sábado e Minha palavra de um lado, e o sábado 
falsificado do Meu adversário do outro lado. Eu tenho Meu sinal. Ele tem o dele. 
A cada qual dos homens caberá escolher a bandeira sob a qual deseja colocar-se.
 
“Conhecendo o fim desde o principio, escolhi deliberadamente o sábado como 
prova, a fim de ver se os homens andarão em Minha lei ou não. Por isso é que o 
coloquei no centro da lei. Isto também explica porque preferi não o relacionar 
com a lei natural. 
Destaca-se absolutamente só, repousando unicamente em Minha palavra. Fi-lo o 
mandamento da prova. É Meu sinal”.
 
Não queremos afirmar que Deus fizesse todo esse raciocínio aí sugerido. Ele sabe 
todas as coisas. Por boas e suficientes razões deu Ele sábado como sinal, como 
prova. Cremos poder distinguir algumas razões para tanto. Compete-nos 
colocar-nos de todo o coração do lado de Deus, nesta importante questão.
 
O mandamento do sábado tem relação estreita com a expiação. Com referencia à 
transgressão da lei era o sangue aspergido no ritual do santuário. Era quando 
alguém fazia “contra algum dos mandamentos do Senhor, aquilo que se não deve 
fazer”, que ele carecia de expiação. Lev. 4:27. Constitui a transgressão do 
mandamento do sábado “aquilo que se não deve fazer” contra um mandamento? 
Números 15 contém uma lição.
O Senhor falando a Israel, diz: “Quando vierdes a errar, e não fizerdes todos 
estes mandamentos, que o Senhor falou a Moises,... será pois perdoado a toda a 
congregação dos filhos de Israel, e mais ao estrangeiro que peregrina no meio 
deles, porquanto por erro sobreveio a todo o povo”. Num. 15:22-26.
 
Qualquer pecado que Israel ou o estrangeiro cometesse ignorantemente, devia ser 
perdoado. “Para o natural dos filhos de Israel, e para o estrangeiro que no meio 
deles peregrina, uma mesma lei vos será para aquele que isso fizer por erro”. 
vs. 29.
Se alguém pecava voluntariamente, era tratado de modo diverso. “A alma que fizer 
alguma coisa à mão levantada, quer seja dos naturais quer dos estrangeiros, 
injúria ao Senhor: e tal alma será extirpada do meio do seu povo, pois desprezou 
a palavra do Senhor, e anulou o Seu mandamento: totalmente será extirpada aquela 
alma, a sua iniqüidade será sobre ela”. vs. 30 e 31.
 
Segue uma ilustração acerca do que significa pecar “à mão levantada”(“afoitamente”, 
diz a Trad. Bras.): Foi encontrado um homem apanhando lenha no dia de sábado. Os 
dirigentes não sabiam o que fazer, de maneira que “o puseram em guarda; 
porquanto ainda não estava declarado o que se lhe devia fazer”. vs. 34. 
O Senhor não os deixou por muito tempo em suspensão. “Disse pois o Senhor a 
Moisés: Certamente morrerá o tal homem; toda a congregação com pedras o 
apedrejará para fora do arraial. Então toda a congregação o tirou para fora de 
arraial, e com pedras o apedrejaram, e morreu, como o Senhor ordenara a Moisés”. 
vs. 35 e 36.
 
Deus proclamara a Israel os Seus mandamentos. Ordenara-lhes que se lembrassem do 
dia do sábado. Anunciara ser este a prova por ele instituída, para mostrar se 
andariam ou não em Sua lei. Não havia desculpa. Quando saiu o homem a lenhar no 
sábado, não estava ele em ignorância. Era rebelde. “Desprezou a palavra do 
Senhor”. Violou os mandamentos. Só existia para ele uma lei. Pecara “a mão 
levantada”.
 
Uma coisa é pensarem os homens, apenas, em mudar o dia de sábado. Outra coisa é 
tocarem eles a eterna lei de Deus, que é a base de Seu trono no céu. Estes 
mandamentos constituem a base e razão de expiação. Um exemplar deles se mantinha 
na arca sagrada, no santíssimo do santuário terrestre. Ninguém senão o 
sumo-sacerdote podia entrar no santíssimo. A lei era o próprio alicerce do trono 
e governo de Deus. Quando, certa ocasião, um homem tocou a arca, foi fulminado. 
I Crôn. 13:9 e 10. Que não teria acontecido se tivesse posto a mão ao interior 
da arca, tentando mudar a escrita de Deus nas tabuas! Entretanto, os homens, 
ímpiamente, consideram isso uma possibilidade! Esquecem a santidade de Deus e da 
lei, a não falar na impossibilidade de mudar aquilo que foi gravado em pedra, e 
isso pelo próprio dedo de Deus!
 
Será possível que a lei, que é a base da expiação e que requereu a morte do 
Senhor, tenha sido mudada? Se foi mudado o mandamento do sábado, foram-no também 
outros? Morreu Cristo por uma coisa no Velho Testamento e por outra no Novo? 
Exigiu Deus a pena de morte pela voluntária transgressão do mandamento do sábado 
um dia antes de expirar Cristo na cruz, e não no dia seguinte? Ou haveria uma 
zona “neutra” quanto à sentença de morte? Pode haver entre os cristãos 
divergências de opiniões quanto a muitas coisas. Pode, porém, havê-las quanto à 
necessidade de expiação? É Cristo ainda nosso Sumo-sacerdote? 
Em caso afirmativo, pelo que faz Ele expiação? Está ainda a lei sob o 
propiciatório, na arca?
 
Sem a lei, a expiação torna uma 
farsa, a encarnação de Cristo uma fábula 
piedosa, Sua morte um desvio da justiça, o Getsêmane uma tragédia. Se a lei – ou 
qualquer dos mandamentos – pode ser transgredida impunemente; se a lei foi 
abolida ou mudados os seus preceitos; se a lei, dada pelo próprio Deus, deixou 
de ser a norma no juízo, torna-se então desnecessária a morte de Cristo, o Pai 
mesmo deixa de ser a personificação da justiça e bondade, e Cristo já não pode 
escapar à acusação de ser cúmplice de um erro. Clamem todos os cristãos contra 
semelhante doutrina! Destruída a lei, torna-se desnecessária a expiação, 
dispensa-se a Cristo. Permaneçam sempre em todos os espíritos os fatos: Cristo 
por nós viveu, sofreu, morreu e ressurgiu. Tínhamos pecado, transgredido a lei, 
e estávamos sentenciados à morte. Cristo nos salvou, não por meio da abolição da 
lei – pois neste caso não precisaria morrer – mas sim pela morte por nós, 
estabelecendo assim para sempre a vigência da lei. Ele agora por nós apresenta 
os méritos de Seu sangue, no santuário celestial. É nosso Advogado, nossa 
Segurança, nosso Sumo-Sacerdote. Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Pela 
fé nEle somos salvos.
 
20. O ULTIMO CONFLITO
Em Daniel 8:14 encontra-se uma declaração que reclama nosso estudo. Reza assim: 
“Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado”.
 
Qualquer declaração relativa ao santuário, é importante. Em particular e é o 
texto acima citado. Declara que, em determinado tempo, o santuário será 
purificado. Isto é de algum modo extraordinário, pois o santuário terrestre era 
purificado todos os anos, no Dia da Expiação. Por que, então, devia decorrer um 
certo tempo – dois mil e trezentos dias – antes que se efetuasse essa especial 
purificação?
 
O capítulo oitavo de Daniel contém uma importante profecia. Descreve uma visão 
tida por Daniel quanto a u m carneiro e a um bode:
 
“No terceiro ano do reinado do rei Belshazzar apareceu-me uma visão, a mim, 
Daniel, depois daquela que me apareceu no principio. E vi, na visão 
(acontecendo, quando vi, que eu estava na cidadela de Susã, na província de 
Elã), vi pois, na visão, que eu estava junto ao rio Ulai. E levantei os meus 
olhos, e vi, e eis que um carneiro estava diante do rio, o qual tinha duas 
pontas; e as duas pontas eram altas, mas uma era mais alta do que a outra; e a 
mais alta subiu por último.
 
“Vi que o carneiro dava marradas para o ocidente, e para o norte e para o 
meio-dia; e nenhuns animais podiam estar diante dele, nem havia quem pudesse 
livrar-se da sua mão; e ele fazia conforme a sua vontade, e se engrandecia. E, 
estando eu considerando, eis que um bode vinha do ocidente sobre toda a terra, 
mas sem tocar no chão; e aquele bode tinha uma ponta notável entre os olhos; e 
dirigiu-se ao carneiro que tinha as duas pontas, ao qual eu tinha visto diante 
do rio; e correu contra ele com todo o ímpeto da sua força. E o vi chegar perto 
do carneiro, e irritar-se contra ele; e feriu o carneiro, e lhe quebrou as duas 
pontas, pois não havia força no carneiro para parar diante dele; 
E o lançou por terra, e o pisou a pés; não houve quem pudesse livrar o carneiro 
da sua mão. E o bode se engrandeceu em grande maneira; mas, estando na sua maior 
força, aquela grande ponta foi quebrada: e subiram no seu lugar quatro também 
notáveis, para os quatro ventos do céu”. Dan. 8:1-8.
 
A interpretação é dada nos versículos 20 e 21: “Aquele carneiro que viste com 
duas pontas são os reis da Média e da Pérsia; umas o bode peludo é o rei da 
Grécia; e a ponta grande que tinha entre os olhos é o rei primeiro”.
 
Entre os comentadores há unânime acordo em que “a ponta grande” é Alexandre o 
Grande. Enquanto se achava ainda “na sua maior força aquela grande ponta foi 
quebrada”. vs. 8. Em seu lugar surgiram quatro outras, denotando as quatro 
divisões do Grande Império pela morte de Alexandre. vs. 22.
 
A parte da profecia em que estamos especialmente interessados, começa com o 
versículo nove. “E de uma delas saiu uma ponta mui pequena, a qual cresceu muito 
para o meio-dia, e para o oriente, e para a terra formosa. E se engrandeceu até 
ao exercito do céu; e a alguns do exercito, e das estrelas, deixou por terra, e 
as pisou. E se engrandeceu até ao príncipe do exército: e por ele foi tirado o 
continuo sacrifício, e o lugar do seu santuário foi lançado por terra. E o 
exercito lhe foi entregue, com o sacrifício contínuo, por causa das 
transgressões; e lançou a verdade por terra; fez isso, e prosperou. Depois ouvi 
um santo que falava; e disse outro santo aquele que falava: Até quando durará a 
visão do contínuo sacrifício, e da transgressão assoladora, para que seja 
entregue o santuário, e o exército, a fim de serem pisados? E ele me disse: Até 
duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado”.
 
É evidente que a profecia se refere à “ponta mui pequena” que “cresceu muito”, 
Alexandre é a “ponta grande”. Dan. 8:21. O poder simbolizado pela ponta pequena 
começou de maneira obscura, mas “cresceu muito”. É digno de nota o que faz essa 
ponta. Ela “destruirá maravilhosamente” o povo de Deus. vs. 24. Isto é feito, 
não tanto por guerra, mas “por causa da tranqüilidade”, quer dizer, em paz. vs. 
25. É entendido e astuto, agindo por meio de “engano”. vs. 25. É poderoso, mas 
“nas pelo seu próprio poder”, e “fez isso, e prosperou”. vs. 24 e 12.
É um poder orgulhoso, pois “no seu coração se engrandecerá”, “e se engrandeceu 
até ao príncipe do exercito”, vs. 25 e 11. É um poder perseguidor, pois 
destrói “os fortes e o povo santo”, e todo um “exercito” lhe foi entregue para 
ser pisado. vs. 24, 10 e 13. Ensina falsas doutrinas, e “lançou a verdade por 
terra”. vs. 12. Combate contra a verdade; o santuário é “lançado por terra” e 
pisado, e isto “por causa das transgressões”. vs. 11-13. O apogeu é atingido 
quando ele se levanta “contra o Príncipe dos príncipes”. É então quebrado “sem 
mãos”. vs. 25. Quando Daniel viu tudo isto em visão, tão afetado ficou, que, 
diz, “enfraqueci, e estive enfermo alguns dias”. Ficou espantado com a visão, e 
nem ele nem ninguém a compreendeu. vs. 27.
 
Interessamo-nos especialmente no tempo mencionado pelo versículo catorze. A 
conversa tida pelos dois anjos, foi evidentemente para beneficio de Daniel. A 
visão do carneiro e do bode parece ser relatada apenas para levar a história da 
ponta pequena que “cresceu muito”. Quando Daniel viu as perseguições efetuadas 
por esse poder, e como ele prosperava por métodos astutos e se engrandecia e 
destruía “maravilhosamente”, naturalmente cogitou por quanto tempo aquilo havia 
de durar. Na conversa dos anjos, é-lhe dito que deve haver um período de dois 
mil e trezentos dias, durante os quais, “o santuário, e o exercito” seriam 
“pisados”, e esse mau poder havia de prosperar.
 
Como esse poder “fortalecerá a sua força, mas não pelo seu próprio poder”? 
Parece uma contradição. Como poderia deitar por terra “alguns do exército, e das 
estrelas”e pisá-las? Como poderia derribar e espezinhar o santuário? Como 
poderia lançar “a verdade por terra”, e prosperar nessa obra? Entretanto, é 
justamente o que havia de fazer. vs. 24, 10-12 e 25. Daniel ficou atônito, não 
compreendendo a visão.
 
Mas ele ficou mais do que atônito. Quando viu o que esse poder faria ao 
santuário, à religião, ao povo de Deus, à verdade, ficou “enfermo alguns dias”. 
vs. 27. Aí estava um poder blasfemo que perseguiria o povo de Deus, tentando 
destruir a verdade, e prosperando nesse empenho. Até mesmo o santuário seria 
lançado por terra e apisoado.
O único raio de esperança quanto a essa visão,dizia respeito ao tempo. Nem para 
sempre seriam conculcados o santuário e a verdade. Esta voltaria ao seu 
pedestal. Reivindicar-se-ia. No final de dois mil e trezentos dias o santuário 
seria purificado. Esse tempo devia o povo de Deus aguardar. 
 
Tal acontecimento, em si, não poderia, entretanto, representar grande conforto a 
Daniel. Que significavam os dois mil e trezentos anos? Quando deviam começar? 
Quando terminar? Não o compreendia. Começou a estudar mais fervorosamente do que 
nunca. Seu estudo o levou a compreender “pelos livros que o Numero de anos, de 
que falou o Senhor ao profeta Jeremias, em que deviam acabar as assolações de 
Jerusalém, era de setenta anos”. Daniel 9:2. Ainda não recebera, porém, luz 
sobre os dois mil e trezentos dias. Teriam estes qualquer relação com o término 
dos setenta anos? Começariam, porventura, ao finalizar-se esse período? Não o 
sabia Daniel. Entregou-se, pois, à oração. Era preciso que recebesse luz sobre a 
questão.
 
Mantêm alguns comentaristas que a ponta pequena, que se tornou excessivamente 
grande, representa o reino dos seleucidas, especialmente sob o reinado do 
Antíoco Epifânio e Antíoco o Grande. Esta opinião justifica sérias objeções. É 
verdade que esses reis perseguiram. Eram astutos, ímpios, arrogantes. 
Dificilmente se poderia, porém, dizer que o foram mais que outros, antes e 
depois deles. Ninguém dirá que foram maiores que Alexandre o Grande. A visão, 
entretanto, o requer. Antíoco Epifânio, a quem muitos julgam referir-se 
especialmente a passagem, era perseguidor; interveio no ritual do santuário; nem 
por isso, entretanto, era tão grande que merecesse a atenção dispensada na visão 
à ponta pequena. Desempenhou por alguns breves anos a sua parte no drama e 
passou, não deixando rastos como os de Alexandre, e teria há muito tomado lugar 
entre os insignificantes reis daquele período, não fossem os persistentes 
esforços de comentaristas para lhe dar indevida preeminência.
 
A visão do capitulo 8 de Daniel é uma visão isolada. A Medo-Pérsia e a Grécia 
não são aí mencionadas pela primeira vez. O capítulo 7 trata de assunto 
correlato e menciona os animais que representam a Medo-Pérsia, e a Grécia, 
referindo-se também a uma “ponta pequena”. 
Diz o profeta: ”Estando eu considerando as pontas, eis que entre elas subiu 
outra ponta pequena, diante da qual três das pontas primeiras foram arrancadas; 
e eis que nesta ponta havia olhos, como olhos de homem, e uma boca que falava 
grandiosamente”. Dan. 7:8. Esta ponta pequena intrigava a Daniel. Queria saber 
mais “daquela ponta... que tinha olhos, e uma boca que falava grandiosamente, e 
cujo parecer era mais firme do que o das suas companheiras”. vs. 20. Vira que 
“esta ponta fazia guerra contra os santos, e os vencia”. vs. 21. Viu,mais, que 
“proferirá palavras contra o altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e 
cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão por um 
tempo, e tempos, e metade dum tempo”. vs. 25. Finalmente, porém, “o juízo 
estabelecer-se á, e eles tirarão o seu domínio, para o destruir e para o 
desfazer até ao fim”. vs. 26. O capítulo assim termina: “Aqui findou a visão. 
Quanto a mim, Daniel, os meus pensamentos muito me espantavam, e mudou-se em mim 
o meu semblante; mas guardei estas coisas no meu coração”. Veres. 28. É fácil 
ver que esta profecia trata de modo geral dos mesmos acontecimentos considerados 
no capítulo 8.
 
Daniel ficara perturbado com o que vira. No capítulo 7 fora-lhe apresentado um 
poder perseguidor que fazia guerra aos santos do Altíssimo, falando contra Deus, 
cuidando em mudar tempos e leis – poder que era diferente de outros reis (vs. 
24), e que seria afinal destruído. Esse poder era a “ponta pequena”, que tinha 
olhos como os de homem, e boca que falava grandiosamente. Quem seria 
representado por tal poder? Daniel pensou muito e acabou perplexo. “Meus 
pensamentos muito me espantavam”. (“perturbaram”, Trad. Bras.), confessa ele. 
vs. 28. Mas conservou no coração o assunto. Estava certo de que Deus tinha 
maior conhecimento. O capítulo 8 volta a tratar desse poder, e o capítulo 9 
continua a explanação. 
 
É impossível conceber que a ponta pequena de Daniel 7 seja Antíoco 
Epifânio ou 
qualquer outro Antíoco. Quase todos os comentadores protestantes da escola 
antiga concordam em que se refere ela ao papado, no qual desde logo se vê que 
encontra completo cumprimento. Como poderia ser verdade, quanto a qualquer dos 
Antíocos, que “fazia guerra contra os santos, e os vencia.
Até que veio o Ancião de dias, e foi dado o juízo aos santos do Altíssimo; e 
chegou o tempo em que os santos possuíram o reino”? vs. 21 e 22. Antíoco há 
muito que está morto. Reinou pouco tempo apenas. De que outro poder senão o 
papado é verdade que fez guerra aos santos do Altíssimo, ou tentou mudar tempos 
e leis?
 
Não são a sagacidade, a sabedoria, a vasta política do papado expressivamente 
sugeridos pela ponta que tinha “olhos, como olhos de homem, e uma boca que 
falava grandiosamente”? vs. 8 Cremos achar-nos sobre sólida base exegética 
quando sustentamos que a ponta pequenas de Daniel 8 é Roma, primeiro pagã e 
depois papal; e a ponta pequena de Daniel 7, o papado.
 
Estas considerações nos ajudarão em nossa tentativa de estabelecer a 
significação dos dois mil e trezentos dias de Daniel 8:14. Ocorrem no meio de 
uma profecia que trata de um poder que existiu por mais tempo do que qualquer 
outro sobre a terra. Sendo esse período parte de uma profecia, não há dúvida de 
que se trata do tempo profético. Neste caso, os dois mil e trezentos dias 
representam outros tantos anos, de acordo com a consagrada interpretação das 
profecias. “Um dia te dei por cada ano”. Ezeq. 4:6.
 
Se aceitarmos o ponto de vista de que a ponta pequena de Daniel 8 se refere a 
Roma imperial e à igreja católica romana, torna-se nosso dever descobrir 
qualquer relação possível entre ela e o santuário mencionado em Daniel 8:14. 
Consideremos agora esse assunto.
 
A igreja católica romana constitui uma tentativa de restabelecimento da velha 
teocracia de Israel, com o ritual do santuário que a acompanhava. A igreja 
católica adotou do judaísmo a parte principal do ritual, juntamente com alguns 
cerimoniais do paganismo. Possui um estabelecido ritual do santuário, com seus 
sacerdotes, sumo-sacerdotes, levitas, cantores e mestres. Possui um serviço de 
sacrifícios, culminando na missa, com o ritual que a acompanha e a oferta de 
incenso. Tem os seus dias de festas, segundo o molde de costume israelita. Tem 
os seus círios, seu altar do incenso, sua mesa com o pão e seu altar mor. Em 
evidencia está a pia com a água benta; observa-se a missa diária. É quase 
completo o paralelo entre a antiga religião israelita e a católica romana.
Tudo isso não seria muito importante, não fosse o fato de constituir uma 
tentativa de obscurecer a verdadeira obra de Cristo no santuário celestial.
Terminado o período do Velho Testamento, quando Cristo começou Sua obra no 
santuário celestial, era intento de Deus que os serviços do santuário na terra 
cessassem. Rasgou-se de alto a baixo o véu do templo – e posteriormente foi 
destruído o templo todo – significando a cessação do ritual na terra e a 
inauguração do serviço no céu. Cristo entrou num templo não feito por mãos. 
Entrou no próprio céu, para ali ministrar em nosso favor. Os homens são 
convidados a irem ter com Ele, levando-Lhe os seus pecados e recebendo perdão. O 
ritual do tabernáculo terrestre preparou os homens a olharem para o verdadeiro 
santuário no céu. Chegara o tempo para se fazer a transferência.
 
A igreja católica não compreende absolutamente nem aprecia a obra de nosso 
sumo-sacerdote, no céu. Não compreende que o ritual do santuário terrestre não 
deveria prevalecer. Restabeleceu as velhas cerimônias e crenças, tentando levar 
os homens à prática de um ritual caduco. E, em grande parte, teve êxito. “Toda a 
terra se maravilhou após a besta”. Apoc. 13:3.
 
Isso, como se disse, tendeu a obscurecer a obra de Cristo. Os homens perderam o 
conhecimento do santuário celestial e da obra de Cristo ali. Sua atenção foi 
chamada para a obra rival de Seu pretenso vigário na terra. Enquanto Cristo, no 
céu, perdoa os pecados, o sacerdote na terra alega fazer a mesma coisa. Enquanto 
Cristo intercede pelo pecador, o sacerdote faz o mesmo. E as condições impostas 
pelo sacerdote para receber-se o perdão dos pecados, são muito mais fáceis do 
que as de Cristo. Os homens se esqueceram por completo de que há um santuário no 
céu. Essa verdade foi lançada por terra. Transcorreram os séculos sucessivos, e 
a igreja conservou os homens em completa ignorância quanto a importantíssima 
obra que se processa no céu, ao mesmo tempo que exaltava o que ela tinha a 
oferecer, mercadejando com o que há de mais sagrado.
 
O papado tornou-se, assim, verdadeiramente um competidor, um rival de Cristo. 
Tentou expulsá-lo do espírito dos homens, no que teve êxito notável. É tarefa da 
igreja, designada por Deus, chamar a atenção para Cristo e a verdade. É o único 
instrumento que Deus tem para instruir os homens. Quando Cristo subiu ao alto 
para iniciar Seu ministério no santuário celestial, 
Tornou-se dever e privilegio da igreja proclamar essas novas até aos confins do 
mundo. Daí por diante não mais haveria sacrifícios na terra. Isso cabia à velha 
dispensação. Cessara também o sacerdócio levítico. Rasgou-se o véu, abrindo-se 
ao homem novo e vivo caminho. Os homens tiveram livre acesso a Deus, podendo 
apresentar-se com ousadia ante o trono da graça, sem intercessor humano. Todo o 
povo de Deus se tornara sacerdote real, não devendo daí por diante homem algum 
colocar-se entre uma alma e seu Criador. Abriu-se a todos o acesso a Deus.
 
Que o papado se tornasse um rival, um competidor de Cristo, ano é mera figura de 
linguagem. Consideremos a situação. Cristo é nosso Sumo-Sacerdote. No calvário 
morreu, como Cordeiro de Deus. Derramou o sangue em nosso favor. Os sacrifícios 
mosaicos, durante séculos, tinham sido profecias disso. Viera agora a realidade, 
da qual aquilo foram sombras apenas. Como no Velho Testamento não bastava a 
morte do cordeiro, tendo de ser suplementada pelo ministério do sacerdote, que 
aspergia o sangue no altar ou no lugar santo, o mesmo se dava com a morte e o 
sangue de Cristo. Provido o sangue, tornou-Se Cristo “Ministro do santuário, e 
do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem”. Heb. 8:2. 
Assim, “vindo Cristo, o Sumo-Sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais 
perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por 
sangue de bodes e bezerros, mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez no 
santuário, havendo efetuado uma eterna redenção”. Heb. 9:11 e 12.
 
O Santuário aqui mencionado não se refere ao tabernáculo terrestre. “Por que 
Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no 
mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus”. Heb. 9:24. 
Perante Deus, Cristo intercede e apresenta Seu sangue, que não santifica 
meramente para purificação da carne, como se dava com o sangue de bodes e 
bezerros antigamente, “Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno 
Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das 
obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? Heb. 9:14. Todo aquele que deseje 
purificar a consciência pode, pois, com “ousadia... entrar no santuário, pelo 
sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou,
pelo véu, isto é, pela Sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de 
Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo os 
corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa”. Heb. 
10:19-22. No Velho Testamento ninguém, a não ser o sacerdote, podia entrar no 
santuário. Hoje todos o podem. E um “novo e vivo caminho que Ele nos consagrou”.
 
Esse bendito novo e vivo caminho é o privilegio e dever da igreja tornar 
conhecido. Cada qual pode ir diretamente a Cristo. Não é preciso, como no 
santuário na terra, intervir um sacerdote. Isto foi abolido. Todo homem pode 
apresentar-se diretamente ao seu Criador, sem intervenção humana. Pode com 
ousadia entrar no santuário.
 
O papado, porém, pensava e ensinava diversamente. Tentou estabelecer a crença do 
Velho Testamento, de que o homem só se pode aproximar de seu Criador mediante 
representantes especiais, tais como sacerdotes. Os homens foram afastados de 
Deus mais que nunca. A igreja fechou o novo e vivo caminho aberto por Cristo, e 
levou os homens a procurar aproximar-se de Deus mediante o sacerdócio, que tinha 
de apelar a algum santo padroeiro que tivesse influência junto de Maria, a qual, 
por sua vez, exercia influência junto de Cristo, e Este junto de Deus. O sistema 
todo era uma tentada reencarnação das ordenanças mosaicas que haviam sido 
definitivamente abolidas, e que se não podiam comparar com o novo e vivo caminho 
do Novo Testamento.
 
Qual foi o resultado? Os homens afluíram à igreja de Roma, olvidando o santuário 
celestial e seu Ministro. A igreja romana obscureceu eficazmente o ministério de 
Cristo, tanto que poucos cristãos têm a noção da existência de um templo no céu, 
a não falar do ritual que ali se processa. Dia a dia Cristo aguarda a 
oportunidade de apresentar Seu sangue, esperando que homens encontrem o novo 
caminho. Muito poucos, porém, o encontram. Por outro lado, milhões afluem para a 
igreja romana, para ali receber indulgências e perdão dos pecados, sob condições 
aceitáveis. O papado quase conseguiu tornar de nenhum efeito o ministério de 
Cristo. Inaugurou outro ministério, estabelecido, não nas promessas de 
evangelho, nem na base do novo concerto, tão pouco em Cristo como 
Sumo-Sacerdote,
mas sim nas vãs promessas de um sacerdote terrestre que carece, ele mesmo, do 
perdão e do poder do sangue expiador de Cristo.
 
Dizendo que o papado tentou substituir a verdadeira obra mediatória de Cristo 
por um falso sistema de mediação, estamos bem cientes do fato de que a igreja 
católica romana crê no sacrifício de Cristo na cruz, que é Ele o advogado e 
intercessor do homem e que é por Ele que somos salvos. Sobre o caso, vêm a 
propósito as declarações seguintes:
 
“Coisa alguma existe da qual deve o fiel derivar maior gozo do que da reflexão 
de que Jesus Cristo Se constituiu nosso advogado e intercessor perante o Pai, 
junto a quem são supremos Sua influencia e autoridade”. “Certo, existe um só 
mediador, Cristo o Senhor, que, unicamente, nos reconciliou por Seu sangue (I 
Tim. 2:5), e que, tendo efetuado nossa redenção e entrado uma vez no santuário, 
não cessa de interceder por nós. Heb. 9:12; 7:25”. – Catechism of the Council of 
Trent, Pág. 59 e 247, tradução do Rev. J. Donovan, edição de 1829.
 
“Podemos apresentar-nos a Deus com toda a confiança, diz S. Arnoldo, pois que o 
Filho é nosso mediador junto do Pai eterno, e a mãe é nossa mediadora junto do 
Filho”. – Glories of Mary, de Afonso Liguori, doutor da igreja, pág. 224, edição 
revista.
 
É no que respeita ao ministrar do sangue, na relação que existe entre o homem e 
Cristo, que o papado procurou erigir um sistema falso. Aí foram interpostos 
santos, e especialmente Maria, entre a alma e Deus. Isto achamos uma gravíssima 
perversão da verdade, visto como interpõe pessoas estranhas à mediação como 
necessárias para nos aproximarmos de Deus, quando as Escrituras ensinam que “há 
um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem”. I Tim. 
2:5. A Bíblia não reconhece ninguém mais como mediador, e ensinar a igreja de 
outro modo é fazer de nenhum efeito a verdade de Deus.
 
Existem, pois, dois ministérios que prometem aos homens perdão e cancelamento 
dos pecados: o de Cristo, no céu, e o do papado, na terra. Cada qual tem um 
sacerdote e as cerimônias que o acompanham. Cada qual pretende pleno poder de 
perdoar. O papado se jacta de possuir as chaves do céu. Pode abrir e fechar. É 
senhor de um tesouro de méritos sem o qual bem poucos se podem salvar. 
Está de posse da “hóstia”, o santo mistério de Deus. Possui um chefe infalível. 
Tem poder sobre o purgatório. Pode indultar do castigo. Pretende ter autoridade 
sobre os reis da terra. Não reconhece superior. É supremo.
 
Todas essas pretensões cairiam por terra, se tão somente os homens conhecessem o 
verdadeiro ministério de Cristo. O conhecimento da verdade quanto ao santuário, 
é o único antídoto aos falsos reclamos da hierarquia romana. Por esta razão é 
para o papado importante que a questão do santuário permaneça desconhecida. Por 
esta razão tornou Deus o Seu povo depositário de Sua verdade relativa ao 
santuário.
 
Não precisamos entrar em detalhes acerca dos problemas matemáticos dos dois mil 
e trezentos dias. Remetemos o leitor para O Conflito dos Séculos, por Ellen G. 
White, e outras obras denominacionais adventistas. Basta dizer que esses dias – 
ou antes, anos - começaram em 457 antes de Cristo e terminaram em 1844 depois de 
Cristo. Nesse ano deveria ser purificado o santuário.
 
É evidente que essa purificação não se pode referir ao santuário terrestre. Este 
há muito que foi destruído, suspendendo o ritual. Tem de referir-se, pois, ao 
santuário celestial, do qual se diz, com efeito, ser purificado “com sacrifícios 
melhores”do que os do Velho Testamento. Heb. 9:23.
 
Já estudamos em detalhes a questão da purificação do santuário da terra. Essa 
purificação era símbolo da purificação do santuário do céu. Como os sacerdotes 
ministravam no primeiro compartimento do tabernáculo cada dia do ano, até ao 
grande Dia da Expiação, assim também Cristo ministrou no primeiro compartimento 
do santuário celestial até ao tempo de sua purificação. Esse tempo foi 1844. 
Então Cristo passou para a fase final de Seu ministério. Entrou no Santíssimo. 
Começou então a hora do Juízo, também chamada juízo investigativo. Concluída 
esta obra, terminará o tempo de graça e Cristo voltará.
 
Desejamos ainda chamar a atenção para a palavra “purificado”, empregada em 
Daniel 8:14. Em hebraico é tsadaq, traduzindo-se “justificado”, isto é, 
tornar-se ou ser considerado justo. Alguns traduzem: “Então será o santuário 
justificado”. Outros: “Então será o santuário vindicado”. Outros, ainda: “Então 
o santuário receberá o reconhecimento que merece”. 
A palavra encerra a idéia de restauração, assim como de purificação.
 
Estes significados da palavra são importantes, em vista do fato de ter sido o 
assunto do santuário espezinhado e a verdade lançada por terra. Virá jamais o 
tempo em que ao assunto do santuário se dê de novo seu legítimo lugar, quando 
Deus vindique sua verdade e sejam postos a descoberto o erro e as maquinações 
secretas? Sim, responde a profecia, o tempo virá; surgirá um poder maligno que 
há de perseguir o povo de Deus, obscurecer a questão do santuário, lançar por 
terra a verdade, e prosperar nessa obra. Estabelecerá seu próprio sistema, em 
competição com o de Deus, tentando mudar a lei, enganando a muitos por sua 
política astuciosa. Será, porém, desmascarado. No fim dos dois mil e trezentos 
dias surgirá um povo possuidor de luz acerca da questão do santuário, povo que 
seguirá a Cristo, pela fé, até ao santíssimo, e que terá a solução capaz de 
quebrar o poder do mistério da iniqüidade, saindo a batalhar pela verdade de 
Deus. Tal povo será invencível. Proclamará destemidamente a verdade. Fará a 
contribuição suprema em defesa da verdade do santuário. Edificará “os lugares 
antigamente assolados”; levantará “os fundamentos de geração em geração”; será 
chamado “reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar”. Isa. 
58:12.
 
O conflito final será bem definido. Todos compreenderão os riscos e as 
conseqüências. O ponto principal será a adoração da besta ou a adoração a Deus. 
Nesse conflito o templo de Deus se abrirá no céu, e os homens verão “a arca do 
Seu concerto... no Seu templo”. Apoc. 11:19. O povo de Deus na terra terá parte 
em mostrar aos homens o templo aberto. Por outro lado, a igreja apóstata abrirá 
a boca “em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do Seu nome, e do Seu 
tabernáculo, e dos que habitam no céu”. Apoc. 13:6.
 
É grande privilégio ser-nos permitido ter parte numa obra como esta. Mas, a 
querermos vencer, temos de saber onde nos achamos e porque. Conceda-nos Deus 
graça para que sejamos achados fiéis.
21. 
A ÚLTIMA GERAÇÃO
A demonstração final do que o evangelho pode operar na humanidade e em favor 
dela, está ainda no futuro. Cristo apontou o caminho. Revestiu-Se do corpo 
humano e, nesse corpo, demonstrou o poder de Deus. Os homens devem seguir-Lhe o 
exemplo e provar que o que Deus fez em Cristo, pode efetuar em todo ser humano 
que a Ele se submete. O mundo está à espera dessa demonstração. Rom 8:19. Quando 
isso se realizar, virá o fim. Deus terá cumprido Seu plano. Ter-se-á mostrado 
verdadeiro, e Satanás, mentiroso. Será reivindicado Seu governo.
 
É hoje ensinada no mundo muita doutrina espúria a respeito da santidade. 
Acham-se, de um lado, os que negam o poder divino para salvar do pecado. Do 
outro, há os que ostentam sua santidade diante dos homens e querem fazer-nos 
crer que estão sem pecado. Contam-se, entre a primeira classe, não só descrentes 
e cépticos, mas também membros da igreja cuja visão não inclui vitória sobre o 
pecado, mas transigência com ele. Da outra classe fazem parte os que não tem 
conceito exato do pecado nem da santidade divina, e cuja visão espiritual se 
acha tão obscurecida que não podem ver suas próprias faltas, e daí se crêem 
perfeitos. Suas idéias acerca de religião são tais, que seu próprio entendimento 
da verdade e retidão é superior ao revelado na Palavra. Não é fácil decidir qual 
o erro maior.
 
Que a Bíblia inculca a santidade é incontestável. “O mesmo Deus de paz vos 
santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente 
conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. I Tess. 
5:23. “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o 
Senhor”. Heb. 12:14. “Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação”. I 
Tess. 4:3. O Termo grego hagios, em suas várias formas, é traduzido 
“santificar”, “santo”, “santidade”, “santificado”, “santificação”. Emprega-se o 
mesmo vocábulo para ambos os compartimentos do santuário, e significa aquilo que 
é posto à parte para Deus. 
A pessoa santificada é a que é posta à parte para Deus, e cuja vida toda está a 
Ele dedicada.
 
O plano da salvação tem de incluir necessariamente não só o perdão do pecado, 
mas também restauração completa. Salvação do pecado é mais do que perdão do 
pecado. Perdão pressupõe pecado e é concedido sob condição de o abandonarmos; 
santificação indica libertação de seu poder e vitória sobre ele. O primeiro é um 
meio de neutralizar o efeito do pecado; a segunda é restauração do poder para 
alcançar a vitória completa.
 
O pecado, como algumas moléstias, deixa o homem em estão deplorável – abatido, 
desanimado, desalento. Tem pouco controle sobre a mente, falta-lhe força de 
vontade e, com as melhores intenções, não pode fazer o que é correto. Julga não 
haver esperança. Sabe que a si mesmo cabe a culpa, e o remorso enche-lhe a alma. 
Aos males físicos, junta-se a tortura da consciência. Sabe que pecou e que é 
culpado. Não se compadecerá alguém dele?
 
Chega-lhe então o evangelho. Pregam-lhe as boas novas. Embora seus pecados sejam 
como escarlata, tornar-se-ão brancos como a neve; conquanto vermelhos como 
carmesim, serão como branca lã. Tudo está perdoado. Ele está “salvo”. Que 
maravilhoso livramento, esse! Seu espírito está em paz. Não mais o atormenta a 
consciência. Foi perdoado. Seus pecados foram lançados no fundo do mar. 
Transborda-lhe o coração de louvor a Deus, por Sua misericórdia e bondade para 
com ele.
 
Assim como um navio avariado, rebocado ao porto, se acha a salvo mas não são, 
assim também o homem está “salvo” mas não são. É preciso reparar o navio antes 
de se poder declará-lo em condições de navegar, e o homem necessita reconstrução 
antes de estar plenamente restaurado. A esse processo da restauração se chama 
santificação, e inclui o corpo, a alma e o espírito. Concluída a obra, o homem é 
“santo”, está completamente santificado e restaurado à imagem divina. Essa 
demonstração do que o evangelho pode fazer em favor do ser humano, é o que o 
mundo aguarda.
 
Na Bíblia, tanto o processo como a obra terminada são denominados santificação. 
Por esse motivo são os “irmãos” chamados santos e santificação. Por esse motivo 
são os “irmãos” chamados santos e santificados, embora não tenham alcançado a 
perfeição. (I Cor. 1:2; II Cor. 1:1; Heb. 3:1). Quem lê as epístolas aos 
Coríntios, logo se convence de que os santos mencionados tinham suas faltas.
Apesar disso, diz-se que são “santificados”e “chamados santos”. O motivo está em 
que a santificação completa não é obra de um dia ou de um ano, mas da vida toda. 
Inicia-se no momento em que a pessoa se converte e continua a vida inteira. Cada 
vitória apressa o processo. Poucos cristãos há em que obtiveram a vitória sobre 
algum pecado que antes muito os molestavam e os vencia. Mais de um homem que era 
escravo do fumo alcançou a vitória sobre o vício e nela se regozija. O fumo 
deixou de ser uma tentação. Já não mais o atrai. Obteve a vitória. Nesse ponto 
está santificado. Assim como se tornou vitorioso sobre uma tentação, pode chegar 
a sê-lo sobre todo pecado. Terminada a obra e alcançado o triunfo sobre o 
orgulho, a ambição, o amor ao mundo e todo o mal, estará pronto para a 
trasladação. Terá sido provado em todos os pontos. O maligno terá vindo e nada 
terá achado. Estará irrepreensível mesmo perante o trono de Deus. Cristo porá 
sobre ele Seu selo. Estará salvo e são. Deus terá terminado nele Sua obra. 
Estará completa a demonstração do que Ele pode fazer com a humanidade.
 
Assim sucederá com a última geração que vive sobre a terra. Por meio dela, Deus 
efetuará a demonstração final do que pode fazer com a humanidade. Tomará os mais 
fracos dos fracos, os que levam todos os pecados de seus antepassados e neles 
revelará Seu poder. Estarão sujeitos a toda tentação, mas não cederão. Provarão 
que é possível viver sem pecar – demonstração que o mundo tem aguardado e para a 
qual Deus tem estado a fazer preparativos. Será evidente a todos que o evangelho 
pode com efeito salvar plenamente. Deus será achado verdadeiro em Suas palavras.
 
O último ano trará a prova final; mas esta tão somente demonstrará aos anjos e 
ao mundo que nada do que o maligno faça abalará os escolhidos de Deus. Cairão as 
pragas, ver-se-á destruição por todos os lados, os remidos enfrentarão a morte, 
mas, como Jô, manter-se-ão firmes em sua integridade. Nada os pode fazer pecar. 
Guardarão “os mandamentos de Deus e a fé de Jesus”. Apocalipse 14:12.
 
Através de toda a história do mundo, Deus tem tido Seus fiéis. Têm suportado 
aflições mesmo em meio de grande tribulação. E mesmo em meio aos ataques de 
Satanás, como diz o apóstolo Paulo, conseguiram praticar “justiça”. 
Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada: andaram vestidos 
de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (dos quais 
o mundo não era digno), errantes pelos desertos e montes, pelas covas e cavernas 
da terra”. Heb. 11:37 e 38.
 
E além dessa lista de testemunhas fiéis, muitas das quais foram martirizadas por 
sua fé, Deus terá nos últimos dias um remanescente, um “pequeno rebanho”, por 
assim dizer, no qual e por meio do qual dará ao universo provas de Seu amor, 
poder e justiça que, com exceção da vida piedosa de Cristo na terra e Seu 
supremo sacrifício no Calvário, serão a demonstração mais vasta e concludente de 
todas as épocas.
 
Na última geração que viver na terra, ficará plenamente revelado o poder divino 
para a santificação. A manifestação desse poder é a reivindicação de Deus. 
Eliminará qualquer acusação que Satanás tenha apresentado contra Ele. Na última 
geração o Senhor será reivindicado, e Satanás derrotado. Talvez seja necessário 
ampliar isto um pouco mais.
A rebelião que se verificou no céu e introduziu o pecado no universo de Deus, 
deve ter sido terrível tanto para Ele como para os anjos. Até certo momento, 
tudo fora paz e harmonia. Desconhecia-se a discórdia: prevalecia apenas o amor. 
Depois ambições profanas possuíam o coração de Lúcifer. Resolveu ser igual ao 
Altíssimo. Elevaria seu trono acima das estrelas de Deus. Além disso, 
propunha-se sentar-se “no monte da congregação”, “da banda dos lados do norte”. 
(Isa. 14:12-14). Essa asserção equivale a intentar depor a Deus e ocupar Seu 
lugar. É uma declaração de guerra. Onde Deus Se sentava, Satanás queria 
sentar-se. Deus aceitou o repto.
 
Não temos explicação bíblica, direta, quanto aos meios empregados por Satanás 
para aliciar ao seu lado uma multidão de anjos. É muito claro que mentiu. Também 
é incontestável que desde o princípio foi homicida. (João 8:44). Como o 
homicídio tem seu começo no ódio e como esse ódio culminou na morte do Filho de 
Deus no Calvário, podemos crer que a ira de Satanás não se dirigia apenas contra 
Deus o Pai, mas também, e mais especialmente contra Deus o Filho. Em sua 
rebelião. Satanás foi mais longe que uma simples ameaça. Exaltou realmente seu 
trono, dizendo: “Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento”. Ezeq. 28:2.
 
Quando Satanás assim estabeleceu seu governo no céu, a questão ficou bem 
definida. 
Nenhum dos anjos já podia estar em dúvida. Todos deviam decidir-se a favor de 
Satanás ou contra ele. Em caso de rebelião há sempre algum agravo, real ou 
imaginário, que se apresenta como pretexto. Surge em alguns o descontentamento, 
e ao não conseguirem remediar o mal, recorrem à rebelião. Os que simpatizam com 
a causa rebelde a ela se unem, os demais permanecem leais ao governo e 
naturalmente correm o risco de perecer.
Ao que parece, chegou-se no céu a essa situação. O resultado foi a guerra. 
“Houve batalha no céu: Miguel e os Seus anjos batalhavam contra o dragão, e 
batalhava o dragão e os seus anjos”. (Apoc. 12:7). Poder-se-iam ter previsto as 
conseqüências. Satanás e seus anjos “não prevaleceram, nem mais o seu lugar se 
achou nos céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o 
Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os 
seus anjos foram lançados com ele”. vs. 8 e 9.
 
Satanás foi derrotado, mas não destruído. Por seu ato de rebelião, declarara que 
o governo de Deus tinha faltas. Pelo estabelecimento de seu próprio trono 
pretendera possuir maior sabedoria ou justiça que Deus. Essas pretensões são 
inerentes à rebelião e ao estabelecimento de outro governo. Dificilmente podia 
Deus dar a Satanás a oportunidade de demonstrar suas teorias. Para tirar toda 
dúvida da mente dos anjos, e mais tarde do homem, Deus devia deixar que Satanás 
prosseguisse em sua obra. Permitiu-lhe, pois, viver e estabelecer seu governo. 
Durante os últimos seis mil anos, te estado demonstrando ao universo o que fará 
quando se lhe oferecer ensejo.
 
Permitiu-se que essa demonstração continuasse até agora. E o que tem sido ela! 
Desde que Caim matou a Abel, tem havido ódio, derramamento de sangue, crueldade 
e opressão na terra. Têm-se espezinhado a virtude, a bondade e a justiça; o 
vício, a vileza e a corrupção têm triunfado. O justo tem sido presa do mau; os 
mensageiros de Deus, torturados e mortos: a lei divina calçada no pó. Quando 
Deus enviou Seu Filho, em vez de honrá-Lo, os homens perversos, sob a instigação 
de Satanás, O penduraram no madeiro. Mesmo então não destruiu Deus a Satanás. A 
demonstração devia ser completa. “Unicamente quando se realizarem os últimos 
acontecimentos,
e os homens estiverem a ponto de exterminar-se uns aos outros, Ele intervirá 
para salvar os Seus. Então não estará dúvida no espírito de ninguém de que, se 
Satanás houvesse assumido o poder, teria destruído todo vestígio de bondade, 
arrojado a Deus do trono, dado a morte a Seu Filho, estabelecendo um reino de 
violência, fundado no egoísmo e na cruel ambição.
 
O que Satanás tem estado patenteando é realmente seu caráter, e a que ponto pode 
levar a ambição egoísta. A princípio quis ser como Deus. Não estava satisfeito 
com sua posição como o mais elevado dos seres criados. Queria ser Deus. E as 
provas têm revelado que, quando uma pessoa fixa um alvo egoísta, não se deterá 
ante obstáculo algum para alcançá-lo. Quem quer que se lhe oponha, terá de ser 
tirado do caminho. Embora seja o próprio Deus, deverá ser eliminado.
 
A demonstração ensina também que a alta posição não é satisfatória para o 
indivíduo ambicioso. Precisa alcançar a mais elevada, e ainda assim não se 
contenta. A pessoa de posição humilde sente-se tentada a crer que estaria 
satisfeita se sua situação melhorasse. Está pelo menos segura de que ficaria 
contente se alcançasse a mais alta posição possível. Mas ficaria de fato? 
Lúcifer não ficou. Ele ocupava a mais alta posição possível. Mas isso não lhe 
agradou. Queria outra mais elevada ainda. Desejava ser o próprio Deus.
 
A esse respeito é muito frisante o contraste entre Cristo e Satanás. Este queria 
ser Deus. E desejava-o tanto que estava disposto a fazer qualquer coisa para 
alcançar seu alvo. Cristo, por outro lado, não considerou o ser igual a Deus 
coisa que devesse reter. Humilhou-se voluntariamente e foi obediente até à 
morte, e morte de cruz. Era Deus e fez-Se homem. E que isso não era uma 
condescendência temporária, tão só com o intuito de mostrar Sua boa vontade, se 
evidencia pelo fato de que continuará para sempre como Homem. Satanás se exaltou 
a si mesmo: Cristo Se Humilhou. Satanás quis ser Deus; Cristo Se fez homem. 
Satanás quis sentar-se como Deus sobre um trono; Cristo, como servo, Se humilhou 
a lavar os pés aos discípulos. O contraste é completo.
 
No céu, Lúcifer fora um dos querubins cobridores. (Ezeq. 28:14). Isso parece 
referir-se aos dois anjos que, no lugar santíssimo do santuário, estavam sobre a 
arca, cobrindo o propiciatório. Esse era indubitavelmente o cargo mais alto que 
um anjo podia ocupar,
porque a arca e o propiciatório estavam na presença imediata de Deus. Esses 
anjos eram os guardas especiais da lei. Velavam sobre ela, por assim dizer. 
Lúcifer era um deles.
 
Em Ezequiel 28:12 há interessante asserção acerca de Lúcifer: “Tu eras o selo da 
simetria e a perfeição da formosura”. (Trad.Brás.) A expressão para a qual 
queremos chamar a atenção é: “Tu eras o selo da simetria”. O significado disso 
não é muito claro. Pode-se interpretar a tradução de várias maneiras. Parece 
evidente, no entanto, que se propõe demonstrar a alta posição e o exaltado 
privilégio que tinha Satanás, antes de cair. Era uma espécie de primeiro 
ministro, guarda do selo.
 
Como num governo terrestre um documento ou uma lei deve ter o selo para ser 
válido, assim também no de Deus se usa um selo. Parece ter Ele dado aos anjos 
sua obra, assim como a designou ao homem. Um anjo está encarregado do fogo. 
(Apoc. 14:18) Outro tem domínio sobre as águas. (Apoc. 16:5) Outro tem a seu 
cargo “o selo do Deus vivo”. (Apoc. 7:2) Embora, como já dissemos, não seja 
muito clara a expressão de Ezequiel 28:12, alguns se sentem justificados por 
traduzi-la assim: “Tu aplicavas o selo ao mandamento”. Se isso é sustentável, e 
Lúcifer era o primeiro ministro e guarda do selo, eis aí mais um motivo por que 
desejou colocar sua própria marca em lugar do selo de Deus, quando abandonou sua 
primeira morada.
 
Que Satanás tem estado muito ativo contra a lei, é evidente. Se a lei de Deus é 
o reflexo de Seu caráter, e se esse caráter é o oposto do de Satanás, este é por 
ela condenado. Cristo e a lei são um. Ele é a lei vivida, a lei feita carne. Por 
esse motivo Sua vida constitui uma condenação. Quando Satanás fez guerra a 
Cristo, combateu também a lei. Ao odiar a lei, aborreceu a Cristo. Cristo e a 
lei são inseparáveis.
 
No Salmo 40, encontra-se interessante declaração. Disse Jesus: “Deleito-Me em 
fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração”. 
Embora seja indubitavelmente uma expressão poética e não se deva levá-la 
demasiado longe, é interessante, no entanto, como indício da posição exaltada da 
lei. “” A Tua lei está dentro do Meu coração”. Apunhalar a lei é apunhalar o 
coração de Cristo. Apunhalar o coração de Cristo é apunhalar a lei. 
Na cruz Satanás o intentou. Mas Deus queria que fosse de outra maneira. A morte 
de Cristo era um tributo à lei. Engrandecia-a sobremaneira e a tornava gloriosa. 
Deu aos homens nova visão de seu caráter sagrado e de seu valor. Se Deus 
permitia que Seu Filho morresse; se Cristo Se entregava voluntariamente, de 
preferência a ab-rogar a lei; se é mais fácil passarem o céu e a terra que cair 
um jota ou um til da lei, quão sagrada e digna de honra deve ser!
 
Ao morrer Cristo na cruz, demonstrara em Sua vida a possibilidade de guardar a 
lei. Satanás não conseguira induzi-Lo a pecar. Possivelmente não acreditava 
poder fazê-lo. Mas se tivesse podido levar Jesus a empregar Seu poder divino 
para salvar-Se, teria alcançado muito. Se Ele o houvesse feito, Satanás poderia 
ter sustentado que isso invalidava a demonstração que Deus Se propunha efetuar, 
a saber, de que o homem é possível guardar a lei. Da maneira em que sucedeu, 
Satanás foi derrotado. Mas até ao fim prosseguiu na mesma tática. Judas esperava 
que Cristo Se livrasse, usando assim Seu poder divino para salvar-Se. Na cruz, 
tentaram assim a Cristo: “Salvou os outros, e a Si mesmo não pode salvar-Se”. 
Mas Ele não vacilou. Teria podido salvar-Se, mas não o fez. Satanás foi 
derrotado. Não podia compreender isso. Mas sabia que, ao morrer Cristo sem que 
se houvesse podido fazê-Lo pecar, estava selada sua própria condenação. Ao 
morrer, Cristo triunfou.
 
Satanás, porém, não renunciou à luta. Fracassara no conflito com Cristo, mas 
podia ainda ter êxito com os homens. Foi assim “fazer guerra ao resto da sua 
semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus 
Cristo”. (Apoc. 12:17) Se pudesse vencê-los, talvez não ficasse derrotado.
 
A demonstração que Deus Se propõe efetuar com a última geração na terra 
significa muito, tanto para o povo como para Ele. Pode-se observar realmente a 
lei divina? Essa é uma questão vital. Muitos negam que se possa cumpri-la; 
outros dizem voluvelmente que se pode fazê-lo. Ao considerar-se toda a questão 
da observância dos mandamentos, o problema assume grandes proporções. A lei 
divina é excessivamente ampla; abrange os pensamentos e intentos do coração. 
Julga tanto os motivos como os atos, os pensamentos como as palavras. 
A guarda dos mandamentos significa completa santificação, vida santa, 
inquebrantável fidelidade à retidão, afastamento completo do pecado e vitória 
sobre ele. Bem pode exclamar o mortal: Para essas coisas quem é idôneo!
No entanto, é essa a tarefa a que Deus Se propôs e que espera realizar. Ao 
lançar Satanás o repto, afirmando: “Ninguém pode guardar a lei. É impossível. Se 
existe alguém que possa fazê-lo ou que o haja feito, mostra-mo. Onde estão os 
que guardam os mandamentos?” Deus responderá calmamente: “Aqui está a paciência 
dos santos: aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus”. 
(Apoc. 14:12)
 
Digamo-lo reverentemente: Deus deve aceitar o repto de Satanás. Não é Seu plano, 
nem parte de Seu desígnio, submeter os homens a provas em que unicamente possam 
sobreviver uns poucos escolhidos. No Jardim do Éden, não podia Ele idear prova 
mais fácil do que a que planejou. Ninguém terá jamais motivo de dizer que nossos 
primeiros pais caíram, porque a prova era demasiada difícil para eles. Era a 
mais leve que se podia imaginar. Se caíram, não foi porque não se lhes houvesse 
concedido poder para resistir. A tentação não estava constantemente diante 
deles. Não se permitia a Satanás molestá-los em toda parte. Podia ter acesso a 
eles apenas num lugar, a saber, na árvore da ciência do bem e do mal. Eles 
conheciam esse lugar. Podiam manter-se afastados dele, se o quisessem. Satanás 
não podia segui-los. Se iam aonde ele estava, era porque queriam. Mas mesmo 
quando fossem examinar a árvore, não precisavam permanecer ali. Podiam 
afastar-se. Mesmo que Satanás lhes oferecesse o fruto, não necessitavam tomá-lo. 
Mas tomaram-no e o comeram. E o comeram porque desejaram, não porque fossem 
obrigados. Transgrediram deliberadamente. Não havia excusa. Deus não podia ter 
ideado prova mais fácil.
 
Ao ordenar Deus aos homens que guardem Sua lei, não cumpre o propósito de Sua 
vontade o ter tão somente uns poucos que a observem precisamente os suficientes 
para demonstrar que se pode fazê-lo. Não está de acordo com Seu caráter escolher 
homens preeminentes, de propósitos firmes e magnífico preparo, demonstrando por 
eles o que pode realizar. Está muito mais em harmonia com Seu plano tornar Seus 
reclamos tais que mesmo os mais fracos não precisem fracassar, de maneira que 
ninguém possa dizer que Deus pede o que apenas uns poucos podem fazer. 
Por esse motivo, reservou Ele Sua maior demonstração para a última geração. Esta 
sofre as conseqüências de pecados acumulados. Se existem fracos, são os membros 
desta geração. Se há que sofre tendências herdadas, são eles. Se alguns têm 
excusa por qualquer fraqueza, são eles. Se, portanto, podem guardar os 
mandamentos, ninguém de nenhuma outra geração tem desculpa por não o haver 
feito.
 
Mas isso não basta. Deus Se propõe revelar em Sua demonstração, não só o que os 
homens comuns da última geração podem suportar com êxito uma prova como a que 
deu a Adão e Eva, mas que subsistirão a outra muito mais difícil do que a que 
toca em sorte aos homens comuns. Será comparável à que Jô suportou, 
assemelhar-se-á à que o Mestre sofreu. Prova-los-á até ao máximo. 
 
“Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu; 
porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso”. (Tiago 5:11) Jó passou por 
algumas provações que se repetirão na vida dos escolhidos da última geração. 
Talvez seja bom considerá-las.
 
Jó era homem bom. Deus confiava nele. Dia a dia oferecia sacrifícios por seus 
filhos. “Porventura pecaram meus filhos”, dizia (Jó 1:5) Era próspero e 
desfrutava as bênçãos divinas.
 
Então “um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, 
veio também Satanás entre eles”. (vs. 6) Acha-se registrada uma conversação 
que houve entre Jeová e Satanás, acerca de Jó. O Senhor disse que Jó era bom, o 
que Satanás não nega, mas insiste em que Jó teme a Deus simplesmente porque o 
beneficia. Declara que, se o privasse de Suas misericórdias, Jó O amaldiçoaria. 
Faz essa declaração em forma de repto, e Deus o aceita. Dá a Satanás permissão 
para tirar as propriedades de Jó e afligi-lo de outras maneiras, mas sem tocar 
nele.
 
Satanás sai imediatamente a fazer o que se lhe permitiu. Desaparecem as riquezas 
de Jó, e seus filhos morrem. Ao suceder isso, “Jó se levantou, e rasgou o seu 
manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou, e disse: Nu saí do 
ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou; 
bendito seja o nome do Senhor. 
Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma”. (Jó 1:20-22) 
 
Satanás foi derrotado, mas faz outra tentativa. Na próxima vez em que se 
encontra com o Senhor, sem reconhecer sua derrota, alega não se lhe ter 
permitido tocar em Jó mesmo. Se isso lhe tivesse sido concedido, afirma, Jó 
teria pecado. A asserção é de novo um repto, e Deus o aceita. Dá-lhe licença de 
atormentar a Jó, mas sem tirar-lhe a vida. Imediatamente parte Satanás a cumprir 
sua missa.
 
Tudo o que o maligno pode fazer, faz a Jó. Mas este permanece firme. A esposa 
lhe aconselha que renuncie a sua fidelidade, mas ele não vacila. Sob intensa dor 
física e angústia mental, mantém-se fiel. Novamente se diz que suportou a prova. 
“Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios”. (Jó 2:10) Satanás é derrotado e 
não mais aparece no livro.
 
Nos capítulos seguintes do livro de Jô, é-nos dado um pequeno vislumbre da luta 
que se trava em seu espírito. Está muito perplexo. Por que lhe sobreveio toda 
essa calamidade? Não tem conhecimento de nenhum pecado. Portanto, por que o 
aflige Deus? Sem dúvida nada sabe do repto de Satanás. Não sabe também que Deus 
nele confia na crise por que está passando. Tudo que sabe é que de um céu sereno 
lhe sobrevieram calamidades até que ficou sem família, sem riquezas, e com 
asquerosa moléstia que quase o consome. Não o entende, mas conserva sua 
integridade e fé em Deus. O Senhor sabia que faria isso. Mas Satanás dissera que 
não o faria. No repto, Deus triunfou.
 
Humanamente falando, Jó não merecera o castigo que sobre ele caíra. Deus mesmo 
disse que era sem causa. “Havendo-Me tu incitado contra ele, para o consumir se 
causa”. (Jó 2:3) Portanto, toda a experiência se justifica unicamente quando se 
considera como prova específica, ideada com propósito específico. Deus queria 
fazer silenciar a acusação de Satanás, de que Jó O servia unicamente para 
proveito próprio. Queria provar que havia pelo menos um homem a quem Satanás não 
podia dominar. Jó sofreu em resultado disso, mas parecia não haver meio de 
escape. Mais tarde lhe foi isso recompensado.
 
O caso de Jó foi registrado com um propósito. Além de sua historicidade, cremos 
que tem ainda significado mais amplo. 
Os filhos de Deus que viveram nos últimos dias, passarão por experiências 
idênticas à de Jó. Serão provados como ele o foi; serão privados de todo apoio 
humano; satanás terá permissão de atormentá-los. Além disso, o Espírito de Deus 
se retirará da terra, e será eliminada a proteção dos governos terrestres. O 
povo de Deus ficará só para combater contra as potestades das trevas. Estará 
perplexo como Jó. Mas, como ele, se manterá firme em sua integridade.
 
Na última geração, Deus será reivindicado. No remanescente encontrará Satanás 
sua derrota. A acusação de que não se pode observar a lei, será refutada. Deus 
providenciará não só uma ou duas pessoas que observem Seus mandamentos, mas todo 
um grupo, denominado o dos 144.000. Refletirão plenamente a imagem divina. 
Desmentirão a acusação de Satanás contra o governo do céu.
 
Situação grave ocasionaram no céu as acusações contra Deus lançadas por Satanás. 
Constituíam, realmente, uma imputação de incapacidade de governar o céu. Muitos 
dos anjos creram nelas. Colocaram-se ao lado do acusador. A terça parte dos 
anjos, que devem ter sido milhões, considerou a Deus justamente como o fazia seu 
chefe, o mais elevado dentre eles, Lúcifer. Não foi pequena a crise. Ameaçava a 
própria existência do governo divino. Como devia Deus tratá-la?
 
A única maneira de resolver satisfatoriamente o assunto, para que nunca mais 
surgisse uma dúvida, consistia em que Deus submetesse o caso às regras comuns da 
evidência. Era ou não justo Seu governo? Afirmava Ele que sim; Satanás dizia que 
não. O Senhor podia ter destruído a Satanás. Isso, porém, não teria sido um 
argumento, ou melhor, seria uma prova contra Deus. Não havia outra maneira senão 
a de apresentarem os partidos suas evidências, seus testemunhos, e deixarem 
pesar seu caso pelas provas aduzidas. 
 
Temos, pois, uma cena de julgamento. Está em jogo o governo divino. Satanás é o 
acusador; Deus mesmo é o acusado e está em julgamento. Foi acusado de injustiça, 
de exigir que Suas criaturas façam o que não lhes é possível, e de castigá-las, 
no entanto, por não o fazerem. A lei é o ponto específico de ataque; sendo, 
porém, simplesmente um transunto do caráter divino, são Deus e Seu caráter os 
que estão na cena do julgamento.
A fim de que Deus prove Sua asserção, é necessário demonstrar que não foi 
arbitrário em seus reclamos, que a lei não é dura nem cruel em suas exigências, 
mas, pelo contrário, é santa, justa e boa, e que os homens podem guardá-la. Todo 
o necessário é que Deus apresente um homem que tenha guardado a lei, e Sua causa 
está ganha. Na ausência de tal caso, Deus perde e Satanás ganha. O resultado 
depende, portanto, de um ou mais seres que guardem os mandamentos divinos. Nisso 
pôs Deus em jogo Seu governo.
 
Embora seja verdade que, de quando em quando, muitos têm dedicado a vida a Deus 
e vivido sem pecado em certos períodos de tempo, Satanás afirma serem esses 
casos especiais, como era o caso de Jó, e não estarem sob as regras comuns. 
Exige um caso bem definido em que não possa haver dúvida e em que Deus não tenha 
intervindo. Pode-se apresentar um exemplo assim?
 
Deus está pronto para o repto. Esteve aguardando Seu tempo. O Filho de Deus, em 
Sua própria pessoa, enfrentou as acusações de Satanás e demonstrou que eram 
falsas. A manifestação suprema foi reservada para a contenda final. Da última 
geração Deus elegerá Seus escolhidos. Não aos fortes ou poderosos, não aos que 
gozam honras e riquezas, não aos sábios e elevados, mas tão só a pessoas comuns 
escolherá Deus e, por seu intermédio, fará Sua demonstração. Satanás asseverou 
que os que, no passado, serviram a Deus, o fizeram por motivos mercenários, que 
Deus os protegeu e que ele, Satanás, não teve livre acesso a eles. Se lhe 
tivessem concedido plena permissão para apresentar sua causa, eles também teriam 
sido ganhos para ela. Mas Deus teve medo de permitir-lhe que o fizesse, alega 
Satanás. Dêem-me oportunidade justa, diz ele, e eu vencerei.
 
E, assim, para fazer silenciar para sempre as acusações de Satanás; para tornar 
claro que Seu povo o serve por motivos de lealdade e eqüidade sem considerar 
recompensa; para defender Seu próprio nome e caráter das acusações de injustiça 
e arbitrariedade; para demonstrar aos anjos e aos homens que Sua lei pode ser 
observada pelos homens mais débeis, nas circunstâncias mais desalentadoras e 
difíceis – Deus permite a Satanás que prove Seu povo até ao máximo. Serão 
ameaçados, torturados, perseguidos. Estarão face a face com a morte, quando for 
promulgado o decreto de adorar a besta e a sua imagem. (Apoc. 13:15) Mas não 
cederão. Estarão dispostos a morrer de preferência a pecar.
Deus retira Seu Espírito da terra. Satanás terá maior medida de domínio que 
nunca dantes. É certo que não poderá matar o povo de Deus, mas esta será quase a 
única limitação. Fará tudo que lhe for permitido. Sabe quanto está em jogo. É 
agora ou nunca.
 
Deus faz mais uma coisa. Aparentemente Se oculta. Fecha-se o santuário 
celestial. Os santos clamam a Deus dia e noite por sua libertação, mas Ele 
parece não ouvir. Seus escolhidos estão passando pelo Getsêmane. Provam um pouco 
do que experimentou Cristo, durante aquelas três horas na cruz. Aparentemente 
devem ferir sozinhos a batalha. Devem viver sem intercessor à vista de um Deus 
santo. Mas embora Cristo tenha terminado Sua intercessão, de maneira que ninguém 
mais possa alcançar o perdão dos pecados, os santos são o objetivo do amor e do 
cuidado divinos. Santos anjos velam sobre eles. Deus lhes provê refúgio de seus 
inimigos; concede-lhes alimento; livra-os da destruição e proporciona-lhes graça 
e poder para viver santamente. (Ver o Salmo 91) No entanto, estão ainda no 
mundo, tentados, aflitos e atormentados.
 
Resistirão à prova? Aos olhos humanos parece impossível. Se tão somente Deus 
viesse em seu auxílio, tudo iria bem. Estão resolvidos a resistir ao maligno. 
Podem morrer, se necessário; mas não precisam pecar. Satanás não tem poder nem 
jamais o teve para fazer homem algum pecar. Pode tentá-lo, destruí-lo, ameaçá-lo; 
mas não pode forçá-lo a transgredir. E agora Deus prova pelos mais fracos dentre 
os fracos que não há excusa, nem houve jamais, para o pecado. Se os da última 
geração podem repelir com êxito o ataque de Satanás; se podem fazê-lo tendo 
contra si todas as desvantagens e fechado o santuário, que desculpa há para que 
os homens tenham alguma vez pecado?
 
Na última geração, Deus prova, afinal, que os homens podem observar a lei divina 
e viver sem transgredir. Deus nada deixa por fazer, a fim de completar a 
demonstração. A única limitação que impõe a Satanás é que não pode matar os 
santos de Deus. Pode tentá-los, persegui-los e ameaçá-los; e ele faz quanto lhe 
é permitido. Mas fracassa. Não lhe é possível levá-los a pecar. Resistem à 
prova, e Deus põe Seu selo sobre eles.
Mediante a última geração de santos, Deus é finalmente reivindicado. Por meio 
deles derrota a Satanás e ganha o pleito. Formam eles uma parte vital do plano 
divino. Passam por lutas terríveis; combatem contra as potestades invisíveis nos 
lugares celestiais. Mas puseram sal confiança no Altíssimo, e não serão 
confundidos. Passaram fome e sede, mas chegará o tempo em que “nunca mais terão 
fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o 
Cordeiro, que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para 
as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima”. 
(Apoc. 7:16 e 17).
 
“Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai”. (Apoc. 14:4) Ao 
abrirem-se, afinal, as portas do templo, ouvir-se-á uma voz que dirá: “Somente 
os 144.000 entram neste lugar”. – Vida e Ensinos, pág. 65. Pela fé terão seguido 
o Cordeiro até ali. Penetraram no lugar santo e com Ele foram até ao santíssimo. 
E, na eternidade, só os que O seguiram aqui é que O acompanharão ali. Serão reis 
e sacerdotes. Segui-Lo-ão até ao santíssimo, onde unicamente pode entrar o 
Sumo-Sacerdote. Estarão na presença imediata de Deus. Segui-Lo-ão “para onde 
quer que vai”. Não só estarão “diante do trono de Deus”, e O servirão “de dia e 
de noite no Seu templo”, mas também se assentarão “comigo no Meu trono; assim 
como Eu venci e Me assentei com Meu Pai no Seu trono”. (Apoc. 7:15; 3:21)
 
O assunto de maior relevância no universo não é a salvação dos homens, por 
importante que pareça. O essencial é que o nome de Deus seja defendido das 
falsas acusações feitas por Satanás. O conflito se aproxima do fim. Deus está 
preparando Seu povo para o último grande embate. Satanás também se está 
preparando. A crise nos espera e decidir-se-á na vida do povo de Deus. Este em 
nós confia como confiou em Jó. Está bem colocada Sua confiança?
 
É admirável o privilégio que nos é concedido de, como povo, justificar o nome de 
Deus por nosso testemunho. É maravilhoso que se nos permita testificar em favor 
dEle. Nunca se deve olvidar, no entanto, que esse testemunho é o da vida, não 
simplesmente das palavras. “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens”. 
(João 1:4) ”A vida era a Luz”. 
Assim foi no caso de Cristo, e deve ser em nosso caso. Nossa vida deve ser uma 
luz como o era Sua. Transmitir luz ao povo é mais que entregar-lhe um folheto. 
Nossa vida é a luz. Ao vivermos, transmitimos luz aos outros. Sem vida, sem 
viver a luz, nossas palavras ficam isoladas. Mas quando nossa vida se torna a 
luz, nossas palavras são eficazes. É nossa vida que deve testificar em favor de 
Deus.
 
Oxalá a igreja aprecie o excelso privilégio que lhe é concedido! “Vós sois as 
Minhas testemunhas, diz o Senhor”. (Isa. 43:10) Não deve haver “deus estranho... 
entre vós, pois vós sois as Minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu sou Deus!” (Vs. 
12) Oxalá sejamos deveras testemunhas, e testifiquemos do que Deus fez por nós!
 
Tudo isso está intimamente relacionado com a obra do Dia da Expiação. Naquele 
dia, os filhos de Israel, tendo confessado os pecados, ficavam completamente 
purificados. Haviam sido perdoados, e agora o pecado era separado deles. 
Tornavam-se santos e irrepreensíveis. Ficava purificado o acampamento de Israel.
 
Vivemos agora no grande dia real da purificação do santuário. Todo pecado deve ser confessado e, pela fé, ser apresentado a juízo antecipadamente. Ao passo que o Sumo-Sacerdote entra no santíssimo, o povo de Deus deve agora achar-se face a face com Ele. Deve saber que toda transgressão foi confessada e que não resta mancha alguma de pecado. A purificação do santuário celestial depende da do povo de Deus na terra. Quão importante é, pois, que Seus servos sejam santos e irrepreensíveis! Neles deve ser consumido todo pecado, a fim de poderem subsistir à vista de um Deus santo e sobreviver, apesar do fogo consumidor. “Ouvi, vós os que estais longe, o que tenho feito: e vós que estais vizinhos, conhecei o Meu poder. Os pecadores de Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas? O que anda em justiça, e o que fala com retidão; o que arremessa para longe de si o ganho de opressões; o que sacode das suas mãos todo o presente; o que tapa os seus ouvidos para não ouvir falar de sangue, e fecha os seus olhos para não ver o mal. Este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas”. (Isa. 33:13-16)
 
22. 
O JUÍZO
HÁ UMA tendência crescente de não crer na ressurreição corporal. Os partidários 
da alta crítica há muito que rejeitaram esta idéia, e muitos cristãos do tipo 
mais conservador se inclinam a fazer o mesmo. Não podem ver necessidade alguma 
da ressurreição do corpo, se a existência é completamente espiritual.
 
Pela mesma razão consideram desnecessário um juízo futuro. Se a alma está já 
desfrutando a felicidade de uma existência etérea, ou se experimentando as 
torturas dos réprobos, parecerá absurdo interpor um juízo. Este deve haver-se 
realizado antes que haja sido decidido o estado futuro, e não depois. A crença 
na bem-aventurança ou condenação imediata, após a morte, torna um juízo futuro, 
no fim do mundo, não somente desnecessário, mas inconseqüente.
 
A Bíblia é muito clara em suas declarações acerca destes temas. Há uma 
ressurreição corporal. Há um juízo. As Escrituras ensinam ambas essas coisas. 
Como aqui nos preocupa principalmente o juízo, a ele dedicaremos agora nosso 
estudo, observando tão somente de passagem que parece muito mais satisfatório 
crer que a existência dos salvos ficará amoldada ao plano original do Jardim do 
Éden, onde Adão e Eva desfrutavam a existência de um plano não muito diverso do 
nosso, atual, mas sem pecado. Parece razoável que Deus não tenha abandonado Seu 
plano original. E se não o fez, deverá haver uma ressurreição do corpo.
 
A idéia de um juízo no fim do mundo pressupõe que os homens não recebem seu 
castigo ou recompensa ao morrer. Isto parece razoável, além de ser apoiado por 
provas bíblicas. Consideremo-lo mais pormenorizadamente.
 
Aceita a crença no castigo e na recompensa, observemos primeiramente que o 
registro de nenhum homem pode completar-se ao morrer ele. Sua vida terminou, mas 
sua influência continua, “suas obras o seguem”. Se somos responsáveis por nossa 
influência, e cremos que assim deve ser, o registro não pode ser completo até ao 
fim do tempo.
 
Ao asseverarmos isto não desejamos inferir que o homem não haja selado o seu 
destino ao morrer. Cremos que sim.
O que queremos afirmar é que, a menos que o juízo pressuponha o mesmo castigo ou 
recompensa para todos, o registro não pode ser encerrado por ocasião da morte do 
indivíduo. Poder-se-á deveras argüir que se sabe se uma pessoa está salva ou 
perdida, e que, portanto, ela ode ser considerada como tendo entrado num ou 
noutro lugar. Isto se pode dar por assentado, mas não resolve a dificuldade. 
Mesmo nos tribunais terrestres, o resultado de um crime cometido tem que ser 
aguardado, antes que se pronuncie o julgamento. Se numa luta com arma de fogo um 
dos contendores fica ferido, o julgamento não se baseia no efeito imediato, mas 
no resultado final do tiroteio. A pessoa ferida pode viver uma ou duas semanas. 
O criminoso não tem o direito de exigir um julgamento imediato, baseado na 
circunstância de que o ferido não morreu, e que, portanto, não houve homicídio.
 
O homem é responsável de algo mais que o efeito imediato de seus atos. Parece 
mais razoável que o juízo seja postergado até que todos os fatos estejam 
reunidos, e se possa então chegar a uma estimativa justa. Se admitirmos que 
alguns serão castigados com muitos açoites e outros com poucos (S. Luc. 12:48), 
o juízo não pode nem deve ocorrer sem que todos os fatores sejam considerados. 
Isto só pode ser feito no tempo designado por Deus: o fim do mundo. Harmoniza-se 
com isto a declaração de que Deus reserva “os injustos para o dia de juízo, para 
serem castigados.” II S. Pedro 2:9.
 
Os ímpios serão julgados pelos justos. “Os santos hão de julgar o mundo.” I Cor. 
6:2. Assim como os anjos têm sua ocupação no céu, terão os remidos, a sua. Deus 
revela Seus planos os Seus, e lhes confia responsabilidades. Aos santos se lhes 
dá o privilégio e a responsabilidade de julgar. Humanamente falando, Deus não 
quer correr nenhum risco de descontentamento nem dúvidas. É concebível que se 
perderão algumas pessoas a quem outras consideravam dignas de salvarem-se. Ao 
verificar-se a falta de alguma pessoa no céu, poderia surgir na mente de outros 
uma dúvida acerca do porquê de sua ausência. Poderá ser alguém que nos é 
querido, a quem amamos e por quem tenhamos orado. Mas ei-la que está perdida. 
Não conhecemos as circunstâncias; não sabemos porque.
Se tomamos parte no juízo; se nós mesmos examinamos o caso e as provas; se 
depois de pesar todos os fatores, chegamos afinal à conclusão de que esta pessoa 
ao quis ser salva e não se sentiria feliz no céu, nenhuma dúvida surgirá jamais 
em nossa mente quanto à justiça do que foi feito. Participamos do juízo, e 
conhecemos os pormenores. Ali estávamos. Ficamos satisfeitos. Além disso, esse 
plano assegura um juízo justo e misericordioso. Teremos amado alguns dos que se 
perderão. Por eles teremos orado. Seremos bondosos para com eles até ao fim. 
Ninguém sofrerá castigo maior do que merece. O plano divino assegura-nos isso.
 
Deve-se notar que os santos participarão do julgamento daqueles a quem 
conheceram. Se parte do propósito divino ao tornar-nos participantes do juízo 
consiste em assegurar-se de que não surgirá jamais em nossa mente dúvida alguma, 
os santos devem julgar sua própria geração e seus próprios conhecidos. Isto é ao 
mesmo tempo terrível e bom. Deus não deve correr o risco de que alguém diga ou 
pense: “Alguns de meus amigos se perderam, e eu nunca tive a oportunidade de 
averiguar o que aconteceu. Pensei que estariam salvos. Eu os considerava 
melhores que qualquer outra pessoa, e gostaria de haver sabido um pouco mais de 
seu caso.” Coisa tal, por certo nunca ocorrerá. Deus cuidará disso. Cada qual 
ficará convencido da justiça e da misericórdia divinas. O plano de Deus está 
devidamente ordenado. Saberemos por que certas pessoas se hão de perder. 
Participaremos de seu julgamento.
 
Se o exposto é correto, não poderá haver julgamento por ocasião da morte. Um 
grupo de cristãos ora por um jovem extraviado. Oram um dia após outro, e ano 
após ano, mas sem resultado. Repentinamente morre esse jovem. Que sucederá no 
juízo? Os que o conheceram e por ele oraram, ainda vivem. Se o jovem deve ser 
julgado pelos santos imediatamente, todos eles teriam que morrer imediatamente a 
fim de participar de seu julgamento. Se assim não fosse, teria que ser julgado 
por outros que não o conheceram. Isto se aplica a todos os ímpios que uma vez 
viveram. Em regra, e se hão de ser julgados pelos justos, não poderiam sê-lo 
senão uma geração após sua morte. Mas, o não serem julgados pelos justos, ou 
serem-no por outras pessoas deles desconhecidas, frustraria o plano divino. 
Portanto, sustemos que, se os ímpios hão de ser julgados pelos santos, não podem 
eles sê-lo ao morrerem. Deus diz que os ímpios estão reservados para o juízo, no 
fim do mundo.
Se bem seja verdade que cada geração se compreende melhor a si mesma e deve ser 
julgada à luz de seus próprios conhecimentos, de maneira que um pecador do Velho 
Testamento não deve ser julgado pelas normas do Novo Testamento, é também 
verdade que antes que se possa realizar qualquer juízo coerente, deve haver 
certo conhecimento das regras e princípios gerais que lhe servirão de diretriz. 
Isto pressupõe instrução e educação, e essa instrução basear-se-á em todos os 
fatores envolvidos. A morte de Cristo deve ser tida em linha de conta, bem como 
Sua expiação e ensino. Em vista disso, como poderiam os santos das primeiras 
gerações que viveram na terra, haver julgado os ímpios de sua geração? É 
evidente que a idéia de que os santos participem do juízo deve ser abandonada se 
o juízo ocorre por ocasião da morte. Admirável é o plano concebido por Deus. O 
plano divino de que os santos participem do juízo, faz do céu um lugar seguro e 
ergue uma barreira eficaz contra quaisquer dúvidas posteriores.
 
E como será o julgamento dos justos? É evidente que deve realizar-se alguma 
investigação antes de lhes ser concedida entrada na bem-aventurança eterna. 
Precisar-se-á decidir se sua vida e procedimento justifica que se lhes confira 
vida eterna; e esta decisão deve ser tomada antes de o Senhor vir buscá-los. Não 
é mais razoável salvar os justos e realizar depois o julgamento, que condenar os 
ímpios e fazê-los comparecer depois perante o tribunal. Há aí, porém, uma 
diferença. Os ímpios não são destruídos senão ao fim do milênio. (Apoc. 20:4 e 
5). Isto provê tempo abundante para julgá-los depois que o Senhor vier. Mas não 
ocorre assim com os justos. Se hão de ser julgados e se se lhes há de dar alguma 
recompensa, o caso deles precisa ser decidido antes que venha o Senhor. Quando 
vier trará consigo o Seu galardão. (Apoc. 22:12) Daí o dever a condição dos 
justos ser determinada de antemão.
 
Alguns opuseram objeção a este ensino. Não crêem que haverá um julgamento dos 
justos antes que o Senhor venha. Sem embargo, isto parece ser a única coisa 
conseqüente. Preciso é que o caso dos justos esteja decidido antes que o Senhor 
venha, pois ao contrário, como se poderá saber quem se há de salvar?
Se a objeção é feita aos termos “juízo investigativo” que têm sido usados, 
dever-se-ão procurar outros melhores. A isto estamos dispostos. Não se trata de 
um juízo executivo. Chama-lhe a Bíblia “a hora do juízo” em contraste com o “dia 
do juízo” (Apoc. 14:7; Atos 17:31) Cremos que a expressão “juízo investigativo” 
se adapta ao caso do julgamento dos justos.
 
Parece eminentemente apropriado que em se apresentando a questão de quem se há 
de salvar, os anjos estejam presentes para dar o seu testemunho e acompanhar o 
processo. (Dan. 7: 9 e 10) Eles têm estado vitalmente empenhados em nosso 
bem-estar; têm sido espíritos ministradores. Precisamos associar-nos com eles e 
com eles estar, e eles têm o direito de saber quem será admitido nas mansões 
celestiais. Esse também é o plano divino. Os anjos experimentaram alguns dos 
resultados do pecado. Viram Lúcifer apostatar. Viram milhões de anjos o 
seguirem. Viram o Salvador sofrer e morrer, e conhecem a miséria que o pecado 
tem causado. Estão vitalmente interessados em saber quem há de possuir a vida 
eterna. Não têm eles o desejo, de repetir a experiência do pecado pela qual 
passaram. É, portanto, um plano sábio da parte de Deus, que eles participem do 
juízo.
 
O Dia da Expiação é um tipo adequado do dia do juízo. Bom seria que, à luz 
destas considerações, o leitor repassasse o capítulo sobre o Dia da Expiação. 
Naquele dia se fazia separação entre os justos e os ímpios. A decisão dependia 
inteiramente de quem havia ou não confessado os seus pecados. Eram apagados os 
pecados dos que haviam levado suas ofertas e cumprido com o ritual. Os outros 
eram “extirpados”.
 
Ignoramos se era mantido no santuário terrestre qualquer registro dos que, 
através do ano, ali se apresentavam com sacrifícios. Conquanto isso fosse 
possível, não é provável que se mantivesse semelhante registro. Sabemos, no 
entanto, que o sangue aspergido constituía em si mesmo um registro. Deus 
ordenara que se apresentassem sacrifícios. Cremos que Ele respeitava Sua própria 
ordem e anotava aqueles que O serviam em verdade, justiça e integridade. Em Seu 
livro eram registrados como sendo fiéis.
 
Acerca do juízo do último dia, está escrito: “E aquele que não foi achado 
escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo.” Apoc. 20:15.
Este texto fala taxativamente do livro da vida, e diz, em verdade, que somente 
os que nele forem achados serão salvos. Notem-se as palavras: “Aquele que não 
foi achado escrito no livro da vida.” Isto implica um exame do livro para 
descobrir quais os nomes nele registrados. “Aquele que não foi achado.” Que é 
isto senão uma investigação? É como se se desse a ordem: “Vede se este nome se 
acha no livro.” Recebe-se, em resposta, a informação: “Achei-o”, ou, “Não o 
achei”. Qualquer informação indica uma investigação. A expressão: “Aquele que 
não foi achado”, justifica o argumento de que há um exame do registro, dando em 
resultado a separação, para a salvação ou para a condenação.
 
Afigura-se tão claro que deva haver, antes da vinda do Senhor, uma investigação 
do registro mantido no céu, que admira haver quem duvide sinceramente disso. É 
certo que Deus poderia, num momento, se o quisesse, decidir todas as questões 
quanto ao destino futuro de cada pessoa. Com exatidão infalível, poderia 
destinar uma parte da humanidade para ser condenada e a outra parte para ser 
salva. Mas Deus não poderia fazer isso e ao mesmo tempo consentir que os anjos e 
os homens participassem do juízo. E isto é de vital importância. Deus precisa 
proteger quanto possível a existência futura. Os homens, por sua própria 
investigação, precisam estar certos da justiça do castigo imposto. Os anjos que 
foram espíritos ministradores, precisam estar presentes quando os santos são 
julgados. Por este motivo são mantidos os livros. Por esta razão milhões de 
anjos presenciam o juízo. (Dan. 7:10) Deus toma todas as providências que se 
fazem mister para assegurar o futuro. O céu e a terra precisam ser protegidos. 
Deus não admitirá repentinamente milhões de seres humanos à felicidade do céu e 
ao privilégio da vida eterna sem consultar os anjos.
 
Dizemo-lo com reverência. Os anjos têm passado por algumas tristes vicissitudes 
por causa do pecado. Viram perderem-se milhões de seus companheiros. Viram 
Cristo morrer na cruz. Tiveram conhecimento de parte dos pesares do Pai, 
motivados pelo pecado. E não se haveriam de interessar na concessão da vida 
eterna a milhões de pecadores remidos? Não deveriam possuir alguma segurança de 
que o admitir homens no céu não significa introduzir ali o pecado?
Falamos em linguagem humana. Cremos que precisam possuir essa certeza. E cremos 
que Deus lha dá. Estão presentes quando se decide o caso dos justos. Assim como 
os santos participam do julgamento dos ímpios, os anjos participam do julgamento 
dos justos. Isto constitui uma segurança para o futuro. Nenhuma dúvida se 
levantará nem se poderá jamais levantar na mente de ninguém. Deus cuidou disso.
 
Durante o milênio os anjos terão oportunidade de conhecer-nos melhor e nós a 
eles. Com eles trabalharemos no juízo. Durante esse tempo serão julgados os 
homens e os anjos. Nós participaremos desse julgamento. Os anjos dele 
participarão. Os homens e os anjos têm companheiros que se perderão e por quem 
têm interesse. Deus protege todos os interesses de maneira que o pecado não se 
levante segunda vez. Os anjos têm mantido o registro. O que está escrito nos 
livros, ali foi escrito por eles. Não hão de participar do exame do registro ao 
serem tomadas as decisões finais? Terão parte na execução do juízo. (Apoc. 
20:1-3; 18:21; Ezeq. 9:1-11) Ao findar este, darão seu testemunho no tocante à 
justiça das decisões tomadas. (Apoc. 16: 5 e 7) Podem fazê-lo porque têm 
conhecimento dos fatores em jogo.
 
“O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas Suas mãos.” S. João 3:35. 
Talvez não estejamos certos do motivo de haver o Pai entregue todas as coisas 
nas mãos do Filho. Mas a declaração ocorre tantas vezes que se torna evidente 
que Deus quer que o conheçamos. Além da declaração citada, notemos a seguinte: 
“Todas as coisas Lhe sujeitaste debaixo dos pés”. Heb. 2:8. “Todas as coisas Me 
foram entregues por Meu Pai.” S. Mat. 11:27; S. Luc. 10:22. “... Lhe deste poder 
sobre toda a carne”. S. João 17:2. Este poder inclui o de julgar. “O Pai a 
ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo.” João 5:22. Cristo “foi 
constituído juiz dos vivos e dos mortos.” Atos 10:42. Deus “com justiça há de 
julgar o mundo, por meio do Varão que destinou.” Atos 17:31. Isto inclui a 
execução do juízo, pois o Pai “deu-Lhe o poder de exercer o juízo, porque é 
Filho do homem.” S. João 5:27. De fato, a concessão da autoridade ao Filho pode 
resumir-se na significativa declaração do próprio Cristo: “É-Me dado todo o 
poder no céu e na terra”. S. Mat. 28:18. Isto não deixa dúvida alguma quanto ao 
alcance do poder a Ele dado. É todo o poder no céu e na terra.
Estas declarações avultam em interesse em vista das palavras nela contidas. Ao 
Pai pertenciam todas essas prerrogativas, mas por alguma razão as legou ao 
Filho. Notemos como Deus “deu”, “sujeitou”, “entregou”, “constituiu”, “deu-Lhe 
poder”. Tudo quanto o Pai possuía, deu ao Filho. Nalgum tempo passado, Deus pôs 
todas as coisas sob as ordens de Cristo, ordenou-Lhe que reinasse, que 
executasse o juízo e Lhe deu todo o poder no céu e na terra.
 
Todo o conflito revela um traço muito confortador do caráter de Deus. Deus 
poderia haver tratado os rebeldes de maneira diversa. Não precisava haver dado 
ouvidos às acusações feitas contra Ele por Satanás. Mas submeteu o Seu caso a 
julgamento segundo as provas apresentadas. Poderia esperar e deixar que os seres 
criados decidissem por sua conta. Sabia que Seus caso era justo e que podia 
resistir à investigação. Foi eminentemente justo em todo sentido.
 
Isto nos dá margem para crer que o juízo vindouro se realizará de acordo com os 
nossos mais altos conceitos de justiça e retidão, sem mencionar a misericórdia. 
Deus não é vingativo. Não espera uma oportunidade para dar-nos a “retribuição 
merecida.” Quer que todos os homens se salvem e venham a arrepender-se. Não toma 
prazer na morte dos ímpios.
 
Há, no entanto, algumas coisas que Deus não pode fazer. Sentir-se-ia feliz com 
salvar a todos, mas o fazê-lo não seria o melhor. Há para isso várias razões. 
Muitos não desejam ser salvos mediante as condições, únicas, que podem assegurar 
a vida. As regras que Deus estabeleceu para nossa guia são as regras da vida, e 
não decretos arbitrários. A sociedade não pode existir, nem aqui nem no céu, se 
os homens não deixam de matar-se uns aos outros. Isto se afigura tão evidente 
que ninguém intentaria discuti-lo.
 
O homicídio tem suas raízes no ódio. Não seria seguro permitir a quem odeia seu 
irmão – ou odeia qualquer outra pessoa – viver no céu com outros. Seria 
insensatez esperar paz e harmonia em tais condições. Os homens demonstraram à 
saciedade que o ódio conduz ao homicídio. Isso não precisa de mais demonstração. 
Se Deus espera ter um céu pacífico, deve excluir dele os homicidas. Isto 
significa que deve excluir todos os que odeiam.
 
Significa ainda mais. O amor é o único eficaz antídoto do ódio. 
Unicamente quem ama está seguro. A ausência de amor significa ódio, mais cedo ou 
mais tarde. Daí vir a ser o amor uma das leis da vida. Unicamente quem ama 
cumpre a lei, pelo que só ele tem direito à vida. Esse direito não deve ser 
posto em perigo permitindo que medre o ódio. Os que acariciam ódio em sua vida, 
violam a lei da vida. Não seria seguro salvar os tais, mesmo se quisessem ser 
salvos. No céu não deve haver homicidas nem violadores do mandamento que diz: 
“Não matarás”. O mesmo argumento é aplicável aos demais mandamentos.
 
Portanto, ao permitir Deus que os homens e anjos participem do juízo, faz alguma 
coisa mais do que simplesmente permitir que com Ele colaborem. Isto é 
importante. Por causa do futuro, é necessário. Precisamos da segurança que nos 
dará a participação pessoal no juízo. Mas alguma coisa mais está implicada no 
caso. Ao permitir Deus que santos e anjos participem do juízo, eles estão em 
realidade sentenciando os atos de Deus. As regras, os princípios, as leis que 
governam homens e anjos, caem sob seu escrutínio. Em certo sentido, estão 
julgando a Deus. (Rom. 3:4).
 
À luz destas declarações, a circunstância de que os homens e os anjos, no final 
do letígio, expressam sua crença na justiça e retidão divinas, assume novo 
significado. A grande questão sempre foi: É Deus justo, ou são verazes as 
acusações de Satanás? Ao fim do letígio, o anjo das águas diz: “Justo és Tu, ó 
Senhor.” Diz outro: “Na verdade, ó Senhor Deus Todo-poderoso, verdadeiros e 
justos são os Teus juízos.” Grande multidão no céu diz: “Aleluia, Salvação e 
glória, e honra, e poder pertencem ao Senhor nosso Deus. Porque verdadeiros e 
justos são os Seus juízos.” Os que saíram vencedores da besta e de sua imagem, 
dizem: “Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos.”Ao 
reassumir Deus o governo, sobre o trono, “uma grande multidão” “como que a voz 
de grandes trovões”, “exclama: “Aleluia, pois já o Senhor Deus Todo-poderoso 
reina.” Deus, porém, não quer reinar sozinho. Quando “os reinos do mundo vieram 
a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo”, quando o acusador jaz finalmente 
derrotado, será então estabelecido o trono de Deus e do Cordeiro. Gloriosa 
consumação de nossa esperança! Apoc. 16:5 e 7; 19:1; 15:3; 19:6; 11:15; 12:10; 
22:5.
 
NOTA No Tempo do Fim: Que DEUS nos abençoe em nossa busca pela Verdade!